quinta-feira, 1 de março de 2012

PE. CORREIA DA CUNHA E O REGRESSO TRIUNFAL

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"A consciência do dever cumprido derrama na nossa alma doce alegria.”




A solenidade com que se revestiu Tenerife para honrar os marinheiros portugueses, assim como as manifestações de apreço da população, eram demonstrativas do ambiente de cordialidade e simpatia que os lusos marujos desfrutavam por estas paragens.


Ainda houve tempo de alguns elementos da guarnição espairecerem os seus sonhos românticos com um pé de dança ao ritmo sensual das músicas dos seus famosos cabarés: Rosaleda e Arrivederci Roma.

Para o Capelão Correia da Cunha, o tempo era de agradecimento e contemplação por tão grandioso feito. Só quem vive serpenteando nas ondas é capaz de compreender toda a grandeza do mar e as misérias humanas.



A noite era convidativa. Em amena cavaqueira, numa das belas esplanadas da cidade, o padre Correia da Cunha, o médico Félix António, o oficial Carlos Alvarenga e uma família local, conversam de forma prolongada, tendo regressado a bordo por volta das quatro horas da madrugada.


Ao Navio Escola «Sagres» não paravam de chegar as mais variadas mensagens de felicitações, provenientes de todos os lugares, e das quais destaco duas: a do então recente eleito Presidente da República, Contra Almirante Américo de Deus Rodrigues Tomás, que exprimia: “ Sua Excelência o Presidente da República muito se congratula com a vitória alcançada por esse navio” e a do Chefe do Estado-Maior da Armada, Vice-Almirante Guerreiro de Brito, que transcrevo: “Felicito com muita satisfação, comandante, oficiais e guarnição pelo brilhante triunfo alcançado e muito apreciado esforço desprendido”.



Nesta curta estadia de dois dias em Tenerife, ainda houve tempo para a tripulação da «Sagres» efectuar uma visita ao Navio Escola Norueguês, onde foi acolhida com agradáveis palavras de boas vindas e onde saudaram efusivamente a nossa Vitória.

O comandante, Capitão Tenente António Tengarrinha Pires, mostrou-se profundamente sensibilizado por esta demonstração de fair-play e não hesitou em convidar a tripulação norueguesa para uma visita de retribuição ao nosso Navio Escola.

O capelão Correia da Cunha considerava estes momentos como um privilégio para se aproveitar da sua vocação e gerar uma atmosfera de notável amizade, compreensão e sentimentos cristãos. Estou convicto que estas recepções entre “marujos” lhe ficaram indelevelmente gravadas na alma.




Finalmente o regresso a Lisboa, onde passados seis dias, fundeou o Navio Escola «Sagres» em frente do majestoso Terreiro do Paço para uma recepção triunfal.



Para esse cerimonial de acolhimento dos portugueses, o notável comandante Tengarrinha desembarcou de sobrecasaca, dragonas e chapéu armado, numa bonita galeota, a remos. No convés do navio e tendo como fundo o saudoso e adorável Tejo, todos os oficiais se deixavam fotografar para as fotos que ficariam para a posteridade.



Em inícios de Setembro, duas semanas depois da triunfal cerimónia de boas vindas a Lisboa, decorreu na pequena vila de Cascais o «Festival Náutico em Honra da Sagres II», organizado pela Associação Desportiva da Brigada Naval, Clube Naval de Cascais e Associação Naval de Lisboa, com o patrocínio da Federação Portuguesa de Vela.



Nesse festivo dia a «Sagres», ornamentada, encontrava-se ancorada na bela baía de Cascais. O Ministro da Marinha, Vice-Almirante Fernando de Quintanilha e Mendonça Dias, ofereceu a bordo um almoço à tripulação que contou com a honrosa presença do Presidente da República.



O local onde se encontrava fundeada a «Sagres» serviria demarcação da linha de partida para o disputado Troféu D. Pedro V, que compreendeu regatas nas classes dragão, star, sharpie’s e vouga. Este evento náutico integrou-se na Festa dos Pescadores, que constitui ainda hoje um dos costumes mais genuinamente cascarejos, pois a festa representa uma bênção lançada à pesca, tendo como cenário a foz do estuário do Tejo. Lembremo-nos que Cascais é ao mesmo tempo terra de reis e pescadores.



Naquele longínquo ano 1958, toda a população desta vila piscatória se associou à merecida Homenagem que o país prestou ao Navio Escola «Sagres» pela conquista da Regata Oceânica Brest – Las Palmas.



Para terminar aproveito para explanar a interrogação do Contra-Almirante Félix António:



 “Será que o Padre Correia da Cunha poderia ter tido uma carreira eclesiástica suficientemente preenchida, atractiva e até compensatória, sem ter ingressado nas fileiras da Marinha Portuguesa? “



Ao Exmº Sr. Contra-Almirante médico naval Joaquim dos Santos Félix António expresso o meu muito obrigado por ter possibilitado concretizar estes textos sobre a Regata Oceânica Brest-Las Palmas no ano 1958.

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