..
.
.
O Padre José Correia da Cunha, guardião nos anos 60 e 70 da Igreja de São Vicente de Fora e Mosteiro, dedicou-se de corpo e alma à defesa daquele singular e valiosíssimo património. Só hoje, compreendo como ele em toda a sua monumental grandeza, pressionava permanentemente os poderes públicos, como a Direcção Geral dos Monumentos Nacionais, com o intuito de salvar um dos mais belos e imponentes monumentos de Lisboa. A publicação dessa correspondência possibilitaria explorar a importância histórica e simbólica que Padre Correia da Cunha colocava num quadro de valores do ‘seu’ valioso património arquitectónico, e que lhe estava confiado.
Cumpre-me destacar a sua descomunal actividade espiritual assim como o seu imenso amor à beleza, a inventividade artística e a perene juventude das suas ideias. Ao longo dos seus 17 anos de pároco, a fecundidade da preservação do património foram autênticos milagres. Os seus ‘projectos’, arrancados pelas suas convicções e determinação, levavam-no a ter contacto com as mais altas figuras do Estado. Lembro-me de o Padre Correia da Cunha ter abordado directamente, por várias vezes, o Prof. Oliveira Salazar sobre várias intervenções de vulto necessárias no monumento, sob pena de Portugal perder de uma forma irreparável esta peça do seu tão adorável património. Todas essas intervenções se realizaram sem se ter de encerrar o edifício ao culto.
Quero recordar hoje aqui que em pouco mais de dois anos se construiu uma dupla cúpula e se revestiram os ricos interiores em pedra lioz do Panteão Nacional. Seria por ter o empenhamento pessoal de Salazar?
Passados dois anos sobre o encerramento da Igreja de São Vicente, impressionante monumento nacional ex-líbris da cidade de Lisboa, não só pelo seu estilo artístico mas sobretudo pela forma como se impõe com as suas proporções grandiosas, dominando a cidade e o Tejo, temos todos de reconhecer que independente do momento de dificuldades financeiras que todos vivermos terá de haver aqui também veladamente falta de competência e uma total falta de responsabilidade. Este gesto retira aos milhares de visitantes desta amada cidade a possibilidade de um encontro com esta magnifica jóia da arquitectura. Estou seguro que o Padre Correia da Cunha já teria convidado o seu bom amigo Presidente da República, marujo das mesma águas, a visitar e a presenciar in loco o grave atentado que se estaria cometendo com este prolongado encerramento da Igreja mais emblemática do Centro Histórico de Lisboa.
Está escrito em várias revistas da época que: “era difícil encontrar pessoa de iniciativa e mais expedito que este grande benemérito pároco de São Vicente de Fora – Padre José Correia da Cunha – que conseguia operar milagres no edifício, especialmente na IGREJA’’. Padre Correia da Cunha tinha um imenso cuidado na exposição, filtrada pela sua invejável inteligência e requintado e absoluto bom gosto. O seu círculo de amigos bem conheciam o seu elaborado processo afectivo que primava por uma requintada sensibilidade… porque os objectos e tesouros de arte eram um pedaço da sua alma.
Quando em 1960, o Padre Correia da Cunha assumia a Paróquia de São Vicente de Fora, muito do Património edificado encontrava-se em estado de ruína e os claustros, votados completamente ao abandono. Hoje, verifica-se que o desprezo pelo estudo e conservação dos monumentos históricos persiste; e todos assistimos, de um modo estranho, pacificamente a isto. Todos assistimos aos dois anos de inactividade da desta peça de arte, completamente retiradas dos olhos de milhares visitantes, e dos grandes actos de culto ali realizados.
São Vicente de Fora era a sua casa. Tinha com aquele imenso espaço uma forte relação de amor. Todos ainda nos recordamos do Padre Correia da Cunha com a sua batina preta, caminhando tão leve e silenciosamente que os seus pés pareciam plumas.
Quase 33 anos depois do seu falecimento, era propósito de um grupo de amigos de Padre Correia da Cunha em colaboração com a Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora, considerar uma Homenagem de Gratidão, com um Concerto de Órgão, no próximo dia 24 de Setembro, aproveitando-se a presença do seu adorável amigo Robert Descombes, actual titular e conservador do órgão d'Orgelet, um dos mais antigos instrumentos de Franche Comte.
Mas, infelizmente as obras eternamente adiadas e sem fim tão características do templo de Santa Engrácia (actual Panteão Nacional) transitaram para o templo de São Vicente de Fora.
.
.
.
UM HOMEM SÓ… DE UM SÓ ROSTO, UMA SÓ FÉ!
O Padre José Correia da Cunha, guardião nos anos 60 e 70 da Igreja de São Vicente de Fora e Mosteiro, dedicou-se de corpo e alma à defesa daquele singular e valiosíssimo património. Só hoje, compreendo como ele em toda a sua monumental grandeza, pressionava permanentemente os poderes públicos, como a Direcção Geral dos Monumentos Nacionais, com o intuito de salvar um dos mais belos e imponentes monumentos de Lisboa. A publicação dessa correspondência possibilitaria explorar a importância histórica e simbólica que Padre Correia da Cunha colocava num quadro de valores do ‘seu’ valioso património arquitectónico, e que lhe estava confiado.
Cumpre-me destacar a sua descomunal actividade espiritual assim como o seu imenso amor à beleza, a inventividade artística e a perene juventude das suas ideias. Ao longo dos seus 17 anos de pároco, a fecundidade da preservação do património foram autênticos milagres. Os seus ‘projectos’, arrancados pelas suas convicções e determinação, levavam-no a ter contacto com as mais altas figuras do Estado. Lembro-me de o Padre Correia da Cunha ter abordado directamente, por várias vezes, o Prof. Oliveira Salazar sobre várias intervenções de vulto necessárias no monumento, sob pena de Portugal perder de uma forma irreparável esta peça do seu tão adorável património. Todas essas intervenções se realizaram sem se ter de encerrar o edifício ao culto.
Quero recordar hoje aqui que em pouco mais de dois anos se construiu uma dupla cúpula e se revestiram os ricos interiores em pedra lioz do Panteão Nacional. Seria por ter o empenhamento pessoal de Salazar?
Passados dois anos sobre o encerramento da Igreja de São Vicente, impressionante monumento nacional ex-líbris da cidade de Lisboa, não só pelo seu estilo artístico mas sobretudo pela forma como se impõe com as suas proporções grandiosas, dominando a cidade e o Tejo, temos todos de reconhecer que independente do momento de dificuldades financeiras que todos vivermos terá de haver aqui também veladamente falta de competência e uma total falta de responsabilidade. Este gesto retira aos milhares de visitantes desta amada cidade a possibilidade de um encontro com esta magnifica jóia da arquitectura. Estou seguro que o Padre Correia da Cunha já teria convidado o seu bom amigo Presidente da República, marujo das mesma águas, a visitar e a presenciar in loco o grave atentado que se estaria cometendo com este prolongado encerramento da Igreja mais emblemática do Centro Histórico de Lisboa.
Está escrito em várias revistas da época que: “era difícil encontrar pessoa de iniciativa e mais expedito que este grande benemérito pároco de São Vicente de Fora – Padre José Correia da Cunha – que conseguia operar milagres no edifício, especialmente na IGREJA’’. Padre Correia da Cunha tinha um imenso cuidado na exposição, filtrada pela sua invejável inteligência e requintado e absoluto bom gosto. O seu círculo de amigos bem conheciam o seu elaborado processo afectivo que primava por uma requintada sensibilidade… porque os objectos e tesouros de arte eram um pedaço da sua alma.
Quando em 1960, o Padre Correia da Cunha assumia a Paróquia de São Vicente de Fora, muito do Património edificado encontrava-se em estado de ruína e os claustros, votados completamente ao abandono. Hoje, verifica-se que o desprezo pelo estudo e conservação dos monumentos históricos persiste; e todos assistimos, de um modo estranho, pacificamente a isto. Todos assistimos aos dois anos de inactividade da desta peça de arte, completamente retiradas dos olhos de milhares visitantes, e dos grandes actos de culto ali realizados.
São Vicente de Fora era a sua casa. Tinha com aquele imenso espaço uma forte relação de amor. Todos ainda nos recordamos do Padre Correia da Cunha com a sua batina preta, caminhando tão leve e silenciosamente que os seus pés pareciam plumas.
Quase 33 anos depois do seu falecimento, era propósito de um grupo de amigos de Padre Correia da Cunha em colaboração com a Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora, considerar uma Homenagem de Gratidão, com um Concerto de Órgão, no próximo dia 24 de Setembro, aproveitando-se a presença do seu adorável amigo Robert Descombes, actual titular e conservador do órgão d'Orgelet, um dos mais antigos instrumentos de Franche Comte.
Mas, infelizmente as obras eternamente adiadas e sem fim tão características do templo de Santa Engrácia (actual Panteão Nacional) transitaram para o templo de São Vicente de Fora.
.
.
.
.
.
Foram cerca de 10 anos que frequentei, vivi e convivi em S. Vicente de Fora. Memórias tenho e muitas, e não ficaram distantes. Passaram alguns anos e vimos com saudade partirem muitos amigos. Ainda recentemente perdi um dos meus maiores amigos: António Mello e Faro. Que saudade, meu Deus. Se um dia tiver tempo contarei algumas peripécias tão naturais daquelas idades. Recordo-me de ir com o saudoso Padre Cunha mostrar como estava em ruínas parte do antigo Mosteiro. Sabem a quem: a Salazar. Claro que vinha acompanhado com seguranças. Recordo que eu era um “piolhito” mas nem por isso esqueci que ele nunca mandou reparar o Convento. Histórias que ficam por contar…
ResponderEliminarRogerio Martins Simoes - ROMASI
Quando em 1961, Padre Correia da Cunha assumiu a Paróquia de São Vicente de Fora, muito do Património edificado encontrava-se em estado bastante lastimoso com as janelas sem vidraças e graves infiltrações a nível das coberturas.
ResponderEliminarPadre Correia da Cunha sabia bem quais as prioridades para a conservar aqueles monstruoso monumento. Colocação de vidros nas janelas e telhados reparados. Estas obras foram concretizadas. Obviamente, para intervenções nos espaços interiores nunca houve verbas disponíveis. Há época falava-se de 200.000 contos. Como a sua santa paciência Padre Cunha dizia: Haverá todo o tempo do mundo para restaurar o património interior pois ele será protegido pelas medidas realizadas. Num monumento deste tipo o fundamental é ter as paredes e os telhados imunizados.