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D. AFONSO I - PAINEL AZULEJOS SALA PORTARIA S.VICENTE DE FORA |
TEMPLUM SANCTI VICENTI MARTYRIS
No seguimento à publicação do primeiro texto da autoria do Pe. Correia da Cunha, denominado Lisboa Antiga, é chegada a hora de proceder à edição do segundo, intitulado O VOTO DO PRIMEIRO REI DE PORTUGAL.
Conforme foi referido, os seus originais estão redigidos em língua francesa. Só graças à prestável e amável colaboração da Drª. Maria Luísa Trincão de Paiva Boléo é possível tornar visíveis estes textos inéditos na língua de Camões.
Em Junho de 1147, o Rei D. Afonso Henriques cerca Lisboa dos árabes que se circunscrevia ao actual Castelo. Os cruzados ingleses, gascões e bretões colocam-se a oeste do Castelo, numa colina que deveria ser o Monte dos Mártires; os Flamengos e os de Colónia a leste no actual Campo de São Vicente e os Portugueses instalam-se um pouco mais a norte, junto dos Alemães, no local onde se encontra hoje a Graça. Perante os prelados do Porto e de Braga, ali presentes, o rei faz o voto de construir, depois da vitória, dois templos à glória dos cavaleiros mortos pela Fé e pela Nação Portuguesa.
O cerco de Lisboa durou quatro meses, a 24 de Outubro de 1147, o primeiro rei português, a quem os mouros chamavam IBN ERIC tomava o Castelo e dava logo execução ao seu voto. A capela dos Mártires foi construída na colina ocidental e desapareceu com o terramoto de 1755, a leste, foram erguidos a igreja e o mosteiro de São Vicente. No Sec. XVI foi descoberta uma pedra com uma inscrição latina, a qual consideradas as diferenças entre os calendários juliano e gregoriano – fixa em 21 de Novembro de 1147 a consagração:
O cerco de Lisboa durou quatro meses, a 24 de Outubro de 1147, o primeiro rei português, a quem os mouros chamavam IBN ERIC tomava o Castelo e dava logo execução ao seu voto. A capela dos Mártires foi construída na colina ocidental e desapareceu com o terramoto de 1755, a leste, foram erguidos a igreja e o mosteiro de São Vicente. No Sec. XVI foi descoberta uma pedra com uma inscrição latina, a qual consideradas as diferenças entre os calendários juliano e gregoriano – fixa em 21 de Novembro de 1147 a consagração:
HOC TEMPLUM AEDIFICAVIT REX PORTGALIAE
ALPHONSUS I IN HONOREM BEATAE VIRGINIS ET
SANCTI VICENTI MARTYRIS X CALEND
DECEMBRIS SUB ERA MCXXXV…
A igreja e o mosteiro situavam-se, pois, no exterior das muralhas árabes: daí a designação de São Vicente de Fora que persistiu até aos nossos dias. A designação também lhe deve vir do facto da paróquia desde o início estar fora da jurisdição episcopal.
O primeiro administrador do minúsculo templo de São Vicente que, a pouco e pouco, se construía sobre a parte oriental do cemitério dos cruzados vitoriosos, foi um alemão chamado D. Vivario, enquanto D. Gilberto, cruzado inglês era Bispo de Lisboa desde a conquista. O primeiro abade do mosteiro foi um flamengo, D.Gualtero, vindo da abadia Premonstratense, na Picardia, da Ordem de Stº Agostinho à qual o Rei D. Afonso Henriques tinha confiado o mosteiro.
Os Agostinhos ficaram em S.Vicente até ao Sec. XVIII, ocasião em que D. José I transferiu a ordem para o Convento de Mafra.
ALPHONSUS I IN HONOREM BEATAE VIRGINIS ET
SANCTI VICENTI MARTYRIS X CALEND
DECEMBRIS SUB ERA MCXXXV…
A igreja e o mosteiro situavam-se, pois, no exterior das muralhas árabes: daí a designação de São Vicente de Fora que persistiu até aos nossos dias. A designação também lhe deve vir do facto da paróquia desde o início estar fora da jurisdição episcopal.
O primeiro administrador do minúsculo templo de São Vicente que, a pouco e pouco, se construía sobre a parte oriental do cemitério dos cruzados vitoriosos, foi um alemão chamado D. Vivario, enquanto D. Gilberto, cruzado inglês era Bispo de Lisboa desde a conquista. O primeiro abade do mosteiro foi um flamengo, D.Gualtero, vindo da abadia Premonstratense, na Picardia, da Ordem de Stº Agostinho à qual o Rei D. Afonso Henriques tinha confiado o mosteiro.
Os Agostinhos ficaram em S.Vicente até ao Sec. XVIII, ocasião em que D. José I transferiu a ordem para o Convento de Mafra.
O primeiro edifício parecia-se mais com uma fortaleza do que com um templo. Embora os reis da primeira dinastia o tenham contemplado sempre com benefícios e D. João III tivesse ordenado obras de uma certa amplitude, S.Vicente estava em estado bastante deplorável na época de D. Sebastião.
Talvez por Portugal se ter voltado para ‘’novos mundos…’’.
D. Sebastião alimentava simultaneamente uma dedicação profunda á igreja e ao convento fundados pelo primeiro Rei Português e uma devoção muito particular ao seu santo patrono, o mártir S. Sebastião, invocado contra a peste.
Esse flagelo dizimava Lisboa em 1569: o rei fez então o voto de construir um templo importante em honra de S. Sebastião. Mas, terminada a peste, tardou em escolher o local para o novo templo até resolver que este fosse erguido no Terreiro do Paço, a actual Praça do Comércio: a primeira pedra foi colocada em 1571. Em 1573, quando o rei embarcou para a África do Norte, as obras estavam ainda muito atrasadas, a derrota de Alcácer-Quibir, em 1578, tendo como resultado a anexação de Portugal pela Espanha, interrompeu definitivamente a construção.
Atribui-se a D. Sebastião o projecto de uma completa reedificação de S.Vicente. Quem a havia de realizar, seria o ‘’usurpador ‘’ Filipe II de Espanha: interessava-lhe tanto agradar aos habitantes de Lisboa que, logicamente não o tinham em grande apreço como manifestar todo o esplendor do seu poder. A ordem real chegou de Madrid a 16 de Novembro de 1590 e os trabalhos começaram, embora com alguma lentidão: desmancharam-se primeiro as construções medievais, nos fundamentos das quais foi encontrada a pedra com a inscrição latina (actualmente perdida), foram utilizados os materiais utilizados ou previstos para a igreja de S. Sebastião iniciada no Terreiro do Paço.
O arquitecto designado por Filipe II era um bolonhês, Filippo Terzi, que vivia em Portugal desde 1577. Tinha tomado parte na batalha de Alcácer Quibir, entre as fileiras do exército português, fora ferido, feito prisioneiro e depois da intercessão a seu favor do Cardeal D. Henrique, fugiu de Marrocos, regressando a Portugal.
Em 1590, foi nomeado ‘’mestre das obras reais e encarregado da reconstrução de S.Vicente, na qual deve ter trabalhado juntamente com vários discípulos, pois os dois planos de reedificação que se conhecem são assinados pelo arquitecto português João Nunes Tinoco.
É provável que os trabalhos não tenham atingido grandes proporções senão por volta de 1598-99, apesar de Filipe II ter vindo a Lisboa inaugurar os fundamentos do novo mosteiro a 15 de Agosto de 1582.
Felipe Terzi, artista famoso, morreu em 1599, sucedendo-lhe Leonardo Turriano. Os verdadeiros arquitectos foram, pois, Turriano, Tinoco (que já trabalhavam na obra) e Baltazar Álvares, o autor do projecto da igreja de S. Sebastião do Terreiro do Paço. O plano original de Terzi, concebido num estilo Renascença muito italianizado, foi parcialmente alterado para adaptação aos materiais destinados inicialmente á Igreja de S.Sebastião.
As obras prosseguiram durante todo o início do Sec. XVII, ou seja, durante quase cinquenta anos. Metade da Igreja estava construída em 1605 e pôde-se assim transportar a custódia da igreja antiga para o altar-mor da nova.
A inauguração teve lugar a 28 de Agosto de 1629, festa de Santo Agostinho.
Quanto ao mosteiro, as obras continuaram ao longo desse século e até princípio do Sec. XVIII. O imponente conjunto só devia ter sido completamente acabado há poucas décadas quando o terramoto de 1755 fez desabar a cúpula, uma parte da fachada e a ala sul do transepto, provocando, além disso, prejuízos consideráveis em quase todo o templo (1), o que exigiu longos trabalhos de reconstrução: de facto, só foram mais ou menos poupadas a Capela-Mor e as salas contíguas.
(1) – Toda a igreja ‘’ se pôs a dançar como fazem os barcos em cima das ondas’’, diz um manuscrito da época.
S. Vicente de Fora é, pois, um monumento do Sec. XVI, animado pelo espírito clássico.
Pela majestade da sua arquitectura é - mais ainda do que a Sé Catedral – o edifício religioso mais importante de Lisboa. Entre, os historiadores da Renascença Portuguesa, Albrecht Haupt coloca-o entre as mais relevantes construções do país, ou mesmo da Europa, e Walter Watson comenta que o interior da igreja produz uma magnífica sensação de esplendor e grandeza, constituindo um dos templos clássicos mais maravilhosos que existem.
A fachada e as duas torres de calcário, extraído das pedreiras de Alcântara e do próprio local de S. Vicente dominam – frente a encosta do Castelo – a cidade antiga e o estuário do Tejo.
Texto de Pe. José Correia da Cunha
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Talvez por Portugal se ter voltado para ‘’novos mundos…’’.
D. Sebastião alimentava simultaneamente uma dedicação profunda á igreja e ao convento fundados pelo primeiro Rei Português e uma devoção muito particular ao seu santo patrono, o mártir S. Sebastião, invocado contra a peste.
Esse flagelo dizimava Lisboa em 1569: o rei fez então o voto de construir um templo importante em honra de S. Sebastião. Mas, terminada a peste, tardou em escolher o local para o novo templo até resolver que este fosse erguido no Terreiro do Paço, a actual Praça do Comércio: a primeira pedra foi colocada em 1571. Em 1573, quando o rei embarcou para a África do Norte, as obras estavam ainda muito atrasadas, a derrota de Alcácer-Quibir, em 1578, tendo como resultado a anexação de Portugal pela Espanha, interrompeu definitivamente a construção.
Atribui-se a D. Sebastião o projecto de uma completa reedificação de S.Vicente. Quem a havia de realizar, seria o ‘’usurpador ‘’ Filipe II de Espanha: interessava-lhe tanto agradar aos habitantes de Lisboa que, logicamente não o tinham em grande apreço como manifestar todo o esplendor do seu poder. A ordem real chegou de Madrid a 16 de Novembro de 1590 e os trabalhos começaram, embora com alguma lentidão: desmancharam-se primeiro as construções medievais, nos fundamentos das quais foi encontrada a pedra com a inscrição latina (actualmente perdida), foram utilizados os materiais utilizados ou previstos para a igreja de S. Sebastião iniciada no Terreiro do Paço.
O arquitecto designado por Filipe II era um bolonhês, Filippo Terzi, que vivia em Portugal desde 1577. Tinha tomado parte na batalha de Alcácer Quibir, entre as fileiras do exército português, fora ferido, feito prisioneiro e depois da intercessão a seu favor do Cardeal D. Henrique, fugiu de Marrocos, regressando a Portugal.
Em 1590, foi nomeado ‘’mestre das obras reais e encarregado da reconstrução de S.Vicente, na qual deve ter trabalhado juntamente com vários discípulos, pois os dois planos de reedificação que se conhecem são assinados pelo arquitecto português João Nunes Tinoco.
É provável que os trabalhos não tenham atingido grandes proporções senão por volta de 1598-99, apesar de Filipe II ter vindo a Lisboa inaugurar os fundamentos do novo mosteiro a 15 de Agosto de 1582.
Felipe Terzi, artista famoso, morreu em 1599, sucedendo-lhe Leonardo Turriano. Os verdadeiros arquitectos foram, pois, Turriano, Tinoco (que já trabalhavam na obra) e Baltazar Álvares, o autor do projecto da igreja de S. Sebastião do Terreiro do Paço. O plano original de Terzi, concebido num estilo Renascença muito italianizado, foi parcialmente alterado para adaptação aos materiais destinados inicialmente á Igreja de S.Sebastião.
As obras prosseguiram durante todo o início do Sec. XVII, ou seja, durante quase cinquenta anos. Metade da Igreja estava construída em 1605 e pôde-se assim transportar a custódia da igreja antiga para o altar-mor da nova.
A inauguração teve lugar a 28 de Agosto de 1629, festa de Santo Agostinho.
Quanto ao mosteiro, as obras continuaram ao longo desse século e até princípio do Sec. XVIII. O imponente conjunto só devia ter sido completamente acabado há poucas décadas quando o terramoto de 1755 fez desabar a cúpula, uma parte da fachada e a ala sul do transepto, provocando, além disso, prejuízos consideráveis em quase todo o templo (1), o que exigiu longos trabalhos de reconstrução: de facto, só foram mais ou menos poupadas a Capela-Mor e as salas contíguas.
(1) – Toda a igreja ‘’ se pôs a dançar como fazem os barcos em cima das ondas’’, diz um manuscrito da época.
S. Vicente de Fora é, pois, um monumento do Sec. XVI, animado pelo espírito clássico.
Pela majestade da sua arquitectura é - mais ainda do que a Sé Catedral – o edifício religioso mais importante de Lisboa. Entre, os historiadores da Renascença Portuguesa, Albrecht Haupt coloca-o entre as mais relevantes construções do país, ou mesmo da Europa, e Walter Watson comenta que o interior da igreja produz uma magnífica sensação de esplendor e grandeza, constituindo um dos templos clássicos mais maravilhosos que existem.
A fachada e as duas torres de calcário, extraído das pedreiras de Alcântara e do próprio local de S. Vicente dominam – frente a encosta do Castelo – a cidade antiga e o estuário do Tejo.
Texto de Pe. José Correia da Cunha
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