segunda-feira, 3 de setembro de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA E O POETA

.
 
.
 
.
 
 
.
 
 
 
 
 
 

“ Ó ondas do mar salgado. Donde vos vem tanto sal? Vem das lágrimas choradas. Nas praias de Portugal!”

 
 
 
 

Todo o homem de elevada cultura possui uma ideia fundadora que orienta a sua vida. Para o Padre Correia da Cunha era bem clara a sua matriz cristã. Houve contudo, um eminente poeta que desde muito jovem lhe encantou o coração: António Correia de Oliveira (1878-1960). As suas sublimes poesias eram para o jovem seminarista uma pausa de silêncio, de ternura e de meditação.
 
A luz que irradiava da sua escrita era simples, modesta e doce, mas que iluminava de uma maneira misteriosa toda a Terra. O Padre Correia da Cunha, à semelhança de António Correia de Oliveira, era dotado de um especial jeito para descobrir e cantar a graça das coisas simples.

 
 

 
Se o homem é produto do meio em que vive e se forma, não admira que a fotografia de António Correia de Oliveira o tenha sempre acompanhado e ocupasse um lugar de destaque na sua secretária no seminário dos Olivais.
 
Foi também nessa casa, onde teve os maiores professores em todas as boas letras e os melhores mestres em erudição. O jovem seminarista Correia da Cunha enriquecia-se com a leitura das obras de António Correia de Oliveira que eram autênticos tesouros para a limpidez da sua inspiração, a frescura do seu lirismo e o vigor do seu patriotismo nas raízes, que o ligaram às suas fortes crenças na religiosidade da sua alma, no amor da Pátria e na glorificação de Deus.
 
Quando hoje todos parecem apostados em pensar apenas nos valores materiais, é consolador recordar estes dois homens que valorizaram pelo exemplo das suas vidas virtuosas, a beleza, a verdade, o heroísmo e a justiça. Não é pois de espantar que as suas linguagens fossem tão naturais e que espontaneamente traduzissem a elevação do pensamento, o esplendor da imaginação e a profunda delicadeza da alma.
 
 
Estou profundamente convicto que estes homens eram tocados pelo mistério do Espírito Santo, pois para eles não havia coisas grandes ou pequenas: umas e outras valiam pelo sopro de inspiração que as penetrava. As suas lutas neste mundo de passagem, consistiram em descobrir os caminhos misteriosos que conduzem ao âmago de cada ser humano.
 
Creio que eram missões predestinadas por Deus ao poeta, através das suas actividades mais intelectuais e estéticas, e ao sacerdote, nas suas acções mais morais e religiosas. No entanto, ambos tinham bem apurado o sentido de amor a Deus, à Família e à Pátria.
 
Pelos testemunhos do Padre Correia da Cunha aprendi que Portugal era uma realidade viva, com língua, costumes e tradições seculares … um património brilhante que herdámos e que tínhamos o dever de transmitir mais enriquecido às novas gerações. E se o sentimento, mais ainda que a inteligência é a luz da humanidade, cada um de nós é zelador da imensa chama da alma portuguesa e que o heróico passado é digno de memória.
 
Todos os que tivemos o privilégio de conviver com o Padre Correia da Cunha constatámos que o que ele mais valorizava era a singeleza, a espontaneidade profunda e a maneira de ser somente ele próprio.
 
O Padre Correia da Cunha também pelos seus particulares dons era brilhante na oratória, pela facilidade com que expunha uma nova ideia ou conceito numa linguagem de rara beleza e de uma prodigiosa clareza e impressionante imaginação.
 
Termino com este lindíssimo poema de António Correia de Oliveira, onde manifesta todo o seu extraordinário talento.

 
 
 
 

O que sou eu? – O Perfume,
Dizem os homens. – Serei.
Mas o que sou nem eu sei…
Sou uma sombra de lume!



Rasgo a aragem como um gume
De espada: Subi. Voei.
Onde passava, deixei
A essência que me resume.



Liberdade, eu me cativo:
Numa renda, um nada, eu vivo
Vida de Sonho e Verdade!

 
 
 
Passam os dias, e em vão!
– Eu sou a Recordação;
Sou mais, ainda: a Saudade.

 
 
Ambos serviram o seu amado Portugal nas causas que se dedicaram com toda a alma, entusiasmo e perseverança, o ardor e empenho com que só os homens de imensa fé sabem servir, um feito poeta e outro homem de Igreja … E os factos mostram que esse serviço foi magnífico, pois engrandeceram e valorizaram muitas gerações na busca ao infinito da graça de DEUS.

 
 



A observação da foto do poeta na sua estante e recuperada no seu espólio fotográfico, que hoje publico, levaram-me a escrever este post. Só a admiração e veneração que Correia da Cunha consagrava a este génio das letras poderiam manter estes documentos imortalizados. Creio serem sinais do tributo de agradecimento que atribuiu aquele que seguramente foi fonte da sua inesgotável inspiração. Mas mantenho uma interrogação por desvendar: haveria outros laços que uniam estes homens com um natural afecto, o de darem a Portugal e à Igreja um esplendor de verdade, justiça e liberdade?
 
 
 
.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
.
 
 
 
 
 
 
.

1 comentário:

  1. Anónimo3.9.12

    Por fim, caro Joao Paulo, chegaste a identificar aquela foto!!! alegra-me ;, e lembro-me que o P.Correia tinha-me falado muitas vezes daquele poeta!!
    Muito obrigado!! è extraordinario!!

    Um grande abraço

    Robert

    ResponderEliminar