segunda-feira, 1 de junho de 2009

PE. CORREIA DA CUNHA – OLHOS NOS OLHOS

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'Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se'.
(Gabriel García Marquez).





Velhos e bons tempos os das nossas infâncias e adolescências.

A felicidade com que víamos as nossas vidas era muito importante, para os nossos futuros sonhos de homens maduros e responsáveis na construção de uma sociedade de valores humanos e cristãos.

Na Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora havia amizade e cumplicidade entre nós, amigos, nos bons e maus momentos.

Brincávamos uns com os outros como nunca, aproveitávamos todas as oportunidades para estarmos juntos e confesso que até fazíamos algumas travessuras, que eram alvo de fortes reprimendas de Pe. Correia da Cunha, mas no fim corria tudo bem. Fomos educados pelo Padre Correia da Cunha a nunca denunciar o infractor. O importante era corrigir os erros e não crucificar o seu autor.

Lembro-me das tardes soalheiras de verão, soprando uma pequena brisa quente no Largo de São Vicente. Lembro-me da saudosa Tia Alice sentada na sua mesa, vendendo os bilhetes que davam acesso à visita do Mosteiro de São Vicente de Fora, com muita vaidade e grande orgulho pelos seus pequenos que ela ali via crescerem e que brilhantemente exerciam as funções de cicerones aos vários turistas que ali se deslocavam para visitar o Panteão da Dinastia de Bragança…

Lembro-me que a Tia Alice tudo fazia para nos manter unidos e a União fazia a força, conforme nos mostrava aquele belo painel de azulejos das fábulas de La Fontaine, existente no extenso claustro do mosteiro.

Que saudades que tenho daqueles tempos! A aventura estava sempre presente! Arranjávamos mil e uma maneiras de nos divertirmos e sob conselho da Tia Alice devorávamos livros de literatura clássica, história, religião e como não podia deixar de ser, os tão em moda nos anos 50/60, livros aos quadradinhos de cowboys. Com a ternura que sentíamos uns pelos outros aprendíamos a ser confiantes, e hoje sentimos um grande amor uma grande segurança para seguirmos esta vida com esses testemunhos no dia-a-dia. Que belos tempos ali passámos…e com as gorjetas dos turistas éramos economicamente ‘’independentes’’.






A Tia Alice, nos seus setenta anos vividos e passados ali, tinha uma vida de alegrias proporcionada pelos prezados e admirados jovens que a rodeavam. Triste desde da morte rude e prematura do seu querido filho adoptivo, Hermani (NA), a Tia Alice ficou só, carregando consigo o enorme desgosto de uma morte inesperada que lhe tirara o chão debaixo dos pés e que a consumia constantemente.

Restava-lhe a companhia dos imensos e adoráveis jovens que a rodeavam e a quem Tia Alice continuava a transmitir os seus valores de amor a Deus e ao próximo.

À semelhança de Padre Correia da Cunha, Tia Alice dizia que todos precisávamos de uma abraço bem apertado, para nos sentirmos gente, seres humanos, que têm coração que pulsa, que bate. Todos precisamos de ter bons amigos para convivermos e crescermos de uma forma sã e integral.

Tia Alice a todos acarinhava e isso ajudava-nos a sentirmos empenhados como construtores da amizade e fraternidade. O resultado era espectacular: Tanta jubilosa harmonia! Tanta verdadeira Paz!













Pe Correia da Cunha e a Tia Alice deixaram em todos nós uma herança perene, que ainda hoje perdura nos nossos corações muito agradecidos. Esta educação de valores fez de nós cidadãos activos e edificadores de uma sociedade fraterna.






Não éramos ricos, éramos remediados mas tínhamos orgulho de ter como Mestres esta boa gente que nos comunicava as grandes virtudes e os princípios da solidariedade, olhos nos olhos, por isso acrescentaria esta expressão de Gabriel Garcia Marques: um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se'.

É minha intenção prestar uma homenagem in memoriam a Maria Alice Fonseca Roque Alves (Tia Alice), querendo perpetuar o cimento da monumental obra de gratidão de todos os jovens de São Vicente de Fora de meados do século passado. Ainda hoje recordamos os seus sábios ensinamentos.






Todos devemos respeito à memória desta saudosa e querida amiga, de muitas gerações, que tanto carinho e amizade nos dispensou. Necessitava de informação sobre os seus dados biográficos e uma foto. Creio que haja quem possa ajudar a concretizar este meu propósito. Fico aguardar.



Grandes amigos dos velhos tempos este video é para ser admirado pelos saudosistas.
É dedicado aos bons tempos de uma juventude que não acaba e que será eternamente lembrada, recordada e celebrada.

João Paulo Dias



1 comentário:

  1. Anónimo8.8.11

    Também lembro esses tempos, da " tia" Alice e desse grupo imenso de jovens que aguardava ansiosamente a chegada de turistas para poder por em prática os dotes linguisticos que se tinha aprendido no Liceu. Também mais uma boa escola em S. Vicente de Fora.
    Arq. José Luis Coelho

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