Maqueta do Jornal OBJECTIVO |
O PRIMEIRO NÚMERO DO JORNAL
OBJECTIVO NÃO SAIU DO PRELO.
Em inícios do ano de 1974, os
elementos do grupo de jovens OBJECTIVO tinham uma imensa e deslumbrante aspiração:
o lançamento do seu primeiro jornal, em forma gráfica.
A publicação deste jornal feito
por jovens trazia uma imensa vantagem: estabelecer através deste veículo um
contacto próximo entre os jovens e a comunidade paroquial de São Vicente de
Fora.
Para o efeito, foi criada uma
equipa responsável pelo jornal, constituída por Manuel José Coelho, José
Rodrigues Neves, Luísa Beato, Rui Sequeira Aço e Carlos Gonçalves Pereira.
Contudo, havia uma grande
polémica gerada à volta do ponto central do jornal: a questão editorial.
A linha editorial do jornal
deveria ficar claramente definida, assim como o carácter cristão da publicação.
Sabiamente foi escolhido para
director do jornal o assistente espiritual do grupo OBJECTIVO conhecido pela
sua abertura aos ventos de mudança que iam despontando na sociedade.
Mas tratando-se de um jornal de
um grupo de jovens, destinado à comunidade em que se inseriam, haveria uma
responsabilidade acrescida no tocante às matérias a publicar.
Mosteiro de São Vicente de Fora (topo) |
Convém lembrar que à época já
existia um jornal de parede, confinado às instalações do grupo de jovens,
situadas nos claustros do Mosteiro de São Vicente de Fora.
A publicação do jornal passaria a
ser um serviço comunitário, prestando informações e veiculando opiniões úteis
para todos os paroquianos da comunidade cristã de São Vicente de Fora.
Este projecto do lançamento de um
Jornal não estava baseado na promoção e satisfação das vaidades pessoais dos
elementos que constituíam a equipa de redacção. Havia a profunda percepção que
o jornal se dirigia a uma Comunidade Paroquial cristã, visando-a tomar
consciência dos problemas da sociedade portuguesa e originar uma resposta clara
na busca das suas resoluções.
Todo o grupo se sentia motivado
quando tomou conhecimento desta brilhante iniciativa. Era um projecto positivo,
que iria gerar em toda a comunidade de São Vicente de Fora, um grande regozijo
pelas pontes que poderia lançar, abertas ao diálogo profícuo entre jovens e
menos jovens. Mas houve um pequeno esquecimento: é que todos os textos teriam
de ter a prévia autorização do líder comunitário, cuja autoridade para o efeito
lhe era reconhecida pela sua competência, deveras respeitada.
Membros do Grupo OBJECTIVO |
Numa profunda pesquisa sobre a
vida embrionária desse primeiro jornal OBJECTIVO venho a verificar a existência
de alguma polémica entre os redactores e o pároco.
As contradições existentes na
sociedade portuguesa da época reflectiam-se também aqui, o que levou o então
Cardeal Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro, a comentar: “ Há que reconhecer e aceitar as parcelas de
verdade, venham elas de onde vierem, mesmo se da contestação mais violenta e
radical…”
Também o director espiritual do
grupo OBJECTIVO em amigáveis conversas com o Padre Correia da Cunha sobre essa irreverência
dos jovens, havia afirmado: “Você, o
nosso prior, quer milagres… Falta-lhe fósforo.”
É por estar envolvido no meio de
tanta polémica, que o primeiro Jornal OBJECTIVO não chegaria a sair do prelo,
devido ao seu conteúdo original não ter sido acolhido.
O Padre Correia da Cunha
mostrava-se “alarmado” com a falta de uma orientação humanista de carácter
cristão do Jornal OBJECTIVO. Para ele, um jornal de um grupo de jovens da
paróquia teria de oferecer uma visão cristã sobre as temáticas nelas abordadas.
Pensava-se que tendo o jornal a
direcção do assistente espiritual e sendo da sua responsabilidade o editorial,
apresentaria todas a condições para ser aceite pelo responsável pela paróquia.
Já lá vão 42 anos! Era opinião
unânime que este número do jornal OBJECTIVO teria sido publicado. Mas verifico
hoje, que após as alegações do pároco não havia condições para ser publicado.
Nem tão pouco me consta que tenha
havido intenção dos autores dos textos quererem negociar, pois dificilmente
teriam armas subtis para modificarem os conteúdos dos materiais, respeitando
assim reverentemente as recusas do editor que por inerência estatutária era o
Padre Correia da Cunha.
SÍMBOLO DO OBJECTIVO |
Para os jovens mantinham-se bem
válidas as razões de ser do OBJECTIVO.
O Grupo de Jovens OBJECTIVO era um grupo de Igreja.
Na sua curta existência (3 anos) conseguiu já realizar uma caminhada em
conjunto, sem todavia ter atingido horizontes espectaculares.
O OBJECTIVO como grupo de Igreja e que cada vez mais pretende ser,
procura aplicar o Evangelho às realidades concretas do mundo em que se insere.
Por isso o Grupo de Jovens OBJECTIVO deseja ser libertador e mostrar ao
homem toda a sua dimensão.
Por isso o OBJECTIVO quer, com todos, ser comunidade autêntica e dar ao
homem o sentido do amor fraterno.
Por isso o OBJECTIVO quer ser verdade e dar ao homem a paz interior.
O grupo de jovens OBJECTIVO quer chegar a todos os que entendem ser seu
dever lutar pela liberdade, pelo amor, pela verdade e pela paz.
O OBJECTIVO é ajudar a construir o Reino de Deus anunciado por Jesus
Cristo.
Para terminar acrescento apenas
um pequeno comentário do Padre Correia da Cunha sobre este assunto:
“Tenho pena, muita pena mesmo, que o assistente espiritual do grupo não
tivesse detectado todo o mal que apontei, certamente não leu tudo ou fez uma
leitura apressada. Caso contrário ele teria visto os erros. Compreensíveis
aliás destes nossos jovens escritores precisamente por serem jovens e de sangue
na guelra comprovadamente e tê-los aí ajudado com a sua comprovação a fazerem a
coisa melhor, mais positiva, interessante e válida…
Não, o assistente espiritual não deixaria passar o que eu não deixei,
como aliás, ninguém de boa consciência deve deixar garotos dar tiros à toa ou
manejar armas de fogo a quem nunca recebeu instruções de tiro.”
Padre Correia da Cunha |
Para acabar um pensamento pleno de humanismo do Padre Correia da Cunha sobre este Grupo de Jovens OBJECTIVO:
- Penso também: Por que será que perco noites com estas micas de senhora
comadre cá do sítio, quando há coisas mais sérias e importantes que me devem
preocupar? Será porque os amo?
Talvez. Mas eles compreendem e aproveitam, ao menos? E de quem
será a culpa?
.
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