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«Soube
despertar em todos nós sentimentos puros e ideias nobres. Um Mundo de
compreensão e paz.»
Folhear os álbuns de
fotografias do espólio do Padre Correia da Cunha é sempre uma forte e profunda
emoção. Parece incrível como este pobre mundo se transforma, como mudam as
pessoas e as coisas!
Tudo assombra e, ao mesmo tempo
encanta, talvez pelo absurdo.
Aqueles e aquilo que pertenceu
à vida que já não tivemos o prazer de conhecer, aceitamos sem grande espanto,
pois estarão integradas perfeitamente no conceito das coisas “petrificadas”
para a eternidade.
Agora aqueles e aquilo que
ainda pertencem à vida (ou porque de alguma forma contactámos com eles ou
porque convivemos no dia-a-dia), são difíceis de esquecermos e
impossibilitarmos que entrem nas nossas cabeças, por mais que se queira. Eles
pertencem ao nosso mundo independentemente de os termos apenas gravados nas
páginas dos álbuns de fotos.
Sou um dos muitos jovens que
acompanharam Padre Correia da Cunha em infindáveis discussões, que se estendiam
tantas vezes até ao romper da madrugada. Aqueles que como eu, com ele
conviveram e o ouviram, não podem deixar de o imaginar naquele seu jeito
tranquilo, cheio de firmeza e convicção que ninguém conseguia modificar.
Já há muito tempo nasceu em mim
um forte sentimento, agora reforçado pela dedicatória a Padre Correia da Cunha
que chegou às minhas mãos, onde é bem expressa a sua enorme inteligência e
sensibilidade. Um modesto homem, que foi capelão da Armada e prior de uma pobre
paróquia de Lisboa, e que serviu com elevado espírito, enorme glória e cultura,
e um fervoroso sentido de serviço, a Deus e aos irmãos.
Queria hoje lançar um afectuoso
pedido, a todos os que directamente o conheceram e com ele conviveram, assim
como aqueles que o descobrem neste blogue: uma homenagem - In Memoriam de
Padre José Correia da Cunha. Um singelo
louvor a relembrá-lo numa simples página A4 com assinatura que permita a sua
correcta digitalização.
Um simples texto pode descobrir
todo o sentido, exprimindo o homem que queremos projectar pela sua vasta
inteligência e cultura, numa confundível e imortal presença.
Nessas curtas linhas, lembro
que deveremos apenas recordá-lo como um inesquecível amigo. Um homem simples
que nos habituamos a ver na sua modéstia e enorme simpatia. Evocá-lo com
respeito e veneração pois a sua figura ímpar de intelectual sempre o mereceu,
tal como o seu espírito aberto, que era sensível a todas as manifestações
inovadoras do seu tempo.
A Comunidade Paroquial e a
Junta de Freguesia de São Vicente de Fora têm esquecido este Homem de grandes
merecimentos, mas para homens com a têmpera do Padre Correia da Cunha morrer
pouco importa; o importante é sobreviver em espírito. E ele estará hoje ainda
mais vivo do que nunca se o quisermos imortalizar nesse nosso documento.
Herdei da sua biblioteca vários
livros, um dos quais, do grande escritor José Régio: O «Príncipe com orelhas de
burro». É desse romance que retiro palavras que poderiam ser suas: “Todos temos
de morrer em vida, como o próprio mestre; E DEPOIS RESSUSCITAR. Ai de quem
nunca morresse em vida, que estaria morto para sempre!”
Alguns felizmente, ainda
pertencem a este mundo, mas encontram-se de momento a percorrer o caminho de
ficarem nas páginas dos álbuns de fotos. Todos atravessamos, com desespero a
vida, até porque são inevitáveis as nossas metamorfoses até aprendermos a viver
com os nossos cabelos grisalhos, rugas e o sorriso de esperança….
O tempo não perdoa e vai pouco
a pouco desgastando tudo que restava dos nossos verdes anos, que só um álbum de
fotos ou um singelo texto podem fazer reviver perenemente.
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