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“ Ó ondas do mar salgado. Donde vos vem tanto sal? Vem
das lágrimas choradas. Nas praias de Portugal!”
Todo
o homem de elevada cultura possui uma ideia fundadora que orienta a sua vida.
Para o Padre Correia da Cunha era bem clara a sua matriz cristã. Houve contudo,
um eminente poeta que desde muito jovem lhe encantou o coração: António Correia
de Oliveira (1878-1960). As suas sublimes poesias eram para o jovem seminarista uma pausa
de silêncio, de ternura e de meditação.
A
luz que irradiava da sua escrita era simples, modesta e doce, mas que iluminava
de uma maneira misteriosa toda a Terra. O Padre Correia da Cunha, à semelhança
de António Correia de Oliveira, era dotado de um especial jeito para descobrir
e cantar a graça das coisas simples.
Se
o homem é produto do meio em que vive e se forma, não admira que a fotografia
de António Correia de Oliveira o tenha sempre acompanhado e ocupasse um lugar
de destaque na sua secretária no seminário dos Olivais.
Foi
também nessa casa, onde teve os maiores professores em todas as boas letras e
os melhores mestres em erudição. O jovem seminarista Correia da Cunha
enriquecia-se com a leitura das obras de António Correia de Oliveira que eram
autênticos tesouros para a limpidez da sua inspiração, a frescura do seu
lirismo e o vigor do seu patriotismo nas raízes, que o ligaram às suas fortes
crenças na religiosidade da sua alma, no amor da Pátria e na glorificação de
Deus.
Quando
hoje todos parecem apostados em pensar apenas nos valores materiais, é
consolador recordar estes dois homens que valorizaram pelo exemplo das suas
vidas virtuosas, a beleza, a verdade, o heroísmo e a justiça. Não é pois de
espantar que as suas linguagens fossem tão naturais e que espontaneamente
traduzissem a elevação do pensamento, o esplendor da imaginação e a profunda
delicadeza da alma.
Estou
profundamente convicto que estes homens eram tocados pelo mistério do Espírito
Santo, pois para eles não havia coisas grandes ou pequenas: umas e outras valiam
pelo sopro de inspiração que as penetrava. As suas lutas neste mundo de
passagem, consistiram em descobrir os caminhos misteriosos que conduzem ao
âmago de cada ser humano.
Creio
que eram missões predestinadas por Deus ao poeta, através das suas actividades
mais intelectuais e estéticas, e ao sacerdote, nas suas acções mais morais e
religiosas. No entanto, ambos tinham bem apurado o sentido de amor a Deus, à
Família e à Pátria.
Pelos
testemunhos do Padre Correia da Cunha aprendi que Portugal era uma realidade
viva, com língua, costumes e tradições seculares … um património brilhante que
herdámos e que tínhamos o dever de transmitir mais enriquecido às novas gerações.
E se o sentimento, mais ainda que a inteligência é a luz da humanidade, cada um
de nós é zelador da imensa chama da alma portuguesa e que o heróico passado é
digno de memória.
Todos
os que tivemos o privilégio de conviver com o Padre Correia da Cunha
constatámos que o que ele mais valorizava era a singeleza, a espontaneidade profunda
e a maneira de ser somente ele próprio.
O
Padre Correia da Cunha também pelos seus particulares dons era brilhante na
oratória, pela facilidade com que expunha uma nova ideia ou conceito numa
linguagem de rara beleza e de uma prodigiosa clareza e impressionante
imaginação.
Termino
com este lindíssimo poema de António Correia de Oliveira, onde manifesta todo o
seu extraordinário talento.
Dizem os homens. – Serei.
Mas o que sou nem eu sei…
Sou uma sombra de lume!
De espada: Subi. Voei.
Onde passava, deixei
A essência que me resume.
Numa renda, um nada, eu vivo
Vida de Sonho e Verdade!
– Eu sou a Recordação;
Sou mais, ainda: a Saudade.
Ambos
serviram o seu amado Portugal nas causas que se dedicaram com toda a alma,
entusiasmo e perseverança, o ardor e empenho com que só os homens de imensa fé
sabem servir, um feito poeta e outro homem de Igreja … E os factos mostram que
esse serviço foi magnífico, pois engrandeceram e valorizaram muitas gerações na
busca ao infinito da graça de DEUS.
A
observação da foto do poeta na sua estante e recuperada no seu espólio
fotográfico, que hoje publico, levaram-me a escrever este post. Só a admiração
e veneração que Correia da Cunha consagrava a este génio das letras poderiam
manter estes documentos imortalizados. Creio serem sinais do tributo de
agradecimento que atribuiu aquele que seguramente foi fonte da sua inesgotável
inspiração. Mas mantenho uma interrogação por desvendar: haveria outros laços
que uniam estes homens com um natural afecto, o de darem a Portugal e à Igreja
um esplendor de verdade, justiça e liberdade?
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Por fim, caro Joao Paulo, chegaste a identificar aquela foto!!! alegra-me ;, e lembro-me que o P.Correia tinha-me falado muitas vezes daquele poeta!!
ResponderEliminarMuito obrigado!! è extraordinario!!
Um grande abraço
Robert