sexta-feira, 19 de junho de 2009

PADRE CORREIA DA CUNHA - TESTEMUNHO II

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‘’Obrigado Senhor, por através de Padre Cunha me teres ensinado a seguir o seu exemplo…’’



Desde menino, quando apenas conhecia os anjos, já escutava, na telefonia, a bela voz da Amália. A minha mãe lavava a roupa no tanque, num saguão de uma casa na freguesia de São Vicente de Fora, e cantava desconhecidas cantigas da Beira Serra.

Fui crescendo e um dia, no início dos anos 60 do século passado, descobri por acaso os caminhos que me conduziram, durante muitos anos, à Igreja de São Vicente de Fora.

Tinha então onze anos! Meus pais, com raízes Cristãs, não frequentavam a igreja nem obrigavam os filhos a irem à missa.

A luta pela vida era tremenda! Levantavam-se pelas 4 horas da manhã, apanhavam o eléctrico que os levava à Praça da Ribeira onde se abasteciam de legumes com que governavam a vida no mercado de Santa Clara. Era um tempo em que aqueles mercados pululavam de gente; em que os espaços reservados aos pequenos comerciantes (lugares e pedras) eram disputados e bem pagos nos leilões do Município de Lisboa.

- Antes carregar duas sacas de batatas cruzadas à cabeça que andar com um molho de mato e a passar fome! – Dizia minha mãe.

Recordo que trabalhavam duramente toda a semana e o único dia que lhes restava para descansarem era o Domingo. Talvez aqui esteja a explicação para não ser assíduos frequentadores da igreja.


- Rogério! Estamos os dois para aqui fechados em casa!

Dizia o meu pai, ainda na semana passada, e continuava:

- Se não fosse o Santana Lopes a fechar o mercado de Santa Clara a tua mãe e eu, mesmo com os meus 86 anos, ainda estaríamos vendendo frutas e hortaliças, convivendo e vivendo, no Mercado de Santa Clara.
Têm razão os meus pais. Os mais velhos só servem para votar e aí sim – até os vão buscar aos lares ou ás suas casas!


Quando ao mercado de Santa Clara era, e foi, parte integrante das suas vidas. Fecharam o mercado! Está às moscas! É um espaço morto.

Volto aos meus onze anos.

Frequentava, então, o Liceu Nacional de Gil Vicente quando pela primeira vez entrei nos claustros do Mosteiro de São Vicente de Fora.







Nesse tempo as portas estavam abertas e tirando o Panteão da Dinastia de Bragança que tinha segurança, tudo aparentava um completo abandono e desleixo.

Foi assim que conheci o Mosteiro de S. Vicente de Fora.
Comecei a caminhar para lá – até que um dia, quando frequentava a Escola Comercial, Deus colocou no meu caminho o caminho para a Igreja Católica. Por coincidência, ou não, era o dia em que o Padre Correia da Cunha tomava posse como Pároco de São Vicente de Fora (1).

A história conta-se assim:

Andava eu pelos claustros do Mosteiro quando, em cima da hora das cerimónias de posse do novo pároco, faltou à chamada um menino do coro! Mas… o Padre Cunha fazia questão em ter doze rapazes! Doze eram os Apóstolos e ele só tinha 11.

Tudo tinha sido verdadeiramente programado, ensaiado ao mais pequeno detalhe: os mais pequenos à frente! Tudo em carreirinha, em duas filas! Túnicas novas, feitas por medida!


Sobrava uma! Era grande – como ela tivesse sido feita de propósito para mim!

Já não recordo o nome do meu antigo Professor de Religião e Moral (2) do Liceu que ia concelebrar na missa, porém, foi ele que aconselhou o Padre Cunha: O Rogério, seu antigo aluno, podia substituir o 12 menino do coro.

Pois bem! Não é que fui pescado quando por ali andava perdido…
Vestiram-me uma túnica branca.
Cingiram-me com um cordão vermelho.

Em poucos minutos ali estava eu, menino do coro repescado, a caminho do Altar, lado a lado com o meu bom e saudoso António Melo e Faro(3), ocupando um lugar na última de duas filas.

- Faz o que eu faço. Dizia o Melo e Faro. E fiz!
Foi assim que Deus chamou por mim! Foi a minha primeira ida voluntária à missa. Fui o único menino do coro a não comungar nesse dia…

Bem! A história já vai longa e a procissão vai no adro…

Vou terminar por hoje.

A partir desse dia tornei-me um efectivo membro daquela Comunidade!

A partir desse dia comecei a frequentar a catequese. Foi bem cedo Catequista e até dirigente Diocesano da JOC.

A partir desse dia passei a apreciar ainda mais a bela voz da Amália no gravador de fita do bom Padre Cunha!

A partir desse dia comecei a escutar e a gostar de música de órgão tocada no grande e extraordinário órgão de S. Vicente de Fora!

A partir daí, e nos tempos livres, passei a ser cicerone e tomei o gosto pela história, nomeadamente, pela vida e obra dos Monarcas que ali repousam.

A partir desse dia comecei a aperfeiçoar a minha formação moral e tudo graças a um Homem extraordinário – polémico certamente para muitos – OBRIGADO: PADRE JOSE CORREIA DA CUNHA




Texto de : Rogério Martins Simões


1) - 1960 - Tomada de posse da Paróquia de S. Vicente de Fora na festa de Todos os Santos (1 de Novembro) ‘’ Fazei Senhor, que o nosso pároco saiba dar-nos sempre, o PÃO da Palavra e o PÃO da Vida! ‘’Pe. J.Correia da Cunha

2) Padre José Feliciano Rocha Alcobia - Pároco na Vigararia XI do Patriarcado de Lisboa.



3) António Maria Nunes Melo e Faro (1949-2004) homenagem em memoriam em 9 de Junho, neste blogue.




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2 comentários:

  1. Viva! Obrigada pelo comentário referente ao belíssimo poema «O MAR ESTÁ CALMO» de Rogério Martins Simões!!! Saudações náuticas!!

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  2. Eu ! Rosa do blog, croche rosa fimo na qual copiei um poema sem ter algo conhecimento e não fazendo por mal, peço as máximas desculpas vou já o retirar do blog, como sou nova com o blog não sabendo copiei por gostar muito de poemas, uma vez mais peço as máximas desculpas por o ter feito, vou já o retirar, obrigada Rosa

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