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“DEPOIS DA TEMPESTADE...A ILHA DOS
AMORES.”
AMORES.”
Em 1958, a cidade de Brest apresentava-se com o aspecto de uma adolescente. Era demasiado pequena para as aspirações românticas de uma tripulação de jovens marinheiros. Estando-se numa das regiões mais belas de França, carregada de simbolismos ligados ao mar e de lendas, havia que descobrir a Bretanha e contactar com as moças mais belas com cabelos a exalarem perfume, com mãos suaves e bonitos olhos…
As almas puras destes marinheiros preparavam-se para mergulhar em terra na busca de novos mundos fantásticos, quentes, exóticos e ricos em volúpias da carne.
Não compreenderemos que os corações destes heróicos marinheiros são de uma grande solidão, onde ninguém penetra? As paixões que neles crescem durante as longas, violentas e melancólicas viagens pelo infinito mar são sufocadas pelo murmúrio das violentas ondas.
As chegadas a terra firme são como um Novo Mundo de luzes, cheiros, odores e ruídos triunfais.
Jovens mulheres eram para estes honrosos marinheiros, algo de fatal, quando lhes fitavam os olhos, atordoados pelo prazer que os elevariam a uma harmonia suprema.
Esses mistérios das mulheres tentavam alguns marujos com o demónio da carne que vivia em todos os músculos dos seus corpos e no próprio sangue. É o duplo fascínio do amor e prazer.
Segundo a opinião de muitos oficiais da marinha, com mais experiência, as paixões crescidas e alimentadas nos portos eram sempre as mais belas e brilhantes, pois dissipavam-se também como a fumaça.
Na viagem de regresso sempre haviam marujos que acreditavam terem-se apaixonado, pois a dor que sentiam era bem reveladora que ali tinham encontrado a mulher mais bela do mundo e das suas vidas, dizendo de coração aberto: “Esta é que eu amo”.
De regresso à embarcação era missão do Capelão fazer acordar estes “papalvos” grumetes para a verdadeira realidade através de bons conselhos de humanidade. Por vezes, era necessário recorrer à terapêutica medicamentosa, cuja incumbência era do médico da guarnição.
Voltemos ao Capelão Correia da Cunha. Embora alguns oficiais e membros da tripulação fossem agnósticos, todos tinham imenso respeito e consideração pelo Padre Correia da Cunha, pelos valores éticos que defendia e com quem era fácil estabelecer uma cordial e sincera amizade. Humilde, compassivo e dedicado aos seus marujos, sacrificava todo o seu tempo na busca de contribuir para a sólida formação humana destes seus discípulos, visando torná-los obreiros de um mundo, onde a amizade e a fraternidade fossem perfeitos protótipos de um humanismo; pois para ele ser cristão, não era mais do que viver o evangelho, no serviço e dedicação aos irmãos.
Navio Escola SAGRES |
Recordo que nesta viagem do Navio Escola Sagres, o Padre Correia da Cunha encontrou-se com o seu admirável amigo Capelão João Perestrello de Vasconcelos, que fazia parte da guarnição da fragata Nuno Tristão, na altura sobre o comando do Capitão-de-fragata Diogo de Melo e Alvim.
Capelão João Perestello de Vasconcelos e Correia da Cunha em Brest |
Após os cumprimentos protocolares com o Presidente do Município de Brest, os dois amigos partiram à busca da Bretanha. O passeio serviria para robustecer e retemperar as energias perdidas durante a dura viagem, na qual tiveram de enfrentar a violenta tempestade no Golfo da Biscaia. Peregrinaram pela profunda Bretanha, que o Padre Correia da Cunha comparava a um rincão do Paraíso Celestial. E porque não vivê-lo quando o temos à mão?
Creio que eram nestes locais que ambos os capelães compreendiam com maior intensidade toda a felicidade da Criação, que Deus de uma forma generosa e gratuita colocava para todos a podermos usufruir, em perfeita consonância no nosso coração em desejo desenfreado.
A beleza da natureza é de uma harmonia perfeita que geralmente só os homens de coração genuíno conseguem captar e saborear na pureza dos longos horizontes que esta nos oferece: as rochas escarpadas, o céu com o seu domínio celeste, o sol que se eleva nos seus raios…
Em tudo viam a beleza que Deus colocou na Terra. Quando à noite apoiavam as suas mãos para rezarem imaginavam ouvir doces cânticos vindos do Céu e a presença da Virgem Mãe, tendo nos seus braços o doce Menino Jesus que aparecia a estes marinheiros na saliência das ondas, que continuavam a invadir as suas mentes.
Mas não esqueçamos que também aproveitavam estes dias de liberdade para tomarem uns refrescantes banhos nas praias da costa, saborearem os suculentos e apetitosos pratos da cozinha francesa, marcarem presença nos típicos bares bretões e até darem um pé de dança nos célebres casinos, onde tocavam as mais afamadas orquestras da moda.
Eram também nestas viagens que se cimentavam grandes amizades de profundas afeições, nas horas de labuta sobre as enxárcias, nas horas de ócio e lazer e nas horas solidárias com perfeita sinceridade. Pelos testemunhos que assisti, nas visitas que Padre Correia da Cunha recebia na sua Paróquia de São Vicente de Fora, por parte de oficiais e marujos, as relações de verdadeira amizade entre gente do mar mantêm-se para toda a vida, imperando a esperança de se manterem as velhas convivências bem ancoradas nos oceanos das suas vidas.
Contínua…
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Eu passei por Brest em 1957 sem capelão, como oficial da guarnição do draga-minas oceanico N.R.P. Pico comandado pelo, na altura Cap. Ten. Gameiro,Imediato o 2º Ten. Rui Negrão,2º Ten EMN Antues Lourenço e dois recentemente promovidos a 2º Ten Oliveira Bacharel e eu Mário Baptista Coelho. Fomos parcipar em exercicios e depois desmagnetisar o navio. Gostei de ler a história de Brest, só que eu não tive nenhum capelão a desiludir-me e já estou casado com a minha mulher Monique que conheci em Brest na altura, há 52 anos e não penso mudar
ResponderEliminarBaptista Coelho Cap.m.g. reformado
Os Deuses usam escolher os humanos que querem compensar pelos seus grandes méritos.
ResponderEliminarA Si, caríssimo Comandante , coube-lhe pelos Fados uma esposa amantíssima. Deus conserve por muitos e bons anos esse enorme Amor iniciado na linda cidade de BREST.
Estou certo que o saudoso Capelão Correia da Cunha (Pe), gostaria imenso de ter abençoado a vossa perserverante união, como o fez com muitos dos seus camaradas.