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“A música daquele órgão eleva os nossos corações em louvor a Deus e à mais grandiosa beleza…”
Não
há missão mais nobre e sublime na terra para um homem, que testemunhava a sua
profunda fé ao Eterno, do que procurar levar aos seus irmãos paroquianos a
música com toda a sua majestade e beleza.
Com
muita satisfação, publico o seguinte artigo inédito do Padre Correia da Cunha,
escrito no ano de 1969, sobre a arte e a música organística:
“O órgão não é só um instrumento de
música, é também uma peça de arquitectura, pois pela sua grandeza, pelo seu
estilo e pela sua estética.
Assim, cada país, no decurso dos
séculos, cria um tipo de órgão que difere do país vizinho; e, neste domínio, é,
sem dúvida, na península ibérica que surgem os órgãos mais característicos e
mais diferenciados.
O órgão desta igreja (São Vicente de
Fora), que resplandece com sua talha dourada e que nós nos deleitamos a ouvir é
um dos mais belos do mundo e ainda, felizmente intacto, tal como o seu genial
autor o concebeu há mais de duzentos e cinquenta anos.
É a mais bela jóia, representativa da
arte organística portuguesa.
Para instrumentos de tal raça, escreveram
os compositores hispano- portugueses uma música muito particular: os chamados
TIENTOS ou TENTOS, profundos e brilhantes, e as BATALLAS cheias de
surpreendentes efeitos e contrastes.
Desconhecidos durante muito tempo, esses
músicos saem pouco a pouco da sombra. E a sua música impõe-se agora a um
público curioso e apaixonado.
Em parte alguma, porém, essa música se
pode apreciar melhor do que num órgão como este para o qual parece ter sido
composta.
Como o seu vizinho ibérico, o órgão
clássico francês é um instrumento muito colorido, concebido com um espírito
decorativo.
Freinsberc-Cuilain, compositor francês
completamente desconhecido, de quem quase nada se sabe, deixou obra que
possibilitou o ensejo de conheceremos composições que eram habituais nos órgãos
clássicos franceses.
Os Couperin, constituem a mais famosa
família de organistas da época clássica francesa. Em pleno centro de Paris,
perto da Catedral de Notre Dame, encontra-se a Igreja de S.Cervais. Foi aí que,
no órgão que ainda existe, a família Couperin executou a sua arte.
Luís Couperin, o pai, compôs a Chacone
em Fá maior, onde refrãos e couplets se
alteram, e uma fantasia de um aspecto
sumptuoso e decorativo.
Mas a minha homenagem vai sempre para
J.S.Bach, o rei dos organistas, cuja sua música, alvejada por neste
magnifico órgão é uma magnificência sem igual.”
A
organização de concertos de órgão era bem reveladora do interesse que o Padre
Correia da Cunha colocava na elevação do nível cultural dos seus paroquianos.
Naquela
imponente Igreja de São Vicente de Fora, todos sentimos a sublimidade da boa
música de órgão, o rei dos instrumentos, que nos cercava por todos os lados e
nos elevava a alma ao mais profundo do belo.
O
Padre Correia da Cunha não gostava de elogios pela sua total entrega a uma das
suas maiores paixões que era a música erudita, que ouvia nas gravações dos
melhores artistas do mundo, na sua aparelhagem estereofónica de marca QUAD,
oferta do seu amigo do coração Rui Valentim de Carvalho. Durante a audição, desligava-se
de tudo e todos os que o cercavam.
Curiosamente era um grato prazer para o Padre Correia da Cunha proporcionar Concertos de Música de Órgão com a apresentação de famosos artistas que vinham a Lisboa para brindar o público, amante da arte da boa música organística, com maravilhosos recitais.
Creio
que era uma das suas secretas missões: utilizar a sua brilhante inteligência e sabedoria
musical, para movimentar e apaixonar multidões, semeando nos seus corações a
mensagem de Cristo.
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