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‘’ OS VERDADEIROS HOMENS DO MAR, SÓ SE
FAZEM EM CIMA DAS ENXÁRCIAS.”
Há
certas experiências que, embora amarrotadas nas memórias pelos muitos anos que
passaram, ficaram indeléveis nos sentimentos de quem as viveu e que sempre
ajudavam para afogar uma saudade qualquer.
As
várias viagens do Padre Correia da Cunha no Navio-Escola SAGRES eram por ele
recordadas como se dele fizessem parte e não as pudesse apagar da sua vida
marinheira.
Foi
no dia 7 de Julho de 1958, que embarcou no velho Navio-Escola SAGRES e
participou na regata oceânica Brest -
Las Palmas, onde a epopeia
gloriosa e triunfal foi festejada com imensa alegria pela classificação obtida (1º lugar da
SAGRES), graças à dedicação, ousadia, abnegação e sacrifício dos valentes
tripulantes. A bordo imperou a verdadeira camaradagem como bálsamo para elevar
o ego dos marinheiros assim como o respeito e orgulho pela nobre pátria. Estes
bravos homens do mar encaravam estas viagens com espírito de missão e não
esqueciam nunca a épica legenda do navio: ‘’ A Pátria honrai que a Pátria vos contempla’’.
O
ilustre capelão da Marinha guardava imensas saudades da sua Sagres, considerada
por ele como uma verdadeira embaixada do seu querido e amado Portugal.
A
velha Sagres foi construída na Alemanha, no ano de 1846, e após uma conturbada
história viria a ser entregue à Marinha Portuguesa, em Maio do ano de 1924,
para servir de Navio-Escola. Nesse mesmo ano, terá sido rebaptizada com o nome
de SAGRES e requalificada com excepcionais beneficiações, que passaram pela
instalação de dois novos motores diesel de 350 cavalos-vapor e a mais moderna
aparelhagem de navegação: radar, girobússola, sonda ultra sonora, hodómetro
eléctrico e anemómetro. Alojava 350 efectivos.
Nesta
viagem, o comando esteve a cargo do Capitão Tenente António Tengarrinha Pires,
tendo como imediato o 1º Tenente Henrique Afonso da Silva Horta. Eram oficiais
da guarnição da Sagres, o 2º Tenente Guilherme Conceição Silva, chefe do
serviço de embarcações, o 2º Tenente João Carlos Alvarenga, chefe do serviço de
electrónica, o 2º Tenente José Miguel Ceregeiro, chefe do serviço de
comunicações, o 2º Tenente Sérgio Augusto Zilhão, chefe do serviço de
artilharia, o 2º Tenente José Manuel Pires de Matos, chefe do serviço de
navegação, o 2º Tenente Médico Joaquim dos Santos Félix António, o 2º Tenente
Maq. Armindo Alves Rodrigues…e obviamente que não se pode esquecer o Capelão 1º
Tenente José Correia da Cunha, cuja Missão era contribuir para uma maior
humanização e fraterna solidariedade na arte de boa marinharia.
Recordava o Padre José Correia da Cunha que foi numa tarde radiosa de segunda-feira, dia 7 de Agosto, que largaram amarras desta cidade de Lisboa. Com todas a velas içadas, onde as belas Cruzes de Cristo se mostravam tão solitárias nas beatíficas quietudes da sua eternidade, que os 13 oficiais, 22 sargentos e 254 praças, protegidos pelo Divino Chefe, largaram para Brest, o seu porto de destino.
Mas é em pleno oceano que se tomava maior consciência da imensidade do mar e do desconhecido. Após cinco dias, já em pleno Golfo da Biscaia, onde o mar é exuberante em histórias de grandes agitações, e que dessa vez não quis fugir à regra, que o navio foi obrigado a ferrar as velas, navegando em árvore seca, pois registavam-se ventos acima de 60 nós.
As
lutas brutais que viveram durante esses dias foram de um enorme terror, pois
ainda se recordava a imensa tragédia ocorrida no ano anterior com um navio da
Marinha Alemã, apanhado por um violento temporal no oceano atlântico, que
arrastou para a morte com o seu afundamento, 79 dos 85 membros da tripulação.
Durante
alguns dias, encontrando-se o mar nessas condições era totalmente impossível
tomarem qualquer tipo de refeição pois os balanços era de tal forma que a proa
desaparecia no meio das águas. Era uma luta insana dos tripulantes para
segurarem os pratos para além de terem de amarrar as cadeiras às mesas.
As
cerimónias religiosas foram canceladas, pelo Capelão Correia da Cunha devido à
violência do mar. Mas Nossa Senhora mantinha-se como farol de acolhimento no
porto de chegada onde já se encontravam as fragatas da Marinha Portuguesa Nuno
Tristão e Diogo Gomes com os instruendos do Curso D. Duarte de Almeida. Deve
confessar-se que a mais nobre e excelente tarefa da navegação é atracar com
tranquilidade o navio depois das impetuosidades do mar que o Padre Correia da
Cunha descrevia como se de um filme de ficção se tratasse.
“Até
à partida para a regata marcada para sábado 2 de Agosto, mediariam cerca de
três semanas de estadia em Brest, tempo que acabaria por ser preenchido das
mais variadas formas, naturalmente com particular relevo ao aspecto lúdico, o
que era perfeitamente compreensível, dado tratar-se de uma guarnição
maioritariamente jovem e não comprometida. E até o Capelão Correia da Cunha, a
quem, bem entendido, estavam interditas certas brincadeiras, tinha arcaboiço
psíquico quantum satis para aguentar e desculpar alguns excessos e
irreverências de camaradas churrés mais atrevidos como daquela vez em que
invadiram o seu camarote e fizeram desaparecer, transitoriamente, é claro, os
santos óleos, as hóstias e o vinho da eucaristia”
Contínua…
NOTA:
Lembro que só foi possível recordar esta vitória da SAGRES na regata Brest-Las
Palmas, graças ao preciosismo contributo da comunicação do Exmº Sr.
Contra-Almirante Médico Joaquim dos Santos Félix António, realizada na Academia
de Marinha. Cumpre-nos agradecer com muita gratidão ter evocado a figura do
Capelão José Correia da Cunha.
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Mais uma Unidade onde me formei nas lides do mar.
ResponderEliminarA minha saudosa escolinha que formou gerações de marinheiros como diria o Padre Correia da Cunha que foi Capelão da Armada: - ´´OS VERDADEIROS HOMENS DO MAR, SÓ SE FAZEM EM CIMA DAS ENXÁRCIAS.”
É evidente que ele exagerava, mas procurava mostrar quão importante foi este navio para a formação do caracter dos homens deste país.
Um abraço
Camilo
Padre Correia da Cunha foi Capelão da Armada desde Janeiro de 1943 a Outubro de 1961.
EliminarÉ curioso e revelador que a maioria dos paroquianos de São Vicente de Fora, conheciam-no como Capelão da SAGRES e não da Marinha. Era uma figura muito popular e estimada, quando nos referíamos ao Capelão da Marinha, eramos de imediatamente corrigidos: - DA SAGRES!