domingo, 14 de junho de 2009

SANTO ANTÓNIO EM SÃO VICENTE DE FORA

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‘’O Santo do Mundo inteiro… iniciou-se em S. Vicente de Fora. ‘’



D. Afonso Henriques, como já referido no texto de Padre Correia da Cunha “O primeiro voto do primeiro Rei de Portugal”, mandou construir dois templos após a conquista de Lisboa aos Mouros.

A igreja de Santa Maria dos Mártires, onde Padre Correia da Cunha foi pároco nos anos quarenta, e local onde foram sepultados os cruzados ingleses e normandos. A igreja de São Vicente de Fora, onde Padre Correia da Cunha foi pároco de 1960 até 1977, no local que servira de sepultamento aos cruzados germânicos e flamengos.
Os sacerdotes que tinham vindo com os cruzados ficaram na cidade conquistada, exercendo posteriormente o seu ministério pastoral nestas igrejas.

D. Afonso Henriques, dado reconhecer a enorme importância que os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho tinham na renovação da igreja ocidental à época, intercedeu junto de D. Teotónio, prior de Santa Cruz de Coimbra para que este enviasse cónegos crúzios para S. Vicente de Fora, confiando-lhes este mosteiro.

Na verdade, os cónegos, que estavam desde o séc. VIII, comandados por normas próprias, sofrem uma profunda renovação nos finais do séc. XI, derivada da Reforma Gregoriana. O papa Gregório VII, ao contrário do que era o desejo dos monges, aponta-lhes não a retirada do mundo mas sim a sua conquista, procurando com isto incentivar todos aqueles que uma espiritualidade muito mais intensa e participativa contribuiriam para a renovação da Igreja, como aliás se viria a concretizar no Concílio Ecuménico de Latrão realizado entre 1123 e 1130.

Os cónegos regrantes de Santo Agostinho seguiam a regra escrita de Santo Agostinho, que os orientava de forma a viverem a vida espiritual num activo relacionamento com o mundo político, económico e cultural: uma nova aptidão de interferência de comunicação e até de assimilação. Iniciaram a sua presença em Coimbra, em comunhão estreita com o nosso primeiro Rei, operando logo no plano económico, agrícola e comercial. Coimbra tinha uma presença moçárabe e, por outro lado, ficava na rota dos fluxos de conquista e de migração que, deslocavam mouros e cristãos a necessitar de ajuda, onde era sentida a presença efectiva dos cónegos.







O objectivo dos Cónegos Regrantes era assegurar o bem comum, que como se depreenderá na Idade Média, se centrava no bom ordenamento das coisas espirituais. O serviço divino e a oração litúrgica eram considerados fundamentais à Comunidade. Em face disto havia necessidade de ser feita a aprendizagem e o ensino da Sagrada Escritura, tendo-se criado várias escolas canonicais, onde era ministrada a leitura e a escrita da Bíblia e dos ensinamentos da Igreja. Muitos cónegos iam frequentar outros mosteiros no país e até no estrangeiro, onde melhoravam a sua formação.

Hoje, através dos arquivos herdados das Ordens Religiosas, sabemos muito sobre o que se estudava nos mosteiros dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, nomeadamente em São Vicente de Fora e Santa Cruz de Coimbra. Ainda hoje se conservam obras da cultura monástica de São Gregório Magno, Santo Isidoro de Sevilha, Hugo de S. Vítor…

Quero hoje aqui referir a riqueza cultural auferida por Santo António nesta escola, que frequentou no Mosteiro de São Vicente de Fora no séc. XIII. Ali recebeu uma sólida cultura eclesiástica e humanística, que fica bem expressa nos seus Sermões Dominicais e Festivos. Lembro como em Santo António há um fenómeno curioso. Não é frade austero, não é teólogo assombroso: é um Santo alegre, folgazão e até brejeiro, daí certamente o grande afecto que o povo amorosamente lhe dedica.



No séc. XX, em São Vicente de Fora, um homem com uma fascinante inteligência e invulgar cultura foi um excepcional mestre que marcou a vida de milhares de jovens, ao longo de dezassete anos passados como prior da Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora. O mestre Padre Correia da Cunha, cuja competência, sentido humanista e espírito aberto atraiu o interesse a admiração de todos os jovens da Paróquia. Ainda hoje temos a grata recordação desse património, pela qualidade dos ensinamentos e do seu singelo estilo brejeiro de o transmitir. À semelhança de Santo António também tivemos o privilégio de ali recebermos uma sólida formação.
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