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“ SOMOS PEQUENOS DA CRUZADA. TEMPO ESPERANÇA DO SENHOR. SOMOS NÓS A
GERAÇÃO FORMADA NA ESCOLA DO NOSSO DEUS DE AMOR.”
Nesta
singela homenagem ao Padre Correia da Cunha, reside uma permanente preocupação,
descrever os caminhos de muitas gerações que viveram umbilicalmente vinculadas
a este pároco, que se entregou de alma e coração à comunidade paroquial de São
Vicente de Fora (1960-1977).
Chamo
a atenção das pessoas do meu tempo para os imensos tesouros de conhecimento,
valores humanos e cristãos que estiveram na génese da nossa cultura e que não
deveremos ter vergonha de os levantar como a nossa grandiosa bandeira. À
semelhança do Padre Correia da Cunha, deveremos continuar a missão de
incentivar as actuais novas gerações a cultivarem o amor a Jesus Cristo e ao
próximo.
Nada
melhor para conhecer a vida de uma comunidade cristã do que falar dos
movimentos e obras a que estivemos enraizados no nosso percurso de vida. Hoje,
quero aqui recordar a Cruzada Eucarística.
A
Cruzada Eucarística das crianças foi instituída na Paróquia de São Vicente de
Fora, nos anos 30, pelo Monsenhor Francisco Esteves (1871-1959) que muito se
esmerava na instrução religiosa das crianças da paróquia. O velhinho prior
tinha uma grande clareza sobre os efeitos salutares desta obra do Apostolado da
Oração: comunhão, reparação (sacrifício) e apostolado.
Contrariamente
aos rumores que se espalharam aos quatro ventos na Paróquia, o Padre Correia da
Cunha prometeu a si próprio honrar e respeitar as pias obras existentes na
Paróquia de São Vicente de Fora e sempre manifestou a sua total disposição para
engrandecer essa salutar herança. Um caso concreto é esta obra juvenil.
A
Cruzada Eucarística a que pertenci nos inícios dos anos sessenta era uma
irmandade destinada a crianças e adolescentes. Esta obra tinha uma
espiritualidade própria e, nas reuniões semanais, todos aprofundávamos os
conhecimentos espirituais e da doutrina cristã.
Os
membros da Cruzada Eucarística participavam activamente uniformizados nas
Eucaristia e procissões, cantando com muito fervor o seu belo hino.
Notabilizados, os rapazes exibiam a sua faixas brancas com a Cruz de Cristo,
que era disposta diagonalmente no tórax, partindo do ombro esquerdo e seguindo
até ao quadril direito. Por sua vez, as raparigas envergavam uma veste branca
curta, aberta dos lados, com a Cruz de Cristo no peito e um pano branco na
cabeça preso com uma fita vermelha.
Recordo
que nas missas dominicais eram intermináveis as filas da comunhão. Os elementos
de cada irmandade paroquial comungavam juntos, cada qual, com os seus
distintivos.
Era
nas tardes de sábado que se juntava no adro da igreja toda a criançada para
brincar. Era depois desse tempo generoso de brincadeira, que o imenso grupo se
reunia para nos ser instruída a Doutrina do Amor de Deus. Era cooperadora
activa desta obra apostólica, a nossa saudosa Ana Maria Themudo Barata
(1922-1982) que acompanhava o Padre Correia da Cunha nessa nobre missão
evangelizadora.
Anita,
como era vulgarmente conhecida, possuía uma cândida alma. Lembro que era um
exemplo vivo para todos nós, dedicando toda a sua vida a um trabalho fecundo de
apostolado. O odor das suas virtudes espalhava-se em seu redor. Já padecendo da
sua dolorosa doença, não se limitava a dar o exemplo de resignação no
sofrimento (sempre alegre…sempre sorridente…), frutificando a todos com o seu
exemplo. Era uma verdadeira irmã que amava todos. Creio que ainda hoje continua
a ser recordada e estou seguro de que merece este preito de respeito e
admiração, por todos os que tiveram o privilégio de com ela conviver.
Todo
o ano Litúrgico era intensamente vivido. Em Maio, todas as noites eram
preenchidas com a recitação do terço, pelas raparigas da Cruzada, que culminava
com a Coração de Nossa Senhora. Em Junho, o mês do Sagrado Coração de Jesus era
maravilhoso. Os elementos da Cruzada Eucarística braço infantil do Apostolado
da Oração eram os adoradores do Santíssimo Sacramento, pois não podiam estes
pequenos “soldados” da Cruzada deixar de prestar todas as honras e louvores ao
Seu Rei Todo-Poderoso.
Na
época da quaresma, todas as sextas-feiras rezavam solenemente, sob a orientação
do Padre Correia da Cunha, a Via-sacra. Os nossos pequenos corações iam aos
poucos sendo recolhidos para o grande retiro da Semana Santa.
Quando
o Domingo de Ramos chegava era a grande bênção. Um elevado número de membros da
Cruzada Eucarística participava no cerimonial processional. Todos éramos
incentivados à ascese destes ritos que elevavam o espírito através da magnífica
manifestação de fé e oração.
Dava
gosto ver a multidão de paroquianos que acompanhava a procissão de Ramos desde
o Panteão Nacional até à Igreja Paroquial. Era como se milhares de corações
unidos formassem um só.
Todos
ali estávamos sintonizados no mesmo espírito do Padre Correia da Cunha:
manifestar publicamente a nossa fé e, ao mesmo tempo, recordar as tradições
herdadas dos nossos antepassados.
Em
meados dos anos sessenta, o bom povo de São Vicente de Fora gozava de grande simplicidade.
As pessoas eram naturalmente alegres mas já se faziam sentir os novos ventos
pós conciliares e esse movimento com a nova organização sócio-religiosa foram
naturalmente substituídos pelos grupos de adolescentes cristãos que, como a
Cruzada, continuaram a incentivar os mais novos a darem bons exemplos de vida
cristã e a participarem nos Sacramentos da Comunhão com a Igreja e a
testemunharem Jesus Cristo em todas as acções do quotidiano.
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