«DEVEMOS
TER CORAGEM PARA QUE
HAJA RENOVAÇÃO DA LITURGIA E DA
PASTORAL…»
O objectivo da
publicação deste recorte de revista pretende mostrar o grande empenhamento do
Padre Correia da Cunha em construir um núcleo de amigos da música sacra e de
órgão. Era a forma de colocar em funcionamento o melhor órgão ibérico da
Europa. Este instrumento foi construído em 1765, pelo organeiro João Fontanes
de Maqueira, com a vantagem de se encontrar ainda hoje, e após vários restauros,
em estado quase original.
Este seu desejo foi
publicitado através de artigos de sua autoria em muitos jornais diários,
revistas da época, assim como em variados programas de rádio.
O Padre Correia da
Cunha fez tudo para consubstanciar este seu sonho da criação da Liga dos Amigos
da Musica coral e organística. Dirigiu centenas de cartas a uma vasta plêiade
de beneméritos, apelando à abnegada generosidade e elevados sentimentos para
aderirem a esta sua grande iniciativa
que visava: - promover concertos com artistas nacionais e, quando possível
também estrangeiros. Contratar um organista privativo e exclusivo dedicado ao
serviço deste órgão com obrigação de formar e dirigir um grupo coral. Assegurar
a boa conservação e funcionamento do instrumento mediante avença com um
organeiro e afinador competente.
Como era evidente,
estava presente na sua cabeça que a concretização deste seu sonho contribuiria
para uma autêntica promoção cultural das crianças e jovens do bairro de São
Vicente de Fora.
Os aderentes e os seus
familiares beneficiariam de um concerto mensal oferecido pelo organista
contratado e dos concertos extraordinários que fossem possíveis de realizar com
outros artistas.
Mas os amigos da boa
música não souberam acolher esta sua iniciativa…
Já como pároco, foi
acolhido de braços abertos, tornando-se um grande arauto de Jesus Cristo, a
interpretar o pensamento do Senhor para os homens, mulheres e jovens daquele
tempo.
Batia à porta de todos
os paroquianos de São Vicente de Fora. Convidava todos a aderir à renovação da
sua Comunidade Paroquial. Tinham de o fazer de consciência lúcida e a
comprometerem-se com o Pastor a concretizarem a prática do Evangelho e a
criarem-se novas condições que a Comunidade Paroquial deveria assumir na vida
social.
O padre Correia da
Cunha apresentava-se com uma mentalidade nova caracterizada pela preocupação de
apresentar as verdades de fé orientadas para a vida das pessoas. Era uma lufada
de ar fresco que nos trazia ele e o Concílio Vaticano II.
As omissões e os
silêncios não eram tolerados pelo Padre Correia da Cunha. Apreciava a coragem
dos que se atiravam para a frente, colocando de lado a prudência e o bom senso (quando
considerava necessário também saltava a cerca…). Mas sempre advertia que tinha
que haver respeito pelos que caminhavam mais devagar. Numa corrida nem todos os
atletas chegam em primeiro lugar. Mas todos são lutadores, pelo que não podem
ser excluídos.
Como sabemos o Padre
Correia da Cunha, pela formação recebida no seminário, era um conservador. Mas
nas condições históricas que se viviam nos anos pós Concílio, tinha expressões
próprias de forças de progresso. Na foto que hoje publico, podemos ver o Padre
Correia da Cunha rodeado dos Padres José Felicidade Alves (Pároco de Santa
Maria de Belém), João Perestrello (Pároco de Loures), José Maria de Freitas
(Pároco Beato) e Mons. Adriano Botelho (Pároco de Alcântara), homens que
acreditavam no grande movimento de renovação iniciado com o Papa João XXIII.
Estes presbíteros eram
totalmente dedicados a Cristo e à Igreja. O Concílio de Vaticano II era a
expressão da vontade que a Igreja tem de se renovar continuamente segundo o
espírito do Evangelho. Todos eles sentiam estes sinais de vitalidade de uma
Igreja que nunca está satisfeita consigo mesma.
Eram tempos de enorme
esperança que desafiavam a inteligência humana. Na verdade, este conjunto de
homens não tinha medo de encarar essa esperança que a Igreja iria abrir-se no
caminho de novos dinamismos.
O pós-Concilio
representava um princípio de renovação, um programa de vida nova. Lembro que o
Padre Correia da Cunha morreu perfeitamente convencido de que não se cumpriu
nem um quinto da primavera que o Concílio trouxe à Igreja para a edificação de
um MUNDO NOVO.
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