A VIGÍLIA É O TEMPO DE ESPERA PARA ABRIRMOS O CORAÇÃO A CRISTO RESSUSCITADO...
Aleluia! Aleluia! Aleluia!
A
Vigília de Páscoa era para o Padre Correia da Cunha a mais importante
celebração do calendário cristão.
Esta vigília realizava-se em plena escuridão da noite de Sábado Santo (o Padre Correia da Cunha requeria aos Serviços Eléctricos da CML que a iluminação pública e do monumento fosse suprimida durante nessa noite) para um maior resplendor da enorme fogueira que se efectuava nas amplas escadarias do templo.
Esta vigília realizava-se em plena escuridão da noite de Sábado Santo (o Padre Correia da Cunha requeria aos Serviços Eléctricos da CML que a iluminação pública e do monumento fosse suprimida durante nessa noite) para um maior resplendor da enorme fogueira que se efectuava nas amplas escadarias do templo.
Os
paroquianos e pessoas de toda a Lisboa, em grande número, ali presentes,
aguardavam a chegada do Padre Correia da Cunha revestido da sua rica capa de
asperges, acompanhado dos seus muitos acólitos. Ao surgir o cortejo
processional no portal do Mosteiro Vicentino, era ateada a enorme fogueira e
assim se davam início às solenes celebrações festivas da Ressurreição de
Cristo. O fogo, como referia o Padre Correia da Cunha, purifica e limpa o
impuro.
Iniciava-se
esta longa liturgia com a solene bênção do lume novo. Este novo fogo
simbolizava o esplendor do Cristo ressuscitado, dissipando as trevas. Com ele
se acendia o círio pascal, símbolo de Cristo, Luz do Mundo.
O
círio pascal era abençoado com um longo rito muito antigo.
O
Padre Correia da Cunha traçava com um pequeno espadim, que guardava da sua
passagem na Marinha Portuguesa, uma cruz no círio pascal. Em cada ponta da cruz
e no meio, colocava grãos de incenso, representando as cinco chagas de Cristo.
Acima da cruz escrevia a primeira letra (alfa) e abaixo a última letra do
alfabeto grego (ómega). Finalmente, era colocado um pequeno autocolante
assinalando o ano litúrgico.
Havia
um rito executado pelo Padre Correia da Cunha, da sua autoria, que era a
entrega pública do anterior círio, que durante todo o ano havia iluminado a
comunidade cristã de São Vicente de Fora, a uma família seleccionada por ele da
paróquia. Este deveria continuar a iluminar essa família. Haverá assim na
paróquia de São Vicente de Fora muitos lares aos quais foram confiadas as missões
de zelarem pela presença da Luz de Cristo. Ainda hoje, guardo religiosamente em
minha casa, em lugar de referência, um círio pascal dessa época.
O
novo círio, carregado pelo Padre Correia da Cunha, era conduzido até ao
altar-mor, através da imensa nave da igreja em completa escuridão, parando três
vezes e cantando a aclamação: “ Lumen Christi” ou qual todos
respondíamos “Deo Gratias”. Este cortejo da nova luz, simbolizava que Cristo
ilumina os caminhos dos homens e que o seu calor purifica o coração acendendo
nele a Fé e o Amor.
Com a chegada ao altar-mor, o círio era colocado num harmonioso tocheiro, em lugar de destaque dignamente preparado e decorado de ricos arranjos florais. O círio pascal ali ficava em evidência até ao Pentecostes, dia em que se celebrava a vinda do Espírito Santo à Igreja.
Todos empunhando a vela que previamente se havia acendido no círio pascal, assistíamos ao incensar do mesmo pelo Padre Correia da Cunha, enquanto entoava o belo canto “Exulted” de tradição secular, no qual se exultava a vitória de Jesus Cristo sobre a morte.
Após
se ter procedido ao apagar das velas, todos os participantes aguardavam em
profundo silêncio a Liturgia da Palavra que era composta de sete leituras do
Antigo Testamento e salmos.
Depois
de concluídas estas leituras, de rompante era proclamado solenemente o “Glória
in Excesis”. Os sinos e as campainhas eram tocados no interior do
templo, enquanto um grupo de jovens dobravam os sinos do majestoso templo, nas
torres da igreja que se faziam ouvir por toda freguesia.
A
vigília de Sábado Santo era aguardada por todos como o alcançar do clímax, pois
caminhando na escuridão o grande desejo de cada um era celebrar a Ressurreição
como prémio de um novo tempo de vitória.
O celebrante
retirava a sua capa de asperges e paramentava-se com o mais belo e rico
paramento, enquanto o coro entoava cânticos de júbilo cristão, acompanhado do
magnífico órgão barroco. O Padre Correia da Cunha já devidamente paramentado
sobre o pedestal gritava: Aleluia!
Aleluia! Aleluia! Cristo Ressuscitou!!!
Após
as leituras e a homilia, a água da pia baptismal era solenemente abençoada,
havendo o mergulho do círio pascal na mesma. Os candidatos ao baptismo eram
chamados para receberem o sacramento de iniciação cristã. Após esse ritual e
feita a renovação das promessas do baptismo por todos os presentes, era
aspergida a água benta por todos os fiéis que se encontravam no templo.
Seguia-se
a oração universal, pedindo pelos recém-baptizados, familiares e toda a
comunidade e finalmente entrava-se na Liturgia Eucarística. Esta era a primeira
missa do dia de Páscoa, que terminava quase com o romper do dia.
Estudioso
e profundo conhecedor da Liturgia Pascal, o Padre Correia da Cunha esteve
ligado à tradução de muitos livros cerimoniais, dando-nos através deles a
conhecer a história e as tradições ligadas às celebrações da Semana Santa.
Lembro-me
de ouvir-lhe muitas vezes afirmar que as cerimónias deveriam ser simples mas significativas.
As Semanas Santas celebradas na Igreja de São Vicente de Fora ainda hoje
perduram, na lembrança de muitos que viveram com ele esses momentos
inesquecíveis. A sua sabedoria Litúrgica e a sua fascinante personalidade
reuniam nestas celebrações centenas de pessoas de toda a cidade. Estou seguro
que estas celebrações estarão gravadas para sempre na memória dos que as
viveram, bem como este homem e sacerdote, de invulgar estatura e sensibilidade.
O
Padre Correia da Cunha deixou-nos uma admirável herança e temos todos obrigação,
para com a sua grata memória, de estarmos à altura de a compreender e
respeitar.
.
Obrigado, caro João!! sabes quanto me lembro daqueles momentos sagrados!!! dos Aleluias extáticos do P.Cunha, literalmente "levantado" pela alegria ,do fogo, das maõs unidas, da igreja iluminada, e do órgão que cantava a glória da Resurreção!! Uma Santa e boa Pascoa para ti e a tua familia!! Aleluia!!
ResponderEliminarRobert