domingo, 18 de novembro de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA E O SEU SACRISTÃO








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“ NÃO LHE FALTAVA SENSIBILIDADE
HUMANA, LITÚRGICA E CRISTÃ.”
Foi nos inícios dos anos sessenta que um minhoto de fibra, simplório e habituado à intensa e singela paisagem provinciana foi admitido pelo recém empossado Pároco - Padre José Correia da Cunha, para a nobre função de sacristão da Comunidade de São Vicente de Fora.
Ninguém dá importância ao sacristão. Mas este, pela missão discreta que desempenha, é fundamental para o decisivo funcionamento da vida da igreja e para o desenrolar das celebrações litúrgicas.
ABEL VARELA (1925-2013). Por muitos anos que eu viva não posso esquecer este homem e manifestar aqui a minha profunda admiração pelo seu ministério, que exerceu com todo zelo na Paróquia de São Vicente de Fora.
Era ele que abria as portas da igreja, preparava os paramentos, adornava o altar e credência, o pão e o vinho, a água, o turíbulo e o incenso, e as demais tarefas para que não houvesse nenhuma improvisação no momento.
É, com efeito, um ofício importante e discreto; o Padre Correia da Cunha possuía a mais alta confiança neste seu dedicado colaborador. Ele assumia a responsabilidade pela gestão de todo dinheiro disponibilizado pelas esmolas, ofertas, tributos e emolumentos da paróquia, dado o manifesto desinteresse do Padre Correia do Cunha por este bem temporal.

Estava igualmente a seu cargo a manutenção, limpeza e asseio do templo, assim com a conservação das alfaias, paramentos, livros… e manter bem viva a chama do sacrário.





Não há muito tempo, Abel Varela (1925-2013) confessava-me com suprema confidência da sua experiencia e conhecimento: Tudo dever ao saudoso Padre Correia da Cunha. Ele foi para si um pai. Atrevo-me a afirmar que pela dedicação, entrega e fidelidade ao seu pároco, o Padre Correia da Cunha também o considerava um fiel discípulo. 

Não hesito em afirmar que o Padre Correia da Cunha tinha uma particular confraternização para com este seu leal colaborador e possuía um nobre sentimento para com o Abel Varela, desejando para ele o que desejava para si próprio.

A formação litúrgica para o cabal desempenho das suas atribuições era permanente, pois como é sabido, ele era o principal defensor do património e bens da igreja, estava diariamente atento à limpeza, ornamentação e asseio, para assim reverenciar que tudo naquele magnífico espaço manifestasse amor para com Deus e fosse sinal de piedosa festa e alegria para o povo do Senhor.

O destino de um bom mestre é ensinar. Era o traço primordial do Padre Correia da Cunha. Para este discípulo o prior era o símbolo da magna sabedoria, que foi espargindo sobre ele ao longo dos 17 anos em que o acompanhou.

O Padre Correia da Cunha também não se cansava de agradecer a Deus esta bênção celeste de contar com tão dedicado sacristão que desempenhava as tarefas com elevada maturidade, sentido de responsabilidade, pontualidade e honestidade, pelo que merecia a sua desmedida confiança assim como a de todos os paroquianos que frequentavam aquele lugar sagrado.



Cooperava com total entrega com os meninos do coro, acólitos, leitores, cantores, escuteiros, sacerdotes e zeladoras das obras apostólicas. Mas o bom gosto no embelezamento dos altares, levava-o, quantas vezes, a repor por completo os arranjos florais, pois entendia ele, que só a sua apurada sensibilidade efectivamente era adequada para a correcta disposição no espaço litúrgico.


Um sacristão não pode ser um simples funcionário. Tem que ser um verdadeiro apaixonado daqueles espaços consagrados e viver numa entrega total à sua Comunidade. Ser paciente, compreensivo e transmitir uma natural tranquilidade e alegria numa viva fé incarnada.

Abel Varela tinha bem presente que as pessoas que se deslocam à igreja o faziam para um encontro verdadeiro e profundo com DEUS. Era sua preocupação que todos sentissem naquele espaço um silêncio absoluto e uma simpatia do zelador que os acolhia com toda a cortesia.

Abel Varela, o sacristão que hoje aqui recordo não se limitava a acender e apagar velas, realizava um precioso apostolado pois era o primeiro no acolhimento e a marcar o sinal da comunidade, em nome do Padre Correia da Cunha, que era: total disponibilidade para servir os irmãos. Foi com esse grande Mestre que Abel Varela cultivou o bom gosto e o tratamento no acolhimento dos paroquianos de São Vicente de Fora.

O Abel Varela marcou uma importante época nesta Paróquia. Está mais velho e os seus gestos mais demorados. Mas a alma ainda é a mesma. Sempre revestido com a sua modéstia imagem do seu elevado espírito.

O seu perfil inconfundível ainda surge nas minhas recordações. Sei que não tomará conhecimento desta minha singela homenagem, mas senti-me na obrigação de enaltecer a grandeza deste grande colaborador do Padre Correia da Cunha na Igreja de São Vicente de Fora (1960-1977).

Amigo Abel um grande abraço!
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4 comentários:

  1. Anónimo18.11.12

    Obrigado, caro João Paulo, por recordares a digna figura do "Sr Abel", que fuimos visitar juntos ha dois anos.
    Ele faz parte para sempre das minhas recordações daquela saudosa e feliz época do P. Cunha, que ele tanto amava, como um pai.Tambem sei que não podra ler estas minhas linhas, mas quero transmitir-lhe um grande abraço.

    Robert Descombes

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  2. Anónimo23.11.12

    É sem dúvida uma grande verdade, o Sr. Abel esteve sempre presente em S. Vicente e nas nossas vidas era aquele rosto amigo com quem nós partilhavamos os nossos dias de crianças, jovens e já adultos. Obrigado por te teres lembrado de alguém que fez parte integrante da nossa vida.

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    1. Os comentários podem ser publicados como "anónimo" no blogue. Mas era bom que fossem assinados se possível com um primeiro e último nomes.

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  3. Anónimo23.4.13

    O Ti Abel, como era carinhosamente chamado, por alguns de nós, que com ele privaram, é inequivocamente, uma figura incontornável, da nossa infância e juventude, passadas no Majestoso Templo de São Vicente de Fora, em Lisboa.
    A amizade e prontidão, a que sempre nos habituou, através da sua inteira dedicação a esta Paróquia, não podem de alguma forma, deixar de aqui serem recordadas!
    Só Lamento, ter tido conhecimento da triste notícia, após o seu funeral, uma vez que não houve quem me transmitisse o sucedido, coisa que poderia ter ocorrido, com o apoio das tecnologias hoje existentes!
    Quero aqui, também, deixar a minha singela homenagem ao Abel Varela, desejando que esteja junto do Pai, suplicando por nós!
    Amigo João Paulo, quero mais uma vez enaltecer, o testemunho que transmitis-te e manifestas-te acerca deste tema!
    Abraço.

    Antonio Miguel Parro

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