terça-feira, 5 de março de 2013

PE. CORREIA DA CUNHA E O SEU PRIOR

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

“Aqueles que querem viver sabem onde e donde devem viver!”

 

 

A infância do pequeno Zezito foi vivida em Lisboa, na freguesia de Arroios. Aprendeu as primeiras letras na escola primária do bairro. Frequentava assiduamente a Catequese, na antiga igreja de São Jorge de Arroios, onde contava com a imensa admiração da Srª D. Olga Violante e o estímulo do seu adorável prior, Con. Dr. Martins Pontes, que desde 1 de Dezembro 1912 assumira a paroquialidade e à qual se dedicaria durante 32 anos. O Cónego Pontes era uma das mais prestigiosas, bondosas e cultas personalidades do clero português.
 
 
 
 
 
Foi a estas duas personalidades, que o Zezito ficou a dever o despertar da sua vocação e a sua entrada no Seminário de Santarém. Ali se concentrou no estudo, formação da inteligência e do caracter. Só assim conseguiu um trabalho fecundo, numa disciplina interior que o acompanhou ao longo de toda a sua vida pastoral.
 
 
 
 
 
 
 
 
No ano de 1937, em que se comemoravam as Bodas de Prata como pároco da Freguesia de São Jorge de Arroios, houve naquela paróquia uma série de festas, para homenagear o Sr. Con. Dr. Martins Pontes, que nascera em Paderne (Algarve) no dia 5 de Outubro de 1874. Iniciara os seus primeiros estudos nos colégios franciscanos de S. Bernardino e de Montariol, entrando em 1898 para o Seminário de Faro, onde alcançou os primeiros prémios em todas as disciplinas do curso.
 
Pelas nove horas do dia 1 de Dezembro, com o templo repleto de fiéis, o Rev. Pe. José da Costa Pio, coadjutor da paróquia, acolitado pelos padres Lemos e Vitor, e tendo como mestre-de-cerimónias o Dr. Honorato Monteiro, celebrou uma missa cantada a grande instrumental.
 
Estavam presentes, além de todas as irmandades da paróquia, o Sr. Dr. Manuel Anaquim, vigário geral do Patriarcado de Lisboa, que representava o Sr. Cardeal Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira, o Mons. Dr. Pereira dos Reis, reitor do Seminário dos Olivais acompanhado do jovem seminarista José Correia da Cunha, a deputada Dr.ª Maria Guardiola e muitos vultos com evidência no Cabido.
 
 
 
Ao evangelho o Rev. Dr. Raul Machado proferiu um brilhante discurso, recordando a vida do antigo secretário do Cardeal Patriarca de Lisboa D. António Mendes Melo - o cónego Dr. Martins Ponte, destacando as imensas qualidades e actividades assim como a criação de muitas obras pias, deste ilustre pároco.
 
 

O Padre Martins Pontes ordenou-se em 1901.Nesse mesmo ano partiu para Roma, a frequentar a Universidade Gregoriana, e ali se doutorou em Teologia com grande relevo. De volta a Portugal, no ano de 1904 foi nomeado cónego da Sé de Faro. Era então bispo do Algarve, o Sr. D. António Mendes Belo. A seguir foi feito professor do Seminário Maior, regendo Teologia Dogmática e Filosófica.
 
Quando D. António Mendes Belo ascendeu ao Patriarcado de Lisboa, o Cónego Martins Pontes acompanhou-o sendo nomeado em Agosto de 1905 Cónego da Sé de Lisboa, e logo a seguir Juiz Desembargador da Relação e Cúria Patriarcal assim como examinador pro-sinodal.
 
De vastíssima cultura latinista de primeira plana, o Cónego exerceu altos cargos no Patriarcado, foi secretário do Concilio Plenário Português, redigindo todas as actas em latim.
  
Colaborou em muitos jornais e revistas, nomeadamente no «Correio Nacional», «Novidades», «Palavra», «Lumen»… tendo sido co-fundador enquanto estudante, na Itália, do jornal «Ecos de Roma».
 
Realizou centenas de conferências, notáveis todas pelo aprumo e conhecimento profundo dos assuntos versados.
 
 
Naquele primeiro de Dezembro do ano de 1937, depois de um TE-DEUM solene, sob a presidência do homenageado, dirigiram-se todos os presentes à sacristia, onde se realizou uma sessão cultural, em sua honra, à qual presidiu o Sr. Dr. Manuel Anaquim, como representante do chefe da Igreja Portuguesa.
 
Foi descerrada uma lápide comemorativa dos vinte e cinco anos de serviço na paróquia de Arroios, acto que foi sublinhado por uma fortíssima salva de palmas de todos os presentes.


 

Seguidamente o então seminarista José Correia da Cunha declamou várias poesias do seu poeta de eleição: António Correia de Oliveira.
 
Esperança Nossa
 
Como se espalha a luz ao vir da aurora,
Ao vir da noite se derrama a treva
E em nódoa alastra pelo mundo fora:
 
Assim as gerações de Adão e Eva
Caminham, pela terra, à vida e à morte,
Qual turbilhão de pó que o vento leva.
 
De nascente a poente, ao sul e ao norte,
Não houve mar, deserto nem montanha,
Bradando-lhes: - “ Parai! Eu sou mais forte”
 
Aos ímpetos, de rôjo, ou em tamanha
Altura de almas…Como a águia e o verme,
Lá vão! Lá vão: e a Dor as acompanha.
 
Alguma tombe, ou se em marasme e enferme
Em pântanos de usada raça e herança,
Outra lhe passa sobre o corpo inerme.
E a Onda Humana eternamente avança,
Aflui, reflui: espuma e lôdo, à tona
Dos estos abismais, - Saudade e Esp’rança;
 
E a Onda Humana se embravece e entona
Na voz das Epopeias, ou desmaia 
E em rouco De-profundis se abandona;
 
E a Onda Humana eternamente ensaia
O novo arranco, entre a Verdade e o Mito,
Da praia certa à imaginária praia.
 
…/…
 
Aquele dia causou muitas recordações ao jovem seminarista do período em que menino ajudava à missa. Deixando-se invadir pela beleza poética da liturgia e dos sermões do homenageado que eram plenos de conteúdo hermenêutico e exegético.
 
O Cónego Martins Pontes tinha um grande afecto pelo jovem seminarista da sua paróquia e aproveitou para lhe agradecer aquele belo momento cultural, com toda a sua simpatia, simplicidade e modéstia.
 


Três anos depois (1940), esta comunidade paroquial de São Jorge de Arroios teria sobejos motivos de alegria: A celebração da missa nova do jovem presbítero Correia da Cunha. É no altar dessa igreja que de joelhos agradece a Deus ter-lhe concedido esta bênção. Felicitar o homem que Ele escolhera para despertar no coração do pequeno Zezito a merecedora missão de oferecer dignamente sobre o altar o Santo Sacrifício da Missa.

 

São fotos desse dia que servem para ilustrar este presente texto.

 

Estudar e pregar Jesus Cristo como toda a crescente paixão, foi a grande missão em que o Padre Correia da Cunha se empenhou no serviço de entrega incondicional a Deus, à Igreja e aos irmãos.

 

Como sempre o ouvi referir: “ Um padre não vive para si, mas para a comunidade. Nada há de individualista na vida pastoral do padre a não ser a procura de corresponder ao tempo em que vive…”                                                                          

 

 

Passados 4 anos, no dia 26 de Setembro de 1944, o Padre Correia da Cunha concelebrava numa missa de “Requiem” na Igreja de São Jorge de Arroios.

Era o dia do funeral do seu bom amigo prior: Cónego Martins Pontes.

As cerimónias constituíram uma imponente manifestação de pesar. Integraram-se no cortejo fúnebre para o cemitério do Alto de São João, o Sr. General Amílcar Mota, Conselheiros Abel de Andrade e João Azevedo Coutinho; Doutores Pinto de Carvalho, Raul Antero, Castro Caldas, Antunes dos Santos e Pais Ferreira. Condessa de Sintra e Condes de Sabugosa e de São Lourenço.

 

 

Durante 32 anos de grande dedicação à Paróquia de São Jorge de Arroios, ainda hoje é recordado pela obra que realizou naquela comunidade cristã, conseguindo conquistar rapidamente, a consideração e o respeito de todos os seus paroquianos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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