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Grande parte das noites de Pe. Correia da Cunha eram passadas entre uns agradáveis jantares num ambiente de amenas cavaqueiras, na companhia dos seus amigos mais próximos. As noites decorriam sempre num ambiente de boa disposição e de animado convívio.
Mas quantas noites, ele me convidou para irmos jantar à baixa pombalina, ao célebre ‘’Atrium’’. Depois fazíamos longos passeios pelas ruas da Baixa e do Chiado, visitando as mais recentes novidades de livros nas históricas livrarias de Lisboa, locais privilegiados para o encontro com os mais recentes ‘’tesouros’’ literários.
Estas peregrinações, em que o acompanhava, eram uma festa aberta ao ar livre que convidavam a espreitar os livros expostos nas imensas livrarias. A entrada por essas catedrais fazer-se-ia no dia seguinte, caso se deixasse enamorar por algumas obras. Só a leitura das capas permitia-lhe fazer-me resumos e falar-me da riqueza do conteúdo dos exemplares expostos.
Estas peregrinações, em que o acompanhava, eram uma festa aberta ao ar livre que convidavam a espreitar os livros expostos nas imensas livrarias. A entrada por essas catedrais fazer-se-ia no dia seguinte, caso se deixasse enamorar por algumas obras. Só a leitura das capas permitia-lhe fazer-me resumos e falar-me da riqueza do conteúdo dos exemplares expostos.
Pe. Correia da Cunha tinha uma grande paixão pelos livros. Se aceitarmos que a nossa casa espelha a nossa alma, a sua estava cheia de livros, diria mesmo revestida desses tesouros. Pe. Correia da Cunha gostava do calor e da familiaridade do seu escritório de trabalho, das estantes atravancadas de livros. Creio mesmo que cada livro tinha seu valor e uma história sentimental. O seu universo era os livros, as revistas de liturgia e teologia em várias línguas, os mais recentes contos, ensaios e crónicas…
A leitura era o seu mundo e onde se sentia rei e experimentava a felicidade, deixando-se levar por altas horas da madrugada. Passei muitas noites na sua companhia a ouvir predilecções e críticas literárias sobre os autores contemporâneos. Haviam bons e maus.
O seu gabinete de leitura era uma floresta de livros e tinha como pano de fundo o rio Tejo e a sua adorada cidade. Cheguei a ter a sensação que sobre o movimento das águas passavam livros.
A sua biblioteca, composta de muitos milhares de livros, tinha cheiros, memórias, ideias soltas … e sonhos de um homem que abraçava ambiciosamente todas as sabedorias.
Pe. Correia da Cunha era um assíduo frequentador do Grémio Literário, na Rua Ivens, no romântico Chiado, onde participava em lançamentos de livros, conferências sobre temática literária e recitais de música clássica…
Tenho na memória as prendas de Natal dos seus amigos, que o conheciam bem. Para Pe Correia da Cunha, os livros eram uma magia e uma essência de contentamento.
Pe. Correia da Cunha confessou-me que herdara do seu antecessor, Mons. Francisco Esteves, uma magnífica biblioteca composta de vários exemplares de primeiras edições, autografados pelos autores com dedicatórias. Naquela época já a tinha quintuplicado pois reconhecia-se como coleccionador de boas obras de história, filosofia, poesia e autores clássicos…não esquecendo os seus livros de liturgia dos mais variados Ritos. Dizia surpreendente: - Deixei que o acaso funcionasse de modo a que os livros, uns atrás dos outros, entrassem na minha vida.
A casa-museu de Pe. Correia da Cunha era um ponto de encontro cultural para quem amasse livros e até se respirava uma solidão alegre com uma elegante esperança…
Ouvi a Padre Correia da Cunha:
-Um país sem livros é um país sem futuro e não entendia porque razão os livros não faziam parte da vida quotidiana de todos os portugueses.
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