quinta-feira, 31 de outubro de 2013

PE. CORREIA DA CUNHA E O 31 OUTUBRO 1971
















“SOCIEDADE: LIVRE, JUSTA, FRATERNA E HUMANA…”


Completa hoje 42 anos, que nasceu na Paróquia de São Vicente de Fora, o Grupo de Jovens “OBJECTIVO”. Foi no tradicional magusto organizado pelo Padre Correia da Cunha, no distante dia 31 de Outubro do ano de 1971, que surgiu este grupo.
Recordo este acontecimento com a modéstia que convém mas também com a satisfação de ele ter cumprido honradamente os seus propósitos na pastoral da juventude, que há época visava a transformação da sociedade pelos valores da liberdade, fraternidade, justiça e humanidade, tendo como modelo JESUS CRISTO.






Este grupo apareceu precisamente numa época em que a juventude vivia um período de largas e profundas turbulências: politicas, religiosas, sociais e estudantis… A juventude sentia a necessidade de reagir em sentido contrário. A Igreja podia conquistar lugar de destaque na sociedade portuguesa, com a proclamação das virtudes essenciais que constituíam o seu verdadeiro património moral: o Evangelho redentor de Jesus Cristo.
O Padre Correia da Cunha aceitou de bom grado, animosamente, o seu quinhão na génese deste grupo, com o firme desejo de servir a Comunidade Cristã e contribuir para o crescimento da Igreja Católica. Toda a instituição que se preza deseja sempre a sua expansão e se possível acompanhada de generosa juventude.
Apesar de munido de uma atitude genuína de renovação, Padre Correia da Cunha desejava que este processo de mudança fosse lento, gradual mas sobretudo seguro. A mudança, para ele, seria de comportamentos e abertura dos corações dos membros das instituições políticas, estudantis e eclesiais à pureza da mensagem libertadora evangélica.
Ele bem sabia que a Igreja seria influenciada pelas grandes alterações e fortes mudanças que estavam ocorrer na sociedade portuguesa. Mas, rapidamente o Padre Correia da Cunha se deixou eclipsar pelas transmutações que ocorriam com desmedida expressão, consideradas por ele, como mudanças demasiadamente radicais.




Era o Padre Ismael Sanches, monge beneditino, filósofo, teólogo, dirigente da JUC e professor no Colégio Frei Luis de Sousa em Almada que liderava este Grupo de Jovens “OBJECTIVO” de São Vicente de Fora, apresentando-lhe uma Igreja progressista com maior penetração na sociedade portuguesa. Desenvolveu um importante trabalho junto dos jovens, promovendo encontros e reuniões, onde eram discutidos os mais diversos temas da actualidade religiosa e política. Era também fomentada a prática sã do desporto e de muitas actividades lúdicas.

Eram tempos de inúmeras mudanças na área cultural que não podiam de deixar de atingir particularmente a juventude da época. Só um padre jovem, com a craveira do Ismael Sanches, anti regime vigente, podia congregar à sua volta os muitos elementos do activo grupo “OBJECTIVO”, para a revolução cultural.

Impunha-se uma entrega, sem tréguas, pela conquista de fundamentais direitos nas universidades, assim como o repúdio pela injusta guerra colonial e a luta pela almejada liberdade.









Pelo descrito podemos perceber que a Igreja passava por mudanças importantes e o modelo desenhado pelo Padre Correia da Cunha de “neocristandade”, com uma relação de proximidade com os mais desfavorecidos, influenciado pelas recentes reformas do Concilio Vaticano II, não correspondia já aos ardentes desejos da juventude deste grupo, que na maioria frequentava o ensino superior. Em suma, para o melhor e para o pior, a autoridade moral e material da Igreja sobre esta juventude irreverente era fortemente afectada pelas teorias da integral libertação do Homem.
Tomei conhecimento recentemente que existem muitas fotos e documentos antigos deste radioso grupo. Este material poderá ajudar a escrever a história desconhecida deste grupo de Jovens de São Vicente de Fora. Desta forma, a história da vida do “OBJECTIVO” poderia ser contada como um processo pela constituição da memória “correcta” desse fantástico período vivido na Comunidade Paroquial que tinha como pastor o Padre Correia da Cunha.
É importante salientar que muitos jovens descobriram nessa sua passagem pelo “OBJECTIVO” símbolos materiais e culturais de identidade cristã. Era uma época de ouro em que os anseios individuais se queriam realizar em grupo.








Ainda há dias, o José Luis Coelho dava testemunho que as nossas consciências eram claras e simples. Não se ateavam ódios apenas defendíamos a libertação do homem. O homem não foi feito para ser escravo, mas livre. Deus não quer ninguém escravizado, oprimido…somos todos filhos do mesmo Pai.

Não possuímos pois, passados estes anos, remorsos pelo que fizemos, nem receios pelo que continuamos a defender, apesar da desilusão de assistirmos ao desmoronamento da sociedade portuguesa e da Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora. Foi nesta Comunidade, onde aprendemos os ensinamentos da coragem para mantermos firme a FÉ em Jesus Cristo, ali cimentada, na luta sem um momento de cansaço na construção de uma sociedade: LIVRE, JUSTA, FRATERNA E HUMANA.





Lembro bem as palavras do Padre Correia da Cunha quando afirmava que nenhum governo pode legitimamente arrogar-se detentor da verdade política absoluta, nem o direito de a impor ao País. E, como nos ensinou o Mestre, é próprio e até dever, de um cristão criticar os governantes e os seus partidos, quando se afastam dos princípios da verdadeira Liberdade. Só com a Liberdade se pode adquirir a Santidade e merecer a Glória na Vida Eterna.

Se os cristãos não defendessem a Verdade Cristã para não perturbar a paz social e evitar perseguições, o Cristianismo certamente teria morrido com Cristo. Não pode haver cristãos acomodatícios nem conformistas com o erro.

Termino com as palavras de Rui Aço, um dos responsáveis do grupo “OBJECTIVO”:

De um modo muito especial o Padre Correia da Cunha, o nosso grande Prior, foi importantíssimo na formação moral, cívica e pelo testemunho inequívoco de Fé com que envolveu fraternal e sabiamente os jovens do Grupo Objectivo de São Vicente de Fora.”

Temos a herança e responsabilidade de, com alegria e esperança, manter o sonho, pelo que penso sinceramente que devíamos dar vida à sugestão do Rui Aço, do Zé Luis e muitos mais na realização de um Encontro dos veteranos do Grupo “OBJECTIVO” e respectivas famílias.
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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

PE. CORREIA DA CUNHA E ADENAUER












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“VIVEMOS TODOS SOB O MESMO CÉU,
MAS NEM TODOS TEMOS O MESMO
HORIZONTE.”
Adenauer
 
(5.I.1876– 19.IV.1967)

 

Não foi sem razão que a morte de Konrad Adenauer (1876-1967) teve a mais funda repercussão em todo o Mundo. O falecimento do primeiro Chanceler da República Federal Alemã (1949-1963) causou um sentimento de profunda emoção, raiando mesmo a consternação. O eterno reconhecimento da obra realizada por Adenauer transpôs as paixões dos alemães. O número de convidados presentes nas exéquias oficiais, realizadas em Colónia, foram um record segundo os jornais da época. Nunca se viu tanta gente numa cerimónia fúnebre como no funeral de Adenauer.

Só assim se compreende que o Mundo tenha parado para se despedir, num gesto de recolhimento, do homem conservador e livre de suspeitas de colaboração com o nazismo. Possuía o perfil adequado para o desempenho do cargo de chanceler da Republica Federal Alemã.



 
 
 
Enquanto na cidade de Colónia, naquela manhã do dia 24 de Abril de 1967 decorriam as cerimónias oficias fúnebres, na majestosa igreja de São Vicente de Fora em Lisboa as portas abriram-se bem cedo para a celebração de um Requiem Solene por sua alma. Nas imediações do Largo de São Vicente, começou a juntar-se muita gente, cobrindo todo aquele amplo espaço, enquanto os sinos na torre da igreja dobravam lentamente a finados.

A igreja estava repleta de pessoas movidas pelo verdadeiro desejo de prestarem a derradeira homenagem ao homem que adoravam. Eram unânimes os elogios das virtudes deste chanceler, traçados com maior ou menor exuberância de adjectivos o perfil político do homem que  muitos orgulhosamente consideravam o Pai da Republica Federal Alemã.

No topo da imponente escadaria o Padre Correia da Cunha acolhia o Núncio Apostólico Mons. Maximiliano Furstenburg (1904-1988), que presidiria à solene celebração concelebrada também pelo ele próprio.

O Padre Correia da Cunha tornar-se-ia amigo de Maximillen Louis Hubert Egon Vicent Marie Joseph, Freiherr (Barão) de Furstenberg-Stammheim nomeado Cardeal em 26 de Junho desse ano, pelo Papa Paulo VI.

 
 
 
Em cadeiras colocadas ao lado esquerdo do altar sentava-se o representante do Presidente da Republica, o presidente do Concelho Prof. Dr. António de Oliveira Salazar; os presidentes da Assembleia Nacional e Cooperativa e do Supremo Tribunal de Justiça; os ministros da Defesa Nacional, Interior, Justiça, Finanças, Marinha, Negócios Estrangeiros, Ultramar e Cooperações.
Sendo a iniciativa deste cerimonial da responsabilidade da Embaixada da Republica Federal  Alemã, a mesma fez-se representar pelo respectivo embaixador Dr. Hubert Muller Roschach. Às cerimónias assistiram também muitos membros de instituições alemães sediadas em Portugal.
 
 
 
 
 
Esta missa de Requiem foi acompanhada pelo grupo coral «Stella Vitae» que entoou todos os cânticos pedidos pela solenidade litúrgica ao som do magnífico órgão ibérico barroco, enchendo aquele monumental espaço de um ambiente celestial.
As cerimónias de exéquias de grandes figuras públicas oferecem sempre novas oportunidades do templo se apresentar com primorosos arranjos e de transformarem aquele esplendoroso lugar propício à expressão dos mais profundos sentimentos de comoção e dor.
No espaço nobre da capela-mor com altar barroco sob baldaquino da autoria de Machado de Castro, contava com um catafalco monumental onde se encontrava uma sumptuosa essa coberta com um rico pano fúnebre com o brasão de armas da Alemanha em ouro com águia, bicada, lampassada, sancada e armada.
Pelo presidente da celebração Mons. Maximiliano Furstenburg  foi evocada a personalidade deste brilhante e intelectualmente ágil estadista rogando orações em sufrágio da alma de Konrad Adenauer. Saudou todas as individualidades ali presentes que prestaram um preito de sentida Homenagem a quem soube consubstanciar digna e inquebrantavelmente nos difíceis momentos da vida da Europa, os seus valores: o respeito pelos direitos invioláveis da pessoa humana, a liberdade, a democracia, o Estado de Direito, a promoção do pluralismo e da solidariedade.
 
 


Nessa mesma tarde, o Padre Correia da Cunha reuniu os seus jovens para leccionar uma aula de organização política, explicando-lhes a verdadeira história deste brilhante estadista que governou a sua Pátria com conhecimento, competência e habilidade: “ Konrad Adenauer era cristão democrata, foi ele um dos fundadores da economia social de mercado. O político teve toda a sua formação intelectual e civil em território alemão. Foi um fervoroso católico opositor ao regime Nazi tendo sido preso pela Gestapo várias vezes. Será sempre recordado por ter conseguido criar um sistema politico parlamentar democrático alicerçado na ideologia liberal-conservadora. Ficou célebre esta sua frase: Em política, o importante não é ter razão, mas que a dêem a alguém.”
 



No final das solenes cerimónias o embaixador Dr. Hubert Muller Roschach não deixou de agradecer em nome do Estado Alemão, ao Padre Correia da Cunha todo o seu empenho na realização deste Solene Requiem por alma daquele que escreveu um importante capítulo da História Politica da Alemanha Federal como seu edificador e organizador da nova nação alemã.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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