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AO SERVIÇO DA COMUNIDADE PAROQUIAL DE SÃO VICENTE DE FORA
A 1 de Novembro de 1960, dia de Todos os Santos, com radiante alegria, Padre Correia da Cunha tomou posse como Pároco da Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora.
Curiosamente, Padre Correia da Cunha já vivia no monumental Mosteiro, que se encontrava totalmente votado ao abandono, na sua qualidade de coadjutor de Monsenhor Francisco Esteves e de Capelão do Hospital da Marinha.
Como sempre referia, a sua família eram os paroquianos de São Vicente de Fora. Ao nível humano, eram gentes humildes, simpatiquíssimas, encantadoras e acolhedoras, a quem Padre Correia da Cunha se encontrava já muito unido. Sempre se considerou o prior da Encosta da Serra devido aos seus paroquianos serem oriundos da Beira Serra, principalmente da Pampilhosa da Serra.
Quando pároco da Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora, ele que nos primeiros anos do seu sacerdócio como professor do seminário e capelão da armada tantas provas dera duma piedade profunda e de um amor ardente pelas almas como prior maior, tinha de dar largas às suas excepcionais qualidades. Foi constante no afecto consagrado aos seus paroquianos e no zelo com que promoveu o desenvolvimento cristão daquela gente. Particular atenção lhe mereceu a formação intelectual e cristã da juventude, a assistência aos doentes… por isso ainda hoje a sua figura é recordada pelos imensos jovens, dispersos pelo país, dos anos 60, que na Paróquia de São Vicente de Fora viveram inolvidáveis experiências de vida cristã.
Dotado de raríssimas qualidades de inteligência e sensibilidade, entregou-se de corpo e alma na defesa activa e valorização do património histórico deste monstruoso monumento esquecido pelas autoridades nacionais.
Ampliou o núcleo museológico do Mosteiro de São Vicente de Fora, até ali reduzido ao Panteão da Dinastia de Bragança, com a exposição de peças de valor histórico e artístico, e com a abertura da Sacristia, Portaria e Sala do Conselho aos visitantes. Nestes espaços, este coleccionador e meticuloso amante de arte reuniu um notável acervo de arte sacra. O seu bom gosto permitiu formar um admirável património que compartilhava com o público. Muitos ilustres visitantes rendiam-lhe homenagens, pela sua competência, dedicação e sensibilidade à arte e à cultura.
As várias operações de restauro efectuadas no monumento, por parte da Direcção Geral dos Monumentos Nacionais, sempre tiveram em consideração as sugestões e o rigoroso cuidado que Padre Correia da Cunha colocava nas intervenções, a levarem a efeito nessa sua casa adoptiva, que era esse monumento histórico.
A nível pastoral procurou que muitos leigos afastados aderissem às actividades paroquiais e o ajudassem na construção de uma comunidade viva. A Evangelização era um dos seus primeiros pilares. Assim, a Catequese era bem organizada e envolvia cerca de quinhentas crianças e jovens, sendo coordenada pelo Carlos dos Anjos Barradas, Anita Themudo Barata e Teresa Taledo, que muito o ajudaram nessa nobre missão.
Era sua formalidade que o Grupo com cerca de cinquenta catequistas dispusesse de um nível de formação aceitável, pelo que desenvolveu dinâmicas muito interessantes para estimular a criatividade e uma interacção entre todos os membros.
O Grupo de Catequistas sentia-se muito feliz e motivado por estes novos desafios. Todos os fins-de-semana se reunia para conviver, partilhar refeições com o fim de serem apoiados por Padre Correia da Cunha a crescerem na sua formação de educadores da Fé.
Padre Correia da Cunha sempre se disponibilizava na ajuda e na elevação da auto-estima do Grupo. Creio mesmo que o seu maior prazer e felicidade era poder compartilhar a sua vasta cultura e assim contribuir para o desenvolvimento intelectual, humano cristão desses seus irmãos.
Nunca descorou a sua própria formação, tendo frequentado vários cursos de actualização em Portugal e no estrangeiro. Era assinante de imensas revistas de liturgia, teologia e culturais, que lia diligentemente.
Renovou as Conferências de São Vicente de Paulo (feminina e masculina), que tão necessárias eram naqueles tempos. Muitos leigos se dedicaram a este serviço da Caridade, cuja missão era aliviar o sofrimento do próximo mais desfavorecido. Estes irmãos vicentinos eram discretos. Trabalhavam para a edificação de uma sociedade mais fraterna. A máxima de Padre Correia da Cunha era que os mais necessitados fossem reconhecidos na sua dignidade e encontrassem os meios para uma existência respeitável.
Padre Correia da Cunha, com toda a sua coragem, denunciava todos os egoísmos e muito desejava que as Conferências se abrissem aos jovens. Esta sua vontade nunca a conseguiu concretizar ao longo da sua vida. Teria sido para si uma grande alegria, pois como sempre salientava, só o Amor ao próximo nos poderia levar ao encontro de Jesus Cristo.
O apostolado da oração foi revitalizado com vários grupos de devotas senhoras que desenvolveram dinâmicas muito interessantes. Além das devoções a Nossa Senhora, Sagrado Coração de Jesus e Sagrada Família, tinham um particular empenhamento no zelo e decoração dos altares da igreja, bem como na circulação de vários oratórios que passavam pelas várias famílias da paróquia, células de verdadeira oração.
Contínua…
Bom dia João Paulo, uma pequena rectificação, o Padre Correia da Cunha não era coadjutor do Monsenhor. O Patriarcado cedeu-lhe as instalações situadas na traseira do salão da Portaria mas as relações dele com o Monsenhor Francisco Esteves nunca foram muito cordiais devido ao temperamento muito mais aberto do Padre Correia da Cunha e o do Monsenhor muito mais conservador.
ResponderEliminarFoi bem visível a abertura que deu logo que o P. Cunha se tornou Pároco de S. Vicente, embora eu tenha saído da Paróquia pouco tempo depois ainda assisti a algumas alterações.
Maria Quintas
Com o falecimento do Mons. Francisco Esteves em Dez. 1959, o coadjutor oficial, Padre José Alcobia foi nomeado Pároco Interino da Paróquia, não disponha de direito de sucessão. Padre Correia da Cunha que habitava no Mosteiro, colaborava também na actividade pastoral foi nomeado pároco pelo Cardeal Patriarca em 10 de Outubro do ano 1960. Recordo uma pequena história.
ResponderEliminarPadre Correia da Cunha, na qualidade de Capelão da Armada, usava na sua indumentária, sapatos brancos. Monsenhor ficava extremamente ofendido e furioso e tentava persuadir Padre Correia da Cunha a não usar sapatos brancos na celebração eucarística, que diariamente celebrava na Paróquia de São Vicente de Fora. Para Monsenhor esse direito apenas era concedido a Sua Santidade o Papa. Para Padre Correia da Cunha a cor dos sapatos pouca importância tinha no acto litúrgico. Eram estas pequenas coisas que faziam que as relações entre Monsenhor e Padre Correia da Cunha não fossem tão cordiais…
Muito obrigado por me dar a conhecer esta excelente iniciativa do Patriarcado.
ResponderEliminarS. Vicente de Fora é para mim um local místico e uma paixão. Lá vivi, ou melhor para lá andei durante mais de 10 anos, nos anos 60 do século passado. Tive ali muitos amigos, conheço a igreja e os claustros "a palmo". Fui ali muito feliz, participando activamente no dia-a-dia da paróquia.
Foi ali que quase sem saber fui influenciado pela poesia do bom Padre José Correia da Cunha. Também pratiquei arqueologia naquela Igreja durante mais de 40 anos.
Tudo isto para acrescentar que aquela bela Igreja tem outros interesses suficientes para uma demorada visita. Ao Sábado será difícil estacionar a viatura, melhor será utilizar o transporte público.
Se lá for visitem o Mosteiro. Subam à torre da Igreja e vejam Alfama e o rio de outra perspectiva. Visitem o Panteão da Casa de Bragança, local onde estão sepultados quase todos os Reis da Quarta Dinastia. Visitem a Portaria e vejam os lindos painéis em azulejo (a conquista de Lisboa ao Mouros etc.) Vão visitar a linda sacristia com madeiras de jacarandá e pau-santo. No chão da sacristia que tive o gosto em participar nas escavações arqueológicas estão sepultados alguns Cavaleiros Teutónicos que morreram na conquista de Lisboa ao Mouros. Só não se vêem os túmulos em pedra pois não autorizaram que se colocasse vidro ou outro acesso à História de Lisboa. Mas não foi só isso: na Cerca do Convento descobrimos dois Silos Árabes intactos e também nos obrigaram a tapar...
De volta ao Convento, visitem a Sala dos Meninos de Palhavã filhos de D.João V e da Madre Teresa do Convento de Odivelas. Ainda existem as fábulas, os motivos de locais dos descobrimentos, tudo em painéis de azulejos da Fábrica do Rato. Já agora vejam a colecção de tecidos e o nosso museu de arqueologia.Muito obrigado por me dar a conhecer esta excelente iniciativa do Patriarcado.
S. Vicente de Fora é para mim um local místico e uma paixão. Lá vivi, ou melhor para lá andei durante mais de 10 anos, nos anos 60 do século passado. Tive ali muitos amigos, conheço a igreja e os claustros "a palmo". Fui ali muito feliz, participando activamente no dia-a-dia da paróquia.
Foi ali que quase sem saber fui influenciado pela poesia do bom Padre José Correia da Cunha. Também pratiquei arqueologia naquela Igreja durante mais de 40 anos.
Tudo isto para acrescentar que aquela bela Igreja tem outros interesses suficientes para uma demorada visita. Ao Sábado será difícil estacionar a viatura, melhor será utilizar o transporte público.
Se lá for visitem o Mosteiro. Subam à torre da Igreja e vejam Alfama e o rio de outra perspectiva. Visitem o Panteão da Casa de Bragança, local onde estão sepultados quase todos os Reis da Quarta Dinastia. Visitem a Portaria e vejam os lindos painéis em azulejo (a conquista de Lisboa ao Mouros etc.) Vão visitar a linda sacristia com madeiras de jacarandá e pau-santo. No chão da sacristia que tive o gosto em participar nas escavações arqueológicas estão sepultados alguns Cavaleiros Teutónicos que morreram na conquista de Lisboa ao Mouros. Só não se vêem os túmulos em pedra pois não autorizaram que se colocasse vidro ou outro acesso à História de Lisboa. Mas não foi só isso: na Cerca do Convento descobrimos dois Silos Árabes intactos e também nos obrigaram a tapar...
De volta ao Convento, visitem a Sala dos Meninos de Palhavã filhos de D.João V e da Madre Paula do Convento de Odivelas. Ainda existem as fábulas, os motivos de locais dos descobrimentos, tudo em painéis de azulejos da Fábrica do Rato. Já agora vejam a colecção de tecidos e o nosso museu de arqueologia.
Rogerio Martins Simões