segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA E LAS PALMAS












“AOS VENCEDORES, OS LOUROS.”



Todos temos desejos de vencer! A guarnição da «Sagres» sonhava com uma colossal vitória e logo que souberam do esplendoroso triunfo, invadiram Las Plamas da Gran Canária para uma jubilosa festa de emoções, tendo a paródia durado até às sete horas da manhã.



Não sei porque os marinheiros e poetas gostam tanto da noite! Será porque sonham mais sob as estrelas? Como já referi o Padre Correia da Cunha perdia-se quase diariamente pela atmosfera nocturna das casas de fado de Alfama.




Depois de doze dias a fio de trabalho constante e duro, era obrigatório para estes incansáveis “marujos” aproveitarem para celebrarem freneticamente no Real Club Náutico de Las Palmas, este sonhado acontecimento. Ali a tripulação da «Sagres» era recebida apoteoticamente ao som de músicas alegres e vibrantes em que não faltavam os tão célebres paso-dobles.




No convés da «Sagres», havia festa abrilhantada pela charanga e onde muitos marinheiros de vários navios aproveitavam para em espírito de franca confraternização internacional abraçarem os seus companheiros da «Sagres» e felicitá-los por tão honrosa proeza. O Capelão Correia da Cunha costumava salientar que os marinheiros, independentemente da sua nacionalidade, eram desinteressados e generosos por natureza. As suas almas francas e muito nobres transbordavam amor e sincera amizade. Só assim se compreendia estes gestos de boa camaradagem, respeito e reverência pelos vencedores.




O capelão Correia da Cunha, por ter dado à Marinha Portuguesa toda a sua plena juventude, não podia ocultar que muito se esforçou por ajudar a orientar, com a sua sabedoria e palavras, a bússola da vida de muitos destes generosos mareantes, com os quais ao longo da sua carreira cimentou laços perenes de afecto e amizade. Irmanados do mesmo espírito, no dia seguinte, sucederam-se as visitas de cortesia dos comandantes das embarcações participantes na prova.






 A oficialidade portuguesa, possuída dos mais nobres entusiasmos e amor da glória nacional, lá se dirigiu para o Real Clube Náutico para o Grandioso Jantar de Gala, no qual se procedeu à entrega dos prémios da regata. Coube ao comandante Tengarrinha Pires receber o troféu das mãos do Capitão General das Canárias, Tenente General Lopez Valência, a taça da Sail Training Association, troféu esse que pode ainda hoje ser admirado no núcleo museológico da Velha Sagres (Rickmer Rickmers), em Hamburg.   




Depois da entrega dos troféus, deu-se o encerramento da noite com um esplendoroso baile evocativo de tão honroso triunfo nacional e onde estavam presentes todos as oficiais participantes desta memorável regata oceânica Brest  Las Palmas.


Recordo que toda a imprensa europeia noticiava em primeira página este grandioso acontecimento. Foi no ano de 1956, que se deu início a estas corridas de veleiros. As corridas foram concebidas para incentivar a amizade internacional e contribuir na formação dos jovens na arte de velejar. O interesse do público foi tão desmedido que houve necessidade de se criar a Sail Training Internacional para organizar estes brilhantes eventos. 


Depois das festividades em Las Palmas, a «Sagres» deixou Las Gran Canaria, tendo como destino Santa Cruz de Tenerife, onde foram recebidos com um magnífico espectáculo de fogo-de-artifício.



Contínua…

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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA “GANHÁMOS! VIVA A «SAGRES»!”

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‘’ IN HOC SIGNO VINCES”



A largada de Brest foi espectáculo deslumbrante. Uma multidão de milhares de pessoas postadas ao longo das muralhas da cidade, para presenciarem este grandioso espectáculo marinheiro.



O Padre Correia da Cunha recordava com imensa saudade esses tempos. Para ele, a «Sagres» era a grande escola do mar! Era neste navio protegido pela Cruz de Cristo, que trepando-se às vergas debaixo de mau tempo, se faziam os verdadeiros homens do mar.



Participavam nesta regata, para além da nossa «Sagres», na classe de grande porte, mais dois descomunais concorrentes «Chistian Radich», Norueguês e o «Mercator», Belga e mais quatro barcos menores, dois da França, Itália, Holanda e Argentina. Ao todo, vinte concorrentes, tripulados por gentes que encontram no mar um dos maiores encantos das suas vidas.



Para esta odisseia, embarcaram na nossa «Sagres», com o estatuto de honrosos convidados, prestigiadas figuras das quais me cumpre destacar o Contra-Almirante Francês Sacaze, o jornalista Suíço André Guex, o Dr. Oliveira Pinto, filho do saudoso Vice-Almirante Fernando d’Oliveira Pinto, uma equipa da Televisão Francesa e dois cadetes ingleses da London Nautical School.



Os primeiros dias da Regata foram desoladores por falta de vento, mantendo-se bastante próximos os três navios de grande porte. Só dias depois é que o Comandante Tengarrinha mandou largar «cutelos» e «varredouras» para aproveitar a valentia do vento. A «Sagres», a todo o pano, chegou a atingir dez nós.



O capelão Correia da Cunha terá guardado na memória até aos seus últimos dias a verdadeira sinfonia de vozes das ordens do comandante: Vamos! Chega para os cabos da gávea! Pega nos brióis e nas cerzideiras! Vai arriando a escota, carrega o estingue, carrega os brióis! Aguenta o balanço! Tesa a talha da verga, tesa os braços! Sai para a verga! Vocês da gávea: peguem no pano, ajudem ai com a talha do lais! Vamos! Abafa, anda com a mão, ó da gávea! Ferra, amarra bem!..



Foi nesta plena faina diária que muitas gerações de oficiais e marinheiros da «Sagres» colocaram no pedestal da glória o grande nome de Portugal por esses oceanos fora.



Sucederam-se dias e noites de brisas fracas de inquietação e de impaciências, tendo-se os navios perdido de vista. A «Sagres» entregue à sua excelente tripulação, lá seguia rumo às Canárias.



Segundo relato do Contra Almirante Félix António: “…houve tempo para uns concertos pela charanga de bordo e até para programas de variedades na coberta do navio, a cargo de alguns elementos mais dotados e desinibidos da guarnição”.



No dia 9 de Agosto, na camarinha do comandante, com toda a solenidade e presença de todos os oficiais a bordo, procedeu-se à colocação da foto oficial do novo Presidente da República, Contra-Almirante Américo de Deus Rodrigues Tomás, que havia sido empossado nessas funções dias antes, na Assembleia Nacional. Todos recordamos ainda os factos ocorridos nessas atribuladas “eleições”, de 1958.



O capelão Correia da Cunha havia já enviado mensagem de felicitações ao seu bom amigo “marujo”, com o qual disponha de excelentes laços de amizade, ao longo de muitos anos. Jamais será excessivo realçar que também com toda a família mais próxima do mesmo, cuja amizade foi escorada até ao final da sua vida.




A monotonia imposta pelas condições meteorológicas não afectava o entusiasmo da tripulação da «Sagres». Cada milha vencida era uma nova perspectiva que se abria para a grande vitória, que todos sonhavam ardentemente e que certamente desta vez lhes caberia.
Finalmente, a Grande Canária, cujo farol de la Islota se avistou ao longe…

Depois de cortar a linha da meta para o navio, a prova estava terminada. Mas quem havia ganho efectivamente a regata? Começou então a vigília da esperança. Na vigia, os valentes homens da «Sagres» tiveram que aguardar seis horas. Muitos marinheiros treparam lestos para as vergas mais altas dos mastros, procurando no negrume da noite descortinar qualquer luz que lhes indicasse a presença de algum navio competidor. Mas nem uma luz no horizonte. Não houve um só marinheiro da «Sagres» que recolhesse para dormir, pois aquela noite seria memorável para todos eles, na obstante a dura e incansável fadiga de terem vivido doze dias de trabalho executado com imenso prazer.

Já não restava dúvidas, a «Sagres» ganhara a Regata Oceânica Brest- Las Palmas na classe dos Navios Escola.

Como membro activo da excelente tripulação, o Capelão Correia da Cunha auxiliou e contribuiu para a consubstanciação desta grandiosa conquista, pois para além do esforço físico e da dedicação dos nossos honrosos oficiais e valentes “marujos”, a fé inquebrantável da ajuda divina, desde a primeira hora desta arrojada viagem, estava confiada ao Padre Correia da Cunha que escrevera sobre esta viagem: “Grande glória a nossa, sermos escolhidos pela Providência para desempenhar o primeiro papel: - de nos embalarmos nas ondas… nesta velhinha «Sagres» que transportara a mais fecunda semente da Cristandade.”


Em sinal de júbilo, acenderam-se os projectores a bordo. O navio rebrilhava sob a luz esfusiante, os oficiais abraçavam-se. Havia lágrimas nos olhos de muitos marinheiros mas era um delírio. A banda de bordo atacou com um marcha militar de exaltação e um coro de centenas de vozes aclamaram a vitória da velha «Sagres»: “GANHÁMOS! GANHÁMOS! VIVA! VIVA A «SAGRES»!”
Contínua…

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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA E A SEMANA DA VELA

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E aprendeu-se a dizer com saudade: “Brest tem mais encantos na hora da despedida…”




A semana que antecedia a partida oficial da Regata oceânica Brest - Las Palmas era assinalada pela: A Semana da Vela.

A cidade engalanava-se para acolher em ambiente de festa, esta tão badalada Semana, durante a qual ocorriam pequenas regatas. Os guardas marinhas, como Brito e Abreu e Azevedo Pascoal, venceram a competição em Vauriens (pequenos veleiros com pouco mais de quatro metros de comprimento, dispondo de duas velas e totalizando 8,10 metros quadrados de superfície vélica).

Recorda-nos o Senhor Contra Almirante Félix António, que desse grupo de guardas marinhas fazia parte o Conde Martins, que na altura já tinha sido campeão mundial de Snipes em provas realizadas em Monte Carlo.





Os nossos heróicos “marujos” aproveitavam estes derradeiros dias em terras de França para gravarem nas suas memórias, com enorme orgulho, as inesquecíveis recordações que haviam de ficar indeléveis nas suas vidas.



Para além das imensas cerimónias oficiais que se realizavam a bordo dos navios, a Semana da Vela também servia para os tripulantes do Navio Escola Sagres afrouxarem das grandes folias e se espreguiçarem no relaxamento, aguardando a tão esperada hora da partida à conquista da gloriosa vitória.



Recordo porém que a oficialidade, onde se incluía o Capelão Correia da Cunha, não dava tréguas. Todos os motivos, incluso a promoção a 1º Tenente do Guilherme Conceição Silva, serviam de pretexto para “soltar amarras” do Navio-Escola e irem em busca de novas emoções.




Os mais prestigiados Hotéis das cidades vizinhas de Brest eram invadidos por estes joviais e charmosos oficias da Armada Portuguesa, que com o brilho das bordaduras douradas das suas elegantes fardas decoravam os belos salões de dança.



Dançando com formosas parceiras, sempre esqueciam as asperezas da vida e da solidão. O som da música que os envolvia ajudava a criar sabores excitantes nas suas imaginações.



A vida de marinheiro é um infindável baile e nestes momentos de festividade, abraçados aos seus belos pares, os passos de dança geravam ilusões e fortes sentidos nas almas que os arrastavam até ao romper da madrugada.



Mas na nossa bonita embaixada “Escola Sagres”, uma das principais estrelas daquela espectacular parada náutica, aconteciam actos oficiais relativos à Semana da Vela, que requeriam a presença de todo o corpo de oficiais e onde se impunha um verdadeiro culto de patriotismo e testemunho dos bravos e notáveis navegadores portugueses que assim espelhavam a grandeza da cultura portuguesa, nas suas diversas formas de expressão.



A azáfama era grande a bordo dos imponentes e majestosos navios, onde se serviam cocktails em honra das altas individualidades, nas grandes recepções de boas-vindas dessas prestigiadas figuras que nos visitavam.



Na sexta-feira, dia 1 de Agosto de 1958, proceder-se-ia ao solene encerramento da semana da vela com uma cerimónia na Prefeitura Marítima de Brest, onde eram saudados todos os comandos e tripulações dos vários navios em competição.



Pela noite dentro, com toda a tripulação embarcada, decorria o ensaio de cânticos, baladas e fados do nosso querido Portugal.



Foi em gesto triunfal de glória e de especial gratidão pelo acolhimento neste belo porto, que todos os tripulantes da Escola-Navio Sagres entoaram a bem conhecida balada coimbrã:

 “ BREST tem mais encantos na hora da despedida”



Contínua…
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