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“VIVEMOS
TODOS SOB O MESMO CÉU,
MAS NEM TODOS TEMOS O MESMO
HORIZONTE.”
Adenauer
(5.I.1876– 19.IV.1967)
Não foi sem razão que a
morte de Konrad Adenauer (1876-1967) teve a mais funda repercussão em todo o
Mundo. O falecimento do primeiro Chanceler da República Federal Alemã
(1949-1963) causou um sentimento de profunda emoção, raiando mesmo a
consternação. O eterno reconhecimento da obra realizada por Adenauer transpôs
as paixões dos alemães. O número de convidados presentes nas exéquias oficiais,
realizadas em Colónia, foram um record segundo os jornais da época. Nunca se
viu tanta gente numa cerimónia fúnebre como no funeral de Adenauer.
Só assim se compreende
que o Mundo tenha parado para se despedir, num gesto de recolhimento, do homem
conservador e livre de suspeitas de colaboração com o nazismo. Possuía o perfil
adequado para o desempenho do cargo de chanceler da Republica Federal Alemã.
Enquanto na cidade de
Colónia, naquela manhã do dia 24 de Abril de 1967 decorriam as cerimónias
oficias fúnebres, na majestosa igreja de São Vicente de Fora em Lisboa as portas
abriram-se bem cedo para a celebração de um Requiem Solene por sua alma. Nas
imediações do Largo de São Vicente, começou a juntar-se muita gente, cobrindo
todo aquele amplo espaço, enquanto os sinos na torre da igreja dobravam
lentamente a finados.
A igreja estava repleta
de pessoas movidas pelo verdadeiro desejo de prestarem a derradeira homenagem
ao homem que adoravam. Eram unânimes os elogios das virtudes deste chanceler,
traçados com maior ou menor exuberância de adjectivos o perfil político do
homem que muitos orgulhosamente
consideravam o Pai da Republica Federal Alemã.
No topo da imponente
escadaria o Padre Correia da Cunha acolhia o Núncio Apostólico Mons.
Maximiliano Furstenburg (1904-1988), que presidiria à solene celebração
concelebrada também pelo ele próprio.
O Padre Correia da
Cunha tornar-se-ia amigo de Maximillen Louis Hubert Egon Vicent Marie Joseph,
Freiherr (Barão) de Furstenberg-Stammheim nomeado Cardeal em 26 de Junho desse
ano, pelo Papa Paulo VI.
Em cadeiras colocadas
ao lado esquerdo do altar sentava-se o representante do Presidente da
Republica, o presidente do Concelho Prof. Dr. António de Oliveira Salazar; os
presidentes da Assembleia Nacional e Cooperativa e do Supremo Tribunal de
Justiça; os ministros da Defesa Nacional, Interior, Justiça, Finanças, Marinha,
Negócios Estrangeiros, Ultramar e Cooperações.
Sendo a iniciativa
deste cerimonial da responsabilidade da Embaixada da Republica Federal Alemã,
a mesma fez-se representar pelo respectivo embaixador Dr. Hubert Muller Roschach.
Às cerimónias assistiram também muitos membros de instituições alemães sediadas
em Portugal.
Esta missa de Requiem
foi acompanhada pelo grupo coral «Stella Vitae» que entoou todos os cânticos pedidos
pela solenidade litúrgica ao som do magnífico órgão ibérico barroco, enchendo aquele
monumental espaço de um ambiente celestial.
As cerimónias de
exéquias de grandes figuras públicas oferecem sempre novas oportunidades do
templo se apresentar com primorosos arranjos e de transformarem aquele
esplendoroso lugar propício à expressão dos mais profundos sentimentos de
comoção e dor.
No espaço nobre da capela-mor
com altar barroco sob baldaquino da autoria de Machado de Castro, contava com
um catafalco monumental onde se encontrava uma sumptuosa essa coberta com um
rico pano fúnebre com o brasão de armas da Alemanha em ouro com águia, bicada,
lampassada, sancada e armada.
Pelo presidente da
celebração Mons. Maximiliano Furstenburg foi evocada a personalidade deste brilhante e
intelectualmente ágil estadista rogando orações em sufrágio da alma de Konrad
Adenauer. Saudou todas as individualidades ali presentes que prestaram um
preito de sentida Homenagem a quem soube consubstanciar digna e
inquebrantavelmente nos difíceis momentos da vida da Europa, os seus valores: o
respeito pelos direitos invioláveis da pessoa humana, a liberdade, a
democracia, o Estado de Direito, a promoção do pluralismo e da solidariedade.
Nessa mesma tarde, o
Padre Correia da Cunha reuniu os seus jovens para leccionar uma aula de organização
política, explicando-lhes a verdadeira história deste brilhante estadista que
governou a sua Pátria com conhecimento, competência e habilidade: “ Konrad
Adenauer era cristão democrata, foi ele um dos fundadores da economia social de
mercado. O político teve toda a sua formação intelectual e civil em território
alemão. Foi um fervoroso católico opositor ao regime Nazi tendo sido preso pela
Gestapo várias vezes. Será sempre recordado por ter conseguido criar um sistema
politico parlamentar democrático alicerçado na ideologia liberal-conservadora.
Ficou célebre esta sua frase: Em política, o importante não é ter razão, mas
que a dêem a alguém.”
No final das solenes
cerimónias o embaixador Dr. Hubert Muller Roschach não deixou de agradecer em
nome do Estado Alemão, ao Padre Correia da Cunha todo o seu empenho na
realização deste Solene Requiem por alma daquele que escreveu um importante
capítulo da História Politica da Alemanha Federal como seu edificador e
organizador da nova nação alemã.
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