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Os amigos que partiram…
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Os amigos que partiram…
IN MEMORIAM
1949-1965
45 ANOS DE SAUDADE
HERNÂNI DA ANUNCIAÇÃO SANTOS
1949-1965
45 ANOS DE SAUDADE
HERNÂNI DA ANUNCIAÇÃO SANTOS nasceu no dia 29 de Setembro de 1949 e faleceu no dia 6 de Setembro de 1965. Naquela tarde fatídica, em que o autocarro ‘’ Mensageira de Fátima’’ se dirigia para o portão do Pátio de São Vicente de Fora, Hernâni, ao procurar chamar atenção de dois dos seus companheiros para se recolherem, sofreu um forte impacto na cabeça depois de ir contra o umbral do portal de pedra, tendo morrido instantaneamente por causa do violento choque.
Faz esta semana, 45 anos que desta tragédia enlutou a Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora, mais precisamente no dia 6 de Setembro 1965. Aprouve a Deus levar para Si o Hernâni (NÃ), um grande amigo de Padre Correia da Cunha e irmão, em Nosso Senhor Jesus Cristo, de todos os jovens de São Vicente de Fora.
Num gesto de procurar salvar a vida de dois dos seus amigos, ele perdeu a sua. No entanto não deixou de vencer, uma vez que não há vitória maior do que estar na Glória de Deus. O seu acto heróico fez com que chegasse de forma triunfal aos braços do Pai. Enfim, o Céu ficou mais rico e todos os jovens de São Vicente de Fora e família mais pobres. O que fica, além da imensa dor que aos poucos se foi transformando numa alegre lembrança, foi o seu exemplo de vida, que frutificou no coração de muitos jovens. Foram estes mesmo jovens que mantiveram, em compromisso de fidelidade , o bálsamo que suavizava a dor daquele coração sofrido de Ti Alice, sua mãe adoptiva, e a que o desgosto ia consumindo.
Com a partida do Hernâni para junto do Pai, restava-lhe a companhia dos seus jovens que a rodeavam de muito amor e carinho e que ela acolhia com uma desmedida serenidade. Ti Alice tinha uma vida interior de muita fé, radiante de alegria e contagiante. Maria Alice da Fonseca Roque Alves (Ti Alice) foi uma grande orientadora da vida humana e espiritual de muitos jovens daquela paróquia, influenciando os mesmos a sentirem-se amados e amarem o seu próximo.
Segundo vários testemunhos, Hernâni era um jovem felicíssimo e muito dedicado à sua comunidade paroquial e ao seu pároco o Padre José Correia da Cunha. Este não era de declarar amor por ninguém em particular, mas entendíamos o significado que emanava do seu olhar, pelo que todos reconheciam que nutria um apreço e amizade profunda por este seu discípulo, que era acólito e zelador da dignidade dos actos litúrgicos para além de um excelente cicerone do Mosteiro.
Todos viam no Hernâni um herói pois vivia intensamente a vida cristã, da qual costumava entusiasticamente falar. A morte de Hernâni foi um enorme choque e uma experiência muito dolorosa. Não se compreendia porque Deus havia levado este seu dedicado servo… Como refere Rogério Martins Simões no seu comentário sobre o cicerone Hernâni, “ a sua voz era deslumbrante e cantava lindamente. Que cantar tão belo! Quanta alegria, quando em grupo cantávamos juntos: " A Fonte da minha aldeia”.
Hoje queremos homenageá-lo e agradecer ao Senhor a amizade do Hernâni. Como vale a pena uma vida de entrega intensa na Tua presença.
Todos acabámos por tratar por NÃ, tomando por emprestada a maneira carinhosa e verdadeira que a mãe Alice utilizava.
Para ele não houve morte, esperou o tempo certo para ter juntinho a si a sua amada mãe Alice.
São Vicente de Fora guarda ambos em seu coração! Deixaram em todos muitas e profundas saudades.
Hernâni e Ti Alice estão rogando bênçãos para todos os seus amigos que tão maravilhosos momentos de vivência cristã viveram em suas afáveis companhias.
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TESTEMUNHO DE ROGÉRIO MARTINS SIMÕES
06/09/1965 - 06/09/2010
45 Anos de saudade - do nosso querido NÃ
HERNÂNI DA ANUNCIAÇÃO SANTOS
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Já passaram 45 anos?! Que tragédia! Que trauma o foi para todos nós, jovens da mesma idade, amigos inseparáveis. Eu ía ao seu lado! Nascemos no mesmo ano, eu a 5 de Julho, e o Hernâni a 29 de Setembro de 1949. À data dos acontecimentos tinha já os meus 16 anos de idade e recordo que nos preparávamos para a grande festa dos 16 anos do Nã.
Recordar esta tragédia é lembrar um dos acontecimentos mais traumatizantes da minha vida e da vida daqueles que presenciaram incrédulos o que ali estava a acontecer. Sim, mesmo ao nosso lado.
Regressávamos de mais uma viagem na camioneta do Patronato. Todo o dia fora divertido, porque, nesse tempo, contentavam-nos com pouco - os nossos pais não tinham viatura, e ir numa excursão à Praia das Maçãs; ao Guincho, a Vila Viçosa, ou a outro local programado, era sempre um motivo para nos fazer felizes. Tudo correra com normalidade e lá estávamos nós amontoados ao fundo da camioneta. Muito cantámos, mas o artista era o Hernâni.
Recordo o momento em que a camioneta chegou ao Campo de Santa Clara, local onde se faz a Feira da Ladra.
Lembro-me da viatura começar a entrar por aquele estreito e maldito portão. Recordo-me de ver os putos pendurados no estribo da camioneta, ali mesmo ao nosso lado, na sua parte traseira. Ainda estou a ver o Nã a gesticular para os garotos e a pedir-lhes para que fugissem; para que não ficassem entalados entre a camioneta e o portão que dá acesso à parte inferior do antigo Mosteiro de São Vicente de Fora.
Recordo o momento em que o Hernâni colocou a cabeça de fora, tentando, com o braço afastar os putos. E a camioneta entrava lentamente, uma eternidade, arrastando e esmagando contra o portão de ferro a cabeça do Hernâni. De o ver cair a meu lado o corpo do Hernâni, jorrando sangue. Vejo-me a chorar e a correr para a Igreja a rezar...
Entrei na Igreja em convulsão. Ajoelhei-me e pedi a Cristo e aos Santos para salvarem o Nã - e Eles não me quiseram ouvir...
A partir daí deixámos de escutar o seu belo canto no átrio da Igreja de São Vicente de Fora.
Não mais esqueci aquela tragédia. Talvez por isso, quando nos juntamos, todos cantamos a mesma canção. ASSIM, e enquanto houver memória, haveremos de cantar, recordando-o, a sua canção: '' A FONTE DA MINHA ALDEIA"
A fonte da minha aldeia
Quando soluça baixinho
Parece até que rodeia
A poeira do caminho.
ETERNA SAUDADE, DO TEU ETERNO AMIGO ROGÉRIO MARTINS SIMÕES
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06/09/1965 - 06/09/2010
ResponderEliminar45 anos de saudade – do nosso tão querido NÃ
HERNANI da ANUNCIAÇÃO SANTOS
Já passaram 45 anos?! Que tragédia! Que trauma o foi para todos nós, jovens da mesma idade, amigos inseparáveis.
Eu ia ao seu lado!
Nascemos no mesmo ano, eu a 5 de Julho, e o Hernâni a 29 de Setembro de 1949. À data dos acontecimentos tinha já os meus 16 anos de idade e recordo que nos preparávamos para a grande festa dos 16 anos do Nã.
Recordar esta tragédia é lembrar um dos acontecimentos mais traumatizantes da minha vida e da vida daqueles que presenciaram incrédulos o que ali estava a acontecer. Sim, mesmo ao nosso lado.
Regressávamos de mais uma viagem na camioneta do Patronato. Todo o dia fora divertido, porque, nesse tempo, contentavam-nos com pouco – nossos pais não tinham viatura, e ir numa excursão à praia das Maças; ao Guincho, a Vila Viçosa, ou a outro local programado, era sempre um motivo para nos fazer felizes. Tudo correra com normalidade e lá estávamos nós amontoados ao fundo da camioneta. Muito cantámos, mas o artista era o Hernâni.
Recordo o momento em que a camioneta chegou ao campo de Santa Clara, local onde se faz a feira da ladra.
Lembro-me da viatura começar a entrar por aquele estreito e maldito portão.
Recordo-me de ver os putos pendurados no estribo da camioneta, ali mesmo ao nosso lado, na sua parte traseira.
Ainda estou a ver o Nã a gesticular para os garotos e a pedir-lhes para que fugissem; para que não ficassem entalados entre a camioneta e o portão que dá acesso à parte inferior do antigo Mosteiro de S. Vicente de Fora.
Recordo o momento em que o Hernâni colocou a cabeça de fora, tentando, com o braço a afastar os putos. E a camioneta entrava lentamente, uma eternidade, arrastando e esmagando contra o portão de ferro a cabeça do Hernâni.
De o ver cair a meu lado o corpo do Hernâni, jorrando sangue.
Vejo-me a chorar e a correr para a Igreja a rezar…
Entrei na Igreja em convulsão. Ajoelhei-me e pedi a Cristo e aos santos para salvarem o Nã – e ELES não me quiseram ouvir…
A partir daí deixámos de escutar o seu belo canto no átrio da Igreja de S. Vicente de Fora.
Não mais esqueci aquela tragédia. Talvez por isso, quando nos juntamos, todos cantamos a mesma canção. Assim, e enquanto houver memória, haveremos de cantar, recordando-o, a sua canção: “A FONTE DA MINHA ALDEIA”
“ A fonte da minha aldeia
Quando soluça baixinho
Parece até que rodeia
A poeira do Caminho.”
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Eterna saudade, do teu eterno amigo
Rogério Martins Simões