Os amigos que partiram…
IN MEMORIAM
MARINA HELOÍSA ÁLVARES SERRÃO
(1935-2019)
Marina
Heloísa Álvares Serrão – nasceu na cidade de Santarém, no dia
14 de Janeiro de 1936 e faleceu na cidade de Lisboa, no dia 9 de Setembro de
2019.
Marina
Serrão! Nome que é um símbolo!
Era
símbolo de crença, de bondade e de quantas boas e indescritíveis qualidades.
Era uma mestra! Era uma grande catequista! Os adolescentes procuravam-na,
buscando os encantos do seu convívio. A todos recebia de braços abertos a todos
auxiliava.
Era uma
crente de uma fé esclarecida e sincera, um coração de ouro. Marina tinha uma
nobre alma perfumada pelas regras de São Francisco de Assis, o amoroso
contemplativo e doce amigo dos humildes. Era muito sensível a todas as
obras de caridade, onde participava no exacto cumprimento dos seus deveres de
boa cristã. Era assim, uma verdadeira ‘franciscana’, reflectindo no trato e nas
conversas com os seus jovens, esta nobreza de alma.
A
esmerada educação, a tolerância e o carinho deviam pertencer à sua família, mas
a ‘santidade’ essa era para todos e não herança de pessoa alguma.
Recordações…uma
ficará para sempre gravada na minha memória. Aquela tarde do mês de Janeiro de
2009, quando a visitei em sua casa para lhe dar uma agradável surpresa.
Mostrei-lhe os meus primeiros escritos de homenagem a um amigo comum: Padre
Correia da Cunha (Pároco de São Vicente de Fora 1960-1977). Roguei que me
transmitisse a sua qualificada opinião com toda a sinceridade e me dissesse o
que sentia. Leu com muita atenção os textos, e no fim, voltando-se para mim,
com aquele seu modo acolhedor, um grande sorriso, mas um ar triste: «João Paulo
não se pode fugir a um dever, tanto mais quando esse dever corresponde ao
sentir da nossa alma. Bem sabes
da minha imensa admiração que tinha pela grandeza moral e de carácter do nosso
saudoso prior». Depois disse-me: «o Padre Cunha, para mim, continua vivo nesta
monumental igreja tão sua, a que tanto a sua alma queria… (pela janela da sala
de visitas observa-se toda a panorâmica da igreja)».
Quem, como
nós, tivemos a felicidade de gozar da sua convivência, sentimos-nos
comovidos ao lermos estes textos.
Nessa
tarde, falámos um pouco de tudo. A Marina ousou falar do sacerdote que ela
adorava e aproveitou para evocar um passado de recordações de factos e
episódios da vida desse amigo comum.
Falava
com tanto entusiasmo, tanto calor, tanta vida que me parecia ressurgir no meu
espírito toda a energia para levar por diante a missão de homenagear o grande
Mestre de Vida. Muitos desses episódios foram inseridos no livro de que sou
autor: Correia da Cunha (Padre-Marinheiro-Poeta).
A
derradeira vez que a vi estava já prisioneira da cegueira. Festejou-me imenso.
O seu imenso talento permitiu-lhe evocar com grande flagrância e singeleza as
grandes personalidades do passado da Paróquia de São Vicente de Fora e dos
tempos de convivência com o Padre Correia da Cunha. A sua inesquecível Anita
Themudo Barata…
A Marina
pelo seu primoroso coração, a sua sensibilidade pura e fina delicadeza
conquistava os adolescentes e jovens, motivando-os no respeito cristão e humano
bem como pelos interesses das suas vidas.
Assim, fecharei esta singela e sentida homenagem a Marina Heloísa Serrão, uma grande
amiga da Comunidade Paroquial de São Vicente, onde desenvolveu uma excelente
actividade pastoral em prol dos mais jovens.
Dai-lhe
Senhor, o eterno descanso e brilhe para ela o esplendor da Luz eterna.
Paz à sua
formosa alma!
.
Ela levava toda a gente a fazer coisas que pareciam difíceis. Éramos crianças e adolescentes e, mesmo com o comportamento rebelde próprio das nossas idades, aprendíamos com a “Mãe” espiritual, na igreja de São Vicente de Fora, a realizar, de forma comprometida – umas vezes mais empenhados e outras menos – pequenas obras em prol da comunidade. Coisas simples mas que aos olhos de adolescentes pareciam coisas enormes.
ResponderEliminarMarina Serrão ajudava-nos a escrever peças de teatro para levarmos a centros de dia e lares de idosos, ajudava-nos a pintar para colorirmos a vida de alguém, ajudava-nos a cantar para sermos voz de alegria, mesmo desafinados em tantos momentos, e encaminhava-nos, ainda pequenos, a conhecer pessoas que precisavam de ver e falar com gente.
Agora que somos todos adultos e já não a temos entre nós, entendemos que aprendemos tanto com os que têm energia para edificar uma comunidade inteira. A Marina tinha uma força que só poderia vir do amor de Deus que vivia dentro dela. Ia por todo o mundo anunciar que vivemos acompanhados, em qualquer circunstância, no bom combate pela justiça em favor dos mais desfavorecidos.
Assimilamos mais com os olhos do que com os ouvidos. É com o testemunho vivo do que vemos alguém de referência a fazer que podemos aspirar a ser melhores. Temos a promessa de que estamos acompanhados nesta travessia, até ao fim do mundo. É esta presença que sentimos que nos pode alimentar em cada viagem. Estamos atentos a quem encontramos no caminho?
Sílvia Júlio
“Um momento com Deus”, GDR – GauDium Rádio