quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

NOVO ANO (2018/2019)











CHEGAMOS AO FIM DE MAIS UM PEDAÇO DE TEMPO… SAUDAMOS O NOVO ANO!






No limiar do fim do ano, um novo ano irá surgir para acalentar as nossas esperanças. Há em cada um de nós o desejo irresistível para descobrirmos os mistérios do futuro desconhecido, por isso, quase sem pensarmos, lutamos desesperadamente pela conquista dos novos ideais. São as habituais ilusões que o optimismo coloca nas almas de cada um.

A esperança é uma quimera encantadora que contemplamos na fúria quotidiana dos nossos anseios. Será que o novo ano encherá de novos horizontes as perspectivas nas nossas vidas? Só sei que queremos sempre segurar as boas recordações do ano que termina. O porvir será sempre uma incógnita. 

No ano que estamos a abandonar, muitas coisas findaram; muitas esperanças, sonhos e muitas vidas de amigos se extinguiram…mas continuam vivas nos nossos corações.

O velho ano agoniza no estertor do fim, esperando que o novo ano rebente vitorioso, gerando novas esperanças e alimentando novas ilusões.

Ano novo! Abrimos de par em par as portas das nossas almas e aspiramos os perfumes do ambicionado porvir.



O próximo mês de Fevereiro 2019 será diferente! Iremos associar-nos aos princípios humanos, que as saudades das proveitosas lições do Ismael Sanches (Pe.) povoam nas experiências dos ‘’jovens’’ do Grupo OBJECTIVO.

O prior (Padre Cunha) autoria Rui Aço
                                   
O GRUPO DE JOVENS OBJECTIVO foi fundado pelo Padre Correia da Cunha, no ano de 1971, na Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora. 

Recordo que foi pela mão do Padre Correia da Cunha, que o Ismael Sanches (Pe.), na qualidade de orientador espiritual, possuía todo espaço para a criatividade,utopias e fantasias junto dos jovens da paróquia, pois não abundavam há época clérigos tão cultíssimos e geniais nas vanguardistas propostas pastorais dirigidas à juventude. 

Estou certo que será também o momento para lembrar a irreverente talento que o Padre Correia da Cunha punha em tudo o que fazia em prol da juventude de São Vicente de Fora. 

Tomar nota: 1 Fevereiro 2019

 Rui Aço
                                       
Exposição promovida pela OD - Oficina do Desenho-Cascais, com obras do conceituado pintor Rui Aço intitulada «O HOMEM DOMICILIADO» na galeria Arte Graça na área da Junta de Freguesia de São Vicente de Fora.

Obras inspiradas no pensamento do teólogo, filosofo Ismael Sanches autor do livro «Casa-Ponto de Honra». Livro que será base para várias prelecções por vários brilhantes conferencistas. Neste momento estamos dependentes de mais informação sobre esse grande evento. 

Teólogo Ismael Sanches

Iremos ficar maravilhados diante as coloridas obras de arte desta exposição de homenagem ao Ismael Sanches, homem que passou a fazer parte das nossas vidas. 

As alegrias espalham-se nestes dias em manifestações fraternais, renovam-se com entusiasmo os votos para 2019, pois se não houvesse fim de ano, por certo não haveria ano novo…

Desejos de confraternização enchem os nossos corações. A todos envio um abraço de felicitações para o novo ano. 

Feliz ano novo para todos os meus familiares e amigos.




















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domingo, 23 de dezembro de 2018

NATAL 2018









Presépio São Vicente de Fora no ano 1964




«O VERBO FEZ-SE CARNE, HABITOU

 ENTRE NÓS…»




Mais uma vez em nossas vidas, sentimos chegar o memorial do nascimento do menino de Belém. Natal do Menino Jesus.

Por vezes, fico a pensar que o melhor da vida é a infância, quando tínhamos o direito de acreditar que a bondade do Menino Jesus ficava para sempre nos corações dos homens. 

Em cada Natal recordo a sublime riqueza dessa efeméride na Paróquia de São Vicente de Fora. Eram ilusões infantis envolvidas de harmoniosos cânticos.





É uma verdade, em todas as noites de Natal, se conservam lembranças de outras épocas. O nosso saudoso e querido Padre Correia da Cunha cumpria todos os rituais através de sumptuosos cenários: o enorme presépio construído no hall do templo, o gigantesco pinheiro, onde cintilavam centenas de luzinhas, os concertos musicais e os presentes para todas as suas crianças. São retalhos de infância que ainda hoje dão côr ao meu pensamento retrospectivo do Natal, na Paróquia de São Vicente de Fora, pois enquanto o tempo passa, mais distante fico daquela infância ingénua, mas muito feliz. 

Os caminhos da vida, que trazem de tão longe as imagens da verdade, através dos compassos dos anos, por vezes colocamo-nos diante dos principais finais das coisas e esquecemos todos os sentimentos divinos que envolvem as nossas almas desde a infância, na grandeza daquele humilde estábulo de luz: Jesus Menino!


Direcção Catequese ano 1966


A maioria dos cristãos já não sabem sentir o elevado significado da efeméride. Respeita a data porque o calendário a assinala. 

O Natal seria lindo se a vontade da Humanidade fosse igual a todos os desejos daquele menino nascido em Belém. 

Quanto mais profundas são as trevas, mais valor se dá à luz. 

- Neste Natal, Menino Jesus peço-te que ilumines os nossos caminhos do bem e ampares os que se debatem nos atalhos das trevas. Nas trevas só se espera a luz e Tu Jesus Menino és a verdadeira Luz.


Grupo de Catequistas no ano 1966



Nesta véspera de Natal, quando temos a certeza que em milhões de lares se comemora o nascimento do príncipe da Luz, os meus desejos são de muita Paz, Harmonia e Luz. 

Natal é a festa da família. A todas as famílias e amigos um iluminado e Santo Natal.














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segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

PE. CORREIA DA CUNHA – ACÇÃO CATÓLICA VIII













«CRIADAS POR ELE, PARA ELE ESTÃO VOLTADAS TODAS AS COISAS…»



Sendo o Padre Correia da Cunha um homem da sua época, conhecedor dos imensos perigos que corriam os adolescentes e jovens da armada e da paróquia, a sua principal missão como capelão e prior sempre foi a de os formar para a Vida.

O Padre Correia da Cunha era como um pai, sabia perdoar sem nunca julgar; a sua principal preocupação era apontar caminhos que contribuíssem para a formação integral (humana e espiritual) dos seus pupilos.

Sempre foi um sacerdote empenhado nos projectos pastorais que se dirigissem aos adolescentes e jovens. Pelos seus sentimentos fraternais possuía sempre o conselho certo para iluminar a ânsia dos jovens que corriam o perigo de se deixarem arrastar pelos caminhos das trevas.

Era reconhecido por todos os jovens como um símbolo de sabedoria e experiência paternal, pois sempre soube espalhar, através da sua sublime arte de ensinar, os nobres princípios cristãos.

O Padre Correia da Cunha pela heróica sensibilidade dos seus traços foi um incansável defensor e impulsionador dos valores evangélicos, pilares de referência que ainda hoje são seguidos por uma imensa legião de antigos jovens que gozaram da sua protecção. 

Como sugestão de prenda de Natal 2018, poderá aproveitar a promoção natalícia para aquisição do livro: CORREIA DA CUNHA – MESTRE DE VIDA, pelo preço de 15,00€, fazendo o seu pedido através do correio electrónico: joaopaulo.costadias@gmail.com ou telefone 218462238.  

                                             SANTO NATAL! 




Texto de Padre Correia da Cunha



NÃO MOSTREMOS MÁ CARA AO MUNDO. 

Tudo quanto existe deve servir ao cristão para glorificar a Deus: «ut in onmibus glorificatur Deus» como nos ensina o grande patriarca dos monges do ocidente: São Bento. De tudo portanto deve o cristão usar sobrenaturalmente até mesmo das coisas físicas ou materiais, pois neste sentido e que devemos entender o «negotianirus dum venio». 

A obra da criação não favoreceu nem favorece o ateísmo e a impiedade; pelo contrário traz impresso o vestígio das mãos de Deus que ao passar a revestir com todas as belezas de que a criação é ornada. 

Qual será a pátria que Deus têm reservada aos seus amigos se já o exílio este vale de lágrimas é belo e bom? O mundo foi criado não para ser entregue ao demónio mas para ser, depois da redenção divinizado pelo cristão em estado de graça, o cristão deve por todas as criaturas, mesmo inanimadas, a louvar o Pai e o Filho na unidade do Espírito Santo, integrando-as todas em si e ele em Cristo para a completa glorificação de Deus. É o que já dizia São Paulo: «Omnia vestra sunt, vos autem Cristi; Cristus autem Dei.» algures numa das suas epistolas.




O homem deve ter em conta que é administrador das coisas, que existem, colaborando assim pelo trabalho na obra da criação e extensão do Reino de Deus. 

Nem a natureza humana. 

Jamais podemos admitir oposição ou mesmo preparação entre a vida natural e o cristianismo. 

Este deve penetrar até ao fundo de toda a vida humana. As flores e os frutos dos campos, os minerais e os vegetais esperam que o homem os cuide e trabalhe pelas suas próprias mãos e aplique toda a força energia do seu espírito a fim de que possa manifestar toda a beleza riqueza e realidade que nelas existem. 

Isto mesmo acontece com a vida ou a natureza humana elevada pela graça que a faz chegar onde pelas suas próprias forças e na das criaturas jamais conseguiria chegar. 

Nós dependemos de Deus em todas as nossas acções mais do que a luz da lâmpada eléctrica depende da corrente. Em todo o momento a nossa existência depende de Deus por uma reacção contínua. Isto acontece na ordem puramente natural. Na sobrenatural é uma vida inteiramente nova que circula nas nossas veias pela graça e misericórdia infinitas de Deus.




FORMEMOS PORÉM VERDADEIROS CRISTÃOS 

Eis a nossa missão formar cristãos completos. Devemos procurar que a vida espiritual do cristão seja uma vida sólida, penetrada do espírito evangélico, e por conseguinte, do espirito de Cristo, de modo que a nossa vida seja como a de Cristo absolutamente impregnada na glorificação do Pai Celeste. 

É certo que isto nem sempre é tão fácil… 

Mas é então que vem a ocasião de pormos em acção o nosso dever de encorajar, assim e ajudar os jovens a conseguir esse fim. 

Esta maneira de compreender a vida cristã e o mundo não é 

isenta de perigos e obstáculos. Mas como os jovens são obrigados a viver neste mundo, não podemos fugir tanto a uns como a outros. 

Devemos orientá-los e ajudá-los para que a sua vida sendo fermento e luz levede e irradie na massa. 

FORMEMOS CRISTÃOS NOVOS 

Todo o nosso trabalho deve consistir em formar os jocistas e fazer deles cristãos capazes de conquistar e transformar os seus irmãos de trabalho e ajudá-los a realizar plenamente a união da natureza e da graça. Queremos formar cristãos novos. A juventude passará como é a triste sina de tudo o que é criado, chegará também o momento em que os jovens terão de deixar a JOC para ingressarem nas fileiras da LOC. Mas muito embora os membros da JOC passem, não passará a JOC como organização. Portanto os assistentes eclesiásticos da JOC deverão ocupar-se sempre de jovens. 

OS PERIGOS DA ADOLESCÊNCIA 

Não esqueçamos que após a primeira comunhão quando o jovem abandona a catequese, cava-se um abismo entre a religião e a alma do operário, entre o jovem cristão e os seus companheiros de trabalho e que esse abismo, na medida que se entra no meio operário, se vai tornando cada vez mais profundo, sobretudo aos vinte anos… 

São pungentes e aflitivas as estatísticas acerca desta matéria. Por isso todo o esforço é pouco. 

O adolescente ao entrar no meio operário encontra-o infectado de paganismo, materialismo… de que é impossível defender-se atenta a sua inexperiência e pouca idade. 

Os operários mais velhos comprazem-se especialmente em corromper estas pobres almas moças e inocentes. O meio operário é (todos o sabemos) um escândalo contínuo. 

Tudo isto nos mostra a importância espiritual de nos colocarmos à altura da nossa missão para bem orientarmos os jovens e os ajudarmos a vencer os perigos e obstáculos que se lhes deparam. 

Fiquemos certos de que se não tiverem uma mão amiga e conselheira que os ampare e aconselhe infalivelmente vão submergir a esse abismo de corrupção de que muito dificilmente poderão sair.

















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segunda-feira, 5 de novembro de 2018

PE. CORREIA DA CUNHA – ACÇÃO CATÓLICA VII











 «O HOMEM FOI CRIADO PARA DAR GLORIA A DEUS!»


Em certas ocasiões da nossa vida, relembramos aulas aprendidas na nossa infância. Ao transcrever esta lição do Padre Correia da Cunha aos jocistas, veem-me à memória muitas coisas ouvidas nas catequeses deste zeloso pároco.
Como a voz do eco, o passado surge trazendo à minha mente as palavras do Padre Correia da Cunha, na sessão inicial de preparação para a minha primeira comunhão: “fomos criados para servir e amar a Deus”. Todas as pequeninas coisas que fazíamos como crianças, eram para a glória de Deus…
Deus criou o mundo e tudo o que nele existe; tudo foi criado para a glória de Deus.
Já na minha adolescência, muitas vezes interroguei o Padre Correia da Cunha: Porque o plano de Deus não contemplava um mundo onde todos vivêssemos na paz, na justiça e na fraternidade?

Havia uma grande verdade e que estava entranhada na profunda crença deste sacerdote – o pecado original. Se me recordo, este era o seu discurso: - O homem pecou, errou… que originou uma ruptura do homem com a sua origem, que era Deus. Esta falha ficou indelével no coração de todos os homens. O pecado da origem é perceptível, detectável e sentido por todos e cada um de nós. Foi um acto de desobediência a Deus. 0 Homem dotado de inteligência e de vontade quis experimentar a sua capacidade de decidir indo contra à vontade de Deus que o queria imensamente feliz. Esta experiência tornou-nos uns desgraçados e marcou-nos para sempre, desde a origem da humanidade.
É urgente e necessário que o homem volte a adorar a Deus observando e praticando agora a nova lei de Jesus Cristo e só assim será possível viver para sempre em paz, justiça e fraternidade. 




Texto da autoria do Padre Correia da Cunha


Quadro plástico ou vivo que representa ou que explica a solução do problema.

O Reverendíssimo Chanoine Pe Glorieux digníssimo e ilustríssimo Professeur au Grand Seminaire de Lille e erudito autor do nosso livro apresenta um quadro plástico que garante a autoridade: é o seguinte:
«Encostados a um muro encontravam-se quatro escadas de mão. Junto de cada uma um homem, melhor um jovem. O primeiro é um desportista, o segundo um trabalhador manual, o terceiro um trabalhador intelectual e finalmente junto da ultima escada um jocista com a sua insígnia e a cruz que representava a sua fé e vida cristãs.

Havia um árbitro que dava o sinal para subirem as respectivas escadas. Ao primeiro sinal o desportista com toda a facilidade ginasta trepa rapidamente ao cimo do muro, enquanto que os outros três ficam nos primeiros degraus.
Qual o seu significado? – o seguinte, continua o autor, significa que ele não passava de um desportista; fraco trabalhador e mais fraco ainda sob o ponto de vista cristão.
Ao segundo sinal é o trabalhador manual que sobe a escada até acima ficando os outros nos primeiros degraus. Isto significa que era unicamente trabalhador. Pouco se interessa das questões intelectuais e só rezará quando faz trovoada!...
Ao terceiro sinal e o trabalhador intelectual que vai na dianteira. Chega ao cimo, vê… mas não tem tempo para mais…

Ao quarto sinal sobe o jocista mas…não vai só arrasta consigo os outros todos. Quer isto dizer que o jocista é jocista em todos os sentidos, meios e condições: quer nos jogos, quer no trabalho tanto manual como intelectual etc…o jocista é sempre jovem, operário e cristã.






PLANO INICIAL DO CRIADOR

Nunca devemos esquecer o grande princípio: «todo o homem foi criado para dar glória a Deus pelo desenvolvimento de todas as energias, forças e actividades» Estas faculdades eram boas e auxiliares na nossa perfeição porque eram mantidas na perfeita harmonia pelos dons, principalmente pelos sobrenaturais no estado de justiça original.

O homem além de rei era o pontífice da criação por isso devia por , a sua inteligência  ao serviço harmonioso do seu fim ultimo : dar glória a Deus.

O homem era a «obra-prima» das mãos criadoras de Deus, no mundo visível é claro, a ponto de exclamar: Glória Dei vivens homo!

A salvação tanto antes como depois da queda original é uma obra pessoal e individual.
Perguntava São Francisco de Sales qual seria melhor o estado actual ou o primitivo, o original? A esta pergunta ele mesmo se respondia: O estado actual é cem vezes melhor! Não cabe nenhuma dúvida que a graça da redenção é incomparavelmente superior.

Deus tratou-nos com tanto carinho do qual não podemos ter a menor ideia, essa ideia torna-se tanto mais clara e forte quanto mais for a nossa fé.



Após a queda original – É impossível imaginar catástrofe maior do que a que foi causada pelo pecado original, porque todas as outras catástrofes são uma consequência da primeira.

Foi destroçada a harmonia da criação embora as criaturas sejam boas, todavia o homem passando a carecer de integridade nativa, carece também da prudência e discrição necessárias para se utilizar bem dos bens da terra, e tende a açambarcar egoisticamente e a encaminhar todas as criaturas á satisfação das suas paixões desordenadas da sua concupiscências, por ser assim desvia-se do seu caminho e da ordem querida pelo plano do criador. Daqui a importância de estabelecermos a ordem primitiva e reconquista da obra da realeza das criaturas sendo para isto necessária uma completa indiferença a respeito de todas elas como diz Santo Inácio: «No plano original todas nos ajudavam sempre, mas hoje vemos que não é assim.»

A NOVA ORDEM DE COISAS

A nova ordem aspira a reconquistar a primitiva como já dizia São Paulo (Romanos VIII. O mundo espera ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus, porque todo ele está sujeito à vontade não por seu querer, mas pelo daquele que o sujeitou.

Toda a criatura é boa embora por vezes possa ser ocasião de pecado para quem não domina em si as paixões e caprichos, mesmo no estado presente. Não perdendo de vista que se trata do homem total sob o duplo ponto de vista da sua vida natural e sobrenatural.

Tenhamos sempre presentes esta regra de oiro: «Devemos usar das criaturas como se as não usássemos, lembrando-nos sempre de que são meios e não o fim (Coríntios VIII – 30-31)».

TUDO DEVE DESABROCHAR REFORTIFICAR PARA DEUS

O homem deve tomar muito a sério a uma vocação de Filhos de Deus. Tanto a vida natural como a sobrenatural devem sempre desenvolver-se e aperfeiçoar-se até atingirem toda a perfeição possível. Isto exige, é verdade, grandes e contínuos esforços durante toda a vida, mas nunca as religiões deve entrar em conflito com a vida natural e muito menos acima esta com aquela.

As duas vidas nunca se devem aniquilar ou contrariar uma à outra, antes pelo contrário devem desenvolver-se paralela e totalmente fazendo entre si uma espécie de com próximo.













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terça-feira, 2 de outubro de 2018

PE. CORREIA DA CUNHA – ACÇÃO CATÓLICA VI
















« A VIDA CRISTÃ NÃO SE DESCREVE, EXPERIMENTA-SE E VIVE-SE.»




A intenção do Padre Correia da Cunha com estas lições era ajudar os outros, fazendo uso da sua própria mestria, vivência e experiência. Os problemas abordados nestas lições continuam contemporâneos e relevantes para todos os que se interessam por temáticas da espiritualidade. A espiritualidade cristã tem algumas características essenciais, bem definidas pelo Padre Correia da Cunha neste belo texto. Era a verdadeira dimensão do mistério das verdades objectivas da doutrina traduzida para a vida quotidiana. 

Deus tem um plano especial para cada um de nós: que sejamos parecidos com Jesus e tenhamos um vida vitoriosa nele, para isso, precisamos de estar sempre muito atentos na nossa relação pessoal com Ele.

Todos somos chamados à Santidade, embora esta se exprima de vários modos e segundo o carisma de cada um; a espiritualidade não é um estado, mas uma forma de viver a fé cristã a partir dos impulsos da nossa vida sobrenatural para participarmos da vida divina.

Espiritualidade não é exclusão da materialidade, mas a relação ou união do homem todo-corpo e alma – com o Espírito com Deus.

Neste texto o Padre Correia da Cunha apresenta alguns conceitos divinos e mostra que, ao atendê-los, isso produz transformações em nós, em nossos familiares, amigos e na sociedade. Ouvir e aceitar os chamamentos de Deus é um projecto para toda a vida. Ouvi-lo significa vida, e vida em abundância e vitoriosa.

Se o Espírito de Deus é um, num primeiro momento podemos dizer que só há uma espiritualidade e todos os que fazemos parte da Igreja somos chamados à santidade, pois a verdadeira vida cristã não se descreve, experimenta-se e vive-se.

Para o Padre Correia da Cunha a tarefa de cada um de nós deve ser pois o de conhecer o evangelho e através dele transformar o mundo. Jesus Cristo é o nosso mestre e por Ele, e iluminados por Ele, a nossa vocação é render-nos à compaixão para com o nosso próximo.



Texto da autoria de Padre Correia da Cunha


Exigências da vida cristã. O que não é – o que é? 

Se a vida natural merece tão grandes cuidados quantos, não merecerá a vida sobrenatural num plano muito diferente.

A vida cristã aspira a penetrar todo o homem e a transforma-lo completamente; esta vida deve ser totalitária nem só por dentro nem só por fora, nem tampouco é para estar metida numa gaveta bem fechada donde se tira para usar dela apenas algumas vezes na semana. Não é uma receita, nem mesmo se pode comparar a uma companhia de seguros contra os riscos da salvação eterna, nem tampouco uma secção da nossa actividade, nem um pesado encargo suplementar da nossa dependência de Deus. A vida cristã não é nada disto: mas pelo contrário é uma transformação funda da natureza humana, elevada à participação da natureza divina. É total de todas as horas. 

Não é uma faculdade mas requer todas as potências do homem numa palavra; é toda a energia da vida inteira orientada para o fim sobrenatural.

Ambas as vidas: natural e cristã encontram-se no mesmo indivíduo. 

Há no homem duas fortes tendências que lhe fazem violência: uma natural de que faz parte, outra sobrenatural pela qual Deus o têm elevado à participação da sua própria natureza. A vida religiosa, é a resposta que se deve dar a Deus. Deus é o fim último, será a descoberta terrível que saberão os condenados pois não é pena de fogo que é a mais terrível mas sim a do dano. 

Esta dupla resistência traduz-se em lutas contínuas.

Não há duvida nenhuma: a voz da fé é energia mas o homem a pouco e pouco a pode apagar mas a voz da natureza nunca a pode apagar. 

A generosidade para com Deus nos levanta a coisas muito superiores, por isso facilmente podem vencer muitas dificuldades com relativa facilidade.


A Igreja Católica e o Mundo 

O gravíssimo problema que todo o indivíduo deve resolver é o que se levanta entre a religião e a vida, entre a Igreja e o mundo isto é: entre o cristianismo e o progresso.

A luta que existe entre a voz da natureza e a graça não é mais que um episódio. Os mesmos princípios que permitem resolver e superar o primeiro problema, da mesma forma nos dão a possibilidade e a chave para resolver os problemas tanto o individual como o geral.

A vitória sobre o mundo – primeiro aspecto. 

As duas atitudes que podem ter o cristão perante o mundo são: Servir a Deus no mundo. Servir o mundo por Deus.

Devemos considerar e olhar o mundo como uma coisa transitória e passageira, acrescentando-nos dificuldades para chegarmos a Deus. Não podemos prescindir dos meios e mais coisas para nos santificarmos na vida presente, assim como ao nosso próximo: Hoje existem coisas no mundo de que podemos usar para a nossa santificação, mas todas estas coisas devem ser limitativas; porque temos a considerar algumas nos são nocivas, outras inconvenientes, vigor e saúde na ordem natural é bem, mas passando à ordem sobrenatural é um grande bem: ter saúde para estudar no Seminário é óptimo mas para a estragar em lupanares é uma verdadeira catástrofe, e portanto mais-valia não a ter. 

Devemos, resumidamente, evitar todos os obstáculos que se apresentam à nossa santificação.



A vitória sobre o mundo – segundo aspecto. 

Servir o mundo por Deus, ou seja a recondução do mundo a Deus, tendo por cabeça: Jesus Cristo isto é o ideal que nos deve preocupar.

O mundo foi criado por um Deus infinitamente bom, unicamente para sua Glória extrínseca porque Deus não pode aumentar a sua Glória intrínseca.

O primeiro aspecto foca mais atenção sobre as desordens introduzidas pelo pecado e as graves consequências, segundo observa a ideia geral do plano divino na criação (i.é: a Glória de Deus). 

Tudo no mundo é para nós e nós somos para Cristo e Cristo é de Deus, dizia São Paulo.

A consequência é que não se trata de pontos de vista antagónicos mas complementares, na prática. A vida espiritual consiste em unir e conciliar os dois. Necessita-se de maior heroísmo para resistir do que atacar. Segundo nos ensina São Tomas. Nunca devemos ferir o amor-próprio de ninguém. 



















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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

PADRE CORREIA DA CUNHA – 101º ANIVERSÁRIO












«QUEM TEM AMIGOS É FELIZ!»


1917-2018


Quero hoje aqui recordar o dia 24 de Setembro de 2017, em que ocorreu a celebração do centenário do nascimento do Padre José Correia da Cunha (1917-1977). Nesse dia muitos amigos e admiradores se congregaram para lhe prestarem uma sentida homenagem à, para sempre, saudosa memória daquele que foi capelão da Armada (1943-1961), pároco de São Vicente de Fora e capelão das OGFE (1961-1977).






Passado um ano desta homenagem, estou certo que na sua sincera modéstia, o Padre Correia da Cunha diria, ser o único que poderia orgulhar-se pelos amigos que ali se reuniram, pois, para ele: «Quem tem amigos é feliz!». Eram estas as palavras que sempre lhe escutamos, palavras que na sua singeleza tão bem definem os limites da amizade.








O Padre Correia da Cunha pela sua grandeza moral, intelectual e espiritual não pode dispor de si em absoluto, pertence também aos amigos e admiradores que souberam por dever de gratidão e justiça perpetuar-lhe a memória com esta digna homenagem.



O modesto mas artístico monumento escultórico da autoria de José Carlos Coelho erguido nas traseiras do Mosteiro de São Vicente de Fora, fica ali bem, assim como a placa comemorativa da autoria da Arqtª. Ana Dias afixada no Campo de Santa Clara, pela Câmara Municipal de Lisboa, como gestos de gratidão a um dos pais «fundadores» da assistência religiosa à Marinha, ao pároco que deixou um rastro de luz na paróquia de São Vicente de Fora e ao filho de Lisboa que tanto amor dedicou à sua amada cidade.






O Patriarcado de Lisboa, a Marinha Portuguesa, a Câmara Municipal de Lisboa, familiares e amigos dignaram-se prestar o seu brilho àquelas cerimónias. É, pois, mais que justo que aqueles espaços, ainda hoje tão cheios da sua memória, se tenham dignificado com a inauguração daquelas simbologias em pedra e arte.


O Padre Correia da Cunha pelo seu carácter da mais fina têmpera deixou uma saudade em todos nós. Viverá sempre, mais do que em parte alguma, no coração de tantos amigos que o souberam compreender e amar e ainda hoje possuem uma inexcedível veneração à memoria deste Padre-Marinheiro-Poeta.







O  “RASTRO DE LUZ” DEIXADO PELO SACERDOTE QUE FOI CAPELÃO CHEFE DA  ARMADA E PÁROCO DE SÃO VICENTE DE FORA, EM LISBOA, FOI RECORDADO COM INAUGURAÇÃO  DE UMA ESTÁTUA.











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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

PE. CORREIA DA CUNHA - ACÇÃO CATÓLICA V










O NOSSO DESTINO É ELEVAR-NOS À 

PLENITUDE…




A importância de resgatar estas lições do Padre Correia da Cunha, aos jovens da JEC da Acção Católica, reside no facto de estes textos dos anos quarenta do século passado, manterem ainda um valor histórico e uma tremenda actualidade.

A vida não é apenas respirar. A vida é tudo o que existe dentro do mundo em que Deus nos colocou. A vida é o desenvolvimento de ideias e atitudes geradoras de sentimentos cuja ribalta deve ser o próprio corpo místico a que pertencemos. Pela razão e liberdade, a vida é tudo o que somos diante de nós mesmos. Muitas vezes ouvi ao Padre Correia da Cunha que a sua missão era viver e deixar viver… não queria que fossemos anjinhos. Os fracassos e os desânimos fazem parte da vida e o mais importante era continuar a resistir. O Reino de Deus é para os resilientes. Foste posto de lado? Tropeçaste? Não vos preocupeis com o ridículo nem com a derrota. Erguei-vos! O mundo pertence aos enérgicos e aos ousados e advém da graça divina depositada nas nossas almas. 

Não sei porque, mas após a leitura desta lição do Padre Correia da Cunha, sinto-me com a alma escancarada. Às vezes a nossa imaginação irrita-se com as verdades realistas dos humanos, obstinadamente empurrando-nos para os dramas de cada dia ou a querermos inventar pensamentos que amenizem todas as tragédias que se debruçam sobre o mundo no quotidiano.

Quanto mais pensamos que pensamos, menos pensamos, e mais distantes ficamos das ideias Divinas e da Graça que existe em cada um de nós baptizados. Destruímos ilusões, construímos sonhos falsos esquecendo-nos que o nosso destino é elevar-nos à plenitude. Deus na sua infinita sabedoria criou o universo com indiscutível perfeição e dá-nos a liberdade de o desorganizarmos através do pecado (Santa liberdade dos filhos de Deus). 

A vida à qual damos muito valor, nada vale dentro do tempo, pois ela finda-se e seremos miseras marionetas na vontade absoluta do destino de filhos de Deus, que é elevar-nos à plenitude.




Lição 5

Não se deve perder de vista que um cristão não é uma abstracção, como na prática, por vezes se julga. 

O cristão é antes de mais nada um ser de carne e osso como diz o Espírito Santo: «pueri communicaverunt carni, et sanguini, et ipse similiter participavit eisdem…»

O cristão é, pois, um ser de carne e osso resgatado pelo preço infinito do Sangue de Cristo: «imptoris pretio magno», que associado a uma vida e unido intimamente ao seu Corpo Místico é destinado a viver na terra como filho de Deus: «consors Divinae naturae». Numa palavra o cristão é um homem elevado ao estado sobrenatural, nem desencarnado, nem fora da terra. 

Desencarnado isto é: sem o seu corpo, sem a sua carne de pecado, sê-lo-á somente no dia em que o magno problema do seu eterno destino for para ele, definitivamente resolvido. Até lá porém, enquanto precisamente ele está na sua carne neste mundo, como pessoa ultra concreta, com a sua alma informando seu corpo e este por vezes pesando demasiado sobre a sua alma, deve o cristão assegurar esse destino de perspectivas infinitas… 

Um cristão não é um anjo, tampouco um santo embora seja este o tipo completo do cristão. 

Querer fazer de nossos dirigidos anjos seria um erro grosseiro e extremamente perigoso. O cristão não pode ignorar nem o sofrimento nem a tentação. Filho de Deus na carne, não somente como Deus «sinilitudinem carnis peccati», o cristão não pode viver fora do seu próprio corpo. Muito menos ainda fora deste mundo em que Deus o colocou. Enquanto, porém, estiver «in via» é um ser profundamente filho da terra a que está preso (quando mais atolado, por felicidade na sua lama). O mundo sensível que lhe opera sobre os sentidos, o mundo de que depende na sua actividade e no seu desenvolvimento, o mundo sociedade: a família, a profissão, a cidade ou povoação, exerce quer o cristão queira, quer não sobre ele um contacto imperioso e necessário quando não chega a ser uma influência real. Mas ainda que o mundo seja mau, lembremo-nos sempre da parábola do joio: «sinite atraque crescere usque ad messem» e das palavras de Nosso Senhor: «non rogo ut tollas eos de mundo sed ut serves eos ex malo…»


Resumindo: O cristão é o homem que em todas as suas circunstâncias de país, idade, temperamento e meio não desencarnado, nem longe do mundo, vive, como filho de Deus, a sua vida divina, procurando reproduzi-la em si e a seu modo o Cristo, Filho Unigénito de Deus, a cujo corpo Místico pertence. 

Viver não é ter simplesmente a existência, como uma pedra, ou qualquer ou qualquer outro ser inerte. A vida está em agir, a vida está no movimento «ob intrínseco» como dizem os filósofos. Todo o ser vivo tem em si o princípio da sua actividade. Vive porque e na medida em que utilizar a sua energia para crescer, desenvolver-se, adquirir novas perfeições e realizar possibilidades que em si se encontram. Com muito maior razão e em todo o vigor da expressão isto se pode dizer do homem, ser dotado de razão, consciente e capaz de se induzir. Dotado de liberdade se move como para onde e quando quer.

A vida da graça embora sobrenatural, deve, como vida que é, corresponder a esta definição. Se foi depositada na nossa alma, no Santo Sacramento do Baptismo, não foi para permanecer na inércia de uma real nulidade, mas, muito ao contrário para crescer e frutificar abundamente para Glória de Deus. Posta em nós sem a nossa cooperação (pelo menos quando se trata de pessoas baptizadas em criança) a vida divina não pode crescer, nem tampouco permanecer em nós, uma vez chegados ao uso da razão e por conseguinte capazes de regular a nossa actividade humana sobrenaturalizada, sem a nossa cooperação. Certos sempre do concurso indispensável de Deus e da sua graça, somos no entanto nós que agimos e nos determinamos livremente.




A nossa vida cristã supõe, portanto, da nossa parte uma actividade consciente e livre. Por isso mesmo que o nosso agir é consciente e livre somos muitas vezes, para não dizer continuamente obrigados a decidirmos-nos a escolha de dois bens o que julgamos mais nos convém. Na verdade o Divino Bem não nos apareceu ainda em toda a plenitude, e perante os bens parciais que nos solicitam pode a nossa vontade hesitar, perante bens contraditórios que se lhe apresentam pode ficar sem saber ao que deve atender, enfim perante tantos meios que se oferecem para realizar o fim que se propôs a nossa vontade pode escolher.

Se isto é já uma verdade quando se diz da actividade humana ainda não transformada pela graça, quanto mais o não é falando-se da opção que um cristão, como tal tem de fazer quando se encontra em presença de dois planos de actividade. Cada um destes planos tem seus fins próximos e remotos, têm seus meios peculiares, por vezes numerosos, mais ou menos eficazes e úteis. 

E é assim que o homem, com tem a sua vida sobrenatural poe essa mesma lei da vida, tende para a expansão de todas as suas capacidades físicas, morais e afectivas – no que contribui para as da Glória de Deus. Mas, esta tendência de extensão harmoniosa de todas as suas faculdades, que em si é boa, nem é abstracção, deve ser guiada, não pelo instinto animal mas pela razão e fé.

Não espera uma vida mutilada ou insignificante, nem uma vida corporal desportista, nem uma vida de ansiedade ou perturbação perante dificuldades que é preciso vencer, nem uma vida intelectualista ou estóica que despreza as realidades da vida e se refugia na sua cobarde torre de marfim. O cristão trabalha por conseguir e espera o desenvolvimento harmonioso de todas as capacidades pessoais, sem esquecer que a desordem trazida pelo pecado original requer a prudência no uso das criaturas sobretudo do corpo que sendo nobilíssimo instrumento da alma deve ser orientado para a vida sobrenatural.

















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