«O QUE DEUS UNIU, NÃO
SEPARE O
HOMEM!»
O Sacramento do Matrimónio
assumido em plena liberdade implica a missão de se construir uma vida a dois,
repleta de alegrias e tristezas até à morte. Não se pode resumir apenas aos
desejos e vontades de cada um.
O Padre Correia da Cunha fazia
questão de referir que o casamento não era «pêra doce», todos os casais se
encontrariam e debateriam com muitos sérios problemas…
Era claro, em afirmar que na vida
conjugal não era só receber, mas sobretudo doar o amor ao outro. Para ele essa
era a verdadeira vocação do casamento, que tão bem expressava nestas imagens:
‘’ Podemos ter as flores mais belas do mundo, mas se não as cuidarmos e
regarmos convenientemente, essas flores acabarão por morrer. Assim é com o
casamento, deverá ser irrigado permanentemente num partilhado diálogo ao longo
de toda a vida. O diálogo é a água que todo o casamento necessita para se
desenvolver na plenitude da felicidade.’’
Ao fazer-se padre, o jovem
Correia da Cunha possuía a profunda consciência que iria assumir para toda a
sua vida, a entrega sem reservas, para ir ao encontro da felicidade dos seus
irmãos em Cristo.
A vocação matrimonial ou
sacerdotal é para toda a vida. Não se pode desistir a meio do caminho, é
preciso chegar ao fim. Muitas vezes a solução não passa pela separação mas pela
superação.
A comunhão conjugal caracteriza-se
não só pela unidade mas sobretudo pela indissolubilidade.
É sobre essa insistência
inequívoca da indissolubilidade do vínculo matrimonial, que pode parecer como
uma exigência impraticável, que o Padre Correia da Cunha nos fala nesta oitava lição
do seu Curso de Preparação para o Matrimónio, convidando os noivos a serem fiéis
um ao outro para sempre, para além de todas as provas e dificuldades da vida,
numa generosa obediência à vontade do Senhor.
Texto do Padre Correia da Cunha
Nas últimas lições abordámos algumas das principais condições da
validade de um matrimónio, a saber: - a capacidade física e moral; a liberdade
de escolha e de consentimento; e, ainda, a unidade matrimonial. E concluímos
que o casamento para ser válido e sério tem de realizar-se livremente entre um
só homem e uma só mulher física e moralmente capazes de fundar uma família.
Vamos hoje estudar um outro aspecto fundamental, exigido como condição
essencial pela doutrina católica, e posto de parte por certa legislação
moderna: - a indissolubilidade.
Indissolubilidade é a característica do casamento entre católicos, e
significa que, em caso algum, é permitida a separação, como possibilidade de
contrair novo matrimónio, a pessoas validamente casadas.
Por favor, procurem ler com atenção o que aqui vai em letra de forma!
A Igreja Católica admite a separação de pessoas e bens entre casados,
mas não permite que eles possam contrair novo casamento. Quer dizer, a Igreja
condena absolutamente o divórcio. E porquê?
1º - Porque defende a família. Para a Igreja a família é uma
instituição sagrada, mediante a qual o casal humano é chamado a realizar a sua
mais bela obra: - a formação de homens. Entre gente civilizada (e mesmo entre
selvagens) o homem recém-nascido não é, como grande parte dos animais capaz de
se desenvolver e formar não só sob o aspecto físico, com o também e sobretudo
na sua vida moral, intelectual e espiritual. Precisa de um meio próprio ao seu
desenvolvimento sob qualquer destes aspectos. Esse meio é naturalmente a
Família. É ela quem de geração em geração mantém as tradições, a educação e a
civilização de um povo e as características de uma raça.
Se os esposos se podem separar, a Família desmorona-se por completo.
Além disso, os pais representam aos olhos dos filhos a unidade e a
continuidade da Família. Por consequência devem viver sempre unidos.
Acresce ainda que a união entre os esposos tem ainda como finalidade o auxílio
mútuo, tal como ficou dito nas primeiras páginas deste curso que trataram este
assunto.
Para que esse auxílio mútuo seja estável e eficaz é necessário não
admitir o divórcio.
Em conclusão: - A Instituição – Família, exige para se poder manter que
coisa alguma deste mundo, nem interesse algum seja capaz de a destruir, e o
divórcio é um atentado contra uma Família constituída.
2º - Porque defende a Sociedade. É uma banalidade dizer-se que a
Família é a célula da sociedade. Mas esta banalidade é uma verdade absoluta.
Tocar na Família é tocar no ponto vital da sociedade. Destrui-la a ela, a
Família, é destruir a sociedade. Nem se diga que um caso ou outro não casos,
pois o que importa não são este ou aquele caso de divórcio, mas sim o princípio,
o admitir-se que as células (os elementos vitais da sociedade) se podem
destruir, porque, se é possível aniquilá-los …adeus sociedade humana!|
Dirão: mas só em casos especiais será admissível o divórcio. Quem assim
fala esquece que os casos são todos especiais, pois são sempre passados entre
humanos, e cada indivíduo humano é sempre um caso especial, à parte pessoal.
Não há duas pessoas iguais. A razão que este hoje invoca, pode ser
invocada por aquele amanhã; e aquilo que para a peixeira pode não ser grave é-o
para a duquesa. Por exemplo: um palavrão ou uma bofetada do marido.
- De resto, onde haveria garantia da formação dos homens de amanhã?
E qual o casal que quer dar filhos à Pátria se eles são um empecilho
para amanhã os pais possam desligar-se e fazer outra experiencia?
É claro, com o divórcio vamos cair no amor livre e na prostituição geral!
3º - Porque defende a personalidade humana. A pessoa humana é um ser à
parte na Criação inteira. Sabe o que é a honra e dever. Tem consciência de si
própria, da sua finalidade, e da sua missão.
A Igreja não admitindo o divórcio salva a honra daqueles que prometeram
diante de Deus e da Sociedade fidelidade até à morte. Mais ainda, obriga os
esposos a serem honrados, guardando, apesar de tudo, a fidelidade jurada. É que
o juramento, a promessa é para o homem honrado e civilizado um direito sagrado
cujo cumprimento só o honra.
Se um marinheiro quebra o juramento de fidelidade à sua pátria é um
traidor; se um comerciante que falta à sua palavra é um pulha, os esposos que
se divorciam o que são?
- Não são pessoas de bem, não são honrados, nem sérios. Por isso a
Igreja condenando o divórcio salva a honra dos homens, embora muitos deles se
esqueçam dos seus deveres honrosos e até queiram fugir cobardemente do seu
cumprimento.
- Salva especialmente a mulher que, por via de regra, é a principal
vítima do divórcio. Salva a formação dos filhos. Salva o bom nome, a reputação
do marido e de todos.
4º - Porque defende e proclama a doutrina de Jesus Cristo.
A palavra de Jesus é clara. Ninguém a pode deturpar: «Todo aquele que
expulsar sua mulher e se juntar com outra é adúltero, e toda a mulher que se
separar de seu marido e se liga a outro é adúltera!» (Marcos X, 11-12 e Lucas
XVI-18).
São Paulo di-lo também claramente nos seguintes termos: «Pela Lei do
matrimónio a mulher fica ligada ao seu marido enquanto viver… se, se juntar com
outro, deve chamar-se adúltera! (Rom. VII, 2-3). «Aquele que estão casados
ordena o Senhor que se não separem.Se, porém, algum deles viver separado, não
se case com outro, antes de se reconciliem.» (Cor VII, 10-11).
O ensino da Igreja tem sido fiel a esta doutrina e a tal ponto, que
prefere perder um grande povo, como a Inglaterra, a transigir neste ponto.
Lembremos Henrique VIII!
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