“Não podia omitir-se! E seria difícil
lavar as mãos como Pilatos, deixando que os seus jovens se arranjassem…”
No mês de Junho, Lisboa vestia-se de beleza e alegria. Milhares de pessoas afluíam ao coração da velha cidade para demonstrarem em absoluto o interesse pelas festas dos Santos Populares que constituíam um dos mais belos espectáculos de animação e entusiasmo.
Mas
era também o mês, para muitos pais que tinham filhos a estudar, a época de
grande penitência. Lembravam-se de súbito que chegava o momento desagradável
das sanções (os malditos exames).
O
Padre Correia da Cunha bem sabia e tinha profunda consciência que muitos pais
tinham levado meses e meses despreocupados do trabalho escolar, do esforço e
até da capacidade intelectual dos seus filhos.
Os
seus paroquianos eram gente humilde, laboriosa e honesta, oriunda da Beira
Serra e com um baixo nível de escolaridade. Não observavam, não vigiavam a boa
ou má vontade, a maior ou melhor apetência dos filhos perante a obrigatória e
quotidiana tarefa que era estudar.
Muitos
pais nem sabiam o que os seus filhos tinham aprendido, nem o que lhes era
ensinado. Mas envidavam todos os esforços, chegando às raias do sacrifício, com
o objectivo de dar aos seus filhos um “futuro diferente” pela escolarização e
assegurar-lhes um lugar no ensino superior.
Esta boa gente convictamente pensava: O futuro
a Deus pertence!
O
futuro ali estava porém transformado em presente angústia. Era tempo de mostrar
interesse superlativo, aliás, compreensível mas muitas vezes tardio pela sorte
dos seus filhos.
Urgia
o tempo certo da intervenção do Padre Correia da Cunha pelo bem comum,
educando, protegendo e derramando as lições salvadoras em benefício do futuro
de muitos dos adolescentes e jovens que frequentavam as actividades da sua
paróquia.
Convocava
todos os professores da Comunidade Paroquial para darem (gratuitamente)
explicações intensivas sobre as mais diversas matérias dos vários programas
escolares. Pois, numa Comunidade Cristã todos temos o dever da entreajuda como
membros da mesma família. E ao longo das semanas de preparação para os exames,
a azáfama aumentava nos claustros do Mosteiro de São Vicente de Fora e as
muitas salas eram transformadas em locais de trabalho e estudo para os ajudar a
adquirir conhecimentos indispensáveis para se ultrapassar uma nova meta no
nosso currículo escolar.
Ficava
a seu cargo o ensino do Português pois como sabemos, o Padre Correia da Cunha
tinha um verdadeiro culto pelo Latim. Na interpretação de qualquer texto dos
famosos da nossa literatura, punha em movimento todo o nosso espírito,
obrigando-nos a um trabalho de penetração igualmente fecundo para a
inteligência e para a sensibilidade. Para ele não podia haver um homem perfeito
sem dominar a mãe da língua e efectuar uma correcta interpretação morfológica
da língua portuguesa. Era ponto central, para o Padre Correia da Cunha, o
profundo e correcto conhecimento da língua de Camões.
Aprovação?
Reprovação? Eram as inquietações e lamentações dos pais que mais cedo ou mais
tarde deveriam ser conhecidas e verificadas.
O
Padre Correia da Cunha considerava que, como pastor e mestre, tinha o dever de
colaborar nesta difícil e delicadíssima incumbência das famílias e colocar em
prática todos os meios eficientes para ajudar na educação escolar das novas
gerações. Era com este espírito que cooperava com as famílias, professores e
jovens universitários… para, em verdadeiro espírito de missão, solidariamente todos
contribuíssem para o sucesso de mais um ano lectivo dos seus jovens.
Havia
muitas famílias que nesta época estavam convencidas de que os professores eram
uma espécie de Senhores absolutos e tiranos que tinham a faculdade de aprovar
ou reprovar.
Mas
efectivamente não era assim. O Padre Correia da Cunha considerava muito
importante abrir uma escola para os pais, onde pudessem ser ajudados a
colocarem em prática métodos eficientes para suprimirem os defeitos que
porventura existiam ao longo do ano lectivo dos seus filhos, com uma maior
aproximação à escola e aos seus mestres.
Mas
como referia o Padre Correia da Cunha: CHORAR É MAIS FÁCIL QUE TOMAR
INICIATIVAS ÚTEIS.
No
final, todos felizes pelos resultados alcançados nos exames, os adolescentes e
os jovens de São Vicente de Fora partiam para as “ Santas Terrinhas” dos seus
pais, onde lhes eram transmitidos conhecimentos da laboriosa vida rural pelas
gentes daquelas paragens e tão desconhecidos das grandes cidades.
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