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“ Unindo-vos em matrimónio, ides
prometer amor e fidelidade um ao outro. É por toda a vida que o prometeis.”
O Padre
Correia da Cunha era um homem simples mas extraordinariamente feliz e cativante.
Adorava ouvir e conviver com os seus paroquianos, desde a mais pequena criança
ao mais idoso. Proporcionava a todos um ambiente de sã camaradagem expressa em
gestos de grande amor e carinho fraterno, que considerava serem as missões
primordiais de um clérigo. Conhecia os paroquianos pelos nomes e a todos
tratava com o mesmo afecto.
Para
o Padre Correia da Cunha, a fé era um dom de Deus, que tinha de ser alimentada
permanentemente com uma forte relação de Amor com os irmãos em Cristo. O
celibato não era um problema que o preocupasse e nem o entendia como uma
obrigação da sua opção pelo sacerdócio.
A
ordenação do Pe Correia da Cunha foi uma escolha livre e lúcida, para toda a
vida, um dom de si próprio ao Senhor na fé, que exigia sobretudo generosidade e
amor.
Reconhecia
a profundidade da vida cristã, numa família ou sociedade, quando favorecessem o
desabrochamento desse desejo de serviço à Igreja de Jesus Cristo (povo de Deus).
Referia que foi DEUS que o chamou.
‘’ Ninguém tome esta honra para si mesmo, mas tão-somente
quem é chamado por DEUS.”
A
sua ordenação era um dom gratuito do Senhor.
Um
dos Sacramentos em que Pe. Correia da Cunha muito se empenhava na sua
preparação era o do Matrimónio. Nas celebrações matrimoniais, as suas homilias
eram arrebatadoras. Como bom mestre de retórica começava: “Meus Queridos Irmãos,
em Nosso Senhor Jesus Cristo, a mulher deve ser submissa ao seu marido, porque
o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja… (Ef.5,22-23).
Depois
de uma longa pausa, agora, dirijo-me a todos os machistas, já de peito feito,
aqui presentes. Muita atenção: o homem deve amar a sua mulher, como Cristo amou
a Igreja e se entregou a si mesmo à morte por Ela. (Ef.5,22-32).
Sinceramente
que não sei qual será mais alcançável. Depois falava da fidelidade, que dentro
de momentos os noivos iriam jurar um ao outro. Dizendo: A fidelidade não é um sacramento.
A sua observação é no entanto inseparável do matrimónio. A fidelidade é como a
construção de uma grande Catedral, pedra sobre pedra, até atingir a sua
verdadeira monumentalidade e grandiosa beleza. Se se tirar uma pedra,
dificilmente a Catedral cairá mas se começarmos a retirar sucessivamente
pedras…, desmorona-se como castelo de cartas.
A
fidelidade conjugal é primeiro que tudo a lealdade mútua dos esposos ao
contrato do matrimónio. Não deixava de lembrar: De sorte que já não são dois,
mas uma só carne. Aquilo pois que Deus uniu não o separe o homem.
Quando
Pe Correia da Cunha dava conta que o enorme grupo de convidados apenas esperava
pelo grande momento de encher o bandulho, manifestando uma total indiferença e menosprezo
ao cerimonial litúrgico, aproveitava este especial momento para efectuar uma
rica e viva catequese.
A
celebração da renovação dos votos do matrimónio, a todos os casais ali
presentes, era efectuada logo após a manifestação solene do consentimento mútuo
dos noivos.
Publicamente,
com a união das mãos esses imensos casais tinham que pronunciar a fórmula
improvisada pelo Pe. Correia da Cunha, relembrando as promessas efectuadas no
dia dos seus matrimónios.
Por
vezes, depois da bênção dos esposos, também haviam bênções particulares para os
convidados. O matrimónio era uma festa, ocasião de regozijo e banquete, mas
também oportunidade para uma catequese para aqueles que apenas entram pelas
portas da igreja para estes eventos. O Padre Correia da Cunha apelidava estes
cristãos de cristãos a três tempos (baptizados, casamentos e funerais).
Normalmente,
estes convidados, pouco assíduos às práticas litúrgicas da Comunidade, eram
atraídos para ficarem como meros espectadores encostados em posições descuradas
nas balaustradas do monumento, assistindo indiferentes ao grandioso “espectáculo”.
O Pe
Correia da Cunha ficava furioso com a postura destes incautos observadores, convidando-os
a sentarem com a seguinte recomendação:
- Meus
queridos amigos. Esta cerimónia não é um espectáculo tauromáquico. Um templo não
é uma arena como a do Campo Pequeno! Nem eu sou o boi por estar vestido de
preto, nem os noivos são os toureiros por envergarem estes pomposos trajes de
gala…
Perante
esta sua bombástica narrativa, todos se sentavam em rigoroso silêncio. O Pe
Correia da Cunha ficava inesquecível para o resto das suas vidas, quer pela
surpreendente e frontal agressividade de linguagem adquirida na sua vida de bom
marujo, quer pelo ritual em que procurava implicar e tornar participativos
todos os membros da cerimónia ali presentes.
A
igreja de São Vicente de Fora à época era seleccionada para as cerimónias
matrimoniais de muitos noivos de todos os bairros de Lisboa. O Pe Correia da
Cunha era muito solicitado para presidir aos casamentos de muitos noivos da
paróquia de São Vicente de Fora e não só. Recordo os imensos casamentos de
oficiais da Marinha de Guerra por si oficializados.
Eram
oportunidades de encanto e pedagogia catequética a que ninguém podia fugir, dada
a sua preocupação em fazer que todos os presentes tomassem consciência dos
ideais cristãos e do compromisso assumido publicamente pelos noivos. O Padre
Correia da Cunha estendia também o Ritual a todos os casais presentes,
levando-os a renovarem os votos no tocante à dignidade deste sacramento e na
educação cristã dos filhos, frutos dessa união de amor abençoada por DEUS.
Ainda
muito recentemente uma noiva, cujo casamento foi realizado pelo Padre Correia
da Cunha, recordava as palavras duras de ouvir mas que ele não se recusava de
pronunciar no último encontro com as noivas:
-
Devem possuir a responsabilidade e perceberem que a união que vão realizar pelo
sacramento é para toda a vida…
Que
não deveriam aceitar esta opção matrimonial por tradição, porque a cerimónia é
bonita ou para exibirem o lindo vestido como se de um espectáculo de Hollywood
se tratasse.
O
acto que vão concretizar muito em breve deve ser fruto de um livre consenso de
um homem e mulher, cuja liberdade traduz a lucidez e o desejo de ambos. Não
venham depois queixar-se que a Igreja é uma “merda” por não permitir o
divórcio.
A
indissolubilidade do sacramento depende somente da Lei Divina já que essa união
está intrinsecamente na natureza da poderosa união com Deus.
A vida
a dois somente se realiza quando houver uma comunhão interpessoal, uma
comunicação real de vida. Isto supõe que os esposos se respeitem, um ao outro,
na igualdade e dignidade da pessoa humana e possam encarar-se frente a frente
como auxiliares mútuos. Esta comunhão une os dois ao ponto de se completarem
como pessoas.
O
homem e a mulher deixam certo dia a comunidade em que nasceram, a família, para
fundar, juntos uma nova comunidade na qual eles poderão atingir o máximo da
recíproca integração e união que os fará “ dois numa só carne”.
Tal
comunidade chama-se matrimónio, referia o Padre Correia da Cunha. A graça deste
sacramento não destrói a sua natureza, antes pelo contrário, a eleva. O
matrimónio é, em primeiro lugar, uma realidade terrestre, colocada ao dispor
dos homens pelo Criador independente de qualquer legislação civil ou religiosa.
“ Deus criou o homem à sua imagem: criou-o à imagem de Deus: criou-o homem e
mulher. Portanto não separe o homem o que Deus uniu.
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