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«SÃO VICENTE CUJOS CORVOS
SIMBÓLICOS E LENDÁRIOS FIGURAM HERÁLDICAMENTE DESDE SEMPRE NA ÍNSIGNA QUE
TRAZEMOS AO PEITO».
Paulo Cunha
Naquela
manhã do dia 22 de Janeiro do ano de 1964, a majestosa igreja de São Vicente de
Fora apresentava um primoroso arranjo e especiais cuidados decorativos que a
transformavam num espaço celestial em plena glória.
Profusamente
iluminada e com os mais lindos arranjos florais para as Solenes Celebrações
Litúrgicas em honra de São Vicente, orago da Paróquia. O Padre Correia da Cunha
dava grande ênfase à festa em memória do seu santo mártir.
Mas…!
Pelas toilettes dos convidados dava para ver que haveria ali algo de mais
impetuoso e esplendoroso, na comemoração ao diácono de Saragoça, naquele ano.
Os
convidados, em elevado número, eram recebidos no topo da escadaria principal do
templo, pelo Revdº Padre Correia da Cunha devidamente paramentado e pelo Sr.
Prof. Paulo Cunha revestido com grande colar e toga profusamente ornamentada
com borlas e rosetas de seda.
Muitas
vestes de toga e insígnias doutorais (borlas e capelos), hábitos talares,
chapéus e imensas condecorações… davam a entender que seriam ilustres da
cátedra das Universidades e Faculdades da nossa nobre cidade.
Um
clima apoteótico marcou a chegada de Sua Eminência o Sr. Cardeal Patriarca de
Lisboa, D. Manuel II Gonçalves Cerejeira ao grandioso templo, onde foi recebido
com uma enorme salva de palmas dos fiéis ali presentes. Enquanto o magnífico
órgão barroco entoava uma marcha triunfal de Berlioz - formou-se um luzido
cortejo tendo como destino a bela Sala da Portaria do Mosteiro, onde foram
apresentados os cumprimentos de Boas Vindas à celebração do 1º Dia da
Universidade de Lisboa, que coincidia com a festa litúrgica de São Vicente, o
padroeiro da cidade.
Foi
iniciativa do Senado Universitário da Clássica que houvesse uma missa solene de
pontifical, com pomposo ritual, onde o canto musical não podia deixar de estar
presente, e o local escolhido foi a renascentista igreja de São Vicente de Fora.
Depois um almoço de confraternização no Salão Nobre da reitoria.
No
altar-mor encontravam-se dezoito ilustres professores universitários e
estudantes que representavam as Associações Académicas e comissões
Pró-Associação de Letras e Medicina.
Terminada
a missa, o Sr. Cardeal Patriarca dirigiu breves palavras alusivas ao
significado das cerimónias, congratulando-se com a Celebração do Dia da
Universidade de Lisboa, desejando aos presentes as maiores felicidades.
O Prof. Dr. Paulo Cunha não escondeu a comoção colhida na brilhantíssima recepção, expressando nos termos mais encomiásticos o seu agradecimento ao Reverendíssimo Prelado pela sublime celebração litúrgica e ao Revdº Padre Correia da Cunha, na qualidade de anfitrião, o acolhimento a esta iniciativa: a Celebração do 1º Dia da Universidade.
À
saída do templo ricamente engalanado com paramentos que lhe davam um aspecto
solene, o Vice-Reitor da Universidade Clássica dirigiu-se ao Padre Correia da
Cunha declarando: “ como cidadão desta bela cidade sinto-me deslumbrado pela
beleza e decoração do templo e não posso deixar de agradecer do coração todo o
seu empenhamento na realização deste rito litúrgico”.
A estas celebrações que marcaram o primeiro dia da Universidade de Lisboa, assistiram vivamente interessados, muitos paroquianos de São Vicente de Fora, interrogando-se se a vistosa decoração que o templo ostentava era em honra do diácono Vicente ou em honra dos académicos que contribuem com os seus saberes para o aperfeiçoamento da arte e cultura portuguesa.
Cerca
das 13horas e 30 minutos começaram a chegar ao edifício da Reitoria, na Cidade
Universitária, os convidados para o almoço de confraternização que reuniu 255
convivas. Compareceram todos os professores catedráticos e assistentes assim
como doutores de todas as Faculdades da Universidade Clássica, e ainda os doze
melhores estudantes do último ano lectivo, nos vários cursos e três de cada uma
das associações.
Na
mesa de honras tomavam lugar o Reitor e Vice-Reitor da Universidade Clássica;
respectivamente Srs. Professores Paulo Cunha e Ramos e Costa; o Reitor da
Universidade Técnica, Sr. Prof. Leite Pinto, os directores das Faculdades de
Letras e de Medicina, Senhores Professores Manuel Madaleno e Toscano Rico; o
director da Escola Superior de Farmácia, Prof. Joaquim Mendes Ribeiro; o
presidente do Instituto de Alta Cultura, Sr. Prof. Gustavo Cordeiro Ramos; os
directores da Faculdade de Direito, Sr. Prof. Raul Ventura e da Faculdade de
Ciências, Sr. Prof. José Sarmento de Vasconcelos e Castro, o Presidente da
Câmara Municipal de Lisboa – Sr. General França Borges e o Revdº Padre Correia
da Cunha.
Segundo
testemunho de um elemento presente no almoço este decorreu em ambiente de
grande animação e franca camaradagem e na altura dos brindes começou por falar
o notabilíssimo Sr. Professor Paulo Cunha.
Principiou
o Reitor por se referir ao alcance das Comemorações do Dia da Universidade de
Lisboa nas quais – afirmou – o almoço de confraternização simbolizava uma
unidade intensificada com as aspirações comuns e que se simbolizava naquela
reunião festiva – o objectivo era dar um ar de simplicidade em convivência de
família.
Fez
depois, o orador breve análise dos vinte e cinco dias de reitorado, enunciando
os projectos que tem para um futuro imediato em relação com as actividades
universitárias.
Terminou
pela evocação de São Vicente Mártir patrono da Universidade de Lisboa:
« O dia 22 de Janeiro é o dia de
S.Vicente. É o dia que sendo da cidade de Lisboa, é também o da diocese de
Lisboa. É por isso, naturalmente, o dia da Universidade que em Lisboa está. Com
ele, comemora-se uma alta figura, glória da Igreja, dos fins do século III
príncipios do século IV, que muito mais
tarde, na história e na lenda, aperece ligada aos primeiros tempos do Reino de
Portugal. Mas, seja história, seja lenda, trata-se desse vulto extraordinário
que, vivendo em terras da Hispania e sendo extremado perito nas Artes e nas
Letras, como dizem os cronistas, depois morreu pela sua Fé, pelos seus ideais,
proferindo aliás palavras memoráveis que em breve tenciono fazer inscrever no
Boletim da Universidade, por constituirem exemplo educativo de alto quilate.
Vítima de injustiças e de tormentos acabou por sucumbir e foi lançado ao mar.
Aqui surge a lenda; os corvos milagrosos
que sempre o acompanhavam. O corpo incorrupto do Santo veio mais tarde em naves
frageis até Portugal, Desembarcado no Promontório que ficou a chamar-se
Cabo de S. Vicente, e finalmente trasladado para Lisboa em 1176 (data que vêem
acolá esculpida em bronze, na escadaria nobre da Universidade). »
“ Que São Vicente padroeiro de Lisboa e
da Universidade, nos obtenha do Céu as graças necessárias para dar resposta
adequada às exigências que diariamente nos põe o serviço do ensino, nos tempos
actuais”.
O
evento encerrou com o discurso da mais nova Doutora: Maria Luísa Noronha Galvão
que tinha prestado provas e fora distinguida com o mais alto grau académico em
matemáticas.
Aproveito
este texto Do Padre Correia da Cunha para concluir:
“Mas a maior consagração
litúrgica dos heróis da Fé Cristã, está na celebração da Missa e no canto do
Ofício Divino. É nestes actos fundamentais da Liturgia que devemos ver até que
ponto foi a devoção oficial da Igreja e da Academia ao nosso Santo Patrono.”
A UNIVERSIDADE SEMPRE FOI
ANIMADA E PROTEGIDA POR TÃO GRANDE HERÓI DA FÉ CRISTÃ.
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