domingo, 23 de março de 2014

PE CORREIA DA CUNHA - COMENDADOR













“ AS ALMAS GRANDES VIVEM MAIS NAS SUAS OBRAS… QUE NAS HONRARIAS.”




Um grande homem não se distingue unicamente pelas grandes obras que realiza ao longo da sua vida, mas pela verdadeira herança que deixou aos seus muitos seguidores, que silenciosamente continuam, à sua semelhança, na busca do profundo conhecimento de Jesus Cristo, empenhados na construção de uma sociedade justa e fraterna e na promoção dos direitos do Homem e na defesa da dignidade humana.

Eram as suas lições, sobre todas as temáticas, de simplicidade e elegância, que ganhavam distinção e grandeza, pelo imenso acolhimento que tinham por parte dos seus amigos, eclesiásticos, políticos, militares, intelectuais, artistas, empresários, jovens, operários e gente humilde da sua paróquia…

O Padre José Correia da Cunha era um homem extremamente simples, que no fundo, desprezava as honrarias. Muito poucos sabem das condecorações e medalhas que recebeu em inúmeras homenagens que lhe foram prestadas. Como homem educado que era, não se recusou a receber os títulos e as distinções que foram conferidas. Nunca as usou e nem a elas, na sua modéstia, fazia referência. O mais importante para ele era ser amigo dos seus amigos e tinha-os em todas as camadas sociais, tratando-os sempre em primeiro lugar como “ seus semelhantes”.




No dia 18 de Maio do ano de 1972, foi agraciado com a condecoração de comendador da Ordem Militar de Cristo. A cerimónia realizou-se no Palácio de Belém. Foi das mãos do seu amigo, Almirante Américo Thomaz, que o Padre Correia da Cunha recebeu esta alta condecoração como reconhecimento do Estado e da Nação aos serviços prestados no exercício das suas missões. Foram também condecorados nessa cerimónia os seus bons amigos, Almirante Pereira Crespo (Ministro da Marinha) e Dr. Rui Patrício (Ministro dos Negócios Estrangeiros), ambos com o grande colar da Ordem do Infante D. Henrique.



Já no dia 25 de Abril, do mesmo ano, o Presidente da República Federal do Brasil, Gen. Emílio Garrastazu Médici entregara ao Padre Capelão, a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, aquando da visita do Presidente da República de Portugal ao Brasil à frente de uma comitiva, da qual fazia parte e onde também participavam ministros importantes e personalidades de destaque na vida nacional. Esta viagem assinalava a transladação dos restos mortais de D. Pedro IV, Imperador do Brasil, nas comemorações do sesquicentenário da independência brasileira.



Cerimónia Lions Clube

Haverá mais galardões seguramente, mas como referi, o Padre Correia da Cunha não atribuía grande importância a estas honras terrenas. A sua inteligência era a faculdade mais nobre que lhe permitia levar a Luz de Cristo em seu coração e irradia-la no meio da obscuridade do mundo.


A sua maneira de pensar e de viver teve enormes implicações nas comunidades onde exerceu actividade: no Seminário, no Patriarcado de Lisboa, na Armada Portuguesa, no Exército, nos Lions e na Paróquia de São Vicente de Fora.



O Padre Correia da Cunha possuía um espírito enriquecido pelas mais excelentes qualidades e virtudes. Tinha a alma de um verdadeiro marinheiro e poeta. Há época, no entanto, houve um seu companheiro que, tal como o Padre Correia da Cunha, se distinguia pela poesia e que, para celebrar a entrega das insígnias da comenda da Ordem de Cristo, lhe enviou este poema que hoje publico:


SOUBE ONTEM, COM ALVOROÇO,
DESSE MERECIDO LOUVOR;
TEREM-LHE POSTO AO PESCOÇO
O GRAU DE COMENDADOR.


FORAM PRECISOS DOIS “DEUSES”
(O DO CÉU – OMNIPOTENTE,
MAIS O DA TERRA – TOMAZ)
P’RA, COMO ACONTECE ÀS VEZES,
PRESTAREM MUI TARDIAMENTE,
JUSTIÇA QUE TANTO APRAZ.


E SE EM TERMOS DE VALIMENTO
FOI A VENERA CONFERIDA
FRENTE A TANTO MERECIMENTO
NÃO HÁ DÚVIDA, ERA DEVIDA.


AGORA, QUE DÊM CRISTO
AO PRIOR DE S.VICENTE,
NÃO ENXERGO SUA RAZÃO,
- ESTÁ ERRADO, E NISTO INSISTO –
POIS NÃO O TRAZ JÁ – BEM LATENTE –
“PÁD’ZÉ” NO CORAÇÃO!...


DESSEM A ORDEM D’AVIZ,
(ANDARIAM MAIS “AVISADOS”:
A GRÃ-CRUZ, ESSA É QUE NÃO,
POIS “CRUZ” JÁ FOI – E DEMAIS-
TER DE ANDAR DE SOBREPELIZ,
PARA DESCONTO DOS PECADOS,
SEMANAS JUNTO AO CAIXÃO,
COM OS DESPOJOS REAIS.


Não conheço este amigo e admirador do Padre Correia da Cunha, manifesto aqui o desejo que através da sua assinatura seja possível identificá-lo, agradecendo aos leitores deste texto que me ajudem nesta missão.

A Luz de Jesus Cristo é a mesma para todos, mas a maneira de a apresentar e aplicar, varia conforme o nível cultural, as exigências e responsabilidades daqueles a que a transmitem. E foram precisamente essas raras qualidades que foram determinantes para a justa consagração oficial, num acto tão singelo como significativo.




Recordo que todos os amigos mais próximos ficaram agradecidos pelo justo galardão concedido ao Padre Correia da Cunha. É de notar que este clérigo tanto nos honrou com o seu exemplo de vida e inteligência, devotando o seu sacerdócio ao serviço da promoção do seu semelhante.

































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sábado, 8 de março de 2014

PE CORREIA DA CUNHA E O PERFIL DE SUA TI’AMÁLIA

















“QUANDO TE VI AMEI-TE JÁ MUITO 

ANTES…”





Em todas as épocas da história sempre existiram e ainda 

existem grandes mulheres.

E sempre o que se destacou nessas mulheres foi sem dúvida a sua grandeza moral.

Havia no coração do Padre Correia da Cunha, três mulheres que ele amava e o acompanharam ao longo de toda a sua vida. Hoje iremos falar de uma: A TI’AMÁLIA

Ao ler o perfil que abaixo publico, redigido pelo Padre Correia da Cunha, sobre a sua querida TI’AMÁLIA, confesso que este mereceu realmente a minha simpatia, admiração e respeito pela sua memória.


Era uma verdadeira heroína que merece ser recordada pelo seu trabalho e sacrifícios, feitos em prol dos seus irmãos, filhos e marido…


Poucos sabem reconhecer a influência que as mães tiveram nas nossas vidas e vitórias, sobretudo no que diz respeito aos valores morais. Devemos muito do que somos às nossas mães. Esta bela peça literária saída da pena do Padre Correia da Cunha constitui um acto de justiça e o reconhecimento da sua enorme dívida para com aquela santa mulher.

Dívida semelhante sempre manifestou ao longo da sua vida aquela que corajosamente ajudou na formação de alguém que lhe era querida e cujo seu amor expressava nas orações diárias, onde eram sempre incluídas.

A imagem da TI’AMÁLIA (das hortaliças), que é descrita neste sublime texto, é de uma mulher lutadora que tudo fazia para sarar as mazelas da sociedade, sabendo que permaneceria no anonimato… Queremos hoje, DIA DA MULHER recordar essa heroína como a sua história de vida. Como referia o Padre Correia da Cunha: “ Semeamos a discórdia e desejamos compreensão, agimos de forma estúpida e depois corremos a rezar para que tudo corra bem…” 

Fixemos o nosso olhar nesta santa mulher. A Humanidade pode ser diferente! 


Eis então o texto redigido pelo Padre Correia da Cunha:




Maria Amália Mendes Correia da Cunha




A TIA AMÁLIA…De vocês todos (e vocês amigos são mais de 1500), estou certo, nenhum a conheceu, a não ser a Berta – a Berta, caixa das utilidades. Sim, só a Berta a conheceu. E talvez ainda se lembre dela.


Lembra-se com certeza. Pode-se lá esquecer aquela pobre figura de grande mulher, que foi mãe dos três irmãos, de sete filhos e do próprio marido!...

Pode-se lá esquecer aquele perfil beirão, de linhas romanas, boca fina, mais elegante, olhos em amêndoa vivos, penetrantes e inocentes, queixo voluntarioso e aquele ar inocente e puro, ia a dizer (e posso dizê-lo) virginal mesmo depois de ser mãe tantas vezes…


Ah! Não é possível esquecer, pois não Berta?

A Ti' Amália que ficara órfã aos 12 anos, lá nos recôncavos da Serra da Estrela, ainda menina e moça, logo se viu mulher a cuidar dos irmãos, todos mais novos.

Os pais não lhe mandaram ensinar a ela nem aos irmãos o bê- à-bá das letras; mas ela não deixou de tratar que ao menos eles as aprendessem.

Marejando, trabalhando sempre aqui e acolá; conseguiu educar os três irmãos e fazer deles pessoas de bem. Tratou das viagens dos que foram tentar a sorte para as Américas onde viveram com abastança e deixaram raízes, casou a que aqui em Portugal ficou, casou-a bem, a ponto de viver melhor que a própria Tia Amália, que só pensava no bem dos outros, não no dela.

A sua missão era servir e só para a cumprir soube viver…

Sem saber ler nem escrever, a Ti'Amália criou e educou sete filhos…

Nunca calçou meias de seda, nem foi a nenhum animatógrafo. Andou de automóvel só cinco ou seis vezes por absoluta necessidade e para bem dos outros. De uma vez (lembro-me perfeitamente) foi para levar uma vizinha doente ao hospital, de outra foi por causa de um filho que também precisou de serviços hospitalares, e as outras penso que foi para ir para a maternidade onde nasceram quatro dos filhos, porque os outros teve-os em casa.


Não sei se teve aquilo a que nós chamamos alegrias… Penso que não. A sua alegria, o seu prazer era fazer o bem, servir, ser útil aos seus e aos de fora.

Malfadado para os negócios em que se metia, o marido descambou em beber um pouco mais do que devia. E quando estava com a pinga, fazia-lhe a vida negra a ela, aos filhos e à própria vizinhança. Mas como ele era um homem sério e bom e sobretudo porque a Tia Amália era um exemplo de trabalho, de sacrifício e de caridade, toda a gente perdoava ao pobre homem aquela sua fraqueza.


No entanto, a Tia Amália até por isso sofria. Muito sofreu ela. Pelo marido, e pelos filhos que, embora educaditos, eram traquinas, levados da breca, e até pelos vizinhos a quem, (apesar de ser mais pobres do que eles) nunca ficou a dever fosse o que fosse, antes favoreceu com a sua ajuda pessoal pois que não podia dar em dinheiro.

De certa feita (lembro-me como se fosse hoje e já lá vão 40 anos), a Senhora Emília, vizinha do rés-do-chão, estava doente e a Tia Amália, não tendo nada para lhe dar, deu-lhe o serviço de esfregar o chão e arrumar a casa.

De outra vez, a uma família tão pobre como a dela, mas que na altura estava em maior necessidade, soube-lhe levar o comer que arranjava para os filhos, ensinando-lhes assim, ao vivo, o que era a caridade.




José Cunha e Amália Cunha nos Inválidos do Comércio na sua velhice



A Tia Amália era pobre? Pode-se dizer que era pobre uma mulher assim tão rica de caridade?


Muito sofreu também a Tia Amália, ao ver morrer dois filhos, um com 6 anos e outro com 19. O primeiro morreu-lhe nos braços, nem se sabe de quê. Era uma criança tão perfeita, o Henrique… (O primeiro Henrique, que lhe deixou tanta saudade que logo pediu a Deus que lhe desse um segundo Henrique. E Deus ouviu-a.)


E muito sofreu ainda por sentir que morria antes do marido a quem queria acompanhar, defender e ajudar (devido ao tal fraquito dele) por ser o homem a quem dera todo o seu abençoado amor.


Toda a sua vida foi realmente de sofrimento, de calvário. Mas ela tinha esperança. Sabia que esta vida é apenas uma caminhada para a outra, e que só valia a pena se ao serviço do bem dos outros. No fundo foi uma mulher que muito sofreu, mas que foi feliz porque sabia que estava no bom caminho.


Por tudo isto, sempre Deus a abençoou. 

Abençoou-a nos seus trabalhos e canseiras, nos seus irmãos, no seu marido que acabou regenerado, nos seus filhos, que todos os cinco vivos os vira arrumados na vida, na memória de todos os que a conheceram.

Não é verdade Berta?

Por tudo isto, Deus, que a acompanhou no seu calvário, a veio buscar num Domingo de Páscoa, precisamente no Domingo de Páscoa de 1959.

E digam lá que não foi realmente uma grande e exemplar mulher a Ti'Amália, a minha mãe?

Padre José Correia da Cunha




















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