quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

PE. CORREIA DA CUNHA E QUADRA DE NATAL

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‘’ ACHAREIS O MENINO ENVOLTO EM PANOS E DEITADO NUMA MANJEDOURA’’.






O Natal de Jesus simboliza a esplendorosa luz redentora representada pela imagem de um recém-nascido, num humilde e tosco curral sobre uma manjedoura.

Na visão do Padre Correia da Cunha estava sempre presente aquele singelo estábulo onde nasceu Jesus. ‘’Deus nasceu menino unido-se assim a Divindade com a Humanidade’’ PCC.

No Natal as chamas dos círios parecem brilhar com mais intensidade, iluminando com maior esplendor as nossas almas obscurecidas pelas fúrias diárias da hipocrisia e do egoísmo…









Era uma tradição da Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora construir todos os anos, nesta quadra, enormes presépios no amplo vestíbulo da entrada principal da igreja.



Estes presépios eram pequenos mundos, onde as coisas sublimadas de suaves lirismos adquiriam expressões de ingénua fantasia. No topo o anjo segurava nos dedos a legenda: Glória in Excelsis Deo.



Em lugar bem visível figurava o estábulo e, na manjedoura, deitado sobre pobres palhas o Menino Jesus que sorria num raio de luz na claridade irreal, que era filtrada pelas verduras bravias enroscadas nas grandes colunas do pórtico.



A Virgem Maria e São José aureolados pela mesma luz que enchia por completo aquele imenso átrio da majestosa igreja.


Os pastores com oferendas glorificando e louvado a DEUS-MENINO por tudo o que tinham ouvido e visto. Naqueles presépios havia uma natureza de musgos verdes em contraste com o azul celeste da moldura de fundo.


Eram assim os presépios construídos sobre as ordens do Padre Correia da Cunha que geravam doces ilusões nas almas simples, sonhos de um Mundo de ingénuas e luminosas fantasias.



A propósito desta quadra e dos inesquecíveis presépios, vamos hoje aqui recordar um curioso facto, que o Padre Correia da Cunha, muito gostava de invocar sobre essa imensa construção que mobilizava todas as forças vivas da comunidade paroquial.



Contava ele: - ‘’Foi São Francisco de Assis o primeiro que teve a poética ideia de simbolizar assim, o nascimento de Jesus. Tinha acabado de regressar da Palestina, onde visitara a cidade de Belém e ansioso por espalhar entre os homens o culto de JESUS-MENINO, resolveu evocar através de imagens vivas o seu maravilhoso nascimento.



Com a ajuda do seu fiel amigo Frei Giovanni Vellita preparou a gruta de Greccio. No chão de palha, armaram a manjedoura, arranjaram um boi e um burro, criando assim o mesmo ambiente em que segundo o Evangelho, nascera o Salvador.




Com figurantes humanos deram vida e movimento ao quadro. E todos quantos visitaram esse presépio quedaram-se enternecidos com a singela ideia.’’ Era também desejo do Padre Correia da Cunha que na sua paróquia continuasse bem viva e a flutuar no espírito de cada um de nós esta poética ideia de São Francisco de Assis.






Quem não se lembra das exposições e concursos de presépios, pelos claustros do Mosteiro de São Vicente de Fora, feitos de diferentes materiais, promovidos e organizados pelo Padre Correia da Cunha.




Eram convidadas todas as crianças e catequistas a apresentarem nestes concursos de presépios feitos dos mais diversos materiais, nomeadamente, madeiras, cerâmicas, papeis, cortiças…uns mais ricos, outros mais modestos, todos porém se revestiam de igual significado: Amor a Deus que veio à Terra tornando-se menino para unir na mesma fé os homens de Boa Vontade.




O Padre Correia da Cunha ensinava-nos a debruçar sobre a imagem do Menino Jesus, numa genuflexão de perfumada fé e a implorarmos para todos os homens sentimentos de humanidade e fraternidade pois era esse o grande e sublime ensinamento que Jesus-Menino sonhava para os homens, mas abominavelmente esquecida por todos nós inclusive pelo pobre padre pecador que assim se confessava publicamente.



Votos de um Santo Natal!

















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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

PE. CORREIA DA CUNHA E O INVERNO

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’O inverno é a pedra de toque dos corações com sentimentos.’’


As manhãs gélidas de inverno rigoroso chegavam à Paroquia de São Vicente de Fora, frias como as atitudes e corações de certos homens, assim o referia Padre Correia da Cunha.



Já não se ouviam os cânticos melodiosos dos pássaros, nem se sentia o perfume das flores dos belos jardins da paróquia. Naqueles tempos de dificuldades e inquietações, o conforto dos lares não era comparável ao existente nos dias actuais. A vida era totalmente diferente.




Uma vez o Padre Correia da Cunha foi convidado para jantar em casa de uma ilustre família da comunidade. Estes convites eram efectuados quotidianamente, pois todos gostavam de saborear o convívio com a adorável presença deste bondoso e desprendido sacerdote de elevada e insuperável cultura.




No final da refeição, quando se preparava para regressar à residência paroquial, sem um agasalho que fizesse frente ao cortante frio que se fazia sentir pelas ruas desertas e melancólicas da paróquia, onde a aragem fria chicoteava os solitários caminhantes.




Prontificou-se o dono da casa a oferecer ao Padre Correia da Cunha um quente sobretudo, de excelente qualidade, para o poupar a tão dura provação na marcha até casa.


Esta oferta generosa e de elevados sentimentos do seu bom amigo visava proporcionar ao Padre Correia da Cunha um inverno mais suave ao tormento do arrojado frio que se fazia sentir naquele rigoroso inverno em Lisboa.




Semanas depois, num dia de imenso frio e de um vento encrespado de arrepios e com forte cheiro a inverno, o Padre Correia da Cunha é avistado pelo seu generoso amigo sem qualquer espécie de agasalho, que o levou a interpelá-lo:



- Padre Correia da Cunha o que é feito do sobretudo que lhe ofereci?



- Sabe, apareceu um que precisava mais do que eu…



Perante esta pronta resposta não houve mais comentários.

Às vezes há instantes que não têm preço. A solidariedade humana é um gesto de bem que se estabelece entre os que sentem de perto o sofrimento do seu irmão.



O Padre Correia da Cunha era assim, propenso à solidariedade humana, compreendendo muito bem as realidades humanas quotidianas, pois andava a pé ao longo das ruas e ruelas da paróquia. Na sua simplicidade de criatura comum, possuía um ideal de humanidade solidária. Só assim era feliz, pois procurava ser coerente com os princípios que pregava do púlpito da sua igreja. Detestava os privilégios e distinções.



O Padre Correia da Cunha era um idealista, sonhador, gostava de olhar a vida pelas frestas da simplicidade e humildade. Era um simplório cheio de ilusões que por vezes nem ilusões eram.



As palavras de Cristo referia Padre Correia da Cunha foram e continuarão a ser aproveitadas por muitos para assegurarem e assumirem a superioridade sobre os outros seus irmãos. Nada de mais aberrante, uns impostores…




Jesus Cristo sempre pregou a humanidade, a solidariedade e morreu esticado numa cruz convicto Ele que os homens o seguiriam.

Mas diante desta frieza humana resta aos irmãos mais carenciados que alguém lhes ofereça um capote de esperança para que nos dias mais frios da vida possam ter um derradeiro agasalho.



 Nos tempos difíceis que vivemos saibamos contribuir para a construção de uma comunidade mais justa e fraterna em que os sem abrigo, chicoteados pelo frio cortante do inverno, possam contar e confiar em homens determinados e abnegados em abraçar a causa do serviço a favor da sociedade.

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