sexta-feira, 4 de junho de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E A ABENÇOADA BOFETADA

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‘’AMIZADES VERDADEIRAS NÃO SE PERDEM… SÃO ETERNAS. ‘’





Em Lisboa, o mais visto, o mais concorrido e mais popular arraial era o promovido por Padre Correia da Cunha, na Cerca da Igreja de São Vicente de Fora, durante o mês de Junho.

Os jovens e suas famílias enchiam esse espaço até de madrugada. Não faltava a boa sardinha assada,o bom vinho… e cheiro a manjerico, nunca esquecendo a boa música para o baile que se realizava nesse simpático espaço, engalanado com festões e balões coloridos iluminados.

Numa daquelas noites quentes de Junho o coração de um jovem estava arrefecido. Ela que era o seu sonho e a sua grande esperança tinha partido…É verdade! Tinha-se despedido dela no Aeroporto de Lisboa. De longe viu-a gesticular uma carícia que se resumia a um beijo de despedida…

Cada um de nós está envolvido por sentimentos e emoções que tocam profundamente as nossas almas. No regresso a São Vicente, calcorreando as longas avenidas e ruas da cidade… aqui e ali haviam umas pequenas paragens nas rústicas tabernas para afogar as mágoas, que sublimavam esta terrível separação. Quebravam-se as promessas? Embriagado sempre se embalava nas carícias, que conservava no seu pensamento…

Por falar em separação… lembro também que teriam ocorrido alguns actos bruscos entre o jovem e Padre Correia da Cunha, que tinham rompido os gestos afectivos e de admiração entre ambos. O corte de relações era um acto consumado já com alguns meses de duração.


As tradições das noites dos Santos Populares eram sonhos colocados nas páginas das nossas vidas. Reminiscência de uma época que cultivava o romantismo que reinava nas noites encantadas que Padre Correia da Cunha teimosamente continuava a oferecer aos seus queridos paroquianos, naqueles saudosos arraiais.

Aquele arraial era tudo para aquele jovem. Como poderia ir para casa sem primeiro ali marcar presença?
Era ali que tinha os seus amigos mais próximos e onde poderia continuar afogar a sua enorme dor. Impulsionado por esse forte desejo ali terminou a sua longa caminhada.

Era tradição de Padre Correia da Cunha no final da folia colocar-se no enorme portão da cerca, na qualidade de anfitrião, para saudar e agradecer a presença dos folgazões.

Surgia aqui um grave problema para o nosso jovem. Como sair?

- Esquivo-me, para além de evitar certas inconveniências, o Padre Correia da Cunha não me verá…

Quando iniciava esta arriscada operação, deu de caras com o Reverendo, sendo obrigado a estender-lhe a mão e a cumprimentá-lo respeitosamente.


Sendo de imediato interrogado por Padre Correia da Cunha:

- Há tanto tempo que não me cumprimentas, porque o fazes hoje?

Saiu-lhe de imediato a resposta.

- Porque estou bêbado!

Padre Correia da Cunha bruscamente levanta a mão e dá-lhe uma grande bofetada.

Apesar deste seu acto irreflectido Padre Correia da Cunha sabia muito bem como conquistar com os seus gestos afectivos a amizade dos seus amigos.

Esta história teria um fim feliz porque a realidade nesse tempo tinha sentimentos humanos. Depois de uma longa conversa de corações abertos, consolidou-se o amor, recuperou-se uma amizade profunda… e com mais uns bons copos à mistura lá se construiu uma promessa em novas e jubilosas esperanças.

AMBOS RECONHECERAM QUE ERAM LEAIS E BONS AMIGOS!

As tradicionais noites dos Santos Populares já não são como deveriam ser. Esta história bonita é impensável nos nossos dias, porque a realidade actual excluiu os sentimentos humanos e o respeito pelos mais velhos, assim como toda aquela parcela de romantismo que reinava na nossa juventude.

Neste mês de Junho vão realizar-se as Festas dos Santos Populares. Creio que poderá haver uma nesga de felicidade com estas tradições dos arraiais e das marchas populares.

Sinto-me feliz ao recordar as noites dos Santos Populares naquela magnifica cerca de São Vicente de Fora, quando na noite de São João se acendia a fogueira e se queimavam as alcachofras. Tudo era muito simples mas um belo espectáculo…


Velhas Noites dos Santos Populares!!!.
Enquanto numa já muito afastada noite de São João, certo rapaz reconquistava a amizade do Padre Correia da Cunha, eu conservo recordações e lembranças ingénuas das noites bem passadas da minha juventude. E estou certo que há quem se sinta feliz em recordar estes tradicionais arraiais.







NOTA: A cerca de São Vicente de Fora fica situada ao cimo da ladeira, que dá acesso ao popular Telheiro de São Vicente de Fora. (no lado esquerdo da fachada da Igreja de São Vicente). Casas pitorescas do Telheiro de São Vicente de Fora - Gravura de Martins Barata
c.
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2 comentários:

  1. HOMENAGEM A PADRE CORREIA DA CUNHA

    Padre Correia da Cunha celebra no próximo dia 24 de Setembro, 93 anos do seu nascimento. No passado domingo, um pequeno grupo de amigos manifestou vontade de nesse dia se prestar uma sentida homenagem.
    Sabendo da presença de Robert Descombes em Lisboa, o programa contaria com a tua preciosíssima colaboração num Concerto de Órgão no final do dia.
    Haveria uma romagem ao Cemitério do Alto São João. Um jantar de confraternização com todos os seus amigos ainda vivos e terminaria com esse Magnifico Concerto de Órgão por Robert Descombes.
    O Diácono Jorge Campos ficou de agendar uma reunião com o Cón. António da Franca Melo da Horta Machado Marim, pároco actual de São Vicente de Fora para que seja concedida autorização para o efeito. Cremos que haverá resposta positiva por sua parte.
    Também pensamos falar com a Junta de Freguesia no sentido de apoiar esta iniciativa. Creio desta forma continua a manter-se bem viva a chama deste grande amigo.

    Contamos com as tuas sugestões.

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  2. Anónimo12.6.10

    E será que a Igreja já estará "pronta" e livre de plásticos a cobrirem os bancos???.Fico ansioso por saber novidades, pois também quero estar presente.

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