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"A
consciência do dever cumprido derrama na nossa alma doce alegria.”
A
solenidade com que se revestiu Tenerife para honrar os marinheiros portugueses,
assim como as manifestações de apreço da população, eram demonstrativas do
ambiente de cordialidade e simpatia que os lusos marujos desfrutavam por estas
paragens.
Ainda
houve tempo de alguns elementos da guarnição espairecerem os seus sonhos
românticos com um pé de dança ao ritmo sensual das músicas dos seus famosos
cabarés: Rosaleda e Arrivederci Roma.
Para
o Capelão Correia da Cunha, o tempo era de agradecimento e contemplação por tão
grandioso feito. Só quem vive serpenteando nas ondas é capaz de compreender
toda a grandeza do mar e as misérias humanas.
A
noite era convidativa. Em amena cavaqueira, numa das belas esplanadas da cidade, o
padre Correia da Cunha, o médico Félix António, o oficial Carlos Alvarenga e
uma família local, conversam de forma prolongada, tendo regressado a bordo por
volta das quatro horas da madrugada.
Ao
Navio Escola «Sagres» não paravam de chegar as mais variadas mensagens de
felicitações, provenientes de todos os lugares, e das quais destaco duas: a do
então recente eleito Presidente da República, Contra Almirante Américo de Deus
Rodrigues Tomás, que exprimia: “ Sua
Excelência o Presidente da República muito se congratula com a vitória
alcançada por esse navio” e a do Chefe do Estado-Maior da Armada, Vice-Almirante
Guerreiro de Brito, que transcrevo: “Felicito
com muita satisfação, comandante, oficiais e guarnição pelo brilhante triunfo
alcançado e muito apreciado esforço desprendido”.
Nesta
curta estadia de dois dias em Tenerife, ainda houve tempo para a tripulação da «Sagres»
efectuar uma visita ao Navio Escola Norueguês, onde foi acolhida com agradáveis
palavras de boas vindas e onde saudaram efusivamente a nossa Vitória.
O
comandante, Capitão Tenente António Tengarrinha Pires,
mostrou-se profundamente sensibilizado por esta demonstração de fair-play e não
hesitou em convidar a tripulação norueguesa para uma visita de retribuição ao
nosso Navio Escola.
O
capelão Correia da Cunha considerava estes momentos como um privilégio para se
aproveitar da sua vocação e gerar uma atmosfera de notável amizade, compreensão
e sentimentos cristãos. Estou convicto que estas recepções entre “marujos” lhe
ficaram indelevelmente gravadas na alma.
Finalmente
o regresso a Lisboa, onde passados seis dias, fundeou o Navio Escola «Sagres»
em frente do majestoso Terreiro do Paço para uma recepção triunfal.
Para
esse cerimonial de acolhimento dos portugueses, o notável comandante Tengarrinha
desembarcou de sobrecasaca, dragonas e chapéu armado, numa bonita galeota, a
remos. No convés do navio e tendo como fundo o saudoso e adorável Tejo, todos
os oficiais se deixavam fotografar para as fotos que ficariam para a
posteridade.
Em
inícios de Setembro, duas semanas depois da triunfal cerimónia de boas vindas a
Lisboa, decorreu na pequena vila de Cascais o «Festival Náutico em Honra da
Sagres II», organizado pela Associação Desportiva da Brigada Naval, Clube Naval
de Cascais e Associação Naval de Lisboa, com o patrocínio da Federação
Portuguesa de Vela.
Nesse
festivo dia a «Sagres», ornamentada, encontrava-se ancorada na bela baía de
Cascais. O Ministro da Marinha, Vice-Almirante Fernando de Quintanilha e
Mendonça Dias, ofereceu a bordo um almoço à tripulação que contou com a honrosa
presença do Presidente da República.
O
local onde se encontrava fundeada a «Sagres» serviria demarcação da linha de
partida para o disputado Troféu D. Pedro V, que compreendeu regatas nas classes
dragão, star, sharpie’s e vouga. Este evento náutico integrou-se na Festa dos
Pescadores, que constitui ainda hoje um dos costumes mais genuinamente
cascarejos, pois a festa representa uma bênção lançada à pesca, tendo como cenário
a foz do estuário do Tejo. Lembremo-nos que Cascais é ao mesmo tempo terra de
reis e pescadores.
Naquele
longínquo ano 1958, toda a população desta vila piscatória se associou à
merecida Homenagem que o país prestou ao Navio Escola «Sagres» pela conquista
da Regata Oceânica Brest – Las Palmas.
Para
terminar aproveito para explanar a interrogação do Contra-Almirante Félix
António:
“Será que o Padre Correia da Cunha poderia ter tido uma
carreira eclesiástica suficientemente preenchida, atractiva e até
compensatória, sem ter ingressado nas fileiras da Marinha Portuguesa? “
Ao Exmº Sr. Contra-Almirante
médico naval Joaquim dos Santos Félix António expresso o meu muito obrigado por
ter possibilitado concretizar estes textos sobre a Regata Oceânica Brest-Las
Palmas no ano 1958.
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