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Foi no dia 14 de Fevereiro de 1964, que se dava início à constituição do Coro de Camara Gulbenkian, tendo sido confiada a regência a Olga Violante e a direcção adjunta a Pierre Salzmann, assistidos por José Aquino e Victor Diniz.
Foi no dia 23 de Maio, do ano de 1969, que Olga Violante nos deixou. Transcrevo o texto de uma carta enviada pelo Padre Correia da Cunha ao amigo Dr. Pedro Prado da Emissora Nacional, no dia 6 de Maio de 1969.
Os amigos que partiram…
IN MEMORIAM
OLGA VIOLANTE
1903-1969
OLGA GUERREIRO VIOLANTE nasceu em Lisboa no ano de 1903.
Frequentou o Conservatório Nacional, onde foi discípula de canto de António Garcia, continuando mais tarde o estudo da técnica e de interpretação com Lídia Opienska e J.C de Vasconcellos, Luís de Freitas Branco e António Eduardo da Costa Ferreira tiveram marcada importância na sua formação musical.
Cantora de mérito, esta mulher teve uma vida totalmente dedicada à música estando vinculada à origem de muitos coros.
Em 1921, na sua paróquia de São Jorge de Arroios, sendo pároco o Cónego Martins Pontes, fundou o coro Scola Cantorum - Santa Cecília. A escola era então frequentada apenas por meninas, tinham aulas de música, canto e catequese e contava com apoio de um grupo de filiadas dotadas de uma enorme sensibilidade musical, gosto litúrgico e formação religiosa.
Em 1941, por sua iniciativa, foi criado o Polyphonia Schola Cantorum, coro misto composto por cerca de 40 elementos tendo tido como primeiro cantor, ou regente, o musicólogo Mário Sampayo Ribeiro, que o dirigiu até à sua morte, em 1966. Este coro obteve o estatuto de pessoa colectiva de utilidade pública.
Olga Violante temos que lhe fazer justiça, muito contribuiu para levantar o canto em Portugal. Ensaiava e dirigia o Coro Universitário Feminino e os coros da Liga Católica, Florinhas da Rua e Instituto de São Pedro de Alcântara. Melómanos da época recordam-na ainda como solista da Sociedade Coral Duarte Lobo e da Sociedade Coral de Lisboa.
Olga Violante dirigiu os Serviços de Música da Mocidade Portuguesa (1957), assim como do Instituto de Odivelas (1944) e Junta de Educação Nacional.
No dia 1 de Novembro de 1960, o Padre José Correia da Cunha toma posse como pároco de São Vicente de Fora. Esta paróquia possuía uma enorme tradição na música e no canto coral. O Padre Correia da Cunha não podia deixar de requerer a colaboração da sua protectora Olga Violante para organizar o coro da paróquia. É merecedora de homenagem a entrega desta maestrina que contribuiu para o engrandecimento e formação musical e coral dos membros do coro paroquial.
Nos anos sessenta, Portugal vivia numa indolência musical. Olga Violante alimentava um grande sonho nos seus ambiciosos projectos artísticos. Não pensava noutra coisa: a criação de um grande coro. Só uma pessoa poderia realizar.lhe este seu sonho maravilhoso: Drª Maria Madalena de Azeredo Perdigão.
Foi no dia 14 de Fevereiro de 1964, que se dava início à constituição do Coro de Camara Gulbenkian, tendo sido confiada a regência a Olga Violante e a direcção adjunta a Pierre Salzmann, assistidos por José Aquino e Victor Diniz.
Não poderia escolher melhor local para a estreia do Coro de Camara Gulbenkian do que a Igreja de São Vicente de Fora. Realmente a escolha do local, não poderia ser mais acertada, pois Olga Violante bem sabia que a igreja possuía uma das melhores acústicas de Lisboa e podia contar com a colaboração incondicional, activa e empreendedora do seu admirável Padre Correia da Cunha.
Foi na noite do dia 27 de Maio de 1964, que se ouviu em primeira audição o Coro de Camara Gulbenkian , interpretar a Paixão Segundo São Mateus, de Georg-Philipp Telemann, acompanhado pela Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional.
Olga Violante era dotada de uma cultura superior, a par de uma inteligência pouco comum. Estudou canto gregoriano sob a direcção do P. Pascal Piriou, de Pierre Carraz, de Manzarraga e deslocava-se assíduamente à Suiça, Itália e Bélgica para se aperfeiçoar na interpretação da música antiga com H. Tesseyre, Dom G. Biella e Safford Cape.
Olga Violante desfrutava de uma voz de rico timbre, rara qualidade e perfeitíssima articulação. Deixou uma obra notabilíssima a juntar a uma verdadeira paixão pelo canto e música. Era possuidora de uma enorme generosidade e o seu grande coração, encontrava-se sempre disposta ajudar os que começavam uma nova etapa na sua vida, como foi o caso do adolescente (Zézito) Correia da Cunha, que com a sua protecção, ingressou no Seminário Menor de Santarém.
Após cinco anos de frutuoso trabalho, Olga Violante deixou orfão o seu coro e desaparecia um resplandecente rosto de simpatia. Mas já mais será esquecida pelos que tiveram o previlégio de a conhecer. Deixou atrás de si, uma saudade e um grande inapagável exemplo de virtudes. Como é sabido, no ano da sua partida para o PAI foi nomeado o Maestro Michel Corboz para titular do Coro Gulbenkian, cargo que veio a exercer com insuperável competência ao longo de mais de trinta anos.
Portugal, através do Presidente da República, no ano anterior à sua morte, reconheceu aos seus méritos, tendo-lhe atribuido a comenda da Ordem da Instrução Publica.
Foi no dia 23 de Maio, do ano de 1969, que Olga Violante nos deixou. Transcrevo o texto de uma carta enviada pelo Padre Correia da Cunha ao amigo Dr. Pedro Prado da Emissora Nacional, no dia 6 de Maio de 1969.
“
Como sabe, sou de há muitos anos amicíssimo da Senhora Dona Olga Violante. Como
também sabe, esta senhora está gravemente doente e, infelizmente para nós – os
seus amigos – e para a música na nossa Terra, talvez Deus a queira levar bem
mais depressa do que todos desejaríamos. Como eu gostaria de, enquanto vivesse,
poder gozar da sua presença espiritual…”
Foi
uma grandiosa e sentida manifestação de pesar as cerimónias fúnebres da Senhora
Dona Olga Violante. O seu corpo esteve colocado em câmara ardente no cruzeiro
do majestoso templo de São Vicente de Fora, onde 5 anos antes, havia tido
estreia o Coro Gulbenkian.
Acompanhei
como acólito, o Padre Correia Cunha no cortejo que levou o corpo da Senhora Dona Olga, para ser depositado no Cemitério do Alto de São João, após a celebração
de uma missa de corpo presente a que compareceram as mais altas figuras de relevo
da cultura nacional. A igreja estava repleta e viam-se também individualidades
da vida política, religiosa e militar.
A
Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora e o seu pároco guardou por muito
tempo a sua memória com a realização de concertos de órgão em homenagens
póstumas a Olga Violante.
Recebei,
Senhor, na glória do vosso reino a nossa irmã.
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As mulheres que, depois de mortas, são relembradas, pelas suas virtudes, suas excepcionais qualidades e obras, não deveriam ser esquecidas. Olga Violante bem merecia na toponímica da sua freguesia de ARROIOS um espaço para que esta figura ficasse eternizada.
ResponderEliminarAqui fica esta sugestão que deveria ser aceite como um estímulo para a sua realização, à Câmara Municipal de Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian e Junta de Freguesia de Arroios.