quinta-feira, 25 de março de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA – PRIOR DA BEIRA SERRA

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O blogue Serrasonline publicou um post dedicado ao prior da Beira Serra. Considero ser a melhor homenagem que os Pampilhosenses poderiam fazer a esta grande figura regionalista, que foi o Padre José Correia da Cunha.


Não cometo injustiça alguma se afirmar que Padre Correia da Cunha foi indiscutivelmente um grande amigo das gentes da Beira-Serra. A sua abundância intelectual era tão grande, que transbordava na influência que exercia positivamente sobre essa tão boa gente.


Muitas vezes lhe presenciei a dar fortes abraços a esses seus paroquianos e onde se saltava naturalmente uma frase que jamais esquecerei: “Como vai a nossa encosta da Serra?” - tratamento em que cerimoniosamente manifestava a sua forte paixão por aquelas terras…sendo ele, como sabemos, um alfacinha de gema, creio que foi adoptado pela Beira-Serra.


Seguidamente transcrevo essa homenagem sincera desse povo singelo e despretensioso que certamente Padre Correia da Cunha levou consigo com muitas saudades!





“Um belo dia um professor, muito conhecido num seminário temático, perguntava ao Padre Correia da Cunha, qual a sua paróquia, ao que este respondeu:

- Paróquia da Beira-Serra.

O Professor indignado terá questionado o padre, pois não conhecia a Beira Serra em Lisboa. O padre em tom esclarecedor terá informado o ilustre académico que a Paróquia da Beira Serra era na encosta da Serra de S. Vicente .”

Há homens, cuja existência, por razões difíceis de explicar, são um marco capaz de fazer o seu nome ser lembrado muito para lá do tempo da sua vida. O Padre Correia da Cunha, é sem dúvida uma dessas almas. O carinho com que cultivava amizades entre as gentes da Beira Serra, merece, de nós Serranos, o respeito que apenas os homens grandes são merecedores.
Segundo João Costa Dias, “ o Padre Correia da Cunha foi um pároco zeloso, e no desempenho desse cargo deixou uma obra tão sólida que ainda hoje perdura. Certamente, em muitos dos seus paroquianos que eram oriundos dessa região (Pampilhosa da Serra). Foi constante no afecto que consagrava aos muitos Pampilhosenses que residiam na sua paróquia de São Vicente de Fora. Particular atenção lhe mereceu a formação dos seus filhos que hoje se encontram dispersos por este país.”




Já Rogério Martins Simões, o poeta “Romasi”, lembra o Padre Correia da Cunha de forma como só mesmo o poeta sente. “Tempos inesquecíveis que a memória não esquece! E tudo terminavam alta madrugada em casa do Padre Correia da Cunha, bebendo uns “cervejinhas” e petiscando o que tinha, enquanto ficava no ar o belo canto perfumado da Amália, ou de uma boa música clássica aqui e além explicada pelo querido e saudoso Padre Correia da Cunha: Agora os fagotes! Agora respondem os violinos, as tubas, os tambores ou os violoncelos.”

Mas quem foi o padre Correia da Cunha? Os dados deste artigo, provenientes do Blogue http://padrecorreiadacunha.blogspot.com, foram gentilmente cedidos por João Paulo Dias, mentor deste inspirado sítio dedicado ao padre.

Em meados do Século XX, Portugal era um país essencialmente rural e relativamente pobre.
Agudizavam-se as tensões entre a sociedade urbana, em vias de industrialização e o mundo rural tradicional e arcaico. Perante este cenário iniciava-se um surto migratório crescente que se dirigia para ‘’a encosta de’’ São Vicente de Fora e Alfama, oriunda da Beira Serra (Pampilhosa da Serra, Oliveira do Hospital, Lousã, Arganil, Tábua…).

Em São Vicente de Fora eram bem acolhidos e tinham a possibilidade de ganhar dinheiro, arranjar um bom futuro para os seus filhos, sem terem de deixar este seu querido e amado Portugal.

Grande parte desta mão-de-obra era colocada na indústria hoteleira, panificação, estiva, tráfego e carregadores do Porto de Lisboa. Para que a saudade não matasse e não esquecessem a sua amada “santa terrinha”, toda esta gente voltava regularmente, todos os anos, às suas origens para celebrarem as festas e romarias tradicionais.

O padre Correia da Cunha, reconhecia que estas pessoas traziam consigo uma identidade religiosa tradicional mas ao mesmo tempo um grande património cultural.

As suas prioridades na cidade assentavam no duro trabalho, sem nunca perderem a semente cristã que um dia havia sido plantada nos seus corações.



Como referia o padre Correia da Cunha a sua vivência cristã na cidade era como os motores dos automóveis a três tempos: Baptismo, casamentos, e funerais.

Em colaboração com os párocos das paróquias vizinhas,  o Pe. Correia da Cunha, procurava reunir num Encontro de Amizade e Regionalismo, toda esta gente, aproveitando esse momento para evangelizar e mostrar que a comunidade paroquial muito contribuía para o desenvolvimento humano e cristão dos seus filhos. A educação dos filhos era da responsabilidade dos pais, mas a catequese podia cooperar para a uma formação mais plena.

Estes encontros fraternais eram iniciados com uma Eucaristia, lembrando todos aqueles que já partiram e aproveitando igualmente para orar por todos os presentes que fazem parte desta Igreja peregrina e pecadora.

Após a Eucaristia decorria um jantar partilhado nos claustros do convento de São Vicente de Fora.

Estes encontros da Beira Serra tinham sempre um elevado número de participantes, contando sempre com pessoas ligadas ao movimento associativo, incluindo muitos padres dessa região.

As questões regionalistas agradavam-no em pleno e confessava que sentiu a necessidade de partir na companhia do seu amigo Padre José Vicente em busca dessas terras, visitando aldeia por aldeia desses concelhos da Beira Serra que muito o engrandeceram.



Depois dessa encantadora viagem, os diálogos abriam espaços, e tornavam mais fácil a relação com todos estes honrados paroquianos, trabalhadores, inteligentes e seus bons amigos.




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quinta-feira, 11 de março de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E O ORGÃO IBÉRICO

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''A nossa igreja enche-nos os olhos... O nosso majestoso órgão eleva-nos a alma e extasia os nossos ouvidos. ''PCC





A igreja de São Vicente de Fora tem um monumental órgão, que se vê através do alto baldaquino, e que muito deslumbrava Padre Correia da Cunha. A bem da verdade deve ser dito que ele possuía um verdadeiro amor e uma encantadora atracção às harmonias desse artístico e precioso órgão ibérico.



Entre o fim do século XVII e meados do XIX, despontou na Europa uma sumptuosa colecção de órgãos de igreja que, até hoje, se distingue pelas dimensões monumentais, pela riqueza de ornamentos e por um som de nitidez incomparável.



De valor inestimável para a arte sacra e a música erudita, tendo sido uma das principais ferramentas de trabalho de muitos compositores, um desses órgãos é o da Igreja de São Vicente de Fora. Ao fundo do templo, e ao alto, assente sobre uma robusta e elegantíssima pianha em conchas de boa escultura doirada, e de exagerado entalhe recobertos de ouro, ostenta-se o famoso órgão de São Vicente de Fora, o mais belo de Lisboa e certamente da Península Ibérica. A construção deste magnifico órgão é do ano 1762, sete anos após o grande terramoto de Lisboa (que como sabemos provocou a queda da imensa cúpula da igreja filipina) e é da autoria do organeiro espanhol João Fontanes de Maqueixa, que , morreria em Mafra no ano 1770.





Este órgão ibérico é o maior de Portugal, obra do século XVIII, doação do Rei D. João V- o Magnânimo, segundo se crê.



‘’Ibérico é um órgão de características regionais relativas ao ideário estético da escola de organaria ibérica, cultivado em Portugal e Espanha desde o séc. XVI. Estes instrumentos possuem apenas um só manual (embora existam instrumentos com dois, mas são raros) que se encontra dividido em duas secções (tiples e baixos). O número de teclas é inferior ao dos órgãos modernos, cifrando-se muitas vezes em 45, 47 ou 54 notas. As trombetas dispostas na horizontal são a principal característica do órgão ibérico.’’


O órgão ibérico de São Vicente de Fora possui 2 manuais e 60 meios-registos, num total de 3.115 tubos. Tem interiormente três andares, e na sua beleza decorativa, avista-se todo o templo através do baldaquino rasgado, que desafoga o quadro de uma equilibrada majestade cénica.






Nenhum instrumento produz, sozinho, acordes tão ricos quanto os órgãos barrocos. O seu princípio de funcionamento é o de um instrumento de sopro, que no lugar do pulmão humano, recorre a foles que enviam o ar para dezenas de tubos que emitem o som. É como se fosse um conjunto de flautas gigantes, com até 10 metros de altura. O que distingue os modelos barrocos dos restantes, é que este permite escutar simultaneamente e com uma nitidez incrível um grande número de acordes. O seu mecanismo garante que o ar chega imediatamente aos tubos quando o teclado é accionado (processo que leva até meio segundo nos demais modelos – suficiente para a perda de limpidez do som). Estes órgãos também se diferenciam pela concentração de finíssimos tubos, de onde saem tons de um agudo extremo.
A partir de meados do século XVIII, o órgão entra num período de esquecimento devido à chegada do período clássico e que é, em grande medida, uma negação dos princípios estéticos do barroco. Com estes novos ventos, o órgão deixa de ter grande interesse enquanto instrumento solístico e praticamente deixa-se de compor repertório que tenha em vista a utilização plena das capacidades do órgão.














Padre Correia da Cunha muito lutou e se envolveu para que se procedesse ao restauro do seu grande tesouro, que era aquele órgão barroco. Lembro-me de no tempo de Padre Correia da Cunha se ter levado a efeito o restauro deste imponente órgão ibérico, pelo organeiro Sampayo, e de grandes reparações na sala dos foles.








Padre Correia da Cunha era um apaixonado pelo seu orgão barroco e promovia grandes concertos com organistas que vinham de toda a Europa para conhecerem este maravilhoso órgão.


Em 1994, no âmbito de LISBOA, capital europeia da cultura, o órgão voltou a sofrer um grande restauro por Claude e Christine Rainolter, de França, uma vez que se trata de um dos melhores exemplares da organaria portuguesa do século XVIII.






Fotos : cedidas por Robert Descombes
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segunda-feira, 1 de março de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA-VIVER EM COMUNIDADE

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Criar novas memórias, novos sorrisos, novos momentos, novas lembranças.




Desde muito novo ouvi a Padre Correia da Cunha que para se viver em comunidade tínhamos que esforçar-nos em superar muitos dos nossos egoísmos e fortalecer a imensa capacidade, que havia no interior de cada um de nós para a partilha e solidariedade…

Não era difícil viver em comunidade, em São Vicente de Fora, quando existia Amor e confiança. Quando amamos e confiamos nos outros, somos capazes de fazer grandes coisas …

Todos sabíamos que os conflitos eram inevitáveis. Eles existiam também na Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora, mas contribuíam para nos ajudarem a crescer… Só junto com os outros é que aprendemos a falar, a construir ideias e a comunicar. Todos somos aquilo que somos devido ao grupo onde nos integramos. Ter bons amigos era vital para os nossos relacionamentos e desenvolvimento. Há um ditado popular que traduz de uma forma muito simples esta ideia: “Diz-me com quem andas e eu dir-te-ei quem és.”


A paróquia de São Vicente de Fora era o lugar onde podíamos encontrar os nossos melhores amigos. Porquê? Era por iniciativa e chamamento do próprio Cristo que integrávamos aquela comunidade.







Padre Correia da Cunha socorria-se muito da primeira carta de São Paulo aos Coríntios, do Capitulo 12, que referia: “Que somos um corpo com muitos membros. Todos eles são importantes. Todos dependem uns dos outros. Mas, não são os membros, tais como: mãos, pés, coração, olhos etc., que escolhem o lugar ou os outros membros. Cristo colocou quem quis ao nosso lado e serão essas pessoas que vos ajudarão a crescer e a formar a vossa indulgência.” Na Comunidade de São Vicente todos éramos muito importantes independente das tarefas que cada um desempenhasse… Padre Correia gostava que nos sentíssemos importantes. Era a sua forma discreta de elogio, pois sem ele não poderia haver uma visão positiva e dinâmica.

Jesus Cristo era o centro e o motivo que nos fazia viver felizes e em comunidade. Havia pluralidade de tarefas, mas os objectivos eram comuns: ajudar na construção e expansão do Reino.

Os valores indicados por Padre Correia da Cunha eram os da compreensão, perdão, inter-ajuda… as tensões para ele eram meios naturais de salutar crescimento. Com a sua sábia intervenção, todos os conflitos eram resolvidos numa duradoura e fecunda reconciliação.

Padre Correia da Cunha não era casamenteiro, mas ajudou, assistiu e celebrou imensos matrimónios, cujos amores brotaram daquelas puras amizades cimentadas pelos grandes valores cristãos apreendidos e vividos na Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora.


Quando escrevo este post não tenho a intenção de matar saudades e falar de memórias. Quero apenas reavivar a memória de muitos que tiveram como guia e inspirador Padre Correia da Cunha e nutriam por ele sentimentos de grande e fraternal amizade. Hoje poderiam a ajudar a construir novos momentos de crescimento e novos momentos de felicidade, gerando novos sorrisos; dando testemunho do que era o companheirismo na Paróquia de São Vicente de Fora. Junte-se a nós!


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