terça-feira, 22 de maio de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA – E O CONSELHO PAROQUIAL

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«A vida é um sonho que só se alcança sonhando»



O Padre José Correia da Cunha, todos os inícios do Ano Litúrgico, convocava-nos para o trabalho exigente e determinado na execução do Plano de Acção Pastoral Paroquial.
Nos anos após o Concílio, o Padre Correia da Cunha apontava como imperiosa necessidade o empenhamento dos leigos na gestão da vida comunitária. Instituiu para o efeito um Conselho Paroquial constituído por um grupo de cristãos, que esquecendo as divergências de ideais pessoais, se dispunha a pensar com o seu Pastor a forma de servir de coração aberto a sua comunidade paroquial nas várias áreas pastorais.
Todos tínhamos profunda consciência de sermos uma Comunidade de fracos recursos económicos mas de uma forte energia moral nos deveres para com os irmãos e a Igreja.
Todas as quartas-feiras, reunia-se com o Padre Correia da Cunha um pequeno grupo de cristãos para traçarem as linhas orientadoras para a dinamização das actividades pastorais da paróquia.



Por sua determinação, eu era um dos eleitos com apenas catorze anos (guardo religiosamente esse convite assinado pela sua mão). Faziam parte desse Conselho os mais empenhados vultos da paróquia, aqui hoje recordo: - Carlos Anjos Barradas (1926-2008) -SSVP, Casimiro Nunes Ferreira (1928-2009) - Liturgia, Rui Sequeira Aço-Corpo Nacional de Escutas e Pastoral Juvenil, Luis Quaresma e Eunice Quaresma – Grupo Coral, Anita Themudo Barata (1922-1982) e João Paulo Dias – Catequese.


Recordo que cada geração que passa recebe sensações que ficam indelevelmente marcadas na história da sua vida. A minha passagem por esse Conselho Paroquial marcou a minha sensibilidade de modo indeterminado, e de uma forma imprecisa que contribuiu, sem dúvida, para o desenvolvimento da minha personalidade pela relevância das dissertações livres, diálogos e factos ali abordados.

Sei que os jovens de hoje são muito diferentes dos de ontem. As suas almas buscam novos rumos, a sua fé demanda outras certezas e o seu entusiasmo estímulos diferentes.

Já naquele tempo a inércia não contava para o Padre Correia da Cunha porque era a negação do esforço e do pensamento. Como já várias vezes referi para ele não havia rigidez de pensamento, pois quem recusa a crítica, a controvérsia e a opinião, gera arestas como qualquer rochedo. Não tem biografia porque não admite o movimento e a renovação de ideais. Fossiliza-se, sepultando-se nas suas manias.

Uma das características do Conselho Paroquial era a sua paixão pela novidade, não se deixando aprisionar ou seguir à risca as melhores lições de falsos paternalistas.

Para o Padre Correia da Cunha, o espírito humano, na sua luta com a natureza, incitava contínua e fatalmente a processos para a dominar. As mudanças que se viviam na Igreja pós conciliar, que ele acolheu de braços abertos, eram consideradas por ele tão necessárias que, e no fim de contas, ninguém poderia escapar-lhes. As novas reformas, de tão humanas, faziam que incorporássemos essa história de sucessos e concretizássemos as nossas profundas aspirações cristãs.

Os momentos ali partilhados muito nos ensinaram, constituindo o Evangelho a linha condutora na descoberta da felicidade plena. Ali eram inspiradas noções que só, a vivência da caridade, no mundo que nos cercava, era capaz de criar ritmos de harmonia na nossa vida interior.

Os mundos desfazem-se e organizam-se outros. Estas transformações que todos participávamos exigiam aos cristãos de Fé um esforço inteligente e até sacrifícios para estudarmos toda a documentação que brotava sobre o Concílio Vaticano II. Este Concílio representou uma tomada de consciência universal nova, da Igreja. Essa nova consciência era traduzida pelas palavras: renovação, serviço, diálogo, liberdade substituindo o reinado da luz e iluminação.

Sempre me interroguei o porquê de manter naquele Conselho Paroquial este jovem de catorze anos de idade.

O Padre Correia da Cunha tinha uma máxima: tudo tinha que ser bem compreendido para poder ser assumido pelos membros do Conselho Paroquial. Quando ele suspeitava que havia dúvidas sobre as suas explanações, nada melhor que interrogar o jovem sobre a sua apreensão. Dessa forma poderia repetir de uma forma mais simples o conteúdo da exposição sem criar dificuldades aos adultos. Nas celebrações litúrgicas, era um pedagogo nato e aproveitava a presença dos jovens adolescentes para explicar todo o acto litúrgico. Obviamente que os alvos eram os adultos ali presentes.

Confesso que ganhei muito em ter sido membro desse Conselho Paroquial e devo muito da minha formação cristã ao querido e saudoso Padre Correia da Cunha, que através do seu trabalho e virtudes contribuiu para que muitos jovens fossem fermento na sociedade, espalhando a Boa Nova do Evangelho: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”.

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domingo, 13 de maio de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA E A IMAGEM PEREGRINA-1960

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''FICAI CONNOSCO SENHORA''



Homenagem a Nossa Senhora de Fátima, Rainha de Portugal



A Fé e a devoção foram desde sempre características que identificam os peregrinos que em cada dia 13 de Maio, desde os primeiros tempos do Santuário Mariano de Fátima, rumam à Cova da Iria. Movidos por uma enorme crença, jamais se poupam aos sacrifícios para darem testemunho da sua piedade cristã.


Recordo hoje, que durante os dias 27 de Novembro a 4 de Dezembro do ano da graça de 1960, a Imagem Peregrina da Nossa Senhora de Fátima se encontrava na Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora. Ali fora acolhida, em ambiente festivo de boas-vindas pelos paroquianos e seu recente Pároco: Padre José Correia da Cunha.


A Paróquia de São Vicente de Fora recebeu a imagem de Nossa Senhora com a maior imponência ao som de Hinos e de preces de louvor. Enquanto repicavam festivamente os sinos nas torres da majestosa igreja, a multidão rompia em entusiasmadas aclamações.


A Luz que se irradia de Fátima e se espalha por todas as Nações da Terra, durante uma inolvidável semana encheu de beleza e pureza as almas de São Vicente de Fora com mensagens de amor, esperança e de paz.



Na primeira noite, realizou-se uma imponentíssima procissão luminosa que então, conduziu a imagem da Virgem da Cova da Iria, por esse vasto Campo de Santa Clara até ao Hospital da Marinha, onde o Padre Correia da Cunha fora capelão desde 1943 até  ao dia 10 de Outubro de 1960.






Na fachada do edifício do Hospital da Marinha, constavam as letras AM (Avé-Maria) iluminadas. O andor, retirado aos ombros dos paroquianos, era entregue aos marinheiros dessa secular instituição.
Houve um momento de paragem e todos os participantes oraram por breves momentos. Entoado o Hino TE DEUM LAUDAMUS em acção de graças, o Padre Correia da Cunha procedeu à benção com ostensório, a todos os doentes internados nesse Hospital Militar.

Constituiu certamente um espectáculo inolvidável, cheio de vibrações e colorido, verdadeiramente deslumbrante e de uma grandeza emocial sem par a Procissão de Nossa Senhora de Fátima que o recente prior realizou através das ruas da sua Comunidade Paroquial. Creio que era para ele o principio da descoberta para a Evangelização e conquista dos corações deste generoso povo de DEUS!


« Em procissão solene, a Deus orando para os batéis viemos caminhando» ( Lusíadas)






Após o regresso da procissão luminosa, e à semelhança do que acontecera na recepção da imagem peregrina, a mesma foi colocada no topo das escadarias e  iluminada com potentes focos de luz, procedendo-se momentos depois a um cortejo processional em direcção ao altar-mor do soberbo templo que se encontrava lindamente decorado com belas flores em toda a sua extensão. Ao centro estava um trono para ali ficar até dia 4 de Dezembro. Durante esse tempo, milhares de fiéis de joelhos, rezavam e meditavam. Pediam paz e toda a felicidade para as suas famílias. Pediam que Nossa Senhora junto do seu amado Filho intercedesse para que o Padre Correia da Cunha, o novo pároco, nos soubesse dar sempre, o Pão da Palavra e o Pão da Vida!



Toda a freguesia parou para se votar à Virgem de Fátima e concentrar-se no Largo e Rua de São Vicente, uma multidão compacta e crente – cantando hossanas à excelsa Mãe de Deus e Rainha de Portugal. Não houve coração que resistisse a tamanha manifestação de Fé e olhos que conseguissem suster as lágrimas de comoção.

O Padre Correia da Cunha com toda a sua energia colocava toda a multidão a ecoar cânticos Marianos em perfeita acústica, num coro formidável.

Esta visita ficaria indescritível, mas passados muitos anos ainda era narrada por muitos paroquianos que nela participaram, como um sinal providencial para marcar a entrada do zeloso pároco que deixou uma grandiosa obra. A bondade, sinceridade e frontalidade deste homem de fé e de elevada cultura contagiou ao longo de 17 anos todos os seus irmãos em Cristo.



Na hora da despedida não faltaram as preces e os cânticos em louvor da Virgem Senhora Nossa Mãe, que por vezes atingiam a mais alta expressão mística.



A imagem depois de passar sob o dístico com a inscrição: FICAI CONNOSCO SENHORA, incorporou-se no cortejo automóvel, que de imediato se pôs em movimento em direcção à Catedral de Lisboa, por entre as ruas totalmente engalanadas com ricas colchas nas janelas em sinal de festa e glória por toda esta boa gente de São Vicente de Fora. A imagem dava a sensação que sorria, agradecendo o acolhimento dispensado por esta gente encharcada de Fé, poesia e sonho. Ardiam em todos o júbilo dos momentos que costumam ficar marcados indelevelmente para toda a vida.

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terça-feira, 1 de maio de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA – ALBÚM DE FOTOS

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«Soube despertar em todos nós sentimentos puros e ideias nobres. Um Mundo de compreensão e paz.»



Folhear os álbuns de fotografias do espólio do Padre Correia da Cunha é sempre uma forte e profunda emoção. Parece incrível como este pobre mundo se transforma, como mudam as pessoas e as coisas!
Tudo assombra e, ao mesmo tempo encanta, talvez pelo absurdo.
Aqueles e aquilo que pertenceu à vida que já não tivemos o prazer de conhecer, aceitamos sem grande espanto, pois estarão integradas perfeitamente no conceito das coisas “petrificadas” para a eternidade.
Agora aqueles e aquilo que ainda pertencem à vida (ou porque de alguma forma contactámos com eles ou porque convivemos no dia-a-dia), são difíceis de esquecermos e impossibilitarmos que entrem nas nossas cabeças, por mais que se queira. Eles pertencem ao nosso mundo independentemente de os termos apenas gravados nas páginas dos álbuns de fotos. 
Sou um dos muitos jovens que acompanharam Padre Correia da Cunha em infindáveis discussões, que se estendiam tantas vezes até ao romper da madrugada. Aqueles que como eu, com ele conviveram e o ouviram, não podem deixar de o imaginar naquele seu jeito tranquilo, cheio de firmeza e convicção que ninguém conseguia modificar.
Já há muito tempo nasceu em mim um forte sentimento, agora reforçado pela dedicatória a Padre Correia da Cunha que chegou às minhas mãos, onde é bem expressa a sua enorme inteligência e sensibilidade. Um modesto homem, que foi capelão da Armada e prior de uma pobre paróquia de Lisboa, e que serviu com elevado espírito, enorme glória e cultura, e um fervoroso sentido de serviço, a Deus e aos irmãos.




Queria hoje lançar um afectuoso pedido, a todos os que directamente o conheceram e com ele conviveram, assim como aqueles que o descobrem neste blogue: uma homenagem - In Memoriam de Padre José Correia da Cunha. Um singelo louvor a relembrá-lo numa simples página A4 com assinatura que permita a sua correcta digitalização.



Um simples texto pode descobrir todo o sentido, exprimindo o homem que queremos projectar pela sua vasta inteligência e cultura, numa confundível e imortal presença.

Nessas curtas linhas, lembro que deveremos apenas recordá-lo como um inesquecível amigo. Um homem simples que nos habituamos a ver na sua modéstia e enorme simpatia. Evocá-lo com respeito e veneração pois a sua figura ímpar de intelectual sempre o mereceu, tal como o seu espírito aberto, que era sensível a todas as manifestações inovadoras do seu tempo.

A Comunidade Paroquial e a Junta de Freguesia de São Vicente de Fora têm esquecido este Homem de grandes merecimentos, mas para homens com a têmpera do Padre Correia da Cunha morrer pouco importa; o importante é sobreviver em espírito. E ele estará hoje ainda mais vivo do que nunca se o quisermos imortalizar nesse nosso documento.

Herdei da sua biblioteca vários livros, um dos quais, do grande escritor José Régio: O «Príncipe com orelhas de burro». É desse romance que retiro palavras que poderiam ser suas: “Todos temos de morrer em vida, como o próprio mestre; E DEPOIS RESSUSCITAR. Ai de quem nunca morresse em vida, que estaria morto para sempre!”




Alguns felizmente, ainda pertencem a este mundo, mas encontram-se de momento a percorrer o caminho de ficarem nas páginas dos álbuns de fotos. Todos atravessamos, com desespero a vida, até porque são inevitáveis as nossas metamorfoses até aprendermos a viver com os nossos cabelos grisalhos, rugas e o sorriso de esperança….

O tempo não perdoa e vai pouco a pouco desgastando tudo que restava dos nossos verdes anos, que só um álbum de fotos ou um singelo texto podem fazer reviver perenemente.
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