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D. Luis Filipe e D. Carlos |
«O REI D. CARLOS E PRINCÍPE
REAL D.LUIZ FILIPE NÃO
MERECIAM O TRÁGICO FIM QUE
TIVERAM.»
Nos anos sessenta, o primeiro dia de Fevereiro tinha um
grande significado na Paróquia de São Vicente de Fora. Naquele imponente templo
renascentista eram celebradas missas de «Requiem» por alma do Rei D. Carlos I e
do Príncipe herdeiro D. Luiz Filipe.
Era o dia para recordar os malogrados heróis que foram
assassinados barbaramente, apenas porque desejavam que a vida constitucional
portuguesa seguisse na maior harmonia e paz…
O Padre Correia da Cunha, na sua qualidade de anfitrião
apresentava o templo com um aspecto festivo, cenário próprio para a realização
das solenes cerimónias de exéquias. O templo totalmente repleto. Todos os
presentes, desta forma homenageavam aqueles que bem serviram a Nação e cujo
patriotismo não poderemos negar sem injustiça. O Senhor D. Carlos tinha
notabilíssimas qualidades, era um hábil diplomata, tendo prestado enormes
serviços a Portugal e aos portugueses, que a História hoje reconhece e são
justas e merecidas todas as homenagens que anualmente lhe prestam os
portugueses com celebrações eucarísticas de sufrágio pelas suas almas.
Sei que estas piedosas solenidades contavam sempre com a
presença de muitas altas personalidades da vida nacional e de muito povo que
aproveitavam para assim expressarem a sua gratidão à memória do grande monarca
e de seu filho o, príncipe.
Lembro-me perfeitamente que a primeira celebração era uma
missa cantada, presidida pelo Rev. Padre Correia da Cunha, no majestoso templo.
Este louvor de sufrágio era mandado celebrar anualmente pelos Srs. Condes de
Vale de Reis. Na sua homilia o Padre Correia da Cunha expressava a sua imensa
admiração e sincero respeito pelos seus irmãos em Cristo: Carlos, rei e Luiz
Filipe, príncipe.
Mais tarde, no Panteão da Dinastia de Bragança era
celebrada missa de exéquias, presidida pelo Mons. José de Castro, esta mandada
celebrar pela Fundação da Casa de Bragança. Nas filas de cadeiras colocadas
naquele panteão de família viam-se muitas figuras pertencentes a famílias da
nobreza portuguesa: Condes de Vale de Reis, Viscondes da Trindade e de Asseca,
Condes das Alcáçovas e da Lousã, Marquês do Lavradio, Visconde de Botelho,
Conde e Condessa do Seixal, Conde e Condessa de Castelo Mendo, Condessa de S. Mamede,
Marquês de Sabugosa, Marquês de Belas e pela casa de Bragança, D. Duarte Nuno, D.
Fernando de Almeida, D. Manuel de Bragança e D. Miguel Pereira Coutinho…
Havia também figuras de casas reais estrangeiras, como por
exemplo, o Rei Humberto de Itália.
Estas solenes celebrações terminavam sempre com a deposição
de belos ramos de flores na base dos túmulos do Rei Dom Carlos e do Principe Dom
Luiz Filipe. Este rico monumento da autoria do Arqt.º Raul Lino apresentava uma
inscrição gravada a ouro da autoria do poeta Afonso Lopes Vieira, onde se lia:
AQUI DESCANSAM EM DEUS EL-REI D. CARLOS I E
O
PRÍNCIPE REAL D. LUIZ FILIPE QUE MORRERAM PELA
PÁTRIA.
AQUI DESCANSAM EM DEUS EL-REI D. CARLOS I E O
PRÍNCIPE REAL D. LUIZ FILIPE QUE MORRERAM PELA
PÁTRIA.
Túmulos do Príncipe D. Luis Filipe e D. Carlos (escultura a Dor) |
Em ambos os túmulos foram esculpidas coroas reais. É um
gesto justo, pois Dom Luís Filipe foi Rei de Portugal, morreu momentos depois
do Pai. Expirou aliás, em pé, em defesa do progenitor.
Contou-me o Padre Correia da Cunha esta narrativa: «que
tendo o Presidente do Conselho, Prof. Oliveira Salazar assistido durante toda a
manhã às sagradas cerimónias de grande sumptuosidade do 1º de Fevereiro, em
memória do atentado a El-Rei D. Carlos e Príncipe Real D. Luiz Filipe, com a
presença de todas as mais elevadas entidades eclesiásticas, militares e civis
nacionais, na Igreja Paroquial de São Vicente de Fora, curiosamente, terá
regressado pela tarde muito discretamente e incógnito (sem nenhum tipo de
segurança) para no Panteão da Dinastia de Bragança, junto dos túmulos do
monarca e filho, se inclinar, e ter um longo instante de profunda meditação».
Será que quis desta forma o Chefe do Governo da Nação
homenagear o enorme estadista de méritos no rumo da história, das ciências e
das artes e que também em difíceis circunstancias muito se empenhou a favor da
defesa da integralidade nacional. Só o penetrante silêncio do sóbrio espaço
poderá testemunhar a mensagem ali depositada pelo coração do governante.
Altar do Panteão da Dinastia de Bragança |
Recordo mais tarde, nos anos setenta ter acolitado o Mons. Cónego D. João Filipe de Castro (Nova Goa) e o Cónego Corrêa de Sá (Asseca), ( capelão da armada tal como o Padre Correia da Cunha), que presidiam a muitas celebrações eucarísticas, no altar do Panteão da Família Real de Bragança. O Padre Correia da Cunha com a sua inesgotável bondade disponibilizava todas as alfaias e paramentaria… da paróquia, para que essas celebrações tivessem o maior brilho.
Cónego Corrêa de Sá (Asseca) |
Decorrido tudo este tempo sobre o regicídio, tempo considerado suficiente para julgar serenamente homens e acontecimentos e interpretar estes actos imparciais e objectivamente, continua-se a seguir a arraigada tradição de venerar com afecto a memória dessas duas figuras sublimes da nossa História.
A Real Associação de Lisboa continua a mandar celebrar em
homenagem a estes augustos mártires da Pátria uma missa na Igreja de São
Vicente de Fora, presidida pelo Rev. Padre Gonçalo Portocarrero de Almada, com
romagem ao Panteão da Dinastia de Bragança para colocação de flores nos túmulos
de El-Rei e do Príncipe Real pelos Duques de Bragança.
Requiem aeternam
dona ei Domine,
et lux perpetua
luceat ei. Requiescat in pace. Amen.
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