«… UMA PERSONALIDADE
QUE NÃO SE
ESQUECE!»
ESQUECE!»
Marques da Silva
As portas do Mercado e Messe dos Oficiais do Exército de
Santa Clara abriram-se, de par em par, para acolher uma imensa família de
Oficiais da Marinha, que tiveram elevadas funções de comando e que se mantêm
ainda hoje ligados a uma profunda amizade nascida na época em que Correia da
Cunha – Mestre de Vida exercia as funções de Capelão da Armada (1943-1961).
Na data de 2 de Abril de 2015, em que passaram 38 anos da morte do Padre José Correia da Cunha, uma pequena multidão constituída de tão ilustres personalidades das mais diversas áreas, políticas, militares, universitárias, sociais… e muitos amigos do Grupo de Jovens OBJECTIVO reuniram-se num evento de Homenagem a CORREIA DA CUNHA, que teve uma vida coerente de fé e de fraterna amizade. Orgulho-me de através do lançamento do meu LIVRO: MESTRE DE VIDA (Padre-Marinheiro e Poeta) tornar mais conhecida a figura deste erudito líder eclesiástico às novas gerações. Exorto todos a lerem esta obra sobre o Padre Correia da Cunha.
Para este Comandante da NRP Sirius, a amizade deve ser uma
alegria gratuita como a que oferece a arte e a vida dos grandes Homens, como o
Capelão Correia da Cunha. Ele sempre referia que a Amizade não se busca, não se
sonha, não se deseja, ela exerce-se é uma virtude.
É com muita alegria e emoção que transcrevo o rico texto da
autoria do Eng.º Marques da Silva. Trata-se de um testemunho de um homem com
uma grande alma e um enorme e generoso coração e que respondeu ao meu convite (já
estava convocado pelo seu grande amigo capelão), que surgiu de um encontro
casual para lhe comunicar apenas que seria o mensageiro dos valores e
património que acumulou no seu convívio, de muitos anos com o Grande Mestre de
Vida, onde imperou sempre um grande afecto, um enorme respeito e uma perene
amizade.
Eng o MANUEL JOSÉ MARQUES DA SILVA |
Para este Comandante da NRP Sirius, a amizade deve ser uma alegria gratuita como a que oferece a arte e a vida dos grandes Homens, como o Capelão Correia da Cunha. Ele sempre referia que a Amizade não se busca, não se sonha, não se deseja, ela exerce-se é uma virtude.
É com muita alegria e emoção que transcrevo o rico texto da
autoria do Eng.º Marques da Silva. Trata-se de um testemunho de um homem com
uma grande alma e um enorme e generoso coração e que respondeu ao meu convite (já
estava convocado pelo seu grande amigo capelão), que surgiu de um encontro
casual para lhe comunicar apenas que seria o mensageiro dos valores e
património que acumulou no seu convívio, de muitos anos com o Grande Mestre de
Vida, onde imperou sempre um grande afecto, um enorme respeito e uma perene
amizade.
Deliciei-me com a leitura desta comunicação e espero que
possam adquirir o Livro CORREIA DA CUNHA – MESTRE DE VIDA para descobrirem
ainda mais sobre este Capelão solidário e que foi um Hino à AMIZADE.
Caríssimos e Distintos
Membros da Mesa e Convidados ao Lançamento do Livro CORREIA DA CUNHA – MESTRE
DE VIDA (Padre-Marinheiro-Poeta) da autoria de João Paulo Dias
Hesitei e reflecti
muito antes de aceitar o amabilíssimo convite para participar, com uma curta
intervenção, no lançamento deste livro e obra do João Paulo Dias.
Conheci o autor João
Paulo Dias há uns bons anos atrás, quando ambos navegávamos nas mesmas águas da
electrotecnia. Deixei de o ver e, passado todo este tempo, foi pela mão de um
amigo comum, meu camarada de curso da Escola Naval (Eugénio Duarte Ramos) que
por coincidência, nos voltámos a encontrar.
Apercebi-me que para o
João Paulo Dias não se tratou de uma mera coincidência mas sim o resultado de
uma palavra de recomendação e de conselho que terá recebido do Capelão Correia
da Cunha. A sua crença e a sua fé, que respeito, ultrapassam o que a mim me
leva a designar estes pequenos factos como coincidências humanas, aleatórias,
referências, enfim, de quem não consegue ver para além do horizonte finito que
o rodeia.
Mas aceitei o desafio
por três razões essenciais: a primeira, pela simpatia e genuinidade do convite
do autor; a segunda, pelo respeito à memória que conservo de um período de
convívio na Marinha com o Capelão Correia da Cunha; e finalmente pelo meu
convencimento de que muito iria aprender sobre a vida deste Homem-Padre, com
quem me relacionei num trajecto muito singular.
Aqui estou, pois. Não
me arrependi. E não sendo, nem de longe, o prelector mais competente ou
recomendado para relembrar o Capelão Correia da Cunha no nosso trajecto comum
na Marinha, facto de que, estou certo, todos me perdoarão, vim a verificar após
a consulta em primeira mão do livro do João Paulo Dias, que o pressentimento
era completamente razoável.
E pouco sabia da vida
do Capelão Correia da Cunha. O que o autor conseguiu investigar, reunir e
contextualizar ao longo dos últimos seis anos da sua vida é um trabalho que
merece, de todos nós, uma enorme palavra de louvor.
Só alguém como ele, que
conheceu desde tenra idade o Padre Correia da Cunha e o acompanhou praticamente
toda a vida, teria a capacidade e a sabedoria para deitar mãos a esta obra. E
fê-lo com seriedade, com paixão por um sacerdote de quem foi muito amigo e que
lhe costumava dizer (a ele e a muitos dos seus fiéis) que «não gostava de
homens pequenos. Os homens têm que ser grandes». E o João Paulo, num momento
difícil e de desânimo da sua vida, olhando para um retracto do seu amigo
sacerdote ouviu-o pronunciar essa frase lapidar.
Sentiu-se útil, de
novo, a sua família ajudou-o e, ao fim de seis anos de trabalho intenso,
confronta-nos com esta obra arrepiante de realismo e de incontornável rigor.
Conheceu muito bem o
Padre Correia da Cunha, as facetas da sua imensa vida e foi capaz de, com
subtilezas, reparti-la em capítulos. O que faz deste livro não um simples
documento alegórico ou reconstitutivo mas, sim, uma obra sobre um clérigo que
soube ser um Homem à frente da sua época. Como, no fundo, todos nós desejamos.
O mundo em que vivemos
exige, cada vez mais, este tipo de pessoas, frontais, solidárias, amigas,
tolerantes, inteligentes, cultas, que saibam apaixonar-se e que nos levem, a
todos, a apaixonarmo-nos pelo BOM e pelo BELO.
Foi essa, talvez com
muita antecipação para o seu tempo, a vida do Capelão Correia da Cunha que o
autor tão bem transmite nas páginas densas desta obra que se lê sem interrupção
e, para quem guarda do retracto uma imagem ainda que parcial da vida, o revê e
o relembra em todo o seu realismo.
Deixem-me dizer-vos,
antes de vos retirar alguns pormenores do meu encontro na vida com o Padre
Correia da Cunha, que ele faz parte de um pequeno grupo de sacerdotes com quem
tive o privilégio de me relacionar, por diferentes razões, ao longo da vida e
deles guardar excelentes recordações.
Sempre fui, em termos
de fé, um homem de dúvidas e, talvez por isso, pela fraqueza com que o dizia,
esses sacerdotes me tivessem dedicado algum do seu tempo.
E digo-vos
resumidamente. Relembro o Padre Queiroz que nos assistiu durante todo o curso
no Liceu Passos Manuel, o Capelão Militar António dos Reis Rodrigues, na minha
passagem pelo Curso Preparatório Militar na Amadora, com quem não convivi mas
que nos surpreendia, na idade ingrata do 18/19 anos, com o seu discurso
brilhante ao discutir os temas sociais mais difíceis que se põem à juventude e
que envolviam os menos ou mais tocados pela fé. Depois, na Escola Naval, os
Capelães João Cabeçadas (que me casou e a um dos meus filhos) por ser familiar
próximo da minha Mulher, e João Perestrello de Vasconcelos com quem andei
embarcado e que, durante toda a sua vida, foi grande amigo do Capelão Correia
da Cunha.
Faço estas referências
não por razões de natureza curricular ( facto que poderia não abonar as
diligências por eles efectuadas) mas por terem ficado como balizas ou marcas de
água daquilo que, ao longo da minha vida, vim a decidir e a praticar.
O Padre Correia da Cunha nasceu em Lisboa a 24
de Setembro de 1917 e foi admitido como Capelão ao Serviço da Armada Portuguesa
em 23 de Janeiro de 1943, até Outubro de 1961. Veio a falecer a 2 de Abril de
1977.
Constituiu, com
colaboração do Capelão João Perestrello de Vasconcelos, a Associação dos
Marinheiros Católicos, através a qual teve oportunidades de apoiar muitos dos
militares da Armada com quem se cruzou ao longo dos anos.
Encontrei-me, e todo o
meu curso Duarte de Almeida da Escola Naval, com o Capelão Correia da Cunha na
nossa viagem de guardas-marinhas, em 1958, a bordo da NE Sagres, durante a regata
Brest- Las Palmas.
O nosso curso tinha
iniciado a sua viagem de guardas-marinhas em Lisboa, a bordo de duas fragatas:
o Nuno Tristão e a NRP Diogo Gomes. Pelo facto de já termos participado na regata
anterior de Grandes Veleiros, em 1956, fomos de novo transferidos para a NE-SAGRES,
também para participar nas provas desportivas em terra, que precediam a largada
para a regata, onde, em diversas disciplinas desportivas (vela, remo, natação)
conseguíamos resultados interessantes em confronto com guarnições dos outros
veleiros.
Foi, portanto, em
Brest, que embarcados na Sagres, passámos a conviver com a nova guarnição de
oficiais, sob o comando do Capitão – Tenente António Tengarrinha Pires e tendo,
como imediato, o 1º Tenente Henrique Afonso da Silva Horta.
O capelão Correia da
Cunha tinha, portanto, na altura, 41 anos e viveu com grande entusiasmo a
espantosa aventura da regata em que todos nos vimos envolvidos.
A nossa condição de
alunos em viagem de instrução não nos permitia conviver mais intimamente com a
oficialidade, para além dos trabalhos de navegação a que estávamos obrigados ou
de circunstanciais deslocações a terra, em que o convívio era mais desinibido.
Nessa viagem, o Capelão
Correia da Cunha encontrou-se com o seu amigo também Capelão, Perestrello de
Vasconcelos, que tinha vindo embarcado na fragata NRP Nuno Tristão e com quem teve
oportunidade de visitar alguns locais da Bretanha.
A regata, para além de
uma experiência náutica inesquecível, foi um marco muito relevante para a
Armada Portuguesa pelo facto de a Sagres ter ganho a regata na sua classe de
veleiros. A experiência não podia ter sido mais aliciante e marcante para todos
os que nela participamos. O autor relata muito bem, neste livro, as emoções e
descrições do Capelão Correia da Cunha.
Voltei a encontrar-me
com ele nos finais de 1959 quando, regressado de uma comissão de serviço nos
Açores, fui destacado, como oficial, para a guarnição da NE Sagres. Nela
funcionava a Escola de Marinharia da Armada e tive, durante todo o ano de 1960
e grande parte de 1961, oportunidade de conviver com o Capelão Correia da
Cunha. As nossas conversas eram longas e variadas e foi, nessa época, que me
apercebi das qualidades do Homem Correia da Cunha. Era, na realidade, um homem
inteligente, com argumentos a favor ou contraditórios nas nossas discussões,
sempre de grande agudeza e de grande bondade.
Encontrando-se a NE
Sagres muitas vezes atracada ao cais em Xabregas, quando ficava de serviço,
convidava, por vezes, a minha namorada da altura para ir jantar a bordo. Aí, o
nosso capelão dizia-me, às vezes, que jantava connosco para nos “proteger” mas,
na realidade, nunca tal aconteceu para não nos perturbar. Mas ficava satisfeito
por saber que a minha namorada ia sempre acompanhada por um familiar. O capelão
ficava mais descansado. Bom, e deve ter dado resultado, porque essa namorada
está aqui presente e ainda é a minha Mulher.
Fizemos viagens de
instrução de Cursos da Escola Naval a seguir ao meu e tivemos, também aí,
oportunidade de falar durante os quartos nocturnos.
Nos finais de 1960
disse-lhe que ia casar em Janeiro de 1961. Ficou satisfeitíssimo e convidou-me,
a mim e à minha noiva, a irmos visitá-lo a São Vicente de Fora, onde era
Pároco, para combinar a prenda que nos queria oferecer.
Assim fizemos. Uma
longa visita, uma longa e amável conversa e a concretização de uma belíssima
prenda. Conservamo-la ainda hoje.
Em Outubro/Novembro de
1961 fui destacado para a India onde vivi os incidentes da invasão de Goa, a 18
de Dezembro. Foram muitas as peripécias que me acompanharam na vida a partir
daí. (1)
Não voltei a ver o
Padre Correia da Cunha até saber, pelos meus camaradas de curso e pelas
notícias de jornal, da sua morte no dia 2 de Abril de 1977.
Como verificam, o meu
testemunho é indiscutivelmente curto e incompleto. Mas, em minha opinião,
suficientemente marcante para me recordar do espírito de um Homem solidário,
atento, frontal na sua FÉ, desafiante nos seus princípios. Uma personalidade
que não se esquece.
Uma faceta de que
sempre me tinha apercebido mas que vim agora, com esta obra, a ajuizar com mais
desenvolvimento, foi a sua intensa ligação à cultura. E isso não é de menos no
espírito de um Homem livre. Grupos de canto e de música, em associações
populares da sua paróquia, são bem o testemunho do seu espírito evangélico e
ecuménico. A sua luta de tantos anos para a recuperação do órgão de São
Vicente. Construído em 1765 e posto de novo a funcionar nos anos 60 do século
passado espelha bem como a cultura pode mobilizar os espíritos e divulgar
ensinamentos. No dia 14 de Setembro de 2013, como se relata no livro, o
organista convidado Robert Descombes executou um inesquecível concerto de
homenagem à memória do seu grande amigo Padre Correia da Cunha que, em vida
havia possibilitado a recuperação da peça que é actualmente, um ex-libris da
majestosa Igreja de São Vicente de Fora.
Tudo isto me levou a
apreciar, de forma muito especial, todos os contos, as histórias as descrições
incluídas, sobre Correia da Cunha, no livro de João Paulo Dias.
O pouquíssimo que eu sabia
completou-se com o imenso que fiquei a conhecer depois de ter esta obra que,
por muito que o Autor se esforçasse, não conseguiria decifrar, neste testemunho
tão valioso, o enigma místico e extensíssimo da vida de um Homem que foi
sacerdote de uma fé e que tão bem soube transmiti-la a todos que o conheceram.
O Autor cumpriu,
portanto, a recomendação antiga do Padre Correia da Cunha de que os «HOMENS DEVEM
SER GRANDES».
Parabéns ao autor e a
todos os que ajudaram neste portentoso trabalho.
Manuel José Marques da Silva
2. IV.2015
(1) – Recomendo a todos a leitura do livro: A ÚLTIMA HISTÓRIA DE GOA da autoria do
Eng.º Marques da Silva. Um testemunho vivido na primeira pessoa sobre as
experiências e angústias sofridas em 18 de Dezembro de 1961. É uma verdadeira
lição de dignidade. Só poderíamos esperar esta sua posição ética, cívica e de
insuperável amor pela liberdade.
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