sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

NATAL 2010

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Presépio da Paróquia de São Vicente de Fora - 1964




Adeste Fideles

Laeti triumphantes

Venite, venite in Bethlehem

Natum videte

Regem angelorum

Venite adoremus, Venite adoremus,

Venite adoremus, in Dominus

Cantet nunc aula caelestium

Gloria, gloria

In excelsis Deo

Venite adoremus, venite adoremus,

Veniteadoremus in Dominum

Ergo qui natus

Die hodierna

Jesu, tibi sit gloria

Patris aeterni

Verbum caro factus

Venite adoremus, venite adoremus,

Venite adoremos, Dominu

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Ó venham fiéis, alegres e triunfantes
Ó venham, ó venham para Belém!
Venham e sigam-no, nasceu o Rei dos Anjos! Ó venham
adorá-lo! Ó venham adorá-lo
Ó venham adorá-lo! Cristo, o Senhor!
Ó venham, fiéis, alegres e triunfantes
Ó vinde, Ó vinde à Belém!
Vejam, nasceu o Rei dos Anjos
Ó vinde adoremos, ó vinde adoremos, ó vinde adoremos
Cristo o Senhor!

Tradução de Padre Correia da Cunha




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domingo, 19 de dezembro de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E O NATAL

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NATAL é vida que nasce, Natal é Cristo que vêm !!!



Este texto de Natal foi escrito por Padre Correia da Cunha para a Noite de Natal do ano da graça de 1966.
Ele constitui um património apreciável e revelador da sua dedicação sempre aliada à sua inabalável e viva Fé. Em momentos de inspiração escrevia, mas o maior mérito de Padre Correia da Cunha não se quedava nas palavras, que traduzia em acção e na sua própria vida.
Dos seus escritos surgiam belos textos como o que passo a transcrever:


Presépio da Paróquia de São Vicente de Fora - 1964


Foi em Belém, da terra de Judá,

num Presépio humilde e pobre

(pois ninguém LHES quis dar guarida),

Que, na PESSOA de JESUS,

o próprio DEUS nasceu Homem,

unindo-se assim a DIVINDADE com a Humanidade

e assim se inaugurando a NOVA e ETERNA ALIANÇA,

que havia de selar-se no CALVÁRIO

com seu SANGUE REDENTOR.

Naquela noite sagrada,
a LUZ resplandeceu nas trevas,
e os Anjos cantaram cheios de alegria
o hino da ALIANÇA DIVINA:
- GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS
E PAZ NA TERRA AOS HOMENS!...

E logo àquele Presépio


acorreram os Pastores das cercanias

e vieram lá do longe os Magos Reis…

E desde então,

ao longo da Procissão dos séculos,
é junto do Presépio de Jesus
que, quantos aceitaram a Mensagem dos Anjos
e seguiram na esteira da luz,
vão encontrar-se com Deus
e com os homens - seus Irmãos,

pois o Presépio de Belém
é o Centro do Universo,

é o Abraço de Deus à Humanidade;

e o CORAÇÃO DO DEUS MENINO
nele nascido
é o PONTO onde se encontram todos os homens


que vivem na SUA FÉ e no SEU AMOR.



A descoberta deste texto ganha um novo sentido para olharmos para as personagens da História de Jesus Cristo e para as pessoas que testemunharam o seu nascimento. Neste, somos convidados a aprender com eles. Os pastores, os anjos, os magos e a Mãe Maria, todos à sua maneira, anunciaram a alegria por esse menino que nascia.

Os anjos e os pastores cantaram louvores a DEUS.

Assim também somos convidados a louvar a Deus que nasceu Salvador, e testemunhar a Paz e o Amor; pois só o ''Amor é fecundo", como Padre Correia da Cunha referia.

A Mãe Maria meditava, orava, agradecia e sorria, pois Deus veio mesmo morar no mundo.

Nós somos o seu presépio, e a nossa casa é Belém!

NATAL é a festa da reconciliação de Deus com a humanidade.

SANTO NATAL
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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E O CAVALEIRO

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“Aos grandes Homens… a Paróquia reconhecida”


“Nos primeiros tempos da Reconquista, cerca de treze mil cruzados vieram de toda a Europa para auxiliar D. Afonso Henriques. Houve um cavaleiro, chamado Henrique, originário de Bona, que morreu na conquista de Lisboa e que está sepultado na Igreja de S. Vicente de Fora.

A lenda diz que, logo que Henrique foi sepultado, dois dos seus companheiros, ambos surdos e mudos de nascença, foram deitar-se sobre o seu túmulo. Pediram a Henrique que intercedesse junto de Deus pela sua cura. Em sonhos, Henrique disse-lhes que Deus os tinha curado. Quando acordaram, verificaram que o sonho se tinha tornado realidade.

Pouco tempo depois, morreu um escudeiro de Henrique e foi sepultado, longe do túmulo do seu amo. O cavaleiro Henrique apareceu em sonhos ao sacristão da igreja e disse-lhe que queria o corpo do escudeiro junto de si.

O sacristão não ligou importância ao sonho, nem quando este se repetiu no dia seguinte. Na terceira noite, Henrique, novamente em sonhos, falou-lhe tão irritado com a sua indiferença que o sacristão acordou imediatamente e passou toda a noite a cumprir as suas indicações. Apesar de ter trabalhado muitas horas, o sacristão sentia-se bem, como se tivesse dormido toda a noite.

Segundo a lenda, cresceu uma palma no seu túmulo cujas folhas curavam os males de todos os peregrinos que ali acorriam. Um dia, a palma foi roubada, mas ficou para sempre na memória do povo através do nome de uma rua na baixa de Lisboa.”


Este nobre e valente cavaleiro, Henrique de Bona, que morreu na nossa amada cidade de Lisboa em odor de santidade, encontra-se sepultado na majestosa Igreja de São Vicente de Fora.


A lápide, que se encontra no lado esquerdo do altar de Santo António, assinala que ali repousam em paz os restos mortais do cavaleiro Henrique de Bona, não o deixa esquecer.

Padre Correia da Cunha, em São Vicente de Fora, também não o esquecia. Sempre que passava na Rua do Senhor da Palma, hoje simplesmente Rua da Palma, como todos nós a conhecemos, era-lhe como uma grata recordação trazer ao pensamento este ilustre cavaleiro.





Em São Vicente de Fora eram prestadas grandes homenagens à coragem e astúcia deste grande cavaleiro. Nesta foto, com honras episcopais precede-se a uma dessas venerações ao gentil e amado cavaleiro ‘santo’, que tão querido era nessa comunidade por ter honrado com heróica bravura a nossa nobre cidade.

À semelhança deste cavaleiro, também as relíquias de São Vicente de Saragoça, Santo Padroeiro de Lisboa, deveriam estar depositadas na sua sumptuosa igreja paroquial, ou pelo menos assim, pensava Padre Correia da Cunha. Era com grande mágoa, na alma, que o testemunhava.

É hoje reconhecido, que o depósito das relíquias de São Vicente, na Sé Catedral de Lisboa, não foi pacífico. Gerou um enorme e acesso conflito entre as várias facções de habitantes da cidade à época. Havia aqueles que defendiam que as relíquias deveriam ser colocadas no Mosteiro de São Vicente de Fora (como Padre Correia da Cunha veria a concordar mais tarde), outros como os moçárabes acreditavam que o melhor local para depositar as mesmas era a Igreja de Santa Justa e Rufina e existia ainda um terceiro grupo que impunha como alternativa a Sé Catedral.

Esta rivalidade na disputa das relíquias do Santo, entre moçárabes e os outros cristãos, durou longos séculos após a chegada do seu corpo à cidade, na noite de 16 de Novembro de 1173.

A nau que transportava o corpo do Santo, vinda do Algarve, ancorou junto à Igreja de Santa Justa e Rufina, mas depois fez-se uma grande procissão para a Sé Catedral, tendo como acompanhantes inteligíveis os dois corvos que ficaram como guardiões das relíquias por muitos e longos anos naquele monumento.





Contudo, como referia Padre Correia da Cunha, São Vicente Mártir nunca deixou de ser celebrado e venerado na sua Igreja de São Vicente de Fora, com um rito próprio, por todos os lisboetas que lhe querem bem.

Não se deveria também de perpetuar a memória de Mons. Francisco Esteves (1900-1959) e Padre Correia da Cunha (1961-1977) com a transladação dos seus restos mortais, para capela em São Vicente de Fora, pelo trabalho dinâmico, de inesgotável prodigalidade sem paragem nem descanso que a missão lhes impôs para dilatarem o Reino na Paróquia de São Vicente de Fora de Lisboa?

Não se deveria igualmente deixar em pedra gravados os nome destes dois grandes homens da igreja “A Paróquia Agradecida”?
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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E A PADROEIRA

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‘‘As Mães são pedestais do mundo…’’


Para o Padre Correia da Cunha, 8 de Dezembro era o dia de rendermos uma profunda, justa e humilde homenagem à Imaculada Padroeira da Nação. Contudo, este aproveitava também o ensejo para se curvar diante da efeméride que assinalava o Dia da Mãe (pois para ele o dia da mãe sempre foi nesta data).

Esse dia não passava na Paróquia de São Vicente de Fora, sem que Padre Correia da Cunha, numa singela mas sentida cerimónia, não chamasse a atenção de cada um de nós para um pensamento de fé e de respeito à memória dos sentimentos maternos. Isto porque as nossas mães foram as fontes de onde recebemos a vida, as primeiras escolas onde aprendemos a pensar, os primeiros templos onde aprendemos a rezar…

Iniciava dizendo que o Dia da Mãe deveria ser todos os dias, todas as horas, todos os momentos… pois tudo o que somos se deve em muito às nossas magníficas e abençoadas mães. Envolvidos pela ganância e cegueira desta vida, por vezes esquecemos o odor da herança recebida delas: a beleza da virtude, o primado da justiça e a infinidade do amor




Maria Amália Correia da Cunha


Padre Correia da Cunha muitas vezes referia: ‘’ Não esqueço os afagos, os conselhos e mimos da minha querida Mãe Amália. Era uma santa que guiou os meus primeiros passos. A sua imagem maternal acompanhou-me sempre pela sua grandeza de coração e de sacrifício materno. Foi para mim uma heroína. ‘’As Mães! São pedestais do mundo, irradiando bondade indiscriminadamente!

Era para Padre Correia da Cunha grato recordar que, numa das mais antigas paróquias desta sua amada cidade de Lisboa, ainda era venerada a mãe de todos os portugueses, Nossa Senhora da Conceição – Padroeira de Portugal - que ampara os portugueses desde os tempos da conquista da cidade.

.Quando D. Afonso Henriques se encontrava nos subúrbios da cidade de Lisboa, preparando o assalto final, prometeu edificar ali (local da actual igreja de São Vicente de Fora) um mosteiro, se com o auxilio da SS. Virgem saísse vitorioso da conquista da cidade.

Entretanto mandou erigir naquele lugar um hospital de campanha. Nesse hospital mandou construir um altar sobre o qual colocou uma imagem de Nossa Senhora da Conceição e que desde então era invocada sob o título de Nossa Senhora da Conceição da Enfermaria. Era no altar dessa imagem roque, que ainda hoje existe na Igreja de São Vicente de Fora, que Padre Correia da Cunha celebrava estes ofícios dedicados à Padroeira Celeste e recordava a sua adorável mãe terrena.





A nossa mãe do Céu, Nossa Senhora, foi sempre a Padroeira dos Portugueses. Portugal foi sempre a Terra de Santa Maria. A Glória da nossa terra! Não pode haver nenhuma pessoa bem formada que não tenha por Ela a maior admiração e veneração.

Curvemo-nos aclamando devotamente os gestos maternos cheios de ternura e de bondade cega, pois diante destas efemérides, que nos impedem de esquecermos as nossas mães…todos temos particulares motivos para as amarmos com os maiores fervores pois elas fizeram prodígios e maravilhas pelas suas infindáveis humanidades.

Compete aos filhos reconhecer nas mães os grandes sacrifícios que lhes custaram e, consequentemente amá-las e respeitá-las com toda a confiança.

Espero que este pequeno texto nos possa ajudar a recordar com alguma saudade essas cerimónias, plenas de cânticos marianos, que Padre Correia da Cunha realizava no dia 8 de Dezembro de cada ano e que ficaram gravadas certamente nas nossas vidas.




Padre Correia da Cunha e um amigo em Fátima


Em confirmação destas lembranças seria bom que cada um promovesse uma homenagem de gratidão, um destes dia, realizando uma romagem, imbuídos dos nobres sentimentos que nos transmitiram as nossas mães, ajoelhando-se aos pés de Maria Mãe de Deus – Padroeira de Portugal e agradecendo carinhosamente toda a especial predilecção que Ela tem manifestado no seu maternal carinho por esta Nobre Nação e pelas mães portuguesas.

Padre Correia da Cunha realizava imensas romagens ao Santuário de Fátima, como podemos verificar na foto, onde nunca esquecia a sua querida mãe, Amália Correia da Cunha. A Cova da Iria irradiava-lhe luz, energia e entusiasmo para o seu empenhamento na missão de pastor.

Saudades de uma infância!

Fotos: Espólio de Padre Correia da Cunha cedidas gentilmente pelo seu sobrinho – Engº Acácio Cunha.





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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E SUA MAJESTADE RAINHA D. AMÉLIA

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« Emmenez-moi au Portugal; je m’endormirai en France, mais c’ést au Portugal que je veux dormir pour toujours. »
Rainha D. Amélia

A 25 de Outubro de 1951 foi recebida em Portugal, a triste noticia de haver falecido, em Versailles, a Augusta e Venerada Senhora Dona Amélia de Orléans e Bragança, Rainha de Portugal.
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A Rainha Senhora Dona Amélia, pelo muito amor e afeição que teve a Portugal de que foi Rainha e pelo que muito honrou e tão dignamente serviu a Pátria, bem mereceu todas as honras e homenagens que lhe foram prestadas.

Ela tornou-se justamente credora em todos os corações portugueses que tiveram o prazer de a conhecer. Como que uma respeitosa veneração, todos continuaram a tê-la, na sua memória, como a rainha de Portugal. Ela era amada e querida por todos.

Não podia o Governo português mostrar-se insensível a tantas provas de amor patriótico e de civismo, dadas por uma mulher que se encontrava exilada da sua amada Pátria.



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Foi enviado a França o NRP Bartolomeu Dias, para trazer o seu corpo para Portugal, missão confiada ao Exmº Capitão-de-Mar-e-Guerra, Oliveira Lima ao 2º Comandante Aragão e ao Reverendo Padre Correia da Cunha. Foi no dia 26 de Novembro de 1951, que a urna com os restos da Rainha D. Amélia Rainha de Portugal foi transportada a bordo do navio da Armada Portuguesa, no Porto de Brest.






Dignificou-se o Governo Português em dar fiel cumprimento dos desejos expressos por Sua Majestade, promovendo a vinda para Portugal dos seus restos mortais, que ficariam no Panteão da Dinastia de Bragança, em São Vicente de Fora, junto aos túmulos de seu marido e filhos. Coube a este mesmo Governo, fazer-lhe um funeral nacional, com as honras devidas à sua dignidade de Rainha de Portugal e de considerar luto nacional o dia 29 de Novembro.

Revestiu-se de grande imponência e da mais esplendorosa solenidade o funeral da Rainha Senhora Dona Amélia, que se realizou oficialmente em Lisboa.




O cortejo fúnebre teve início no Terreiro do Paço, conforme podemos verificar na presente foto. Marinheiros do Bartolomeu Dias, transportando a urna, formavam um cortejo, encabeçado por Padre José Correia da Cunha – capelão da Marinha Portuguesa.

Estas cerimónias tiveram o cunho impressionante da gratidão e da saudade portuguesa, manifestada no comovido recolhimento e no religioso respeito com que muitas centenas de milhares de pessoas, que assistiram à passagem da urna, que encerrava o corpo da excelsa e querida Rainha dos Portugueses.

Foi me testemunhado que, quando a urna foi retirada do Coche para ser conduzida para o templo, uma força militar, formada por soldados de Infantaria 1 deu as descargas da ordem, ao mesmo tempo que os clarins tocavam a sentido. As bandeiras, os estandartes e os guiões baixaram em funeral e uma banda de música executou a marcha fúnebre de Chopin.




Às cerimónias religiosas realizadas na Igreja de São Vicente de Fora assistiu o Sr. Presidente da República, o Senhor Presidente do Conselho, Membros do Governo, Reis e Príncipes estrangeiros, altas patentes do Exército e da Armada, Corpo Diplomático, altas autoridades civis, Sua Eminência o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa e outras dignidades eclesiásticas, onde se incluía o Padre José Correia da Cunha.



A missa solene de “Requiem” foi presidida pelo Cónego Arcediago da Sé de Lisboa, Dr. Avelino Gonçalves, acolitado pelos beneficiados Vítor Franco e Gonçalves Pedro.

Antes de se dar início à Missa fez-se ouvir a marcha fúnebre de Schumam, tendo depois a orquestra executado a missa de Perosi.

O Senhor Visconde de Asseca e o Senhor Capitão Júlio da Costa Pinto foram inclusive a bordo do NRP Bartolomeu Dias, agradecer ao Comandante e à tripulação do navio, da armada portuguesa, a forma respeitosa e o serviço religioso, assim como o patriótico recolhimento, com que toda a tripulação do navio se associou ao luto da Nação. Este episódio foi-me relatado por Padre Correia da Cunha, dando a entender que o cadáver de Sua Majestade foi velado piedosamente durante todo o trajecto desde o Porto de Brest até ao Terreiro do Paço, em Lisboa.

No dia que passam 59 anos sobre essa data não poderia deixar de recordar esta última guarda de honra, ou seja, a homenagem saudosa e comovida da dedicação e da lealdade dos seus antigos súbditos.

Embora francesa de origem, tornou-se portuguesa pela afeição à sua Pátria adoptiva, que a ela se prendeu com todos os afectos. Era esta afeição que lhe aprimorava a alma e o coração. Ficou gravada em pedra, no seu túmulo, em letras gravadas a ouro:

AQUI DESCANSA EM DEUS
DONA AMÉLIA DE ORLEÃES E BRAGANÇA
RAINHA NO TRONO, NA CARIDADE E NA DOR.
Legenda simples mas expressiva e altamente honrosa para a memória de tão ilustre, excelsa e venerada Rainha.







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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E O SEU AMIGO DO CORAÇÃO

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‘’O CORAÇÃO GUARDA SILENCIOSAMENTE OS SENTIMENTOS…’’



Os encontros entre estes dois bons amigos começavam com um forte e fraterno abraço: bem demorado, com forte aperto, braços entrelaçados. Abraços que hoje, através destas fotos, nos trazem à memória a profunda e grande amizade entre Padre José Correia da Cunha e João Perestrelo de Vasconcelos (Pe.).



Atrevo-me a escrever que estes dois homens terão partilhado sonhos e desígnios cheios de energia, que só as suas grandes almas poderão ter guardado…


Ambos foram capelães da Armada, fundadores da Associação de Marinheiros Católicos e párocos no Patriarcado de Lisboa: Pe. Correia da Cunha, em São Vicente de Fora (1961-1977), e João Perestrelo, pároco até 1958 na Cova da Piedade, mais tarde da Sé de Lisboa e terminando na Paróquia de Loures.


João Perestrelo de Vasconcelos (Pe.) era um homem preocupado com os problemas sociais. Por ter facultado aos revoltosos as instalações da AMC-Associação Marinheiros Católicos, na Sé Patriarcal, onde era pároco em 1959, foi exilado no Brasil, onde permaneceu até 1967, ano em que regressou a Portugal, aquando da primavera marcelista, e foi nomeado pároco de Loures. A insurreição da Sé manifestava, já à época, a necessidade de mudança do regime político em Portugal.


Tendo convivido com ambos sempre senti que neles coexistiam duas correntes de pensamento, Padre Correia da Cunha queria que o regime evoluísse e que o País mudasse para melhor… João Perestrelo (Pe.), mais audaz, considerava que a mudança deveria levar à democratização e liberalização das instituições.




Mas o que os unia era o calor de uma forte e sólida amizade que permanentemente reavivavam em fraterno encontros, criando assim novas memórias, novos sorrisos, novos momentos de boa disposição e novas lembranças…


Quando Padre Correia da Cunha se referia a este seu amigo, sentia-se que muitas cumplicidades os uniam e amarravam as suas almas com um calor que só os amigos do peito podem guardar cuidadosamente essas comoções.


A relação de amizade, entre Padre José Coreia da Cunha e João Perestrelo de Vasconcelos (Pe.), era tão forte que  permitia entre ambos a revelação de encapelados segredos, de receios profundos assim como de pensamentos íntimos e reservados. Ambos se conheciam profundamente e apoiavam-se nas missões de guias espirituais e conselheiros bem como nas grandes decisões que tiveram que tomar ao longo das suas vidas veneráveis.

Como referi no post “Padre Correia da Cunha, o renovador”, Pe. Correia da Cunha era muito autónomo no seu múnus sacerdotal, poucos amigos clérigos lhe conheci ao longo da sua vida sacerdotal: bastava-lhe os seus paroquianos e os seus “marujos”, que o acompanharam nas longas missões e viagens por esses imensos oceanos ao serviço da Armada.


Se tivesse de eleger o seu “maior amigo”, dos muitos milhares que conservou ao longo da sua vida terrena, era sem dúvida: João Perestrelo de Vasconcelos (Pe).




Foi uma manhã muito triste na Comunidade Paroquial de Loures, naquele ano de 1969, quando Padre João Perestrelo de Vasconcelos comunicou a sua decisão individual e amadurecida, ao longo de muito tempo, de deixar o sacerdócio. Não havia renúncia a Jesus Cristo, nem à Igreja que serviu com leal dedicação, mas sim a sua entrega ao amor de uma jovem, de sua eleição, para uma vida a dois.

João Perestrelo de Vasconcelos (Pe.) pretendia contrair matrimónio para construir uma família cristã. Manifestava a sua disponibilidade para continuar a servir a Igreja dentro das suas possibilidades na luta por uma sociedade mais justa, fraterna e humana. Fundou a Santa Casa da Misericórdia de Loures.


Conservou a sua profunda e sincera amizade ao Padre Correia da Cunha até à  partida deste para o Pai, na manhã de 2 de Abril de 1977, tendo-o acompanhado até à sua sepultura.
Já João Perestrelo de Vasconcelos (Pe.),  faleceu no dia 2 de Março de 2009,com 79 anos de idade.


O Mestre Divino saberá dar-lhes no Céu a merecida recompensa pelo serviço dedicado à Igreja e à Armada de Portugal.




















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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E O MAGUSTO

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‘’UM RITO DE ACÇÃO DE GRAÇAS…’’


No dia de São Martinho era costume antigo, Padre Correia da Cunha dar um magusto… os convidados para este evento, que contava sempre com uma forte participação das gentes da Beira-Serra, eram todos os seus amigos paroquianos. Os “seus” rapazes aguardavam impacientemente esse dia, tão agradável, cortês e cristão – o dia 11 de Novembro.

Para haver magusto era necessário assar castanhas nas brasas de uma enorme fogueira no Pátio dos Corvos. Para o magusto ser completo, as castanhas comiam-se acompanhadas de jeropiga, água-pé e vinho novo. Padre Correia da Cunha adorava estes encantados momentos e sempre com grande exaltação referia:

 

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“O São Martinho é festa e festa sem bom vinho e boa água-pé não é festa.”


O Magusto para ele era como um rito de acção de graças pelos frutos colhidos. Dá-se uma morte e uma ressurreição, dado que morre a castanha (explode e queima-se no fogo virtual) e da morte nasce a vida com a alegria e o prazer do vinho novo.



Dado tratar-se de uma comida comunitária, Padre Correia da Cunha sempre recomendava que cada um trouxesse alguma comida, que era colocada numa mesa comum. Esta mesa abundante criava laços místicos – unia e ligava a estreita interdependência que submetia a uma confraternização familiar e fraterna.



Estes magustos selavam o princípio da igualdade entre paroquianos, onde todos gozavam dos mesmos direitos e deveres, num ambiente natural em volta da fogueira.





Padre Correia da Cunha manifestava sempre uma grande dose de criatividade e de imaginação nestas folias, veja-se a improvisação de uma mesa para a celebração de tão popular tradição de juntar amigos para o seu festivo magusto.


Os magustos promovidos pelo Padre Correia da Cunha eram um louvor à castanha, ao vinho e à água-pé, que ele tanto gostava. Mas também era a altura própria para uma prelecção sobre este bom homem de nome Martinho, segundo Padre Correia da Cunha rezava a lenda:


“Que quando um cavaleiro romano andava a fazer a patrulha, viu um velho mendigo cheio de fome e frio, porque estava quase nu. O dia estava chuvoso e frio e o velhinho estava completamente encharcado.
O cavaleiro, de nome Martinho, era bondoso e gostava de ajudar as pessoas pobres.
Então, ao ver aquele indigente, ficou cheio de pena e cortou a sua grossa capa ao meio com a espada.
Depois deu metade da capa ao mendigo e partiu.
Passado algum tempo a chuva parou e apareceu no céu um lindo e radioso Sol.”

Estas celebrações visavam criar laços fraternos onde a partilha e a amizade eram o que mais contavam para Padre Correia da Cunha, porque para ele ser cristão era sermos todos amigos fortalecidos pela fraterna amizade.
Os tempos são outros, mas o espírito e a tradição bem portuguesa desta festividade mantêm-se, realizando-se magustos e outros encontros de convívio, onde o vinho novo, a água-pé e a jeropiga, são as bebidas eleitas.


Vale a pena acreditar na partilha!



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terça-feira, 2 de novembro de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E OS FINADOS

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‘’ Evocando a saudade dos que partiram…’’


No dia de finados, as ruas perfeitamente floridas dos cemitérios, enchem-se de multidões de vivos, que invadem o silêncio lúgubre desses espaços.


Em São Vicente de Fora, Padre Correia da Cunha também aproveitava, as várias eucaristias que celebrava ao longo do dia dos respeitáveis defuntos, para evocar a lembrança de todos os seus paroquianos que já tinham partido ao encontro do PAI.


Nesse dia, Padre Correia da Cunha sugeria que em memória daqueles que já não estavam fisicamente connosco, deveríamos apresentar as nossas sentidas orações de súplica; rogando ao Todo Poderoso para que estes nossos irmãos possam viver no Reino de Deus a felicidade eterna.





Repetidas vezes ouvi a Padre Correia da Cunha: “Cada um de nós, no império do egoísmo terreno, apenas nos deixamos envolver pela ganância da vida do dia-a-dia, não nos restando uma réstia de tempo sequer para um Pai-Nosso, uma lágrima ou um olhar saudoso.”


Ele, como padre, era o primeiro a reconhecer essa sua transgressão. É pois necessário este dia para que nas cidades das cruzes tão solitárias, ao longo do ano, possam haver umas quietudes que nos transformem. É recomendado que nesse dia, com as nossas visitas e orações, ‘’perfumemos’’ os túmulos dos nossos queridos mortos.


Padre Correia da Cunha sempre lembrava que um Pai-Nosso meditado, e não papagueado, chegaria como odor ao Senhor da Vida.


Padre Correia da Cunha gostava imenso de belas flores mas quando assistia a exageros pretensiosos nos funerais e cerimónias fúnebres retorquia:
“Para quê tanta hortaliça? … Algum desse dinheiro seria mais bem aplicado ao serviço dos irmãos pobres.”


Quando Padre Correia da Cunha subia as longas ruas dos cemitérios de Lisboa e lia as palavras que a saudade gravou nos túmulos e que ligam este mundo ao outro, exteriorizava um ar triste e contemplativo, resignado ou indiferente, de alguém que ficou do lado de cá da vida com o dever de dar continuidade a esses sublimes sentimentos…






Segundo Padre Correia da Cunha: “todos andamos numa guerra inconsciente a que damos o título de luta pela ‘’vida’’…aproveitando alguns, muitas vezes o dia de finados com o pretexto de evocar a lembrança saudosa de alguém, perturbar a paz proeminente dos nossos irmãos defuntos, no seu reduto, com a explosão apenas dos seus egoísmos, invejas e onde apenas chegam as suas angústias e dissabores.”


Todos nós, temos momentos de intenso júbilo e amargas sensações, que vivemos neste cemitério vivo de incompreensões, quase mortos de confusões…
Que neste dia reavivamos as recordações e as saudades do nosso íntimo, numa religiosa atitude de contraída prostração à beira de seus sepulcros. Isso porque nossos corações conservam sempre restos de uma saudade infinda, exarada com lágrimas no mausoléu de nossas almas…


Neste dia devemos ir com toda a solenidade, espírito de oração e silêncio visitar o repouso daqueles que deixaram latente em nosso espírito a lembrança indelével da sua passagem por este mundo.


Teremos sempre alguém para lembrar no dia dos ‘’mortos’’, os familiares mais próximos, os colegas … e porque não, um bom e grande amigo como foi Padre Correia da Cunha, de todos os que com ele conviveram na Comunidade Paroquial de São Vicente de Fora.



E o dia dos finados continuará sempre sendo a mais oportuna aproximação entre a vida e a ‘’morte’’que nos aguarda para nos congregar no Reino de Vida Eterna com todos eles…
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domingo, 31 de outubro de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA - MUNDO JUSTO, FRATERNO E HUMANO

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‘’ O GRUPO DE JOVENS OBJECTIVO ERA UM FAROL …’’


"São elementos do Grupo Objectivo numa das muitas e importantíssimas sacrossantas andanças na procura do crescer de dentro para fora em comunidade. Hoje, estando cada um no seu sítio, creio que temos o Objectivo como objectivo de vida.

Ontem 29 de Outubro recebi um telefonema do Carlos Pereira, há mais de cinco anos que não sabíamos um do outro. Já marcámos encontro para breve para trocar e por testemunhos em dia e falar, falar muito dos nossos netos!!!

Meu Caro Alexandre, eras um menino de 8-9 anos à data da fotografia, lembro-me bem de ti!
Não peças desculpa pelo "lamento", lembrar com o misto alegria/saudade os que partiram para junto do Pai é um modo de os acomodar carinhosamente nos nossos corações.

De um modo muito especial o Padre Correia da Cunha, o nosso grande Prior e o teu pai foram importantíssimos na formação moral, cívica e pelo testemunho inequívoco de Fé com que envolveram fraternal e sabiamente os jovens do Grupo Objectivo de São Vicente de Fora.

Eu beneficiei, benefício com o testemunho destes dois santos homens. ‘’

Rui Aço



A leitura deste emocionante testemunho de Rui Sequeira Aço, um dos responsáveis da pastoral juvenil da Paróquia, chamou a minha atenção para esse Grupo de Jovens OBJECTIVO, da Comunidade de São Vicente de Fora, nos anos 60/70, que se esforçou para superar os egoísmos, fortalecendo a capacidade para a partilha e a solidariedade.

Quando amamos incondicionalmente, somos capazes de fazer grandes coisas pela comunidade. Foi isto que pelo menos Padre Correia da Cunha nos ensinou e que contribui para o nosso verdadeiro crescimento na vida comunitária, ajudando-nos a superar e a descobrir quem somos nós.

“Dizem que Adão e Eva não tinham espelhos. Adão era forçado a perguntar a Eva: Como é a minha cara? Qual é a cor dos meus olhos? Como sou eu? E Eva ia lhe mostrando quem e como ele era. Eva teria feito o mesmo com Adão. “

Também nós, só descobrimos quem somos em comunidade. Só juntos com os outros é que podemos crescer e viver em plena liberdade, mas para isso é importante que hajam bons amigos e bons mestres… o Grupo de Jovens Objectivo da Paróquia de São Vicente de Fora foi, nesse plano, uma Graça, um Capitólio e uma Responsabilidade.

Uma Graça singular, pois ali se aprendeu a sermos bons cristãos e cidadãos integérrimos, muito felizes pela escolha de Jesus Cristo na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e humana.

Um Capitólio imenso, pois Padre Correia da Cunha e os seus colaboradores foram insignes educadores, contribuindo para a formação de gerações de jovens que hoje servem com toda a dedicação a comunidade, honrando-a com os valores ali adquiridos.

Uma Responsabilidade imensurável, pois a formação que ali recebemos para a vida, nos obriga a aplicar com testemunhos vivenciais essa preciosa herança e a tornámo-nos solidários com a complexa transformação do mundo com mais Amor, Justiça e Paz.

Todos reconhecemos hoje que somos beneficiados por termos tido ao nosso lado tantas pessoas eruditas e piedosas como: Padre Correia da Cunha, Ana Themudo Barata, Carlos Barradas, Casimiro Ferreira… que brilhantemente nos ajudaram a crescer e por isso são dignos de serem perenemente recordados.

E nós hoje, homens livres e dignos continuaremos a ser arautos envolvidos nas nossas comunidades, dando continuidade aos valores que ali nos foram transmitidos, na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e humana: partilha e solidariedade.



Esta foto foi tirada no Seminário dos Olivais, no ano de 1972. Participantes da Paróquia de São Vicente de Fora na Conferência: A SEGUNDA VINDA DE JESUS CRISTO AO MUNDO.























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domingo, 24 de outubro de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E A VIDA

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‘’ Eu vim para que todos tenham vida plenamente. ‘’


Existem certas pessoas que nascem para viverem plenamente.

Padre Correia da Cunha, com toda a sua grandeza de alma, foi uma dessas criaturas.

Homem dotado de raríssimas qualidades, de inteligência e de coração, deu provas de uma piedade profunda e de um amor ardente para com os seus semelhantes.

Como Pároco foi constante no afecto consagrado aos seus paroquianos… e no zelo com que contribuía para a promoção e desenvolvimento intelectual deles. Particular atenção lhe merecia toda a juventude e todos aqueles que o rodeavam: catequistas, cantores, apostolizados... Padre Correia da Cunha não gostava de estar só. Já passaram 33 anos que nos deixou e ainda hoje é recordado pelos seus muitos amigos que com ele viveram aqueles saudosos tempos.




Todos lhe reconheciam a sua contagiosa cordialidade, que irradiava do seu brilhante senso de humor e irreverência espirituosa e que era sem dúvida o seu modo de arrastar a vida.

Na Paróquia de São Vicente de Fora, constituída de simplórios, habituados à claridade intensa e singela de algum provincianismo, entregávamo-nos no supremo prazer de servir a comunidade paroquial. Em comunhão com Padre Correia da Cunha, e segundo a vocação de cada um, experimentávamos o valor do trabalho transcendental de servir a igreja assim como os nossos irmãos.

A sua vasta cultura cristã e humanista era uma excelente forma de tratar com cortesia os seus semelhantes e de simultaneamente criar naturalmente dedicadas amizades.

A esta distância do seu desaparecimento terreno parece-nos a todos que Padre Correia da Cunha era uma criatura fugida das páginas romanescas de certos livros.



Se não é, pelo menos foi uma destas criaturas que nasceu para viver plenamente na passagem da sua vida, ocultando a mentira dos preconceitos na realidade intensa das coisas… humanas e espirituais.

De entre todos os dons, dados por Deus para a vida da Igreja, existe um que de todos sobressai. Este dom é o Sacerdócio, através do qual Cristo se oferece na Eucaristia. É através dela que auferirmos força e confiança.
Recordo que Padre Correia da Cunha referia que comungando, se tinha o entusiasmo para ser um bom cristão, amar o próximo e através disto alcançar a vida plena.
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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

ALA DOS AMIGOS DE PE. CORREIA DA CUNHA

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Os amigos que partiram...






IN MEMORIAM

JOÃO PAULO MARQUES DIAS(JP)

10 ANOS DE SAUDADE

1952-2000




JOÃO PAULO MARQUES DIAS (1952-2000) nasceu em Lisboa, na Freguesia de Santa Engrácia, no dia 21 de Outubro de 1952. Encostado na simplicidade dos seus gestos, ele procurava esconder nas sombras da sua modéstia, a evidência que o seu espírito superior conquistava nos grupos dos seus muitos amigos da Paróquia de São Vicente de Fora e mais tarde nas Associações Lúdicas do típico bairro de Alcântara.

Alma nobre, João Paulo trazia a bondade estampada no semblante calmo de criatura nascida para o bem. Soube há pouco tempo, por testemunhos de alguns dos seus mais leais amigos, que na intimidade dos seus parceiros era carinhosamente chamado por: (JP) Joãozinho.

Tranquilo e discreto, trazia qualquer coisa de espiritual nas suas atitudes que nos lembravam serem heranças dos seus bondosos e saudosos pais, Patrocínia Marques Dias (1929-1989) – catequista e vicentina na Comunidade de São Vicente de Fora e António Dias (1919-2003). Muito fervorosos na sua fé cristã e grandes defensores das causas justas dos seus semelhantes, os pais de João Paulo estavam sempre dispostos a orientar os que sentiam qualquer embaraço nas atribuições da vida.

O Padre Correia da Cunha reconhecia neste seu discípulo o espírito iluminado. As suas cultas e inteligentes ideias tinham o reflexo das coisas puras e simples. Nas suas poucas palavras, havia sempre um brilho que lhe permitia granjear uma enorme legião de admiradores e amigos.

O João Paulo Marques Dias, no dia que celebrava o seu aniversário, ao dirigir-se para o comemorar com a sua família, foi atraiçoado pela violência de um acidente rodoviário que lhe retirou a vida. Ninguém aguardava que a morte, desta forma tão cruel e terrivelmente silenciosa, o viesse retirar do convívio dos seus familiares e amigos, onde ele irradiava tanta e serena alegria. Ainda hoje é recordado pela sua imensa bondade e esperança, numa vida de verdadeira harmonia e paz.

Hoje, no dia do seu aniversário, é o momento certo para agradecermos toda a beleza que ele demonstrou por onde passou… Muitos parabéns, JP!

Deixou-nos a todos a missão de espalhar as sementes responsáveis pela construção de uma verdadeira e sã amizade, enquanto não formos chamados pelo insondável designo de Deus.

É mais que justo, agora que passaram 10 anos, prestar uma sentida homenagem ao João Paulo Marques Dias, em nome de todos os amigos de Padre Correia da Cunha.

Foi no dia 21 de Outubro de 2000, que ele nos deixou privados da sua querida e amável presença. Fica-nos a sua memória, ele foi repousar na Glória de Deus. Hoje, junto do Pai e de seu grande amigo Padre Correia da Cunha e dos seus familiares está à nossa espera e entretanto continuará a interceder por todos nós que não queremos nem podemos esquecer a sua lembrança.

Deixo aqui este testemunho com a convicção que muitos dos seus amigos vivos o comentarão, prestando a merecida homenagem à memória deste nosso saudoso e grande amigo de São Vicente de Fora…, que teve um coração do tamanho das infindáveis estradas europeias, que ele tantas vezes calcorreou.


São Vicente de Fora guarda-o em seu coração! Deixou em todos muitas saudades.


RECEBEI, SENHOR, NO REINO DOS JUSTOS O NOSSO IRMÃO.
















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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

PE. CORREIA DA CUNHA E AS MASCOTES

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‘’…mantiveram o seu secular papel de guardiãs de S. Vicente.’’





‘’Uma das mais conhecidas lendas é a dos Corvos de S. Vicente. Está historicamente registado que o diácono Vicente “sofreu suplício até à morte em Valência” quando pregava o cristianismo. Os cristãos daquela cidade espanhola quiseram pôr a salvo o corpo do mártir e fugiram pelo mar. A viagem decorreu sem incidentes até chegarem a um promontório no Atlântico, altura em que uma tempestade os arrastou até às assustadoras “junto a uma terra muito bela com um grande promontório”.


O mestre do barco disse-lhes que a terra se chamava Algarve e que o cabo se chamava promontório Sacro, antigo nome de Sagres.


Devido aos estragos da tempestade, o barco encalhou entre Sagres e o Cabo de S. Vicente. Para fugir a embarcações piratas, os devotos desembarcaram a sua preciosa relíquia. O comandante do navio prometera-lhe continuar a viagem depois de passado o perigo dos corsários, mas nunca mais apareceu, pelo que decidiram construir na falésia uma ermida e um mosteiro em memória de S. Vicente.


Será possível imaginar, sem dificuldade, o pequeno barco a percorrer toda a costa algarvia, as falésias douradas sucedendo-se a praias de areais claros, até chegar ao imponente promontório de Sagres, logo seguido do Cabo de São Vicente. Ainda hoje, muitos séculos volvidos, a natureza do lugar mantém-se impoluta e cheia de encanto.


Continuando a lenda, o primeiro rei de Portugal D. Afonso Henriques, soube de um “lugar santo” a Sul onde estariam relíquias sagradas.


Logo ordenou uma expedição, para as trazer para Lisboa, pois nessa altura o Algarve era ainda terra de mouros e não pertencia ao reino de Portugal.


Todavia, o tempo apagara os vestígios da primitiva ermida e os cristãos que a construíram não se destrinçavam da população árabe.


Porém, o capitão do navio ao navegar junto da falésia foi surpreendido por um bando corvos, e seguindo-os, o enviado do Rei encontrou o esconderijo onde estava o sepulcro. Extraordinariamente as aves, mantiveram o seu secular papel de guardiãs de S. Vicente, e nos mastros do navio seguiram até Lisboa. Em honra desta lenda, os corvos figuram nas armas da capital.


Curiosamente, os corvos são das aves que se podem encontrar entre a avifauna da costa Sagres, marca desde sempre a história de Portugal, como um lugar de sonho e de Descoberta.’’


Padre Correia da Cunha, durante longos anos, possuía nos claustros do Mosteiro de São Vicente de Fora, dois bonitos corvos negros, os quais eram considerados as suas mascotes.

Estes corvos foram ‘’ baptizados’’ pelo Pe. Correia da Cunha com os nomes de: VALÉRIO E VICENTE.

Rogério Simões, que conheceu bem estes dois maravilhosos corvos, hoje partilha connosco uma bela história sobre tão ilustres personagens:






Era um vez um menino traquina, de seu nome Rogério, que foi fotografado nos claustros da Igreja de S. Vicente de Fora a "fazer festinhas" ao espertalhão do corvo Vicente.

Faz muito tempo! O corvo era a mascote do Padre José Correia da Cunha e o menino ‘’desconfiado’’ colocava a mão a medo.

O Vicente quando se sentia protegido, pelo Prior, tornava-se altivo e ao mínimo descuido bicava ‘’ na canalha’’- nos putos.

Ao lado do Panteão Real da Casa de Bragança fica o Pátio dos Corvos, onde vivia desterrado o outro corvo – o Valério.


O Valério que era amigo dos jovens cicerones – dos putos – e por não ter o mesmo estatuto do corvo Vicente tinha sido desterrado. Mas os putos gostavam do Valério! E para o Valério demonstrar a sua lealdade pelos meninos, e rapazolas, saltava para cima dos nossos sapatos desfazendo o laço dos atacadores. Era uma atracção p’ro turista, enquanto, o corvo Vicente ficava-se pela sala paroquial, a petiscar do pequeno-almoço, na companhia de Padre Correia da Cunha.


No dia da foto o Vicente apareceu nos claustros. Teve sorte: ficou na fotografia.
Certo dia, o corvo Vicente, apareceu afogado nos claustros do primitivo convento
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Texto de Rogério Martins Simões
(Retratos da alma e do poeta – São Vicente de Fora)
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domingo, 26 de setembro de 2010

PADRE CORREIA DA CUNHA – 93º ANIVERSÁRIO

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‘’A SUA VIDA FOI UM HINO À AMIZADE. ‘’


No dia 24 de Setembro 2010, celebrava 93 anos de vida terrena se fosse vivo. Padre Correia da Cunha teve uma vida inteiramente dedicada aos outros, sobretudo aos muitos jovens que frequentavam assiduamente a sua Paróquia. O seu exemplo de simplicidade, humanidade e cultura singular, ainda hoje, continua a inspirar os seus muitos discípulos que obstinadamente querem e desejam mantê-lo vivo nas suas vidas.

Este ano um grupo de amigos prestou-lhe uma singela homenagem com uma romagem ao seu mausoléu, no Cemitério do Alto de São João. Em perfeito espírito de reverência e silêncio, este grupo depôs uma coroa de flores e implorou para que Padre Correia da Cunha goze para sempre a vida bem aventurada e o esplendor da glória eterna.







Robert Descombes, organista itinerante de São Vicente de Fora nos anos 60/70, aproveitou para transmitir aos presentes um testemunho comovente sobre este seu grande e inesquecível amigo: “ No ano de 1976 quando me despedia, no Aeroporto de Lisboa, de Padre Correia da Cunha até ao próximo ano… este com uma voz embargada dizia-me: - Robert, para o ano, já cá não estarei… Recordo que já manifestava grandes fragilidades na sua saúde. Faz este ano, 34 anos, que não voltei a visitar esta encantadora cidade. Quando recebi a notícia da sua morte, no ano de 1980, tomei de imediato consciência que visitar Lisboa seria para mim uma profunda angústia e um duro sofrimento.

Este ano tive uma prenda de vida ao descobrir o blogue de João Paulo Dias, que através de uma linguagem acessível presta um magnífico tributo a este homem de grande génio, que desde a primeira hora me encantou pela sua frontalidade, simpatia e generosidade, proporcionando viver a época mais bela e encantadora da minha vida… que já leva 63 anos.

Naquele majestoso órgão ibérico, da sua igreja, seguramente o mais belo da Península Ibérica, passei dias e noites a realizar um trabalho que era para mim imperscrutável e sobrenatural. Quantas vezes, Padre Correia da Cunha se sentava nos longos bancos da igreja, deixando-se envolver pela música desse fabuloso órgão. Tudo me parecia algo de místico e sobrenatural… que belas e gratificantes recordações, conservo da sua pura amizade.



…A cidade de Lisboa, sem Padre Correia da Cunha, já não é a Lisboa que aconchegava dentro do meu coração tão português…

O bairro de São Vicente de Fora, sem Padre Correia da Cunha, já não tem alma e as tão belas vivências que foram aniquiladas pelo abandono das pessoas que ali tinham raízes profundas…

O mosteiro de São Vicente de Fora, sem Padre Correia da Cunha, já não atesta a expressão humana e afectiva que lhe era conferida pela imensa alegria da generosa juventude, que o rodeava. É um simples museu de peças de arte…

A igreja de São Vicente de Fora, sem Padre Correia da Cunha, mantém a alvura da sua fachada. O seu encerramento desde há 3 anos é inacreditável! Já não atrai ou encanta para dar a conhecer nenhum projecto de fé, cultura … são pedras mortas…
Relembro os grandes cerimoniais que Padre Correia da Cunha realizava naquele templo, acompanhados pelos oceânicos sons daquele órgão, o meu preferido… ’’

Alguns dos amigos ali presentes, nesta romagem, deixaram-se envolver pela arte cénica e representaram trechos do seu Auto de Natal, editado no ano de 1962 e representado nas escadarias da igreja de São Vicente de Fora pela primeira vez na noite de 24 de Dezembro do ano de 1961.

Os últimos momentos foram para um forte aplauso a este amigo com quem partilhámos verdadeiros ideais de vida cristã e humana e que uma vez mais nos congregou pelo seu vivo testemunho: o mais belo da vida é a capacidade de nos amarmos uns aos outros, ou seja, sermos bons e leais amigos. Obrigado Padre Correia da Cunha.

As orações evocativas foram confiadas ao Exmº Comandante Eugénio Duarte Ramos. Parceiro nas longas viagens efectuadas ao serviço da marinha quando Padre Correia da Cunha exercia as funções de Capelão da Armada.

Embarcou com Padre Correia da Cunha, em meados de 1958, no velho NE ‘’Sagres”, participando na segunda Regata dos Grandes Veleiros (Tall Sailing Ships), que decorreu entre Brest (França) e Canárias e que fez escala em Las Palmas e em Santa Cruz de Tenerife. Esta era a viagem de final de curso da Escola Naval, do Comandante Eugénio.





A data foi igualmente marcada com a realização de um jantar de confraternização num elegantíssimo restaurante da doca do Jardim do Tabaco, situado nas fraldas da sua querida Alfama, com uma magnífica vista sobre o Tejo, com todos estes seus velhos amigos. O Padre Correia da Cunha esteve presente através duma enorme fotografia com o seu companheiro inseparável, o corvo ‘’Vicente’’.

Reinou uma galante boa disposição, sendo os diálogos entre todos os convidados, as memórias dos bons e saudosos momentos passados na companhia deste querido e saudoso amigo.

Foi uma noite muito agradável, reinando um verdadeiro espírito fraterno durante a aprazível refeição.




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