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“ NÃO LHE FALTAVA
SENSIBILIDADE
HUMANA, LITÚRGICA E CRISTÃ.”
Foi nos inícios dos anos sessenta que um minhoto de fibra,
simplório e habituado à intensa e singela paisagem provinciana foi admitido
pelo recém empossado Pároco - Padre José Correia da Cunha, para a nobre função de
sacristão da Comunidade de São Vicente de Fora.
Ninguém dá importância ao sacristão. Mas este, pela missão
discreta que desempenha, é fundamental para o decisivo funcionamento da vida da
igreja e para o desenrolar das celebrações litúrgicas.
ABEL VARELA (1925-2013). Por muitos anos que eu viva não posso esquecer
este homem e manifestar aqui a minha profunda admiração pelo seu ministério,
que exerceu com todo zelo na Paróquia de São Vicente de Fora.
Era ele que abria as portas da igreja, preparava os
paramentos, adornava o altar e credência, o pão e o vinho, a água, o turíbulo e
o incenso, e as demais tarefas para que não houvesse nenhuma improvisação no
momento.
É, com efeito, um ofício importante e discreto; o Padre
Correia da Cunha possuía a mais alta confiança neste seu dedicado colaborador.
Ele assumia a responsabilidade pela gestão de todo dinheiro disponibilizado
pelas esmolas, ofertas, tributos e emolumentos da paróquia, dado o manifesto
desinteresse do Padre Correia do Cunha por este bem temporal.
Estava igualmente a seu cargo a manutenção, limpeza e asseio
do templo, assim com a conservação das alfaias, paramentos, livros… e manter
bem viva a chama do sacrário.
Não há muito tempo, Abel Varela (1925-2013) confessava-me com suprema
confidência da sua experiencia e conhecimento: Tudo dever ao saudoso Padre
Correia da Cunha. Ele foi para si um pai. Atrevo-me a afirmar que pela
dedicação, entrega e fidelidade ao seu pároco, o Padre Correia da Cunha também
o considerava um fiel discípulo.
Não hesito em afirmar que o Padre Correia da Cunha tinha uma
particular confraternização para com este seu leal colaborador e possuía um
nobre sentimento para com o Abel Varela, desejando para ele o que desejava para
si próprio.
A formação litúrgica para o cabal desempenho das suas
atribuições era permanente, pois como é sabido, ele era o principal defensor do
património e bens da igreja, estava diariamente atento à limpeza, ornamentação
e asseio, para assim reverenciar que tudo naquele magnífico espaço manifestasse
amor para com Deus e fosse sinal de piedosa festa e alegria para o povo do
Senhor.
O destino de um bom mestre é ensinar. Era o traço primordial
do Padre Correia da Cunha. Para este discípulo o prior era o símbolo da magna
sabedoria, que foi espargindo sobre ele ao longo dos 17 anos em que o
acompanhou.
O Padre Correia da Cunha também não se cansava de agradecer a
Deus esta bênção celeste de contar com tão dedicado sacristão que desempenhava
as tarefas com elevada maturidade, sentido de responsabilidade, pontualidade e
honestidade, pelo que merecia a sua desmedida confiança assim como a de todos
os paroquianos que frequentavam aquele lugar sagrado.
Cooperava com total entrega com os meninos do coro, acólitos,
leitores, cantores, escuteiros, sacerdotes e zeladoras das obras apostólicas.
Mas o bom gosto no embelezamento dos altares, levava-o, quantas vezes, a repor por completo os arranjos florais, pois entendia ele,
que só a sua apurada sensibilidade efectivamente era adequada para a correcta
disposição no espaço litúrgico.
Um sacristão não pode ser um simples funcionário. Tem que ser
um verdadeiro apaixonado daqueles espaços consagrados e viver numa entrega
total à sua Comunidade. Ser paciente, compreensivo e transmitir uma natural
tranquilidade e alegria numa viva fé incarnada.
Abel Varela tinha bem presente que as pessoas que se deslocam
à igreja o faziam para um encontro verdadeiro e profundo com DEUS. Era sua
preocupação que todos sentissem naquele espaço um silêncio absoluto e uma
simpatia do zelador que os acolhia com toda a cortesia.
Abel Varela, o sacristão que hoje aqui recordo não se
limitava a acender e apagar velas, realizava um precioso apostolado pois era o
primeiro no acolhimento e a marcar o sinal da comunidade, em nome do Padre
Correia da Cunha, que era: total
disponibilidade para servir os irmãos. Foi com esse grande Mestre que Abel
Varela cultivou o bom gosto e o tratamento no acolhimento dos paroquianos de
São Vicente de Fora.
O Abel Varela marcou uma importante época nesta Paróquia.
Está mais velho e os seus gestos mais demorados. Mas a alma ainda é a mesma.
Sempre revestido com a sua modéstia imagem do seu elevado espírito.
O seu perfil inconfundível ainda surge nas minhas recordações.
Sei que não tomará conhecimento desta minha singela homenagem, mas senti-me na
obrigação de enaltecer a grandeza deste grande colaborador do Padre Correia da
Cunha na Igreja de São Vicente de Fora (1960-1977).
Amigo Abel um grande abraço!
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Obrigado, caro João Paulo, por recordares a digna figura do "Sr Abel", que fuimos visitar juntos ha dois anos.
ResponderEliminarEle faz parte para sempre das minhas recordações daquela saudosa e feliz época do P. Cunha, que ele tanto amava, como um pai.Tambem sei que não podra ler estas minhas linhas, mas quero transmitir-lhe um grande abraço.
Robert Descombes
É sem dúvida uma grande verdade, o Sr. Abel esteve sempre presente em S. Vicente e nas nossas vidas era aquele rosto amigo com quem nós partilhavamos os nossos dias de crianças, jovens e já adultos. Obrigado por te teres lembrado de alguém que fez parte integrante da nossa vida.
ResponderEliminarOs comentários podem ser publicados como "anónimo" no blogue. Mas era bom que fossem assinados se possível com um primeiro e último nomes.
EliminarO Ti Abel, como era carinhosamente chamado, por alguns de nós, que com ele privaram, é inequivocamente, uma figura incontornável, da nossa infância e juventude, passadas no Majestoso Templo de São Vicente de Fora, em Lisboa.
ResponderEliminarA amizade e prontidão, a que sempre nos habituou, através da sua inteira dedicação a esta Paróquia, não podem de alguma forma, deixar de aqui serem recordadas!
Só Lamento, ter tido conhecimento da triste notícia, após o seu funeral, uma vez que não houve quem me transmitisse o sucedido, coisa que poderia ter ocorrido, com o apoio das tecnologias hoje existentes!
Quero aqui, também, deixar a minha singela homenagem ao Abel Varela, desejando que esteja junto do Pai, suplicando por nós!
Amigo João Paulo, quero mais uma vez enaltecer, o testemunho que transmitis-te e manifestas-te acerca deste tema!
Abraço.
Antonio Miguel Parro