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SÃO VICENTE E AS TRADIÇÕES LISBOETAS
Todos reconhecíamos que ele era um verdadeiro e indiscutível mestre, no melhor sentido da palavra, um grande formador de homens. Mas durante toda a sua vida manifestava estar convencido do seu próprio nada, do seu próprio demérito; interrogando-se como era possível a grandeza da graça divina o ter enchido com tanta riqueza e ter elegido o seu coração pecaminoso para nos ajudar a preparar a felicidade, respeitando em cada um de nós a Liberdade de filhos de Deus.
A Liberdade para Pe. Correia da Cunha era um património que se trazia com a entrada neste mundo. O Estado podia fazer a injustiça de impedir o uso desse direito sagrado mas não o podia retirar.
Transcrever hoje a terceira parte da Conferência sobre o seu Santo de eleição, SÃO VICENTE, é permitir que muitos possam ampliar os seus conhecimentos com aquilo que hoje herdámos dos seus escritos e conferências. Todos temos muita pena de não haver espólio escrito sobre as suas magníficas, polémicas e inflamadas homílias que originavam acaloradas discussões por longas horas, retirando Pe Correia da Cunha sempre a suprema conclusão: ‘’os nossos conhecimentos eram imperfeitos e que o homem errava; engano porém seria depreciar por causa disto todos os nossos conhecimentos…’’
Transcrever hoje a terceira parte da Conferência sobre o seu Santo de eleição, SÃO VICENTE, é permitir que muitos possam ampliar os seus conhecimentos com aquilo que hoje herdámos dos seus escritos e conferências. Todos temos muita pena de não haver espólio escrito sobre as suas magníficas, polémicas e inflamadas homílias que originavam acaloradas discussões por longas horas, retirando Pe Correia da Cunha sempre a suprema conclusão: ‘’os nossos conhecimentos eram imperfeitos e que o homem errava; engano porém seria depreciar por causa disto todos os nossos conhecimentos…’’
COMEMORAÇÃO VICENTINA DOS ’AMIGOS DE LISBOA’’
Conferência, na sede, pelo PADRE CORREIA DA CUNHA, no dia do Padroeiro da Cidade em 1954
III PARTE
Conferência, na sede, pelo PADRE CORREIA DA CUNHA, no dia do Padroeiro da Cidade em 1954
III PARTE
A Lisboa nada falta, nem sequer aquela aura misteriosa de ter sido princesa mourisca, conquistada à Fé Cristã por valente e pundonoroso cavaleiro.
Quando D. Afonso Henriques a tomou à sua conta esta Menina e Moça (e não foi lá com duas cantigas: que os tiranos, que a dominavam, a não queriam largar por nada, e muito menos à mão de Deus Padre…), mas enfim, quando ele conseguiu tê-la a são e salvo, pensou logo baptizá-la para a fazer cristã, e (claro está) arranjou-lhe padrinhos, pois quem não tem padrinhos morre mouro.
E assim foi.
Depois de tomar posse da cidade, a 25 de Outubro de 1147 (como rezam as Crónicas e o comprova o profundo estudo do Sr. Dr. Augusto de Oliveira) e depois de pôr tudo em ordem, o grande Rei tratou de levar Lisboa à Pia Baptismal.
No dia 1º de Novembro desse mesmo ano, organizou-se luzidia procissão do Castelo até á Mesquita Maior, para transformar esse templo de Mafoma em Igreja de Cristo, et ipso factu, baptizar a Princesinha.
E tanto que Lisboa se tomou (escreve Duarte Nunes de Lião na sua crónica dos Reis de Portugal) El-Rei com todos os cristãos, com solene e devota procissão, foi à Mesquita Maior, que ora é a Sé: e depois de mundificada dos sacrifícios que nela se faziam a Mafamede, os bispos e sacerdotes revestidos entraram nela cantando o cântico TE DEUM LAUDAMUS. E depois de consagrada e dedicada à Virgem Santa Maria Nossa Senhora, se celebraram nela os ofícios divinos e se disse Missa solene, e se nomeou por SÉ CATEDRAL…
António Coelho Gasco, na Primeira Parte das antiguidades da Muy Nobre Cidade de Lisboa, descreve com mais pormenores ainda esta solene procissão. E todos os cronistas e historiadores, que se ocuparam do assunto, concordam com a descrição do cronista citado e a confirmam (1).
(1) – Conf. Nicolau de Oliveira, in Grandezas de Lisboa: Damião de Góis, descripção de Lisboa; D. Rodrigo da Cunha, História Ecclesiástica de Lisboa: Faria e Sousa, Epítome das Histórias Portuguesas; Pe. Jorge Cardoso, Agiológio Lusitano, etc.
E pelo que dizem, se conclui que a Madrinha da cidade foi a Virgem Santa Maria Nossa Senhora. Do Padrinho já nem falam, pois toda a gente o sabia e eles já o haviam dito. É que, segundo o testemunho unânime de todas as crónicas e histórias de Lisboa, Afonso Henriques já contava com S.Vicente, para apadrinhar a Moça. De onde se pode inferir, sem receio de enganos, que foi o Mártir S. Vicente quem levou a Menina á Pia Baptismal, pegou na vela acesa e lhe poisou a dextra sobre os ombros delicados, como quem aceita satisfeito as responsabilidades de encaminhar a neófita pelos novos trilhos da Vida Cristã e de a proteger em todos os combates. Aliás, Ele fora Diácono da Santa Igreja; cumpria-lhe o ofício de Baptizar. Não podia portanto, declinar o convite.
D. Afonso Henriques convidara-o ainda antes de ter a Menina a seu recato.
Dizem os biógrafos da nossa Lisboa, todos os já citados e ainda Osberno, na sua célebre carta, e o anónimo autor do Indicullum Fundationis Monasterii Snti Vincentii, que o nosso primeiro Rei determinara se reservassem dois terrenos nos montes fronteiriços á cidade, um a ocidente para cemitério dos cruzados anglo-saxões que morressem mártires da fé, e outro a oriente para tratamento e sepultura dos teutões e flamengos, que adoecessem ou morressem nas mesmas circunstâncias.
Dizem ainda os mesmos cronistas que o Rei fizera voto de mandar erigir um templo em cada um desses locais. No do poente uma igreja a Nossa Senhora dos Mártires; no levante uma outra igreja e mosteiro a glorioso Mártir S. Vicente. De modo que não há sombra de dúvida acerca desta verdade: - Se Nossa Senhora é a Madrinha, S. Vicente é o Padrinho da cidade de Lisboa.
Da Virgem Mãe de Jesus todos conhecem a vida e a sua acção protectora. Mas do invicto Padrinho desta Menina-Cidade é que …talvez…
Texto de Padre José Correia da Cunha
Continua ...
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