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«A vida é um sonho que
só se alcança sonhando»
O Padre José Correia da
Cunha, todos os inícios do Ano Litúrgico, convocava-nos para o trabalho
exigente e determinado na execução do Plano de Acção Pastoral Paroquial.
Nos anos após o
Concílio, o Padre Correia da Cunha apontava como imperiosa necessidade o
empenhamento dos leigos na gestão da vida comunitária. Instituiu para o efeito
um Conselho Paroquial constituído por um grupo de cristãos, que esquecendo as
divergências de ideais pessoais, se dispunha a pensar com o seu Pastor a forma
de servir de coração aberto a sua comunidade paroquial nas várias áreas
pastorais.
Todos tínhamos profunda
consciência de sermos uma Comunidade de fracos recursos económicos mas de uma
forte energia moral nos deveres para com os irmãos e a Igreja.
Todas as
quartas-feiras, reunia-se com o Padre Correia da Cunha um pequeno grupo de
cristãos para traçarem as linhas orientadoras para a dinamização das
actividades pastorais da paróquia.
Por sua determinação,
eu era um dos eleitos com apenas catorze anos (guardo religiosamente esse
convite assinado pela sua mão). Faziam parte desse Conselho os mais empenhados
vultos da paróquia, aqui hoje recordo: - Carlos Anjos Barradas (1926-2008)
-SSVP, Casimiro Nunes Ferreira (1928-2009) - Liturgia, Rui Sequeira Aço-Corpo
Nacional de Escutas e Pastoral Juvenil, Luis Quaresma e Eunice Quaresma – Grupo
Coral, Anita Themudo Barata (1922-1982) e João Paulo Dias – Catequese.
Recordo que cada geração
que passa recebe sensações que ficam indelevelmente marcadas na história da sua
vida. A minha passagem por esse Conselho Paroquial marcou a minha sensibilidade
de modo indeterminado, e de uma forma imprecisa que contribuiu, sem dúvida,
para o desenvolvimento da minha personalidade pela relevância das dissertações
livres, diálogos e factos ali abordados.
Sei que os jovens de
hoje são muito diferentes dos de ontem. As suas almas buscam novos rumos, a sua
fé demanda outras certezas e o seu entusiasmo estímulos diferentes.
Já naquele tempo a
inércia não contava para o Padre Correia da Cunha porque era a negação do
esforço e do pensamento. Como já várias vezes referi para ele não havia rigidez
de pensamento, pois quem recusa a crítica, a controvérsia e a opinião, gera
arestas como qualquer rochedo. Não tem biografia porque não admite o movimento
e a renovação de ideais. Fossiliza-se, sepultando-se nas suas manias.
Uma das características
do Conselho Paroquial era a sua paixão pela novidade, não se deixando aprisionar
ou seguir à risca as melhores lições de falsos paternalistas.
Para o Padre Correia da
Cunha, o espírito humano, na sua luta com a natureza, incitava contínua e
fatalmente a processos para a dominar. As mudanças que se viviam na Igreja pós
conciliar, que ele acolheu de braços abertos, eram consideradas por ele tão
necessárias que, e no fim de contas, ninguém poderia escapar-lhes. As novas
reformas, de tão humanas, faziam que incorporássemos essa história de sucessos
e concretizássemos as nossas profundas aspirações cristãs.
Os momentos ali
partilhados muito nos ensinaram, constituindo o Evangelho a linha condutora na
descoberta da felicidade plena. Ali eram inspiradas noções que só, a vivência
da caridade, no mundo que nos cercava, era capaz de criar ritmos de harmonia na
nossa vida interior.
Os mundos desfazem-se e
organizam-se outros. Estas transformações que todos participávamos exigiam aos
cristãos de Fé um esforço inteligente e até sacrifícios para estudarmos toda a
documentação que brotava sobre o Concílio Vaticano II. Este Concílio
representou uma tomada de consciência universal nova, da Igreja. Essa nova
consciência era traduzida pelas palavras: renovação, serviço, diálogo,
liberdade substituindo o reinado da luz e iluminação.
Sempre me interroguei o
porquê de manter naquele Conselho Paroquial este jovem de catorze anos de
idade.
O Padre Correia da
Cunha tinha uma máxima: tudo tinha que ser bem compreendido para poder ser
assumido pelos membros do Conselho Paroquial. Quando ele suspeitava que havia
dúvidas sobre as suas explanações, nada melhor que interrogar o jovem sobre a
sua apreensão. Dessa forma poderia repetir de uma forma mais simples o conteúdo
da exposição sem criar dificuldades aos adultos. Nas celebrações litúrgicas,
era um pedagogo nato e aproveitava a presença dos jovens adolescentes para
explicar todo o acto litúrgico. Obviamente que os alvos eram os adultos ali
presentes.
Confesso que ganhei
muito em ter sido membro desse Conselho Paroquial e devo muito da minha
formação cristã ao querido e saudoso Padre Correia da Cunha, que através do seu
trabalho e virtudes contribuiu para que muitos jovens fossem fermento na
sociedade, espalhando a Boa Nova do Evangelho: “Amar a Deus sobre todas as coisas e
ao próximo como a nós mesmos”.
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