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« MÃO QUE AMPARA COPO,AMPARA AMIGO!»
O Padre Correia da Cunha conhecia como ninguém todas as
tascas e tabernas da sua paróquia, assim como as do vizinho bairro de Alfama.
Sentia-se atraído por aqueles espaços. Hoje reconheço que saborear e apreciar
um bom copo de vinho era para ele apenas um pretexto.
As tascas eram fundamentalmente locais humanos, onde pese
embora o cheiro do vinho e da vozearia, subsistia o convívio estreito dos
homens do bairro nas horas vagas.
“ Mão que ampara copo,
ampara amigo!”. Não havia um só paroquiano que não conhecesse este popular
padre e para muitos não era de irem buscar as estâncias da sua igreja ou
assistirem aos rituais canónicos por ele celebrados.
Pagar um copo de vinho pelas imensas tabernas do bairro era,
na maioria das vezes, a forma de encontrar e fazer bons amigos: gente humilde,
trabalhadora e de uma enorme generosidade, que ele tanto adorava saudar
fraternalmente. Aproveitava sempre estes momentos para abordar e fazer
catequese sobre os mais diversos temas espirituais e humanos. Era a forma que o
Padre Correia da Cunha encontrava para encher as almas de tão virtuosas pessoas
que ele considerava dotadas das maiores honras e plenitudes.
Assisti muitas vezes ao
Padre Correia da Cunha pagar rodadas de vinho tinto, mas em alguma
circunstância senti que essa sua atitude correspondesse a algum desejo ou
necessidade de afirmação.
Era bonito observar aquele homem, envergando as suas vestes
clericais, batina ou fato e cabeção, a saborear um copo de vinho acompanhado de
um pastel de bacalhau que retirava dos expositores que existiam sobre as pedras
de mármore dos balcões.
Naquele tempo, as enormes pipas de madeira ainda se
encontravam majestosamente à vista de todos e o folclore interior do
estabelecimento centrava-se no tasqueiro que soltava brados: “ Sai mais uns
púcaros, para quem tem sede!”
O cheiro a vinho, o ambiente escuro e a presença de algum
bêbado a perturbar o são e alegre convívio desta honrosa gente frequentadora
destes espaços, eram para o Padre Correia da Cunha aspectos superficiais. Não
subscrevia os ditames dos “envernizados” da época na reprovação da existência
das seculares tabernas e tascas em Lisboa.
A razão destes estabelecimentos de comércio artesanal no
coração dos bairros típicos de Lisboa era serem espaços para ocupação dos
tempos livres de muitos cidadãos honestos e trabalhadores. Eram espaços
frequentados por gente pobre. Boa gente! Possuidoras de bons princípios morais,
por vezes superiores aos difamadores que afirmavam com ingénuo pudor que os
homens que diariamente frequentam estes “maus ambientes” das tabernas e tascas eram
seres desprezíveis. Mas foi por eles que Jesus Cristo veio… não deixava de recordar o Padre Correia da Cunha.
Lembro que o Padre Correia da Cunha era assíduo visitador do seu velho amigo António
dos Santos, no seu cantinho em Alfama, perto do Chafariz de Dentro. António de
Alfama era um antigo marinheiro – homem do povo – que cantava baladas
maravilhosas que recordavam ao Padre Correia da Cunha o murmúrio do Mar.
Naquela taberna do Beco do Azinhal, com os parceiros das
farras, ele sentia as muitas noites passadas no alto mar onde o seu coração de
capelão da armada se deixava invadir pelo romantismo e poesia.
Estes dois marinheiros bem sabiam o que é a nostalgia da
Pátria, as recordações da terra e dos amigos…
Como diria o Padre Correia da Cunha, nas tascas e tabernas
sempre se encontra gente de todos os tipos e tipos de toda a gente e ali bem
podia examinar os sentimentos dos seus irmãos em Cristo.
O bom pastor é aquele
que vai ao encontro das ovelhas. Não são as ovelhas que vêm ao encontro do
pastor.
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Bem me lembro daquela tasca do Cantinho de Antonio, onde o P. Cunha me levava, e gostava de cantar uns dos queridos fados que ele tanto amava!!! são muitas e grandes saudades , João Paulo, bem sabes tu..saudades que não posso matar...Um grande abraço
ResponderEliminarRobert
Bem me lembro daquela tasca do Cantinho de Antonio, onde o P.Cunha me levava, para saborearmos uns pasteis de bacalhau, e cantar uns daqueles fados dos que ele gostava tanto...Igreja de Santo Estevão..São muitas e grandes saudades, João Paulo, bem sabes tu...saudades que não chego a matar!!
ResponderEliminarUm grande abraço!!
Robert
Aprendi com ele a cultura das tascas e do fado e dos valores humanos sempre envolventes e sempre emergentes! Rui Aço
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