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Há época já se falava que os dignitários do poder político em Portugal deveriam manifestar uma maior atenção para a elevação daquele espaço, onde repousavam tão ilustres servidores da nossa amada Pátria.
Foi então encarregado da execução do projecto de revitalização desse jazigo de família o prestigiado Arqt.º Raul Lino, que haveria de optar por gavetões muito simples de mármore ao longo das paredes laterais, onde apenas seria esculpidas em letra tumular os nomes, as datas de nascimento e falecimento. Esses gavetões acolheram assim as urnas de tão ilustres personagens, que até ali apresentavam um desmazelo total.
Quando nos anos quarenta, o Padre Correia da Cunha chegou ao Mosteiro de São Vicente de Fora, já toda esta renovação estava concluída. O Panteão da Dinastia de Bragança tinha-se tornado num espaço sóbrio onde sobressaíam: um túmulo duplo ao centro e um outro junto ao altar, onde repousam respectivamente D. Carlos I, o príncipe Luís Filipe e o nosso último Rei D. Manuel II, falecido no exílio no ano de 1932.
Só uma coisa convidava o Padre Correia da Cunha a entrar nesse Panteão da Dinastia de Bragança: uma ‘’mulher’’ que se encontra à cabeceira do duplo túmulo, coberta de um manto talhado de uma única peça, numa verticalidade levemente obliqua cujo rosto cobre com as duas mãos.
Ouvia frequentemente dizer que a figura esculpida representava a Rainha D. Amélia, chorando a perda de seu marido e adorável filho. A mesma figura era também entendida por muitos como a Pátria carpindo a morte dos nossos estimáveis e saudosos rei e príncipe, suplicando o acolhimento divino destes grandes heróis…
A escultura é da autoria de Francisco Franco, discípulo de Simões Almeida, um dos mais activos artistas da estatuária pública do Estado. Reconhece-se hoje que a escultura portuguesa viveu um extraordinário período de ouro e expansão no início do século XX. Esse património actualmente muito nos honra.
Para o Padre Correia da Cunha, esta peça de arte representava simplesmente a DOR e interrogava: Como umas mãos podiam exprimir admiravelmente esse sentimento sem terem de recorrer à expressão facial? Era uma magnífica obra de génio.
Esta obra é perturbadora e gera ao visitante um choque. A luz torna a escultura estranha, como se irradiasse uma luz divina. Como referia o Padre Correia da Cunha ao contemplarmos estas mãos, apoiados nos degraus do túmulo de D. Manuel II, sentimos algo impossível de verbalizar … o sentimento da dor pura expressa naquelas mãos vai até ao íntimo da alma de cada um que as observa… quando um objecto tem a capacidade de nos transmitir sensações e sentimentos estaremos certamente na presença de uma grande obra de arte.
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A DOR - Autor Francisco Franco |
‘’O SENTIMENTO DA DOR PURA EXPRESSA NAQUELAS MÃOS...’’
Padre Correia da Cunha
Padre Correia da Cunha
O Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa, desempenhava o papel histórico da última morada dos membros finados da Família Real da Dinastia de Bragança.
O Panteão da Casa Real Brigantina foi mandado erigir no antigo refeitório dos frades regrantes de Santo Agostinho, no ano de 1855, por D. Fernando II de Saxe-Coburg Gota, viúvo da Rainha D. Maria II.
No início do século passado, este espaço apresentava um aspecto de um amontoado de esquifes votados ao abandono e onde era possível ver-se ainda os cadáveres embalsamados de alguns dos nossos últimos reis.
Em 1932, uma comissão de monárquicos, visando celebrar condignamente o 25º aniversário do regicídio, envergou todos os esforços no sentido de se renovar o Panteão Real da nossa última dinastia. Iniciou-se essa restauração com a construção de um magnífico monumento fúnebre para o Rei D. Carlos I e seu filho primogénito príncipe D. Luís Filipe, que seria inaugurado solenemente no dia 8 de Fevereiro do ano de 1933.
O Panteão da Casa Real Brigantina foi mandado erigir no antigo refeitório dos frades regrantes de Santo Agostinho, no ano de 1855, por D. Fernando II de Saxe-Coburg Gota, viúvo da Rainha D. Maria II.
No início do século passado, este espaço apresentava um aspecto de um amontoado de esquifes votados ao abandono e onde era possível ver-se ainda os cadáveres embalsamados de alguns dos nossos últimos reis.
Panteao antes da intervenção do Arq. Raul Lino |
Em 1932, uma comissão de monárquicos, visando celebrar condignamente o 25º aniversário do regicídio, envergou todos os esforços no sentido de se renovar o Panteão Real da nossa última dinastia. Iniciou-se essa restauração com a construção de um magnífico monumento fúnebre para o Rei D. Carlos I e seu filho primogénito príncipe D. Luís Filipe, que seria inaugurado solenemente no dia 8 de Fevereiro do ano de 1933.
Há época já se falava que os dignitários do poder político em Portugal deveriam manifestar uma maior atenção para a elevação daquele espaço, onde repousavam tão ilustres servidores da nossa amada Pátria.
Foi então encarregado da execução do projecto de revitalização desse jazigo de família o prestigiado Arqt.º Raul Lino, que haveria de optar por gavetões muito simples de mármore ao longo das paredes laterais, onde apenas seria esculpidas em letra tumular os nomes, as datas de nascimento e falecimento. Esses gavetões acolheram assim as urnas de tão ilustres personagens, que até ali apresentavam um desmazelo total.
Interior do Panteão da Dinastia de Bragança |
Quando nos anos quarenta, o Padre Correia da Cunha chegou ao Mosteiro de São Vicente de Fora, já toda esta renovação estava concluída. O Panteão da Dinastia de Bragança tinha-se tornado num espaço sóbrio onde sobressaíam: um túmulo duplo ao centro e um outro junto ao altar, onde repousam respectivamente D. Carlos I, o príncipe Luís Filipe e o nosso último Rei D. Manuel II, falecido no exílio no ano de 1932.
Só uma coisa convidava o Padre Correia da Cunha a entrar nesse Panteão da Dinastia de Bragança: uma ‘’mulher’’ que se encontra à cabeceira do duplo túmulo, coberta de um manto talhado de uma única peça, numa verticalidade levemente obliqua cujo rosto cobre com as duas mãos.
Ouvia frequentemente dizer que a figura esculpida representava a Rainha D. Amélia, chorando a perda de seu marido e adorável filho. A mesma figura era também entendida por muitos como a Pátria carpindo a morte dos nossos estimáveis e saudosos rei e príncipe, suplicando o acolhimento divino destes grandes heróis…
A escultura é da autoria de Francisco Franco, discípulo de Simões Almeida, um dos mais activos artistas da estatuária pública do Estado. Reconhece-se hoje que a escultura portuguesa viveu um extraordinário período de ouro e expansão no início do século XX. Esse património actualmente muito nos honra.
Para o Padre Correia da Cunha, esta peça de arte representava simplesmente a DOR e interrogava: Como umas mãos podiam exprimir admiravelmente esse sentimento sem terem de recorrer à expressão facial? Era uma magnífica obra de génio.
Esta obra é perturbadora e gera ao visitante um choque. A luz torna a escultura estranha, como se irradiasse uma luz divina. Como referia o Padre Correia da Cunha ao contemplarmos estas mãos, apoiados nos degraus do túmulo de D. Manuel II, sentimos algo impossível de verbalizar … o sentimento da dor pura expressa naquelas mãos vai até ao íntimo da alma de cada um que as observa… quando um objecto tem a capacidade de nos transmitir sensações e sentimentos estaremos certamente na presença de uma grande obra de arte.
João Paulo Dias junto da escultura de Francisco Franco |
Esta minha foto, de 1972, junto da escultura de Francisco Franco, a DOR, é da autoria de um dos muitos jornalistas brasileiros que efectuaram enormes reportagens sobre a transferência dos restos mortais de D. Pedro IV Rei de Portugal e 1º Imperador do Brasil, do Panteão da Dinastia de Bragança para o Monumento do Ipiranga em São Paulo – Brasil.
A partida dos despojos mortais de D. Pedro IV desfalcou o Panteão Real de São Vicente de Fora, povoado de tantas memórias ligadas à enorme civilização lusíada, que tanto nos orgulhamos. Mas uma coisa é certa, na sua nova morada ele seria único e insubstituível como o verdadeiro fundador da nacionalidade Brasileira.
O Padre Correia da Cunha seguiu integrado na comitiva oficial, a bordo do Paquete Funchal, para as grandes celebrações de entrega fraternal da doação dos restos mortais de D. Pedro IV à Nação Brasileira. Em nome de Portugal, estava presente o Presidente da República Portuguesa – Almirante Américo Deus Rodriguez Thomás e em Nome do Brasil, o Presidente da Republica Federativa Brasileira – General Emílio Garrastazu Médice.
A partida dos despojos mortais de D. Pedro IV desfalcou o Panteão Real de São Vicente de Fora, povoado de tantas memórias ligadas à enorme civilização lusíada, que tanto nos orgulhamos. Mas uma coisa é certa, na sua nova morada ele seria único e insubstituível como o verdadeiro fundador da nacionalidade Brasileira.
O Padre Correia da Cunha seguiu integrado na comitiva oficial, a bordo do Paquete Funchal, para as grandes celebrações de entrega fraternal da doação dos restos mortais de D. Pedro IV à Nação Brasileira. Em nome de Portugal, estava presente o Presidente da República Portuguesa – Almirante Américo Deus Rodriguez Thomás e em Nome do Brasil, o Presidente da Republica Federativa Brasileira – General Emílio Garrastazu Médice.
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Gosto muito do Mosteiro de São Vicente de Fora. O meu pai também por lá andou, quando menino. Além da imensa importância histórica e da beleza do lugar, gosto muito do Panteão dos Braganças, com aquela imagem impressionante de D. Amélia chorando o marido e o filho assassinados. Conheço bem os lugares que assinalou, mas fez muito bem em enumerá-los, assim a divulgação é maior. ROGERIO
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