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‘’VENI, VINCENTTI ACEPI CORONAM QUAM TIBI DOMINUS ‘’
Padre José Correia da Cunha, pároco na Paróquia de São Vicente de Fora, em Lisboa, entre 1960 e 1977, foi além de um brilhante padre diocesano, um pedagogo, um mestre e um enorme amigo que marcou sucessivas gerações de jovens na Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora.
Todos lamentamos imenso que não tenha deixado obra escrita sobre os seus infindáveis conhecimentos em áreas como: filosofia da cultura, liturgia, história das religiões, cultura clássica, arte e teologia da espiritualidade do mistério da Incarnação, havendo uma tradução sua da autoria do grande teólogo francês Paul Bourgy.
A transcrição desta quarta parte da sua conferência, sobre o Santo Padroeiro de Lisboa, realizada em 1954 na sede dos Amigos de Lisboa, reflecte a vastidão e densidade de conhecimento sobre a vida do grande jovem mártir de Saragoça, que velava pela sua paróquia e que era modelo de virtudes para todos os jovens da Paróquia de São Vicente de Fora.
A transcrição desta quarta parte da sua conferência, sobre o Santo Padroeiro de Lisboa, realizada em 1954 na sede dos Amigos de Lisboa, reflecte a vastidão e densidade de conhecimento sobre a vida do grande jovem mártir de Saragoça, que velava pela sua paróquia e que era modelo de virtudes para todos os jovens da Paróquia de São Vicente de Fora.
COMEMORAÇÃO VICENTINA DOS ’AMIGOS DE LISBOA’’
Conferência, na sede, pelo PADRE CORREIA DA CUNHA, no dia do Padroeiro da Cidade em 1954
IV PARTE
Pois para quem não tiver bem presentes os traços principais da vida de S. Vicente, aí vai:
‘’ VINCENTIUS OSCAE IN HISPÁNIA CITERIORE NATUS A PRIMA AETATE STUDIIS DEDITUS SACRAS LITERAS A VALERIO CAESARAUGUSTANO EPISCOPO DIDICIT… ET RELIQUA’’
Assim começa a lição do Segundo Nocturno do Oficio do Santo.
Que esta lição não mente, é coisa assegurada pelos eruditos trabalhos dos Padres Bolandistas; dos historiadores, como Florez, na Espana Sagrada: por documentos coevos, como as Acta Martyrum; pela rápida expansão do culto do Santo; e ainda pela consagração litúrgica, logo a partir do Sec. IV.
Ei-la, em resumo, a vida do grande Mártir:
Aragonês era, e em Saragoça foi ungido com óleo da fé e da virtude (diz Menendez y Pelayo, na sua História de los Hetorodoxos).
Seus pais, Eutrício e Enola, cedo o consagraram a Deus, deixando que ele abraçasse a vida eclesiástica. Fez seus estudos guiado por Valério, Bispo daquela cidade. Recebeu as ordens de Diácono, e, como tal, ministro do Evangelho, foi encarregado do múnus da pregação, tanto mais que o Bispo sofria de grave defeito físico na fala.
Qual fosse o zelo do Jovem Levita e a eloquência da sua palavra, fácil será de supor a julgar pelos requintes de crueldade de que Daciano, ao tempo Prefeito das Espanhas, usou para com o invicto defensor da Fé.
Pagão da força de Diocleciano, sob cujas ordens servia, jurou este Prefeito afogar em sangue a cristandade hispânica. Para tanto, ordenou e moveu a mais cruel perseguição de que há memória.
Como até ele chegasse a notícia das conversões operadas pelo apostólico Diácono, manda-o prender juntamente com o velho Bispo Valério. Carregados de grilhões, são metidos nas imundas masmorras de Valência. E, certo dia, em que Daciano interpela o Santo Bispo e Diácono, de sangue na guelra, não resiste e dirige ao seu Prelado estas palavras: ‘’ Não fales submisso a esse tirano! Fala-lhe com alma, e pede a Deus que esmague a sua soberba! ‘‘
Perante uma atitude destas, Daciano inflige ao grande Levita toda a espécie de torturas. Foi apedrejado, lançado numa grelha de ferro em brasa; dilaceraram-lhe o corpo com raspas e lâminas candentes, atiraram-no para a prisão repleta de objectos cortantes e perfurantes.
A tudo resiste o invicto Vencedor, que tanto quer dizer Vicente. E como prémio de tanta heroicidade, Deus o coroa de uma auréola de luz sobrenatural.
Sabedor disto, o tirano raivoso muda de táctica e vai tentar o herói com falinhas mansas, acenando-lhe com delicias e mimos. Mas a constância do mártir é inalterável. Nada o demove da Fé de CRISTO por quem, finalmente, dá a vida aos onze dias das calendas de Fevereiro (ou seja a 22 de Janeiro) do ano da Graça de 304.
Seu corpo ficou algum tempo insepulto, tal era o ódio que não foi possível praticar-se obra tão humana. Mas uns corvos o guardaram e defenderam dos cães, dos lobos e de aves de rapina. Furioso, o tirano manda lançá-lo ao mar, mas as ondas trazem-no á praia, sempre guardado pelos corvos.
Finalmente, a ocultas, alma cristã lhe dá sepultura.
Pouco depois, oito anos precisamente, Constantino publica o célebre Edito de Milão, em que reconhece à Igreja de Cristo foros de cidade. A Cristandade respira livremente. Organiza o seu culto e não esquece os seus Mártires. S.Vicente é dos primeiros a receber as honras litúrgicas, após as perseguições. E facilmente se divulga e espalha a devoção a tão heróico Santo.
Mais tarde, a Península dos Visigodos, baptizada e civilizada pela acção da Igreja, cai nas mãos dos Sarracenos. Esmorece e quase morre a vida da Cristandade hispânica. No entanto, apesar de tudo, o fogo da vida cristã não se apaga por completo, e as tradições são guardadas religiosamente.
Segundo uma destas tradições (de que aliás restam vários documentos, tanto cristãos como árabes. Veja-se Lisboa Antiga de J. Castilho), quando ABD-ER-RAHAM, respirando ódio feroz, arrasa Valência a ferro e fogo, nos anos de 755 e 788, o corpo do glorioso Mártir, sempre acompanhado dos corvos, é trazido devotamente por uns fugitivos para a Ponta de Sagres ou Promontório Sacro. Por isso, é hoje chamado Cabo de S. Vicente e Cabo dos Corvos.
Texto de Padre José Correia da Cunha
Continua…
‘’ VINCENTIUS OSCAE IN HISPÁNIA CITERIORE NATUS A PRIMA AETATE STUDIIS DEDITUS SACRAS LITERAS A VALERIO CAESARAUGUSTANO EPISCOPO DIDICIT… ET RELIQUA’’
Assim começa a lição do Segundo Nocturno do Oficio do Santo.
Que esta lição não mente, é coisa assegurada pelos eruditos trabalhos dos Padres Bolandistas; dos historiadores, como Florez, na Espana Sagrada: por documentos coevos, como as Acta Martyrum; pela rápida expansão do culto do Santo; e ainda pela consagração litúrgica, logo a partir do Sec. IV.
Ei-la, em resumo, a vida do grande Mártir:
Aragonês era, e em Saragoça foi ungido com óleo da fé e da virtude (diz Menendez y Pelayo, na sua História de los Hetorodoxos).
Seus pais, Eutrício e Enola, cedo o consagraram a Deus, deixando que ele abraçasse a vida eclesiástica. Fez seus estudos guiado por Valério, Bispo daquela cidade. Recebeu as ordens de Diácono, e, como tal, ministro do Evangelho, foi encarregado do múnus da pregação, tanto mais que o Bispo sofria de grave defeito físico na fala.
Qual fosse o zelo do Jovem Levita e a eloquência da sua palavra, fácil será de supor a julgar pelos requintes de crueldade de que Daciano, ao tempo Prefeito das Espanhas, usou para com o invicto defensor da Fé.
Pagão da força de Diocleciano, sob cujas ordens servia, jurou este Prefeito afogar em sangue a cristandade hispânica. Para tanto, ordenou e moveu a mais cruel perseguição de que há memória.
Como até ele chegasse a notícia das conversões operadas pelo apostólico Diácono, manda-o prender juntamente com o velho Bispo Valério. Carregados de grilhões, são metidos nas imundas masmorras de Valência. E, certo dia, em que Daciano interpela o Santo Bispo e Diácono, de sangue na guelra, não resiste e dirige ao seu Prelado estas palavras: ‘’ Não fales submisso a esse tirano! Fala-lhe com alma, e pede a Deus que esmague a sua soberba! ‘‘
Perante uma atitude destas, Daciano inflige ao grande Levita toda a espécie de torturas. Foi apedrejado, lançado numa grelha de ferro em brasa; dilaceraram-lhe o corpo com raspas e lâminas candentes, atiraram-no para a prisão repleta de objectos cortantes e perfurantes.
A tudo resiste o invicto Vencedor, que tanto quer dizer Vicente. E como prémio de tanta heroicidade, Deus o coroa de uma auréola de luz sobrenatural.
Sabedor disto, o tirano raivoso muda de táctica e vai tentar o herói com falinhas mansas, acenando-lhe com delicias e mimos. Mas a constância do mártir é inalterável. Nada o demove da Fé de CRISTO por quem, finalmente, dá a vida aos onze dias das calendas de Fevereiro (ou seja a 22 de Janeiro) do ano da Graça de 304.
Seu corpo ficou algum tempo insepulto, tal era o ódio que não foi possível praticar-se obra tão humana. Mas uns corvos o guardaram e defenderam dos cães, dos lobos e de aves de rapina. Furioso, o tirano manda lançá-lo ao mar, mas as ondas trazem-no á praia, sempre guardado pelos corvos.
Finalmente, a ocultas, alma cristã lhe dá sepultura.
Pouco depois, oito anos precisamente, Constantino publica o célebre Edito de Milão, em que reconhece à Igreja de Cristo foros de cidade. A Cristandade respira livremente. Organiza o seu culto e não esquece os seus Mártires. S.Vicente é dos primeiros a receber as honras litúrgicas, após as perseguições. E facilmente se divulga e espalha a devoção a tão heróico Santo.
Mais tarde, a Península dos Visigodos, baptizada e civilizada pela acção da Igreja, cai nas mãos dos Sarracenos. Esmorece e quase morre a vida da Cristandade hispânica. No entanto, apesar de tudo, o fogo da vida cristã não se apaga por completo, e as tradições são guardadas religiosamente.
Segundo uma destas tradições (de que aliás restam vários documentos, tanto cristãos como árabes. Veja-se Lisboa Antiga de J. Castilho), quando ABD-ER-RAHAM, respirando ódio feroz, arrasa Valência a ferro e fogo, nos anos de 755 e 788, o corpo do glorioso Mártir, sempre acompanhado dos corvos, é trazido devotamente por uns fugitivos para a Ponta de Sagres ou Promontório Sacro. Por isso, é hoje chamado Cabo de S. Vicente e Cabo dos Corvos.
Texto de Padre José Correia da Cunha
Continua…
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