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“O
ÓRGÃO É UM DOS MAIS
PERFEITOS INSTRUMENTOS DA BOA
MÚSICA…” PCC
Os anos sessenta foram momentos
gravados a ouro na vida do majestoso órgão ibérico da Igreja Paroquial de São
Vicente de Fora em Lisboa.
Nesse tempo, a Igreja de São
Vicente de Fora era visitada por uma plêiade ímpar na arte da música
organística.Destaco: Tagliavini, Gerard Johns, Francis Chapelet , Michel
Chapuis, Pierre Cochereau, Michael Kearns, Gertrud Mersiovsky, António Duarte Silva, Gerhard Doderer…Na opinião destas celebridades da
especialidade, o órgão do templo Vicentino de Lisboa era considerado um dos
melhores da Europa.
O Padre Correia da Cunha a
todos acolhia de braços abertos. No ano de 1969, mergulhou num projecto
ambicioso que visava a criação de uma Liga dos Amigos da Música Coral e
Organística.
Com esta sua iniciativa, propunha-se contratar um organista privativo e exclusivamente dedicado ao serviço deste esplêndido órgão, com a obrigação de formar e dirigir um Grupo Coral, e assegurar a boa conservação e funcionamento do órgão mediante avença com um organeiro afinador competente.
Com esta sua iniciativa, propunha-se contratar um organista privativo e exclusivamente dedicado ao serviço deste esplêndido órgão, com a obrigação de formar e dirigir um Grupo Coral, e assegurar a boa conservação e funcionamento do órgão mediante avença com um organeiro afinador competente.
O pároco de São Vicente de Fora
com esta diligência procurava os meios financeiros necessários para a criação
da Liga, nomeadamente através de uma grande campanha que levou a cabo para
conseguir sócios fundadores que pagariam uma quota mensal.
Esta sua iniciativa partia do
facto de existir naquele templo um dos melhores órgãos antigos, em bom estado
de conservação e funcionamento, e a possibilidade de recrutar na paróquia os
elementos necessários para formar um bom Grupo Coral. O Padre Correia da Cunha,
desde que chegou a São Vicente de Fora, nunca desistiu de
contribuir para a formação cultural da Juventude da sua paróquia, localizada num
dos pobres bairros lisboeta.
A Liga também teria em
princípio competência para promover concertos mensais com os mais prestigiados
artistas.
Este seu projecto teve uma
imensa adesão e apoio dos muitos amigos da boa música e correspondia a uma
mudança muito significativa do cântico e música organística. O Padre Correia da
Cunha contribuiria assim, mesmo de forma inconsciente, para a consubstanciação
da ascensão da formação cultural da desafortunada adolescência e juventude de
uma das mais pobres paróquias do Patriarcado de Lisboa.
Desconheço o que sentiu com a
traição deste seu sonho que alimentara por um longo tempo. Mas a eterna
caducidade dos que apenas privilegiam o transitório e se rendem à felicidade
dos bens materiais, mascara uma realidade vil.
Esteve em Lisboa, entre 6 e 21
de Junho, Robert Descombes que o saudoso Padre Correia da Cunha considerava o
organista itinerante de São Vicente de Fora.
Em Abril de 1968, acompanhou o
seu amigo Prof. Francis Chapelet, exímio continuador da Escola Organística de
César Franck de Paris, que vinha a Lisboa para realizar um concerto de órgão em
São Vicente de Fora para a Rádio Televisão Portuguesa (RTP). Após a descoberta
do maravilhoso órgão ibérico, Descombes vinha todos os anos para tocar no mais
bem conservado e famoso instrumento setecentista. O órgão de São Vicente de
Fora, pela riqueza da sua registação e pela requintada qualidade de seus
trimbes, é incontestavelmente um dos mais adequados à música organistica dos séculos
XVII e XVIII.
Robert Descombes, titular e
conservador do órgão d’Orgelet, regressou a Lisboa no ano 2010, para retomar a
um tempo passado que lhe produzira reminiscências de muitos agradáveis
momentos de quando tocava esse órgão ibérico português, durante os anos de
1968 até 1976. Foi arrebatado o seu sonho por se encontrar encerrada a igreja
por motivo de obras de restauro.
Com as devidas autorizações,
este ano, Robert Descombes pôde desferir as primeiras notas naquele seu
conhecido e majestoso órgão, tendo tido a sensação que o imponente templo sacudiu.
Foi para si, uma enorme manifestação de alegria que lhe provocou uma explosão
de lágrimas nos olhos, tal eram as saudades de tocar as teclas daquele seu
dilecto órgão. Senti que um instrumento musical pode gerar um leque de emoções
humanas.
Movido pela saudade e
estimulado pelos odores daqueles espaços, foi sentida a presença espiritual do
grande e saudoso amigo: Padre José Correia da Cunha. Tamanha é a nostalgia que
ele deixou!!!
A música actua de diversas
maneiras: Umas vezes pelos sentimentos que traduz cuja impressão se grava na
alma dos que a escutam, outras vezes pela influencia comemorativa que nos
associa a um tempo passado de tão gratas recordações…
Permitam-me, Pe. Dr. Ricardo Ferreira,
Reitor da Igreja do Mosteiro e Arq. João
Vaz, organista titular do Órgão de São Vicente de Fora, agradecer-vos a
gentileza por terem contribuído para este excelente momento cultural que os
apreciadores de boa musica tiveram a oportunidade de escutar no ambiente mais
adequado que é sem dúvida a grandiosa igreja do Santo Patrono desta amada
Lisboa.
Recordo que no tempo do Padre
Correia da Cunha o templo era exíguo, pelo o aumento sempre crescente dos
amantes da boa música de órgão nos concertos que ele fomentava. Como referia, a
música deve ser expandida por todas as classes sociais e fundamentalmente pelos
jovens como uma base da verdadeira educação…
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Obrigado, caro João Paulo,por trazeres à memoria as profundas relações que existiam entre o P.Cunha e a música! Obrigado por recordares tudo o que devo a este saudoso e grande amigo, na minha vida de músico. O órgão de São Vicente de Foraconfunde-se na minha memoria com a minha vida, ha 40 anos,com o meu passado e tudo o que pude viver naquela feliz altura, em Lisboa, e tambem em frança, com tantos bons amigos, dos quais muitos ainda estão connosco, graças a Deus.
ResponderEliminarNunca posso deixar Lisboa, nem posso deixar o órgão de S. Vicente, sem lágrimas, e nunca pude!! é verdade que, o outro dia, fui mesmo submergido pela emoção, quando pus as minhas mãos sobre o teclado, e ouvi novamente estes sons incomparáveis , que sempre comparei com o océano!!
O P. Cunha foi aquele que me permitiu descobrir este magnífico instrumento por primeira vez;e tu, caro João, foste aquele que me permitiste voltar a ver, na lembrança comúm do P. Cunha, esta querida cidade de Lisboa, esta saudosa igreja de S. Vicente.
Agradeço-te por me teres associado a esta justa homenagemao P. Cunha, e à paixão dele para a musica e o órgão de S. Vicente.
Nunca me esquecerei!!
Um grande abraço
MICHAEL KERNS
ResponderEliminarTal como o amigo João Paulo lembrou, nos anos sessenta do século passado passaram por S. Vicente de Fora grandes organistas. Assisti a grandes concertos de órgão e até a gravações de grandes marcas de discos. Recordo-me que proibiam até a passagem de veículos para que pudessem gravar com êxito. Tais fatos só veem dar razão ao seu promotor e defensor, o Padre José Correia da Cunha.
Foi num dia e num ano que não posso precisar, estava Michael Kearns a ensaiar, tocando no extraordinário órgão da Igreja de S. Vicente de Fora, e eu, Rogério Martins Simões, a seu lado, a observar extasiado ajudando a puxar os registos. A certo momento Michael Kearns levantou-se do banco, mandou-me sentar e pediu-me para tocar quando ele estivesse na nave central da igreja. Acedi ao seu pedido mesmo sabendo que nada sabia e que nem sequer alguma vez tinha tocado órgão.
Assim que Michael Kerns se instalou num lugar central da igreja gritou para mim Roger, Play e toquei. Quando retomou o seu lugar não esqueço o que me disse - Rogério tu tocaste muito bem.
Este foi seguramente um dos momentos mais belos da minha vida e que nunca esqueci ou esquecerei. Obrigado MICHAEL KEARNS.
Rogério o facto de termos vivido a mesma época, rica de sonhos, aspirações, amizades sinceras…Também tive a chance de conhecer Michael Kearns e conviver com ele. O que mais marcou da sua personalidade era a sua extrema simplicidade.
EliminarO Padre Correia da Cunha nutria uma forte amizade pelo Michael e um enorme reconhecimento do seu imenso talento musical, como cravista e organista. Está para breve uma merecida homenagem a este dilecto organista do pároco de São Vicente de Fora.
Também eu conheci este instrumento, não nos anos 60, mas nos anos 80. Muitas vezes por ali passei, algumas até para efectuar afinações. Recordo aqui também os tempos dos organeiros irmãos Sampaio, que tinham a sua sede ali tão perto, na Travessa do Monte, e que durante dezenas de anos efectuaram a manutenção deste instrumento.
ResponderEliminarAssisti ao restauro durante Lisboa, Capital da Cultura, em 1994, com o grande entusiasmo do saudoso amigo Joaquim Simões da Hora. Posteriormente, o assalto à Igreja, com a entrada pelo interior do instrumento e danificação de alguns tubos. Histórias por contar. Lamentavelmente, e após esta altura, deixaram de contar com a minha colaboração. Talvez João Vaz saiba a razão.
Tambem sou um grande adepto dos orgãos de tubos. Parabens pelo blog, acabei agora de o encontrar no facebook.
ResponderEliminarJá o tenho aqui na lista de favoritos.
Sou organista liturgico na igreja paroaquial de São lUis em Pinhel. Temos um orgão de tubos contruido por Ajclaro