.
.
DÓI-ME A ALMA …FELIZES PARA SEMPRE…
Para Padre Correia da Cunha existiam três verdades absolutas que não podíamos entender na sua total plenitude: a imperfeição humana, o tempo que nos domina e a Ressurreição fonte de uma vida nova.
Todos fomos estigmatizados com a marca do pecado da origem que nos impede de atingir a perfeição e nos atrapalha na percepção da desejada felicidade plena.
As surpresas desagradáveis que Deus nos prepara não são compreensíveis, dadas a nossas incapacidades e impotências para as conseguir alterar, não as dominamos… Mais ainda, não sabemos onde, como, quando ou porquê apenas enxergamos a nossa fatalidade, que nos inferniza nesta curta etapa da nossa existência.
Herdei desse grande sábio apóstolo e homem de fé a crença na jubilosa esperança de uma Vida Nova e eterna, que me dá uma visão de um mundo perfeito no qual todos viveremos as experiências de uma vida arquétipo e seguramente melhor …
Padre Correia da Cunha na liturgia das exéquias socorria-se da vida do bicho-da-seda para explicar a Ressurreição: ao longo da sua vida vai alimentando-se das frescas e saborosas folhas das amoreiras, dando início à sua magnífica obra de tecedura de finíssimos fios de rica seda, que tanto admiramos e que constituem o seu casulo. Depois de construído arduamente, o casulo torna-se a sepultura de renascimento, onde se dá a continuação do processo degenerativo necessário à existência de uma vida nova - a borboleta.
Também nós nascemos, fomos alimentados, labutamos na vida, criando fios agradáveis que possam permanecer como herança para os nossos sucessores, mas um dia seremos chamados à sepultura (casulo) para que possa haver uma Vida Nova. Sem a morte não poderá haver Ressurreição, nem Vida Nova. A garantia da Ressurreição não era dada por ele, Padre Correia da Cunha, mas pelas serenas palavras do próprio Jesus Cristo: ‘’Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá’’ João 11,25.
Escrevo este post com uma amargura que cobre a minha alma, com a notícia da privação dos pais e irmã de um bom amigo (JCC), aquém me cabe transmitir uma palavra sentida de lenitivo. Há momentos que é impossível coordenar tanto livre pensamento, que para além de cair nas próprias emoções, por vezes também nos assalta mil interrogações (?), a que não sabemos dar uma cabal resposta.
O nosso destino é partir ao encontro do Pai, mas à semelhança do bicho-da-seda, é tornarmos obreiros de fios de amor, amizade, honra, dignidade enquanto vivermos neste mundo, que como Padre Correia da Cunha referia era a antecâmara do Reino de Felicidade.
Há semelhança do que certamente diria Padre Correia da Cunha: no mínimo devemos confiar pela convicção da esperança na Nova Vida e com isto contribuir para uma vida ainda mais repleta de FÉ, que nos leve a uma existência mais sábia, mais livre e acima de tudo de maior felicidade. Este despretensioso texto é um pequeno contributo para ajudar na peregrinação da busca incessante na compreensão insondável de uma das verdades absolutas.
Não poderia terminar sem a publicação deste belíssimo poema de José Carlos Cruz, onde para haver girassol é necessário que a semente morra na terra. Para haver Vida Nova é necessário que sejamos lançados à terra…
ADIVINHA DA CHUVA
Filha de nuvens e ares,
ordeno rios e mares…
Eu sou essa que começa,
Ai começa quando cai…
Dizem que sou de São Pedro,
dos humores, a face escura;
em seu próprio pranto o rosto
da tristeza e da doçura…
Atrás de mim vem sol,
juntos fazemos verde…
Beijei terra – e a fiz mole!,
Vi romper um girassol
e lhe dou muita ternura…
Desconhecido Expresso de José Carlos Cruz – Esquina Editores
.
.
.
..
Sem comentários:
Enviar um comentário