segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A GERAÇÃO DE 60 DE S.VICENTE E A PONTE SOBRE O TEJO

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Uma ponte para a eternidade.


As primeiras ideias de uma ponte a ligar as duas margens do Tejo surgem ainda no século XIX mas, só em Novembro de 1962, finalmente começam os trabalhos de construção da ponte sobre o Tejo. Com o nome oficial de Ponte Salazar, esplendor e circunstância foi construída seis meses antes do prazo previsto. Após o 25 de Abril de 1974, recebe o nome de ponte 25 de Abril para assinalar a data da Revolução dos Cravos, nome que se mantém até aos dias de hoje.

A ponte foi inaugurada solenemente em 6 de Agosto 1966. As festividades começaram com uma missa, celebrada por sua Eminência D.Manuel II Gonçalves Cerejeira-Cardeal Patriarca de Lisboa, em memória dos operários falecidos durante a construção, seguindo-se uma cerimónia de inauguração na praça da portagem, e um almoço de gala em Montes Claros.

O acto incluiu ainda uma recepção nos Paços do Concelho e uma deslumbrante exibição de fogo de artifício no rio Tejo.

A capital do país estava em festa, os jovens da Paróquia de São Vicente de Fora não se podiam divorciar deste grande acontecimento. Sempre que haviam eventos de realce na nossa cidade, Pe. Correia da Cunha convidava os jovens para os assinalarem com o dobrar dos seculares sinos de S. Vicente de Fora. Eram uma alegria…os nossos ''concertos'' de carrilhão.




A igreja erigida num dos morros ocidentais beneficiava de uma óptima situação geográfica, com o rio Tejo que preenche um papel fundamental no cenário lisboeta. No alto das lindas torres tínhamos a oportunidade de observar toda cidade. A vista propiciava sensações únicas, onde a contemplação, o relaxamento e o deslumbramento se misturavam, proporcionando um sentimento de conforto indescritível. A amálgama de ruas, travessas e becos de Alfama, de recorte medieval, compunham o cenário, com o rio Tejo a servir de pano de fundo, brindando-nos com uma agradável brisa.




Os jovens de 1966, com os cabelos desalinhados, tinham os olhos no horizonte não querendo perder pitada da grande festa de inauguração da ponte para a eternidade.

Aproveito para publicar fotos dessa data histórica da cidade de Lisboa, registada pelos jovens de São Vicente de Fora.




Subir às Torres da Igreja de São Vicente de Fora era uma Festa.
Aproveitavam-se estes momentos raros, proporcionados pelo Pe. Correia da Cunha, para realizarmos um lanche, no topo do edifício renascentista, marcado de apetitosas sandes e suculentos bolos… e como complemento a quem saciava a gula, os olhos também comiam destas deslumbrantes vistas panorâmicas. O último debruçar era sobre a vista imponente sobre o Castelo de S. Jorge, desviando os olhos em direcção a sul desvendava-se o Seixal, Almada e Cacilhas.

A esta geração dos anos 60, que detenham documentos e fotos destes belos tempos de São Vicente de Fora, pedimos que os partilhem. Esperamos pela vossa cooperação.
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sábado, 21 de fevereiro de 2009

PE. CORREIA DA CUNHA E A CATEQUESE II

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Vila Viçosa - Princesa do Alentejo



No final de cada ano catequético, Pe. Correia da Cunha realizava um passeio com os seus catequistas. Naquele ano, Padre Correia da Cunha decidiu, e julgo em boa hora, irem de viagem até Vila Viçosa – Santuário de Nossa Senhora da Conceição, a qual o Rei Restaurador do Reino, D. João IV, em 1646, escolheu como Padroeira de Portugal. Ele lhe dedicou o Reino. O seu solar era, por isso, um lugar de peregrinação e de muita devoção mariana.
Bem cedo, estrada fora, atravessando o Alentejo, aproveitava-se esse tempo para compartilhar experiências entre umas boas risadas. O ambiente era são e de fraterno convívio. E neste ambiente, lá se chegava a Vila Viçosa, Princesa do Alentejo e terra que viu nascer Florbela Espanca, ilustre nome das letras nacionais.




Grupo de Catequistas de S. Vicente de Fora com Padre Correia da Cunha


Já no interior da igreja, depois de uma SOLENE SAUDAÇÃO à Virgem Santa Maria Nossa Senhora da Conceição, Padre Correia da Cunha mostrava as belezas do templo: Remodelado após o terramoto de 1755, o templo sofreu profundas alterações nos fins do século XIX, assumindo o seu exterior as linhas sóbrias que ainda hoje conserva.

O interior, de três naves, apoiadas em fortes colunas dóricas, é amplo e acolhedor.

Do seu inventário artístico fazem parte, além do precioso conjunto de azulejos azuis e amarelos e de bom desenho do século XVII, peças de raro valor artístico como o precioso sacrário do século XVII da Capela do Santíssimo, a relíquia do Sagrado Espinho da Coroa de Cristo, as tribunas e mesas das confrarias e, ainda, valiosas jóias do tesouro.

Na capela-mor, com pinturas a óleo e excelente talha dourada, venera-se a imagem de Nossa Senhora da Conceição, cuja escultura primitiva se atribui ao século XIV, protegida por grade de rótulas de prata branca. Numa das paredes laterais expõe-se a bandeira portuguesa da vitória de Montes Claros (1665), oferecida pelo Marquês de Marialva.




Grupo de Catequistas no Passeio a Vila Viçosa em 31 Julho 1966



A recompensa vinha depois com o almoço de confraternização entre todos, no interior das muralhas do castelo. Eram bons amigos e excelentes companheiros de viagem, Pe Correia da Cunha tudo fazia para que os momentos, em que estava reunido o grupo, fossem momentos de muita união, partilha e tranquilidade. Ainda hoje, todos os recordam como boas e agradáveis experiências das suas vidas. Depois de partirem com destino ao Paço Ducal de Vila Viçosa, um edifício imponente com uma monumental fachada Maneirista de dois registos, um de ordem toscana e outro jónico, à qual foi acrescentada, em 1610 um terceiro piso, Pe. Correia da Cunha aproveitava para fazer uma resenha histórica sobre tão magnífico edifício.

Nos primeiros anos do século XVII, o palácio recebia um erudito programa decorativo, considerado “um dos mais ricos acervos de pintura mural de fresco e têmpera que se encontra na paisagem artística portuguesa”. Este conjunto de pinturas, “maioritariamente fiel aos cânones estéticos do Maneirismo italianizante” estende-se pelas alas novas do paço ducal, nomeadamente a Galeria de D. Catarina, e os tectos das salas de Medusa e de David. Estas composições foram executadas entre 1600 e 1640 por diferentes pintores. A Tomás Luís, afamado pintor lisboeta, são atribuídos os tectos da Sala da Medusa e a gallerietta da duquesa D. Catarina. José de Avelar Rebelo pintaria os tectos da Câmara da Música do paço, uma obra já patrocinada pelo duque D. João, futuro rei D. João IV. Depois da subida de D. João IV ao trono, o Paço de Vila Viçosa deixaria der ser a residência oficial dos Duques de Bragança. No reinado de D. João V, em 1716, o monarca ordenou novas obras no palácio, só terminadas no tempo de D. José. O palácio voltaria a ser remodelado no final do século XIX, sendo então um dos locais preferidos pela Família Real para as suas temporadas fora da capital do reino.

O objectivo principal destas viagens, com Pe, Correia da Cunha, era dar a conhecer o máximo possível do lugar, a sua cultura e seus principais pontos de interesse artístico bem com consolidar uma fraterna amizade que jorrava dum amigo comum Jesus Cristo. Viajar com Padre Correia da Cunha, em grupo de verdadeiro e sincero companheirismo, era maravilhoso! Sob o céu azul e o Sol que se despediam, metiam-se de novo à estrada, muito felizes e bem dispostos. Em Lisboa, o nosso Patrono São Vicente esperava-los. São estes momentos que nos transportam no tempo e nos deixam um sorriso nos lábios. Eram jovens e alimentavam ilusões de transformar o mundo.
Com as suas contribuições sobre essas vivências podem ajudar a melhorar o mundo de todos aqueles que viveram esses agradáveis momentos na companhia de Pe. Correia da Cunha. Ajuda-nos enviando documentação.








Continua…







Fotos: cedidas gentilmente pelo Catequista Rogério Martins Simões




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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

PE. CORREIA DA CUNHA E OS CORVOS

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Lembro-me do Vicente e do Valério…





O Padre Correia da Cunha conservou durante longos anos, nos claustros do Mosteiro de São Vicente de Fora, dois bonitos corvos negros, os quais eram um encanto de pitoresco alfacinha e símbolos da nau da heráldica olisiponense, como tão bem sabemos.

Estes corvos, que se passeavam com movimentos lestos e com o seus olhares sempre em alerta pelos claustros, foram ‘’ baptizados’’ pelo Padre Correia da Cunha com os nomes de: VALÉRIO E VICENTE.










Não sei bem a origem desta história pitoresca!... Sei contudo que dois corvos vieram do Cabo de Sagres, empoleirados na nau que trouxe o corpo de São Vicente. Na noite de 16 de Novembro de 1173, a nau foi ancorar junto à Igreja de Santa Justa e Rufina onde o corpo do Santo fora recolhido por D.Múnio, prior. Os corvos permaneceram no telhado.

Depois fez-se uma grande procissão para a Sé, e os corvos seguiram no cortejo, ficando na Sé por muitos e longos anos e permanecendo para sempre nas Armas do Brasão da nossa Mui Nobre e Sempre Leal Cidade de Lisboa.

O Valério e  o Vicente eram provavelmente descendentes destes tão notáveis corvos, tornando-se por isso comensais de Padre Correia da Cunha, que os acolhia com um tratamento diferenciado e de grande calor humano…

Eram de uma simplicidade cândida religiosa e poética da Lisboa dos anos cinquenta e sessenta.

Em São Vicente de Fora eram ‘’ venerados ‘’ e todos lhe queríamos muito bem!


Os corvos estão ligados à tradição de São Vicente mas também às naus, a toda a história da marinharia lusa. O Padre Correia da  Cunha era um marinheiro e vivia no mosteiro de São Vicente.

Será que  o Padre Correia da Cunha quereria colocar nos roteiros de Lisboa uma peregrinação aos seus reverenciados corvos de São Vicente?


Esta imagem forte tem alguma ingenuidade e beleza, nenhuma cidade do mundo possui coisa assim. No silêncio sepulcral e serenidade do mosteiro, não grasnavam os corvos do Padre Correia da Cunha mas ‘’falavam’’ ambos muito com ele…

…Até que o Vicente veria morrer afogado, na sua talha de água, o seu companheiro  Valério, permanecendo por muitos anos solitário e triste. Valério, ao contrário de Vicente, veio a morrer num sono reparador no chão do claustro renascença.

Continuam representados nos pórticos  da cidade, em pinturas, em preciosas cerâmicas de azulejos, em frontais opulentos e na memória dos que os acarinharam durante a sua longa estadia no Mosteiro de São Vicente de Fora.

Hoje lanço aqui um desafio: Quem tem um verdadeiro apontamento sobre esta SINGULAR HISTÓRIA, ou uma lembrança fresca do tempo dos corvos Vicente e Valério, afamados hospedes no Mosteiro de São Vicente de Fora?

Foto: Padre Correia da Cunha e o corvo Vicente no claustro de São Vicente de Fora


















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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

ALA DOS AMIGOS DE PE. CORREIA DA CUNHA

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Os amigos que partiram…









IN MEMORIAM



CASIMIRO NUNES FERREIRA



1928-2009





Casimiro Nunes Ferreira (1928-2009), natural de Monforte da Beira – Castelo Branco, nasceu no dia 8 de Maio de 1928. Era um homem simples e bom. Frequentou o seminário e chegou a ser colega de curso do Reverendíssimo Sr. D. António Marcelino, bispo emérito da Diocese de Aveiro.

Foi um bom esposo, um bom pai, um bom paroquiano e um cristão exemplar. Morreu depois de algumas semanas de doença grave.

Casimiro Nunes Ferreira, pela sua simplicidade e dedicação, tornava-se de imediato querido e estimado por quem o conhecesse ou lidasse com ele. Foi catequista na Paróquia de São Vicente de Fora e membro do Conselho Paroquial presidido pelo Padre José Correia da Cunha. Membro activo da Conferência de São Vicente de Paulo.

As celebrações do seu funeral, realizaram-se hoje dia 18 de Fevereiro, na Igreja Paroquial da Graça. Foram presididas pelo Reverendo Padre António Brás Carreto, antigo pároco de São Vicente de Fora e contou com a presença do concelebrante Padre João Beato, assim como do nosso Diácono Jorge Campos.

Profundamente sensível, generoso e humano, a maior parte da sua actividade na nossa paróquia dedicou-a ao apostolado da caridade (CVSVP). Para muitos de nós ficará também a recordação da sua dedicação ao serviço da liturgia.

Casimiro Ferreira foi meu Catequista do 4º Volume da Catequese no grupo cujo orago era Santo António de Lisboa, seu protector. Sabia despertar em cada um de nós aquilo que havia de bom.

Celebrou suas Bodas de Ouro em 2003 a 20 de Outubro; Casimiro Nunes Ferreira e Maria Helena da Conceição Ferreira. A comemoração realizou-se na Igreja Paroquial "Senhor dos Passos" da Graça, onde também foi realizado o seu casamento.

O nosso amigo foi ao encontro de Deus, ficando à nossa espera no céu. E, sem dúvida, que ele lá estará com seu pastor e amigo de tantos anos; Padre Correia da Cunha.

São Vicente de Fora guarda-o em seu coração! Deixando em todos muitas saudades.

RECEBEI, SENHOR, NA GLÓRIA DO VOSSO REINO O NOSSO IRMÃO.





























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domingo, 15 de fevereiro de 2009

PE CORREIA DA CUNHA E ARRÁBIDA

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PARAÍSO À BEIRA MAR PLANTADO



Todas as segundas-feiras, a Igreja Paroquial de São Vicente de Fora encerrava para descanso. Normalmente, o Padre Correia da Cunha aproveitava para uma deslocação ao Alentejo profundo, para descansar e retemperar forças…

Quando ficava em Lisboa, em São Vicente de Fora, era inevitável dar um passeio pela Serra da Arrábida, onde o acompanhei várias vezes com o Vítor Soares e o Vítor Anjos.

Aquela Serra proporcionava uma experiência inesquecível – paisagens de cortar a respiração e um contacto íntimo com a natureza. Sentia-se em toda a parte uma religiosidade que nos oferecia elevação e contemplação.

Sabe-se lá se o alor místico lhe vem da origem ou se lho deixaram os irmãos franciscanos do seu Convento, que habitualmente visitávamos e onde tínhamos um fraterno e comovido acolhimento pelos grandes amigos de Padre Correia da Cunha.
No Convento, onde o espírito da Serra converge, pode experienciar-se como afinal é fácil estar sós com DEUS.

O convento foi fundado, em 1542, por Frei Martinho de Santa Maria, franciscano castelhano a quem D. João de Lencastre (1501-1571), primeiro duque de Aveiro, cedeu as terras da encosta da serra. Anterior à construção, onde é hoje o Convento Velho, existia a Ermida da Memória.

A Serra da Arrábida tem na sua costa algumas das melhores praias da região tais como o Portinho da Arrábida, onde o Padre Correia da Cunha visitava um seu velho amigo oficial da marinha, dono de uma casa sobre a praia . Na sua casa podíamos desfrutar das maravilhas do sol e de um mar apaixonadamente azul.





A serra da Arrábida era um dos sítios de eleição de Padre Correia da Cunha. Essa serra tinha sempre a capacidade de o surpreender, assim com a nós pelas suas belezas: o céu, a serra, o mar pareciam um prolongamento que nos ligava ao ‘’paraíso’’.

O outro lado da Serra, o caminho mais alto, oferecia-nos umas vistas deslumbrantes. De um lado alonga-se a terra, prolongam-se os vales e, ao longe, os castelos de Setúbal e Palmela. Do outro, as ravinas, um mar imenso, Tróia, a costa alentejana que, em dias limpos, não conseguimos avistar o seu final. Era sobretudo na Primavera e Verão que o Pe. Cunha nos levava a este ponto de passagem para todos os amantes da natureza ou, unicamente, para aqueles que ainda conseguem surpreender-se e amar tudo aquilo que nos rodeia, pela sua beleza, pela sua singeleza e simplicidade, pelo facto de se oferecer sem pedir nada em troca.

O Padre Correia da Cunha sempre apelava ao respeito pela preservação da mãe natureza, lembrando o seu grande mestre Monsenhor Pereira dos Reis. Este transmitia aos seus alunos que a obra de Deus tem de ser preservada porque depois de destruída não haverá homens que a consigam restituir ao original.

Por isso, todos os objectos de que nos servimos devem ser utilizados com todo o respeito. Fomos colocados neste mundo para cooperar com Deus na sua obra e não para que com o nosso pretensiosismo e egoísmo destruíssemos aquilo que amorosamente ELE coloca ao nosso dispor.

O Padre Correia da Cunha, neste contacto com a natureza na Serra da Arrábida, era atraído para voltar sempre uma vez mais…

No final do dia, terminava-se num restaurante de Setúbal com um magnífico jantar para provarmos uma das excelentes selecções de peixes, não esquecendo o Moscatel de Setúbal, os queijos e a doçaria regional de Azeitão...tudo cinco estrelas! E como seria de esperar, a escolha de um bom vinho Periquita de José Maria da Fonseca era essencial. O Padre Cunha dava sempre preferência aos vinhos desta região. Era uma paixão verdadeiramente gustatória.

Estes passeios com o Padre Correia da Cunha faziam-nos sentir uns príncipes e ele aproveitava sempre para fazer a sua catequese. Muito aprendemos nestes momentos deliciosos e comungámos da sua infindável mestria. Era um verdadeiro sábio!

Ainda hoje recordo com muita nostalgia estes belos momentos e o quanto aprendi a crescer com este GRANDE HOMEM. Era um bom amigo e mostrava bem que sabia o que era ser pai!

Existem cantinhos encantados pelos quais nos apaixonamos. A Serra da Arrábida é, sem dúvida, um deles! Devo esta paixão a Padre CORREIA DA CUNHA.


Arrábida é um milagre português. Até custa a acreditar que um património natural mantém a sua essência apesar de estar às portas de Lisboa.





















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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

PE CORREIA DA CUNHA E A CATEQUESE

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‘’IDE E ENSINAI…’’



Para o Padre Correia da Cunha a missão da Igreja era anunciar o Evangelho, para que as crianças acreditassem que Jesus era seu amigo e salvador do mundo, o filho de Deus. A catequese era o momento desse anúncio.
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Na Paróquia de São Vicente de Fora, no tempo de Padre Correia da Cunha eram inscritas na Catequese Paroquial cerca de 500 crianças com idades entre os 6 anos e os 12 anos.
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O Padre Correia da Cunha tinha um grande empenhamento em criar um ambiente perfeito para ajudar a viver a catequese. No claustro superior do mosteiro eram colocados biombos de madeira, criando espaços com luz, temperatura, e um cuidado muito especial com o seu arranjo.
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As crianças eram colocadas em semi-círculo, em volta de mesas, com o catequista sempre em contacto visual. O mobiliário era de muito boa qualidade, bancos pequenos para as crianças e uma cadeira de costas para o Catequista.Há ainda a referir que cada grupo dispunha de material didáctico como: lápis de cor, lápis de cera, vários tipo de papel, campanhas e outro. O catecismo era adquirido pelo catequizando, mas no caso de não possuir dinheiro, a paróquia oferecia o manual.Existiam entre 40 a 50 grupos de Catequese.

Cada grupo tinha um Santo por orago. A Catequese era ministrada aos domingos, após a Celebração Eucarística Dominical, pelo período de 45 a 60 minutos. Só mais tarde houve necessidade de passar a catequese para os dias úteis e sábados.
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De acordo com a idade, as crianças frequentavam o seu Catecismo (primeiro volume até ao quatro volume). A catequese era concluída com um ano de preparação, dirigido pela Irmã Gina Magagnotti – Religiosa Salesiana , para a celebração da Profissão de Fé.No início do ano catequético, havia um momento de alguma solenidade, que era a apresentação das crianças ao seu catequista, assim como o local onde o grupo se iria reunir em cada domingo.
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Havia cerca de cinquenta catequistas, que perante o Padre Cunha e a Comunidade, manifestavam o desejo de participar no ministério da Catequese.Creio que assumiam este serviço com muita consciência e participavam nesta missão que lhes era confiada com muita alegria, formando um grupo de grande união e amizade fraterna entre eles.
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Publico uma foto dessa época (1966), cedida gentilmente pelo então catequista Rogério Martins Simões, relembrando o compromisso assumido com Jesus Cristo: “Ide por todo o mundo e anunciai a todos a mensagem da salvação”.





Nesses tempos, as crianças vinham de famílias com uma tradição religiosa católica. A participação na missa dominical era uma simples consequência do modo de vida que se levava em casa. Para o domingo havia uma roupa especial para se ir à missa.

O Padre Correia da Cunha dizia que a Catequese era um caminho que se fazia com aqueles que desejavam ser educados na fé, que precisavam da Palavra, mas sobretudo do testemunho de vivências num clima muito humano de grande fraternidade e de paz.

Queria aproveitar para prestar uma sentida homenagem de gratidão, muito especial a todos estes trinta catequistas, por tudo o que realmente fizeram para apontar o caminho, mostrando por onde ele passa e colocando sinais luminosos por esse trajecto. Feliz a Comunidade de S. Vicente de Fora que teve tantos e excelentes catequistas!

Naquele tempo, para que as crianças se sentissem motivadas na participação das actividades religiosas, o Padre Correia da Cunha recorria à criatividade e adoptava estratégias que faziam com que as crianças participassem com muita alegria e motivação em campanhas dinâmicas de solidariedade para com outras crianças extremamente pobres e com fome. Lembro bem a campanha de partilha com as crianças da República do Biafra…
Não se participava na vida religiosa por um acto de rebeldia. O Padre Correia da Cunha sempre repetia: temos de ser amigos uns dos outros.

Não podia deixar também de prestar uma merecida homenagem, aquele que Deus agraciou com o dom do serviço à evangelização, Carlos dos Anjos Barradas (1926-2008), Presidente da Catequese Paroquial nos anos sessenta.
Carlos Barradas generosamente colocou radicalmente o seu tempo e capacidade de regência em atitude de oferecimento, para responder à missão de serviço à Igreja e à Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora.

Penso que os antigos catequistas, que estejam vivos, queiram perpetuar a memória de Padre Correia da Cunha, para que seus filhos possam conhecer este grande homem de carácter e uma enorme figura duma importante época da Paróquia de São Vicente de Fora. Os vossos testemunhos são muito importantes. PARTILHEM.


Continua...





















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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

PE CORREIA DA CUNHA, O ENGENHEIRO

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Lisboa cultural da boémia e coração da vida nocturna…




Em 1974 era instalado no nosso País o primeiro acelerador de partículas (1), num grande centro hospitalar da capital, cujo Director era um prestigiado paroquiano de São Vicente de Fora e com quem o Padre Correia da Cunha mantinha uma relação de amizade muito próxima.

Aquando da sua instalação, a empresa multinacional produtora do equipamento, de origem francesa, fez deslocar ao nosso País uma conceituada equipa de técnicos e paralelamente o seu Presidente (PDG) e Vice-Presidente em visita de cortesia.

No decurso do almoço de representação comercial, o Presidente da multinacional manifestou muito interesse em assistir a um espectáculo de fado nesta nossa encantadora cidade de Lisboa. O anfitrião, pouco experimentado nestas fainas, lembrou-se logo do seu bom e querido amigo Padre Correia da Cunha.

O Padre Correia da Cunha não recusou o simpático convite e lá foram os quatro companheiros para o velho Bairro Alto à descoberta do Faia, casa recomendada pelo Reverendo. Convidado de Carlos do Carmo, seu amigo, o Padre Correia da Cunha era um honrado frequentador deste espaço.




Estamos em 1974, no mês de Maio. Quando chegaram à Casa de Fados, a mesma encontrava-se encerrada. Neste período (PREC), os habituais frequentadores deste tipo de espectáculo diminuíram consideravelmente.
Bateram à porta e lá veio um empregado que confirmava o encerramento do estabelecimento, a que o Prof. Dr. replicou:

- Vieram estes meus dois amigos de França para ouvirem o fado no Faia e não há espectáculo!

Perante esta reivindicação, o empregado pediu para esperarem um pouco, que ia ver o que se podia fazer. Passados uns momentos regressou com a informação que se iriam abrir as portas da casa.

Entraram para a sala os convidados, enquanto o Pe. Correia da Cunha foi interpelado pelo porteiro, dizendo que não podia entrar sem gravata, ao que ele respondeu que estava correctamente indumentado com o seu cabeção (colarinho) de clérigo.

- Peço imensa desculpa, mas são ordens da gerência, só se pode entrar com gravata.

Interrogou o Prof. Dr.:

- E agora?

- Não há problema, tenho aqui um armário com gravatas, é só o Sr. escolher.

Perante uma dezena de gravatas, o Pe. Correia da Cunha lá elegeu a que lhe parecia mais sóbria.

Mas de imediato surgiu logo outro problema, o Pe. Correia da Cunha não sabia fazer o clássico nó de gravata. Valeu-lhe o Prof. Dr. que o executou com extraordinária perfeição, colocando a gravata sobre o seu cabeção.

Já comodamente instalados na sala, decorada com belíssimos painéis de azulejos e pratos antigos, deu-se início a uma noite mágica com um substancial jantar ao som de grandes talentos da arte, onde se destacava a voz de Lucília do Carmo, tida como uma das melhores vozes do fado clássico. O fado Maria Madalena emocionou profundamente os franceses, pela força, corpo, alma e voz inesquecível de Lucília do Carmo.

Tenho o prazer de transcrever parte dessa letra que é uma riquíssima relíquia:

Desse amor que nos encanta
Até Cristo padeceu
Para poder tornar santa
Quem por amor se perdeu

Jesus só nos quis mostrar
Que o amor não se condena
Por isso quem sabe amar
Não chore, não tenha pena!

A Virgem Nossa Senhora
Quando o amor conheceu
Fez da maior pecadora
Uma das santas do céu

E de tanta que pecou,
Da maior á mais pequena
E aquela que mais amou
Foi Maria Madalena

Há a referir que a sala se foi compondo com grupos de turistas que também se sentiram atraídos por este modo de cantar que tão bem espelha a nossa nacionalidade. O espírito do povo português: a crença no destino como algo que nos subjuga e ao qual não podemos escapar; o domínio da alma e do coração sobre a razão que levam a actos de paixão e desespero e que traduzem naquele lamento tão triste mas tão belo.

As conversas em francês (Padre Correia da Cunha falava correctamente francês) foram muito agradáveis e prolongaram-se até às 3 horas da madrugada num fraterno ambiente de encantamento de boa e pura amizade.

Uma das artes abordada, para além do fado, foi a da riquíssima azulejaria portuguesa que Padre Correia da Cunha também tanto gostava e conhecia.




Independente da hora, o Padre Correia da Cunha prontificou-se a proporcionar uma visita ao maior Painel de Azulejos, do Séc. XVIII, existente em São Vicente de Fora, que representa a entrada solene em Roma da embaixada enviada em 1513, pelo Rei D. Manuel I ao Papa Leão X, chefiada por Tristão da Cunha. D. Manuel oferece ao Papa uma onça muito mansa e um elefante, aquele que foi o primeiro a aparecer na Europa.

A mágica noite prolongou-se até às 5 horas da manhã, hora a que deixaram os seus convidados franceses no Hotel Ritz em Lisboa.

No dia seguinte, domingo, com muita surpresa sua, o Presidente do Grupo Multinacional, católico praticante, estava presente na MISSA DOMINICAL das 10 horas da manhã celebrada pelo Reverendo Padre Correia da Cunha. Ficaram grandes amigos e passaram a trocar muita correspondência, visando prolongar aquela admiração e simpatia que granjearam naquela inesquecível noite.



Em 1975, quando Portugal atravessava um período revolucionário que podia levar à implantação de uma nova ditadura, desta vez de esquerda segundo as informações que os principais jornais franceses divulgavam, o Presidente dessa prestigiada empresa de engenharia de ponta enviou ao Prof. Dr. uma missiva e creio que a Padre Correia da Cunha, oferecendo-lhes altos cargos na empresa em França e residência num dos seus apartamentos em Paris (exílio politico).

Conclusão:

Perderíamos um bom pastor e um bom amigo, mas ganharíamos um excelente engenheiro em terras de França?!



(1) Os aceleradores de partículas são importantes no campo da radioterapia para o tratamento do cancro.
































segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

PE CORREIA DA CUNHA E O FATO

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‘’ O BAPTIZADO É UMA FESTA SOLENE POR EXCELÊNCIA. ‘’



O filho de um notabilíssimo industrial do nosso país desejava baptizar o seu filho na Igreja Paroquial de São Vicente de Fora. Este fazia questão que o celebrante do baptismo do seu primeiro filho fosse o Pe. José Correia da Cunha.

Depois de se inteirar de todos os procedimentos necessários para a realização do acto litúrgico, cumpri-os religiosamente conjuntamente com sua extremosa esposa.


PROCEDIMENTOS PARA O BAPTISMO















- Frequência de duas sessões de preparação para o Baptismo que visavam chamar atenção dos pais para as responsabilidades que iriam assumir na educação cristã dos filhos.

- Apresentação da liturgia do rito do baptismo para que no dia do cerimonial, os pais e padrinhos tivessem conhecimento da simbologia e da profundidade do acto sacramental.

Normalmente, quando o Padre Correia da Cunha convidava os pais e padrinhos para estas acções de formação do Baptismo era de imediato confrontado com a seguinte solicitação dos pais: a sua dispensa com alegação que não tinham tempo disponível e que tinham frequentado a catequese, e portanto sabiam muito bem o que desejavam para o seu filho. Já sabiam tudo sobre essa formação.

O Padre Correia da Cunha, com humildade e sabedoria nata, alegava com os seguintes argumentos:

- Se não podeis disponibilizar do vosso tempo duas horas para estas sessões, como podereis dispensar o tempo necessário na educação do vosso filho? Penso que deverão ser muitas horas ao longo de toda a sua vida…

- Acredito que tendes uma boa educação cristã e já sabeis tudo; e de imediato interrogava:

- Sabeis que neste momento estamos todos a respirar? É um acto simples e tão natural, mas sem ele não viveríamos. Foi necessário, neste preciso momento, chamar a vossa atenção para nos darmos conta deste acto tão banal como é respirar. Sei que tendes os conhecimentos, mas há necessidade de vos despertar para essas aprendizagens, é como o elementar acto do respirar.

Depois destas observações lá se disponham a vir às sessões e no final até comentavam que o tinham feito com muito gosto e tinham sido muito úteis.

Bem, mas vamos lá ao Baptizado do neto do distintíssimo industrial.

O avô da pequena criança fazia questão que houvesse uma grande festa, com a presença de todos os seus copiosos amigos, para celebrar este grandioso e importante acontecimento, tendo providenciado uma empresa da especializada para que se pudesse viver esse dia de grande sonho. O local seleccionado para o evento foi o Palácio de Seteais, na Serra de Sintra.

O Padre Correia da Cunha, pelo convite formal recebido, apercebeu-se que estava a ser chamado para um evento que requereria a máxima formalidade no traje, tratava-se de um evento solene.

Os Pais da criança, amigos próximos de Padre Correia da Cunha, faziam imenso prazer e gosto que o celebrante estivesse presente na FESTA DE BAPTISMO de seu filho.

Padre Correia da Cunha agradeceu tão amável e simpático convite, mas comentou que não poderia estar presente fisicamente na festa.

Não se conformando com essa sua posição, os pais da criança tudo fizeram para o demover da sua recusa.

Depois de tanta insistência, o Padre Correia da Cunha confessou que não tinha indumentária para se fazer representar nessa luxuosa recepção.

Perante o conhecimento deste facto e depois de informado o avô da criança da situação do impedimento, no dia seguinte chegaram à Paróquia, ao cuidado do Padre Correia da Cunha, três fatos com todos os acessórios, para que a sua presença fosse concretizada conforme era vontade dos pais e amigos.

Já no Palácio de Seteais, e perante o enorme número de distintos convidados, o pai da criança fez questão de apresentar pessoalmente Padre Correia da Cunha a seu Pai, que agradavelmente conversava com os seus amigos mais próximos.

- Peço desculpa, Senhor Meu Pai, tenho imenso prazer lhe apresentar o Sr. Padre Correia da Cunha.

- Viva Reverendíssimo, é para mim uma grande honra e um imenso prazer conhecê-lo pessoalmente e podê-lo saudar.

O Padre Correia da Cunha correspondeu com a sua agradabilíssima voz:

- E como vai o ILUSTRÍSSIMO DONO DO FATO?

O distinto industrial ficou primeiro um pouco confuso mas de seguida esboçou um discreto e suave sorriso.

Os presentes não deram conta desta tão estranha forma de saudação mas sei que a partir dessa data, Padre Correia da Cunha e o ilustríssimo dono do fato ficaram grandes e bons amigos. O Padre Cunha manteve por muitos anos uma excelente relação com aquele notabilíssimo industrial.

O Reverendo fez questão de agradecer aos seus anfitriões antes de sair, escrevendo logo no dia seguinte um cartão a agradecer todos favores e gentilezas. O Padre Cunha demonstrava sempre uma educação exemplar.

São histórias simples como esta que tornam possível reconhecer a qualidade de inteligência e o requinte de tal ilustre figura. O Padre. José Correia da Cunha tem um história muito rica e quanto mais completa estiver mais interessante se torna. Enviem-nos as vossas histórias!
















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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

PE CORREIA DA CUNHA E O VINHO

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DIVINAIS BANQUETES…



Toda a rebelião e contestação dos anos 60 também estavam espelhadas nos jovens de S. Vicente de Fora. Esta rebeldia estalava na exploração das TORRES da Igreja, procurando nos seus forros e cimalhas caçarem os pombos que ali se acolhiam, que originavam boas patuscadas e um são convívio entre jovens.

Eram pequenos bandos de rapazes a desafiar as ordens e regras estipuladas pelo o Padre Correia da Cunha, que não permitia o acesso a essas áreas do edifício pelos riscos e insegurança que representavam para os seus jovens.

Naqueles tempos era ‘’ proibido proibir’’, desafiar o risco era uma forma de os jovens contestarem aquilo que consideravam serem mentes envelhecidas, que não os deixavam desenvolver e crescer em liberdade…

Os jovens buscavam situações de provocação, rompendo os bons ensinamentos que diariamente o Padre Cunha lhes ministrava. Esta situação era referida pelo Padre CUNHA como: SANGUE NA GUELRA.

Depois da visita a essas áreas de exploração interditas, que os deixava cansados pelo esforço desprendido, era chegada a hora de invadir a Sacristia para se refrescarem com um bom copo de vinho sacramental (missa). Todas acções eram desenvolvidas com o máximo cuidado, de forma a não serem detectadas pelo Padre CORREIA DA CUNHA, no caso de falha era de imediato ‘’reprimidas’’ com o respectivo correctivo, um puxão de orelhas e a chamada dos pais ao cartório da Paróquia.

Enquanto um bebia, os restantes vigiavam atentamente os caminhos que conduziam à Sacristia.

O consumo de vinho sacramental começou apresentar níveis inaceitáveis, que obrigou a serem tomadas providências junto de Padre Correia da Cunha, pelo empregado da igreja.

Ao tomar conhecimento desta situação, o Padre Cunha, mandou que se comprasse três litros de vinagre e que fossem colocados nas garrafas vazias do vinho sacramental. Devendo o vinho da missa ser guardado em lugar mais seguro. Esta decisão apenas era do conhecimento do empregado da igreja e do Padre Correia da Cunha.

Na invasão seguinte à Sacristia, o primeiro a saborear o agradável vinho sacramental, ficou logo sufocado com o tão horrível e acre sabor que já não houve coragem de alguém querer repetir a prova.

Remédio santo, a partir dessa data, o consumo de vinho sacramental retomou o seu consumo normal, ficando colocado no seu lugar habitual. Nunca houve da parte do Pe. Correia da Cunha interesse em saber quem eram os apreciadores do divinal vinho. O seu lema era que não fosse repetida a situação.




Seminário dos Olivais
Em 1982, aquando das Celebrações do IV Centenário da Reconstrução da Igreja e Mosteiro de São Vicente de Fora, Padre Teodoro Marques, colega de seminário do Padre Correia da Cunha, contou a seguinte história:

- O seminarista Correia da Cunha gostava muito de organizar petiscos. No Seminário, lá conseguia de vez enquanto afincar um entrecosto uns chouriços e umas morcelas, depois de bem assados eram comidos na mão em cima de uns bons nacos de pão com o seu grupo de amigos mais próximos. Estas comezainas eram feitas num dos recantos do jardim do Seminário.

O seminarista José Correia da Cunha era o responsável máximo da Capela do Seminário e pelos seus consumíveis. Para estes petiscos, José Correia da Cunha providenciava sempre uma garrafa do bom vinho sacramental, que tornava aqueles momentos de convívio entre amigos em faustosos banquetes.

Um dia chegou ao conhecimento do Reitor do Seminário, Mons. Pereira dos Reis, a utilização do vinho da missa nos celebres convívios promovidos pelo jovem seminarista.

Monsenhor Pereira dos Reis viu-se na obrigação de chamar Correia da Cunha ao seu gabinete.

- Sei que estás a utilizar nas tuas petiscadas, que tanto gostas, vinho da missa.
Porque não pedes antes na cozinha uma garrafa de vinho como requisitas os restantes ingredientes?

- Sabe, Monsenhor, a qualidade das minhas patuscadas são como divinais banquetes para a boca e para o espírito exigem um vinho divino de qualidade superior. Com um vinho corrente do Seminário não seria a mesma coisa!

- Zézito!

Os anos 60 foram vividos de diferente maneira, de acordo com a sociedade vigente. Os ideais contestatários dos jovens manifestavam-se consoante a liberdade que lhe era dada. O Padre Correia da Cunha sempre aproveitava os acontecimentos para chamar atenção para os riscos e apontar caminhos. Eu creio que ele também conhecia e sabia o que era ser irreverente.

O PADRE CORREIA DA CUNHA PROCUROU ENCONTRAR SEMPRE A ALTURA CERTA PARA EFECTUAR CONNOSCO UMA REFLEXÃO SOBRE ESTES EXTRAVAGANTES ACONTECIMENTOS.














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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

PE CORREIA DA CUNHA, ESTRATEGO

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“Só ao Senhor teu Deus adorarás e servirás”.





 

Em 1940 iniciou-se em Portugal o processo de canonização do Beato Nuno, que era na altura a encarnação suprema da Pátria Portuguesa.

Na Igreja de São Vicente de Fora, a sua imagem estava no altar mais rico e belo do templo, o de Nossa Senhora da Conceição da Enfermaria, totalmente revestido em mármores embutidos do séc. XVIII.

O culto reconhecido e merecido estava nos corações dos portugueses, fiéis que viam nele o símbolo do amor pátrio.

Muitos dos seguidores desde culto, para Pe. Correia da Cunha, invertiam a essência do catolicismo, depositando ramos de flores, fixando placas de mármore com anotações das graças recebidas … e passando pelo sacrário sem um mínimo de reverência ao ‘ Dono da Casa’, presente no Sacrário. Já não se tratava de uma veneração ao Monge Beato mas de uma adoração ao Soldado Herói.

Pe. Correia da Cunha, visando a pronta solução a este delicado problema e dados os desafios de percurso inesperados e complexos, sentiu a necessidade de organizar uma estratégia, definindo alvos, alavancas e um rumo com muita sensibilidade e competência.

Para Padre Cunha : Só DEUS é merecedor de Adoração.

‘’ E outra vez conquistemos a Distância – do mar ou outra , mas que seja nossa’’
Fernando Pessoa


Seria o Tempo o grande objectivo estratégico - por mar ou outro modo – contanto que nunca nos fuja!











Assim, providenciou a passagem do Sacrário para o Altar mais rico e sublime da igreja e procedeu à colocação da imagem de Beato Nuno Alvares Pereira na Capela gradeada do Santíssimo, onde inicialmente se encontrava o Sacrário. O Altar retomou a sua beleza natural e riqueza, vendo-lhe retiradas centenas de placas de mármore.


Pe Correia da Cunha repetia muitas vezes que todas as peças antigas são belas quando bem conservadas nas suas formas originais. Ainda hoje me revejo nesse seu ensinamento.

É exactamente pela capacidade de realizar estas mudanças, ajustando-se a novos tempos que em geral as instituições sobrevivem, vivem e, não raro, se perenizam, apesar de frequentemente terem que enfrentar condições muito adversas ao longo de determinado período.


Pe Correia da Cunha tinha uma grande ancoragem que o protegia: O altar mais nobre e rico do templo deve ser reservado ao Sacrário.
As missas durante a semana passaram a ser celebradas nesse preciosíssimo altar.


Nenhum processo de mudança avança realmente sem a legitimação dos fiéis, salvo raríssimas excepções. Obviamente que houve indescritíveis obstáculos humanos e culturais de obstinados seguidores da ‘’adoração’’ a Beato Nuno Alvares Pereira.

Creio que a sua pureza, delicadeza de sentimentos e sensibilidade no trato com o seu rebanho, também em muito contribuíram para a concretização da sua correcta estratégia.

Passados cinco anos, liberto já de quaisquer peias, o seu verdadeiro sonho corporizou-se:

O Sacrário voltou à sua Capela natural e a imagem de Beato Nuno está no seu Altar porque a Igreja o reconhece merecedor de culto de veneração. Beato Nuno Alvares Pereira está nos corações dos paroquianos de São Vicente de Fora, como no dos Portugueses.


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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

RECORDAR S. JOÃO DE BRITO

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A aclamação da santidade exemplar, na pessoa dos santos portugueses.


Os santos que sejam verdadeiras testemunhas de Cristo e do seu Evangelho são escutados pelos homens contemporâneos. PE. CORREIA DA CUNHA recordava este Santo Português nascido na Calçada de Santo André (Costa do Castelo), como um elemento constitutivo da Igreja e da Comunidade cristã, que hoje queremos recordar:


O dia 04 de Fevereiro é dedicado a São João de Brito.


Venerado com especial fervor pelo povo português, São João de Brito é filho de D. Salvador de Brito Pereira, governador-geral do Brasil no tempo de D. João IV, e de Dona Brites de Portalegre, tendo nascido na calçada de S. André (Costa do Castelo)*, em Lisboa, no dia 10 de Março de 1647.


De ascendência fidalga, foi educado na corte portuguesa. Na adolescência, é vítima de uma grave enfermidade, tendo a sua cura marcado uma viragem na sua vida, dado que para dar cumprimento à promessa de sua mãe, teve que vestir o hábito de S.Francisco Xavier. São João de Brites ingressou na Companhia de Jesus aos 17 anos de idade.

Fez estudos em Évora e Coimbra e foi ordenado sacerdote em 1673.





São João de Brito partiu em missão para a Índia, onde adoptou o modo de viver dos monges brâmanes saneasses e assumiu a língua e costumes locais para melhor poder espalhar a Boa Nova do Evangelho.

A sua figura é emblemática do novo método de evangelização seguido na Índia pelos missionários.


São João de Brito foi perseguido, preso e açoitado até ser deportado para a corte portuguesa.Ultrapassando todos os obstáculos volta a partir para a Índia a 8 de Abril de 1690 para a pregação do Evangelho.

Corre célere a fama do Apóstolo. Os poderosos locais olham-no com desconfiança e a condenação à morte não tarda, acontecendo a 4 de Fevereiro de 1693.O cadáver é amputado de pés e mãos, sendo os despojos dados às feras e aos abutres. Os cristãos recolheram o crânio e alguns ossos, e começaram a venerar o local do martírio.Séculos mais tarde, o Papa Pio XII mandou canonizar o santo missionário português a 22 de Junho de 1947.

* Fotografia da casa onde nasceu S.João de Brito na Costa do Castelo e da imagem do Santo na fachada do Panteão Nacional, sito na Paróquia de São Vicente de Fora.


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