segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

PE. CORREIA DA CUNHA – NATAL 2019















«O VERBO SE FEZ CARNE, HABITOU

 ENTRE NÓS…»





Natal! Os anos vão passando… Uma vez mais lembrando ao mundo cristão, a efeméride lendária do nascimento de um menino que veio à Terra trazer uma mensagem de fraternidade, piedade e compaixão. Foi portador de uma boa notícia de Paz e Amor ao próximo. 

Ninguém sabe quando Jesus de Nazaré nasceu. Há dois mil anos que importância teria, na Palestina, o nascimento do filho de um carpinteiro e duma jovem de nome Maria? 

A natividade de Jesus Cristo simboliza a luz. A data simbólica de 25 de Dezembro estava ligada às celebrações das festas Saturnálias que o Império Romano promovia ao Deus Apolo, considerado como Sol Invicto, ou ainda de Mitra, adorado como Deus-sol. 

Para as comunidades Cristãs primitivas, Jesus Cristo era o único verdadeiro Sol para toda a humanidade. 

Só no séc. IV, as comunidades cristãs tendo como Papa Júlio I adoptaram o dia 25 de Dezembro para se celebrar o dia do nascimento de Jesus Cristo. Festa que os cristãos celebram desde há 1600 anos. 

Esse menino foi exemplo da humildade e da fraternidade. 

Hoje ao debruçarmo-nos sobre a imagem daquele recém-nascido, no presépio iluminado, recordamos que foi S. Francisco de Assis que introduziu no século XIII, este símbolo ao nascimento do Salvador. Referiu Francisco: «Quereria vê-lo com estes meus olhos, exactamente como ele esteve no presépio, deitado a dormir sobre a palha duma manjedoura». 

O Natal é um mistério que continua flutuando no espírito da humanidade. Sendo-se crente ou não, há no coração de cada indivíduo o sentimento de uma festa de família, e nesse abençoado dia há milagres que se concretizam e ideais que se realizam. É um dia de serenidade que desperta nas nossas almas as emoções de paz e amor. E nesse bem-aventurado dia, milhões de lares se identificam na lei: «amai-vos uns aos outros…».




A história da vida desta celebração da natividade perde-se na abundância de acontecimentos de generosidade, misericórdia e partilha que às vezes a nossa imaginação não concebe. Mas a vida é assim. 

Tudo na vida gira em volta de alguma fé. E em cada Natal abraçamos na nossa imaginação a infinita bondade de Jesus Cristo, colocando na consciência de cada um o verdadeiro sentimento de solidariedade. 

O Natal é o dia consagrado ao nascimento de Jesus de Nazaré, mas a maior festa do cristianismo continua a ser a Páscoa, e como recordo bem as palavras do Padre Correia da Cunha: «Nascer todos nascemos. Mas ressuscitar só Ele». A vitória da vida sobre a morte e alegria da vida eterna. 

Envolto nos sentimentos de fé em Jesus Cristo, peço-lhe que venha iluminar os caminhos da fraternidade. 

Termino com um desejo de paz e harmonia para os corações dos meus familiares e amigos do blogue Homenagem a um grande mestre de vida.

Natal. Jesus. Desejos de um Santo Natal.
















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quarta-feira, 20 de novembro de 2019

PE. CORREIA DA CUNHA – ACÇÃO CATÓLICA XVIII










VIVER PARA A ESPERANÇA…




Inicio este texto a partir de memórias dos meus tempos de adolescência. Como sabemos ninguém nasce com princípios éticos. É preciso que alguém nos ensine o conjunto desses valores. O Padre Correia da Cunha, ao longo da sua vida sempre abraçou essa missão.

Creio que ele tinha a maior simpatia pelos jovens rebeldes  que pelos acomodados, pois para ele educar era perdoar e que cada um dos jovens devia contribuir para a transformação do mundo. O Padre Correia da Cunha lembrava sempre que ao contrário do proclamado por muitos, não devemos esperar que o mundo se transforme para nos transformarmos.

Pergunto – me, passados mais de cinquenta anos, se o Padre Correia da Cunha professava mais o modelo de perdão judaico, ou o da doutrina defendida pelo catolicismo, em que os pecados só são perdoados pela absolvição do sacerdote.

Quando alguém dele se abeirava para a confissão, sempre o advertia para que se dirigisse junto do sacrário e pedisse perdão a Deus pelos pecados cometidos contra Deus, pelos pecados cometidos contra os irmãos, que fosse ao seu encontro e lhe pedisse desculpa. Não era preciso andarmos todos os dias a confessar os pecados.

Os confessionários na comunidade paroquial de São Vicente de Fora, acumulavam camadas de pó, pois para o Padre Correia da Cunha o grande momento de reconciliação era a grande celebração comunitária que se realizava anualmente no período da Quaresma.

Seria para mim uma grande alegria poder resgatar os guiões elaborados pelo punho do Padre Correia da Cunha para essas celebrações que eram uma profunda autópsia às nossas consciências e que nos ajudavam na descoberta do caminho da graça e no pedágio da salvação.

No decorrer destas celebrações havia sempre um tempo em que éramos convidados a abraçar os irmãos que tínhamos ofendido, um amigo ou um vizinho e a reconhecer o nosso erro. Eles tinham o dever de perdoar. O perdão deveria ser uma promessa de esquecimento.

Ninguém é tão pecador que não possa encontrar força, pureza e justiça em Jesus Cristo, que por todos morreu…

À medida que nos aproximamos de Deus em arrependimento e contrição, Ele se aproximava de nós com misericórdia e perdão. O caminho que parecia coberto de trevas tornava-se iluminado pela graça. Foi para salvar os pecadores que Jesus veio ao Mundo.

E falando de perdão não posso deixar de narrar um episódio que li e que me causou uma enorme emoção. Quando Nelson Mandela tomou posse de chefe de estado da Africa do Sul, para essa cerimónia oficial convidou e fez questão de ter a seu lado os dois carcereiros que ao longo dos vinte sete anos de prisão o tinha aprisionado e mal tratado. Não optou por ter nesse dia a seu lado os famosos da política internacional. Este gesto de Nelson Mandela fez-me recordar a crucificação de Jesus Cristo no Calvário ao lado de dois ladrões. Ele quis que o olhassem como um ser humano e só se enobreceu com este gesto de humanidade, à semelhança de Cristo não se rebaixou, antes pelo contrário, se elevou.

A confissão do pecado seja, ela pública ou em privado, deve ser feita de maneira franca e sincera, visando a mudança de atitude e pensamento e com o desejo de se dar inicio a uma nova direcção.

Termino recordando o apóstolo Tiago: ‘’ Confessai, pois os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes perdoados.’’

Confessemos pois os nossos pecados a Deus, o único que pode perdoá-los e as nossas faltas uns aos outros.

O Padre Correia da Cunha ajudava-nos a pensar nos grandes princípios da ética. Estes valores ajudar-nos-iam a contribuir para não mancharmos a nossa história e a não desonrarmos as nossas famílias, pelo que deveríamos cuidar da nossa decência e a termos como regra: um por todos e todos por um! Não nos deixemos arreigar à ideia de cada um por si, Deus por todos, que nos afastará decisivamente de vivermos para a grande esperança.







texto Padre Correia da Cunha

Trabalho positivo do assistente eclesiástico

Não deve encaminhar as almas para a santidade através de um prima difícil e quase impossível apresentando-lhes barreiras como que intransponíveis, mas deve abrir-lhe perspectivas bem como ilimitados horizontes de progressos na intimidade divina acessível a qualquer alma de boa vontade. 

A santidade não é só para religiosos como muitos erradamente pensam, sem autopsiar-se à Acção divina nem passar além das disposições determinadas por Deus, devemos pô-las nas largas avenidas do abandono a Deus que conduzirão as almas à sua inegável união. 

Nos primeiros passos da vida purgativa e mesmo iluminativa devem as almas ter sempre largos horizontes. 

O que é verdade para qualquer alma é o também para os jocistas que não são cristãos de categoria inferior, mas privilegiados. São necessários assistentes sábios mas de experiencia. A nós compete pensar nestas coisas e tornar-lhes fáceis estas ascensões a que eles têm vontade de subir, inculcando-lhes estes dois pensamentos fundamentais: o culto do estado de graça e o rendimento sobrenatural de uma vida de apostolado que é o exercício da caridade para com o próximo. 

Culto do estado de graça. 

Culto significa cultivo, adorno, rodeio de cuidados. 

Implica conhecimentos, estima e aperfeiçoamento daquilo que estamos para desenvolver: o estado de graça. É neste tríplice sentido que empregamos a palavra. Esta palavra estado, aqui não implica possibilidade, nada mais dinâmico que a graça participação incriada da vida incriada que é Deus fonte de toda a vida. Da parte de Deus é um dom definitivo; importa muito apresentar claramente aos jocistas este grande mistério ponto central e culminante da vida cristã para que compreendam, admirem e se torne praticamente o centro da sua vida e fim de seus labores. Não se trata de formar teólogos nem mestres na apologética, mas verdadeiros cristãos que saibam o essencial da sua religião. 

Assim não teremos fiéis por rotura, costume ou tradição, mas cristãos conscientes, orgulhosos da sua fé que conheçam estimem e pratiquem todas as suas exigências porque percebem a sua provação com o fim último. São exigências do Pai que só procura o bem de seus filhos. Assim saberão as razões da sua fé e vivê-la-ão. Não procuraremos espíritos servis melancolicamente envergonhados, mas espíritos ardentes e dedicados ao serviço de Deus. 

O Dogma da graça santificante é Luz 

Buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça. 

A vida eterna é conhecer Deus e a sua graça. Acreditemos no amor de Deus, tais são os grandes sonhos da vida cristã cujo cumprimento tem por prémio a vida eterna. Ora o dogma da graça santificante as pressupõe e as une e beneficia pois é a tradução do amor em que Deus tem a pobre criatura que tirou do nada e elevou à participação da própria natureza divina para um dia associá-la à sua felicidade. 

Este dogma como que envolve em luminosa auréola e coloca no centro da muita fé e da vida o filho unigénito de Deus dado pelo Pai para a nossa restauração espiritual. 

É pois corolário dos mistérios da encarnação e redenção. Este dogma leva-nos ao entendimento da vida de Cristo no seu Corpo Místico que é a Igreja: Ele cabeça, nós os membros. 

Perante o amor que obrigou a entregar-se à morte pela Igreja para a apresentar gloriosa e sem mácula, tornando-se faróis os grandes desígnios da caridade do Senhor. 

O Dogma da graça santificante é calor 

É totalmente verdade que para muitos cristãos os dogmas não passam de definições abstractas e frias que pouco ou nada dizem. Ignoram que todos trazemos o selo do amor que é a própria definição de Deus. 

Este amor é nos revelado infalivelmente por este dogma que nos há-de embelezar pela grandeza que nos faz descobrir em nós e nas esperanças que descortina. Sacia as nobres aspirações da natureza humana e ensina-nos que Deus olha com carinho e mesmo com reverência o mais humilde operário e o enriquece para a eternidade e o tira da miséria e da lama. 

Esta doutrina deve suscitar a admiração e entusiasmo pois é uma grande realidade a única, a que confere a maior dignidade pessoal que se pode imaginar: a dignidade de filhos de Deus, de morrer sob a protecção de Deus que reina em nós e nos convida a penetrar na sua intimidade (conf. Efs. III,18). Assim arraigados na caridade poderemos dar-nos a Cristo e receber D’ele a plenitude da sua graça. 

Eis o que torna suave o jugo do Senhor. Quem ama faz a vontade do amado em tudo. 

Como explicar este dogma.

Hoje a quase totalidade dos cristãos ignora tudo isto ou não compreende. Para tirar esta ignorância orientemos neste sentido as suas leituras, meditações e reflexões. Inculquemos a caridade proferida que dá à vida cristã a contemplação, este mistério para o qual deve convergir tudo. 

- dogma, moral, vida intima e social, oração e vida litúrgica, veremos logo se este ensino é bem assimilado e tem influencia, sobretudo devemos evitar o simples formalismo. 

A lógica diz que seria ilusão pretender para os nossos operários aquisição destas convicções sem que nós sintamos que eles envolvem e enchem a nossa própria vida. Nós havemos de tornarmos-nos tanto mais ricos quanto mais temos de comunicar. 

Como traduzi-lo na vida 

Temos que urgir contra esta ideia que muitos fazem do estado de graça: o não ter pecado mortal na consciência: Não é viver cristãmente. Isto é incompleto. São raras as almas que sabem que o acto de contrição após um pecado mortal nos perdoa o pecado e nos poe logo a viver Cristo contanto que haja o propósito de confissão. O acto de contrição perfeito é a chave do paraíso que havemos de ter sempre na oração para a termos no momento da morte.

Trabalho positivo do assistente eclesiástico 

Não deve encaminhar as almas para a santidade através de um prima difícil e quase impossível apresentando-lhes barreiras como que intransponíveis, mas deve abrir-lhe perspectivas bem como ilimitados horizontes de progressos na intimidade divina acessível a qualquer alma de boa vontade. 

A santidade não é só para religiosos como muitos erradamente pensam, sem autopsiar-se à Acção divina nem passar além das disposições determinadas por Deus, devemos pô-las nas largas avenidas do abandono a Deus que conduzirão as almas à sua inegável união. 

Nos primeiros passos da vida purgativa e mesmo iluminativa devem as almas ter sempre largos horizontes. 

O que é verdade para qualquer alma é o também para os jocistas que não são cristãos de categoria inferior, mas privilegiados. São necessários assistentes sábios mas de experiência. A nós compete pensar nestas coisas e tornar-lhes fáceis estas ascensões a que eles têm vontade de subir, inculcando-lhes estes dois pensamentos fundamentais: o culto do estado de graça e o rendimento sobrenatural de uma vida de apostolado que é o exercício da caridade para com o próximo. 

Culto do estado de graça. 

Culto significa cultivo, adorno, rodeio de cuidados. 

Implica conhecimentos, estima e aperfeiçoamento daquilo que estamos para desenvolver: o estado de graça. É neste tríplice sentido que empregamos a palavra. Esta palavra estado, aqui não implica possibilidade, nada mais dinâmico que a graça participação incriada da vida incriada que é Deus fonte de toda a vida. Da parte de Deus é um dom definitivo; importa muito apresentar claramente aos jocistas este grande mistério ponto central e culminante da vida cristã para que compreendam, admirem e se torne praticamente o centro da sua vida e fim de seus labores. Não se trata de formar teólogos nem mestres na apologética, mas verdadeiros cristãos que saibam o essencial da sua religião. 

Assim não teremos fiéis por rotura, costume ou tradição, mas cristãos conscientes, orgulhosos da sua fé que conheçam estimem e pratiquem todas as suas exigências porque percebem a sua provação com o fim último. São exigências do Pai que só procura o bem de seus filhos. Assim saberão as razões da sua fé e vivê-la-ão. Não procuraremos espíritos servis melancolicamente envergonhados, mas espíritos ardentes e dedicados ao serviço de Deus.









O Dogma da graça santificante é Luz 

Buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça. 

A vida eterna é conhecer Deus e a sua graça. Acreditemos no amor de Deus, tais são os grandes sonhos da vida cristã cujo cumprimento tem por prémio a vida eterna. Ora o dogma da graça santificante as pressupõe e as une e beneficia pois é a tradução do amor em que Deus tem a pobre criatura que tirou do nada e elevou à participação da própria natureza divina para um dia associá-la à sua felicidade. 

Este dogma como que envolve em luminosa auréola e coloca no centro da muita fé e da vida o filho unigénito de Deus dado pelo Pai para a nossa restauração espiritual. 

É pois corolário dos mistérios da encarnação e redenção. Este dogma leva-nos ao entendimento da vida de Cristo no seu Corpo Místico que é a Igreja: Ele cabeça, nós os membros. 

Perante o amor que obrigou a entregar-se à morte pela Igreja para a apresentar gloriosa e sem mácula, tornando-se faróis os grandes desígnios da caridade do Senhor. 

O Dogma da graça santificante é calor 

É totalmente verdade que para muitos cristãos os dogmas não passam de definições abstractas e frias que pouco ou nada dizem. Ignoram que todos trazemos o selo do amor que é a própria definição de Deus. 

Este amor é nos revelado infalivelmente por este dogma que nos há-de embelezar pela grandeza que nos faz descobrir em nós e nas esperanças que descortina. Sacia as nobres aspirações da natureza humana e ensina-nos que Deus olha com carinho e mesmo com reverência o mais humilde operário e o enriquece para a eternidade e o tira da miséria e da lama. 

Esta doutrina deve suscitar a admiração e entusiasmo pois é uma grande realidade a única, a que confere a maior dignidade pessoal que se pode imaginar: a dignidade de filhos de Deus, de morrer sob a protecção de Deus que reina em nós e nos convida a penetrar na sua intimidade (conf. Efs. III,18). Assim arraigados na caridade poderemos dar-nos a Cristo e receber D’ele a plenitude da sua graça. 

Eis o que torna suave o jugo do Senhor. Quem ama faz a vontade do amado em tudo. 

Como explicar este dogma. 

Hoje a quase totalidade dos cristãos ignora tudo isto ou não compreende. Para tirar esta ignorância orientemos neste sentido as suas leituras, meditações e reflexões. Inculquemos a caridade proferida que dá à vida cristã a contemplação, este mistério para o qual deve convergir tudo. 

- dogma, moral, vida intima e social, oração e vida litúrgica, veremos logo se este ensino é bem assimilado e tem influencia, sobretudo devemos evitar o simples formalismo. 

A lógica diz que seria ilusão pretender para os nossos operários aquisição destas convicções sem que nós sintamos que eles envolvem e enchem a nossa própria vida. Nós havemos de tornarmos-nos tanto mais ricos quanto mais temos de comunicar. 

Como traduzi-lo na vida 

Temos que urgir contra esta ideia que muitos fazem do estado de graça: o não ter pecado mortal na consciência: Não é viver cristãmente. Isto é incompleto. São raras as almas que sabem que o acto de contrição após um pecado mortal nos perdoa o pecado e nos poe logo a viver Cristo contanto que haja o propósito de confissão. O acto de contrição perfeito é a chave do paraíso que havemos de ter sempre na oração para a termos no momento da morte.















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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

PE. CORREIA DA CUNHA – ACÇÃO CATÓLICA XVII










«CRIANÇA IMAGEM COLORIDA E 

SAUDOSA.»



Vestíamos a melhor roupa que tínhamos para ir à missa dominical presidida pelo Padre Correia da Cunha, na igreja de São Vicente de Fora, a mais bela e monumental igreja do bairro. Chegados a casa, depois da catequese essa roupa era cuidadosamente guardada até ao próximo domingo.



Naquele tempo o domingo (Dia do Senhor) era o oásis para culminar uma semana de trabalho escolar. A missa dominical revestia-se do maior cerimonial, celebrada no esplendoroso altar-mor sob o monumental baldaquino barroco ricamente decorado com relevos, esculturas e douramentos. 

O senhor prior fazia questão de ter junto de si sempre doze meninos do coro (simbolizavam os 12 apóstolos presentes na última ceia), todos vestidos com alvas brancas com capuz e cíngulo vermelho, simbolizando o martírio do padroeiro, o jovem diácono Vicente.

Nas manhãs de domingo uma vasta multidão de crianças e adolescentes apresentava-se na sacristia do mosteiro para tomarem parte do majestoso cortejo e ajudarem à celebração da Eucaristia. Todos alimentavam o forte desejo de se sentarem no altar-mor e serem vistos pelos paroquianos que enchiam completamente todas as naves do imenso templo. Essa era a ilusão que todos tínhamos mesmo querendo disfarçar esse imenso desejo. Consegui-lo era para cada um de nós uma enorme felicidade.

Ali sentados, em lugar de destaque, ouvíamos em atitude de silêncio os belos cânticos litúrgicos, as grandes prelecções e preces religiosas… que enchiam as almas de todas as piedosas crianças. 

Recordo que à época a catequese paroquial era frequentada por volta de quinhentas crianças de ambos os sexos. 

Todos sonhávamos em participar nessa celebração dominical, mas bem cedo me dei conta que o sacerdote dava primazia aos meninos que durante a semana ajudavam na missa diária das seis e meia. 

Durante a semana o Padre Correia da Cunha apenas podia contar com dois ou três rapazinhos para ajudar à missa. 

A missa diária era celebrada num dos altares do transepto do templo, o dedicado à Nossa Senhora da Conceição e os meninos envergavam uma opa branca coberta com uma romeira de cor azul celeste. Não havia lugar a grande cerimonial. Eu era um dos que não faltava diariamente a uma visita ao Santíssimo Sacramento. Era da praxe pedir da bênção do senhor prior, antes de participar na celebração desse acto de culto envergando a opa mariana.



O padre Correia da Cunha era um respeitador da realidade da vida em harmonia com as leis das coisas. E o mais nobre sentimento humano para ele era desejar ao seu semelhante, aquilo que desejava para si.

Bem cedo aprendi que é mais fácil sermos obedecidos, bastando apenas obedecermos, sem pensar nos nossos direitos… pois era assim; que sempre me era garantido o prémio de conforto na missa dominical. 

O próprio padre Correia da Cunha se encarregava de fazer a entrega das alvas brancas e cíngulos aos rapazes que durante a semana participavam na Eucaristia vespertina.

Não sei porque estou a escrever estas vivências de há mais de cinquenta anos. Mas lembro que foram estes acontecimentos da minha vida de criança que me vieram à memória, depois de ler atentamente este belo texto da autoria do Padre Correia da Cunha, que hoje, com muito prazer publico.

Todas as crianças nos inspiram sempre certos sonhos da nossa infância, de alguma inocência, que ao longo das nossas vidas conservamos para nos ajudarem a meditar na nossa vida espiritual.

Eu era um menino de sete ou oito anos, quando fui encontrar na comunidade paroquial de São Vicente de Fora, um padre que me amparou e se esforçou para me indicar o caminho da perfeição.

Creio que era um menino simpático e esperto e que também não deixava de fazer algumas travessuras. Mas a minha participação activa nos actos de culto e na frequência da catequese que ocorria após a celebração da missa das dez horas de cada domingo, muito me ajudaram na busca de uma vida cristã baseada na oração caritativa e sacramental.







Texto  do Padre Correia da Cunha

FIM DOS EXERCÍCIOS DE PIEDADE 

Já vimos que não passam de meios para alcançar o espirito de oração. Tratando-se de trabalhadores que tem absorvida a actividade toda pelo labor, não lhes é possível muitas vezes a piedade litúrgica…E oxalá que a todos chegasse o tempo para fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento todos os dias à tarde. 

Por tal é necessário acabar a solução de como os operários devem praticar os exercícios de piedade a fim de adquirirem o espírito de oração que lhe é indispensável. 

EXERCÍCIOS INDISPENSÁVEIS: ORAÇÃO DA MANHÃ E MISSA DOMINICAL 

Todo o jocista precisa de fazer bem a sua oração da manhã, não propriamente com fórmulas decoradas e talvez complexas e por ele mal compreendido, mas com um movimento espontâneo de fé na presença de Deus juntamente com o oferecimento do dia com a sua actividade toda e a impetração de graças. É muito aconselhável um breve exame de previsão do que lhe pode suceder e do modo como deve reagir. 

Mais importante ainda é a Missa Dominical. 

Um jocista deve sempre participar no sacrifício; deve integrar-se no sentido do ofertório e saber que também deve levar a sua parte de oferenda trabalhos, lutas para em união com Cristo na cabeça, adquirirem todo o valor. Da Missa e Comunhão haverá novas energias para a semana que começa e para bem oferecer aquilo que Deus mandar. 

A intimidade com Jesus progressivamente irá aumentando e, assim o jocista fervoroso sentirá pelo dia adiante necessidade de exprimir a Cristo o entusiasmo de sua fé, a sua confiança o seu amor e o desejo de mais se unir a Ele. 

JACULATÓRIAS 

Os sentimentos diversos do Amor de Deus, a que nos referimos, são muitas vezes traduzidos nessas pequeninas mas penetrantes setas que dirigimos ao Céu e que se chamam: Jaculatórias.





O QUE É A MEDITAÇÃO 

Que a frequência de jaculatórias corresponda a um estado de alma que se eleva a Deus ou se concentra com a beatíssima Trindade que habita nela em estado de graça! 

A prática das jaculatórias conduz à meditação. 

Há vários modos de a fazer; mas ela deve ser sempre um colóquio filial e respeitoso do homem, com o Criador e Redentor, em que reconhecemos a nossa total dependência d’Ele. 

Podem fazer-se por vários métodos, mas a oração mental é acima de tudo uma expressão ordenada da caridade na intimidade com Deus no endireitar todas as potências, não tanto para um tema dado, como para uma pessoa: - Jesus Cristo. 

OUTROS EXERCÍCIOS PIEDOSOS: MISSA DIÁRIA 

Lembramos os exercícios de todos os cristãos: ao Sagrado Coração de Jesus, e por seu amor do salvador, à Santíssima Eucaristia e à participação diária no Sacrifício do Senhor. 

A Nossa Senhora, mãe e medianeira, não deve esquecer a devoção dos jovens, sobretudo para alcançar a pureza; São José modelo de vida de trabalho deve ter um cantinho no coração dos nossos jovens operários católicos. 

Todavia é para a Missa diária e comunhão se possível que o esforço do sacerdote deve tender. 

EDUCAÇÃO SACRAMENTAL 

Sabemos que os dons de Deus por excelência são os sacramentos – sinais corpóreos porque não somos puros espíritos… Mas quanto se não tarda em dar contas dessas expressões que traduzem o amor imenso de Deus às almas. 

Daí devemos ter empenho em completar a educação sacramental (iniciada no Catecismo chamando a atenção e exortando as vontades sobretudo para o Baptismo, Eucaristia e Penitencia, afim de os efeitos «ex opere operato» não fiquem diminuídos pelas deficientes disposições do sujeito.

















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quinta-feira, 12 de setembro de 2019

ALA DOS AMIGOS DE PE. CORREIA DA CUNHA








Os amigos que partiram…








IN MEMORIAM


MARINA HELOÍSA ÁLVARES SERRÃO

 (1935-2019)




Marina Heloísa Álvares Serrão  – nasceu na cidade de Santarém, no dia 14 de Janeiro de 1936 e faleceu na cidade de Lisboa, no dia 9 de Setembro de 2019.

Marina Serrão! Nome que é um símbolo!

Era símbolo de crença, de bondade e de quantas boas e indescritíveis qualidades. Era uma mestra! Era uma grande catequista! Os adolescentes procuravam-na, buscando os encantos do seu convívio. A todos recebia de braços abertos a todos auxiliava.

Era uma crente de uma fé esclarecida e sincera, um coração de ouro. Marina tinha uma nobre alma perfumada pelas regras de São Francisco de Assis, o amoroso contemplativo e doce amigo dos humildes. Era muito sensível  a todas as obras de caridade, onde participava no exacto cumprimento dos seus deveres de boa cristã. Era assim, uma verdadeira ‘franciscana’, reflectindo no trato e nas conversas com os seus jovens, esta nobreza de alma.

A esmerada educação, a tolerância e o carinho deviam pertencer à sua família, mas a ‘santidade’ essa era para todos e não herança de pessoa alguma.

Recordações…uma ficará para sempre gravada na minha memória. Aquela tarde do mês de Janeiro de 2009, quando a visitei em sua casa para lhe dar uma agradável surpresa. Mostrei-lhe os meus primeiros escritos de homenagem a um amigo comum: Padre Correia da Cunha (Pároco de São Vicente de Fora 1960-1977). Roguei que me transmitisse a sua qualificada opinião com toda a sinceridade e me dissesse o que sentia. Leu com muita atenção os textos, e no fim, voltando-se para mim, com aquele seu modo acolhedor, um grande sorriso, mas um ar triste: «João Paulo não se pode fugir a um dever, tanto mais quando esse dever corresponde ao sentir da nossa alma. Bem sabes da minha imensa admiração que tinha pela grandeza moral e de carácter do nosso saudoso prior». Depois disse-me: «o Padre Cunha, para mim, continua vivo nesta monumental igreja tão sua, a que tanto a sua alma queria… (pela janela da sala de visitas observa-se toda a panorâmica da igreja)».

Quem, como nós, tivemos a felicidade de gozar da sua convivência, sentimos-nos comovidos ao lermos estes textos.

Nessa tarde, falámos um pouco de tudo. A Marina ousou falar do sacerdote que ela adorava e aproveitou para evocar um passado de recordações de factos e episódios da vida desse amigo comum.

Falava com tanto entusiasmo, tanto calor, tanta vida que me parecia ressurgir no meu espírito toda a energia para levar por diante a missão de homenagear o grande Mestre de Vida. Muitos desses episódios foram inseridos no livro de que sou autor: Correia da Cunha (Padre-Marinheiro-Poeta).

A derradeira vez que a vi estava já prisioneira da cegueira. Festejou-me imenso. O seu imenso talento permitiu-lhe evocar com grande flagrância e singeleza as grandes personalidades do passado da Paróquia de São Vicente de Fora e dos tempos de convivência com o Padre Correia da Cunha. A sua inesquecível Anita Themudo Barata…

A Marina pelo seu primoroso coração, a sua sensibilidade pura e fina delicadeza conquistava os adolescentes e jovens, motivando-os no respeito cristão e humano bem como pelos interesses das suas vidas.

Assim, fecharei esta singela e sentida homenagem a Marina Heloísa Serrão, uma grande amiga da Comunidade Paroquial de São Vicente, onde desenvolveu uma excelente actividade pastoral em prol dos mais jovens.

Dai-lhe Senhor, o eterno descanso e brilhe para ela o esplendor da Luz eterna.

Paz à sua formosa alma!












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terça-feira, 3 de setembro de 2019

PE. CORREIA DA CUNHA – ACÇÃO CATÓLICA XVI














MOLDAR VONTADES…


O padre Correia da Cunha foi uma das pessoas que nasceu para ajudar os seus discípulos a viverem plenamente. A sua verdadeira missão era precisamente formar elites. A palavra disciplina tem a mesma raiz de discípulo. O bom discípulo é aquele que segue o bom mestre. Muitos dos jovens da paróquia de São Vicente de Fora, nos quais estava incluído, foram ajudados a olhar a vida mediante o processo de formação administrado por este ‘santo’ clérigo. 

Foi uma bênção divina termo-nos cruzado, relacionado e aprender sobre a sua orientação. Formou-nos nos mistérios da vida cristã e social. Lembro que em latim formatione significa dar forma, moldar…

Estávamos todos na idade de aprender. E todos tínhamos a profunda consciência que havia um tempo para tudo, um tempo para amar e um tempo para morrer como referia o poeta, um tempo para aprender e outro para ensinar, um tempo para ser educado e um tempo de instruir e ser instruído…

Pelo padre Correia da Cunha éramos incitados a não clamar os erros dos outros, pois devemos compreender que todos temos o direito de errar. A vida de cada um é uma luta de sentimentos; erramos, fracassamos, desanimamos, mas a jubilosa esperança quando escorada nos erros permite-nos sempre buscar as grandes virtudes entranhadas e herdadas dos bons mestres.

Muitas vezes ouvi ao Padre Correia da Cunha esta expressão: «Quanto mais profundas são as trevas mais valor damos à luz».

As suas celebrações penitenciais eram momentos de esgravatarmos todos os acontecimentos desagradáveis das nossas vidas e que obstruíam os caminhos que desde sempre nos destinaram à santidade.

O sacramento da reconciliação era sempre impregnado de renovação em cada um de nós, onde brotava a luz que iluminava o nosso pensamento de fé. O desejo de cada um era a busca de algo de mais elevado, mais espiritual.

A oração no final era a necessidade de vivermos a emoção que nos ajudava a trilhar os novos caminhos na companhia do príncipe da paz que é a vida, a luz e a verdade que nos liberta.





Texto da autoria do Padre Correia da Cunha




DEBILITAR O ADVERSÁRIO

Como em toda a parte onde há luta trata-se de debilitar o inimigo e fortificar a vontade. Para debilitar o inimigo evitarmos fazer o que o fortaleceria como o cuidado desmedido e prejudicial do próprio corpo, a comida excessiva e delicada, as bebidas excitantes e alcoólicas. Mas uma higiene física e moral séria favorece a pureza assim como uma conveniente mortificação e mesmo uma apropriada dose de exercícios musculares há tantos meios indirectos e remotos para triunfar do mal sem contudo prejudicar, fatigar e esgotar o corpo. São úteis também os entretenimento e a nobre paixão em pró de um ideal artístico ou científico. Nada há superior ao apóstolo de um ideal que o prende e sabe mostrar no serviço duma nobre causa, todas as suas energias.

Importa muito avivar o entusiasmo dos novos em favor do alto ideal da J.O.C. criando assim, segundo conselhos da psicologia derivativos honestos que neutralizem e mesmo tornem a violência das paixões. 

Mais próximo, embora negativo é a fuga das ocasiões livres, evitáveis portanto: não ler determinado jornal, não assistir a tal representação não fazer visita, não passar por tal rua, não proferir frases ou palavras indevidas afim de não avivar uma paixão talvez adormecida que nos levaria ao pecado, incorrendo uma pesada responsabilidade moral. É antes de se levantar uma paixão e de nos perturbar e quando a cabeça está calma que convém estimula-la a fazer esforços necessários. Insistamos nisto se for preciso.

FORTIFICAR A PRÓPRIA VONTADE

Embora a mortificação seja preventiva, e na luta contra as paixões requeira um esforço contra a vontade, contudo ajuda a formá-la e a temperá-la. Em momento de tentação é preciso resistir até vencer mas passada a tentação não há que descansar nos loiros obtidos ou lamentando a derrota que sofreu. É um momento para bem trabalhar fortificar a vontade com renúncias frequentes e progressivas. A vontade deve impor o seu comando obrigando os sentidos e todo o pequeno mundo inferior a obedecer-lhe.

Ajudemos e estimulemos a vontade dos novos mostrando-nos caminhos embora exigentes que evitam compromissos e imprudências e exijamos os esforços a vigilância e os sacrifícios ao seu alcance que mostrarão a verdade e a vontade de ordem e de pureza. Não-aceitação e no cumprimento dos seus deveres profissionais por motivos de consciência mortificando quando for possível o corpo, o coração e a vontade, o jocista há-de encontrar o melhor caminho para a perfeita virilidade e para restaurar o domínio da vontade. E neste caminho que a providencia lhes fornece os meios de se conservarem castos cristãos e mesmo santos.

A VONTADE DEVE IMPERAR

A vontade assim formada não capitular perante as exigências dos sentidos, antes comandará como rainha adquirindo o hábito de controlar os caprichos, apetites, cercear as suas exigências até chegar a dominar, ajudada pela graça os desejos impuros e as paixões lúbricas. Por reflexo instintivo acudir então conforme a lei contra a paixão aceitando as renúncias necessárias. Novamente nos encontraram com a necessidade da mortificação cujo papel é salvador. Se a não aceitarmos nem procuramos por si mesma, ao menos pelos frutos de vida que ela procura, pela ordem e liberdade que restaura no homem. Não há que julgar que a vitória seja sempre certa e breve, mas em graça implorada na oração que fecundará os seus esforços, o jovem encontrará sempre o triunfo apesar de tudo e assim ficará resolvido o problema, não esqueçamos que o trabalho do padre é precisamente para a formação da elite.

O ESTADO DE GRAÇA

Não haverá Acção Católica se as almas não estão habitualmente em estado de graça. É impossível! Embora venha em ultimo lugar, nada há mais importante na vida do jovem operário do que a graça de Deus. É a nossa grande força e o remédio mais eficaz para tudo, porque uma alma que possui a graça, possui o próprio Deus. 

Tudo deve ir de encontro ás fraquezas e debilidades dos jovens para os encorajar no caminho a trilhar que é por vezes tão árduo. Os jovens não o percamos de vista podem precisar de mais alguma coisa do que bons conselhos.



ORAÇÃO E EXERCÍCIOS DE PIEDADE

Escusado será insistir sobre a sua necessidade. Sem oração não há graça , sem a graça não há salvação. A oração é como que a atmosfera que a alma deve continuamente respirar.

Como sem ar não há vida, sem oração não pode haver vida cristã. A oração é a alavanca que Arquimedes tanto procurava e não encontrou mas que nós temos à nossa disposição.

Não devemos esquecer o duplo sentido da oração: 

- Oração-petição e oração colóquio-intimidade.

E assim, é mister entender o preceito de Jesus: «oportet secuper orare et non deficere».

Quem quer o fim, diz o velho adágio: aplica os meios, e para se ter uma vida intensa de oração é preciso aplicar os meios que são os sãos exercícios de piedade úteis e muitas vezes indispensáveis para adquirir-se espírito de oração. São necessários pois renovar frequentemente os momentos em que estejamos em contacto com Deus directo e imediato para não nos deixarmos arrastar pelo terreno visível. Devemos porém não deixar cair esses exercícios em mera formalidade pela rotina ou snobismo.
















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sábado, 10 de agosto de 2019

ALA DOS AMIGOS DE PE. CORREIA DA CUNHA








Os amigos que partiram…







IN MEMORIAM


EUGÉNIO DUARTE RAMOS

Capitão de Mar e Guerra

(1936-2019)





Eugénio Duarte Ramos – nasceu na freguesia de Sul do Concelho de São Pedro do Sul, no dia 26 de Fevereiro de 1936.

Homem amável! Amigo de todas as horas tinha um coração sempre aberto ao bem-fazer, um homem maravilhoso que só amigos sabia granjear e que deixa muitas saudades a quantos tiveram o privilégio de conhecê-lo e com ele conviver.



Foi no ano de 2009, pela mão de um amigo comum, o diácono Jorge Cabanelas Campos que conheci o Senhor Comandante Eugénio Ramos. Nesse encontro referiu-me que no ano de 1958, como finalista do Curso Duarte de Almeida, com a patente de Guarda Marinha, embarcou no Navio Escola Sagres, onde conheceu e conviveu com o Capelão Correia da Cunha.

Não podia haver maior alegria.

Eu era o autor do Blogue de Homenagem ao Padre Correia da Cunha. Muito me esforçava para conseguir testemunhos de camaradas da Marinha Portuguesa sobre a vida deste servidor da Armada, entre os anos de 1943 a 1961. Não se revelava fácil tal objectivo, pois passados mais de 50 anos não havia nos quadros da grande instituição pessoas desses tempos.


Quero pois aqui lavrar um forte reconhecimento e agradecimento à preciosa e animada colaboração prestada pelo Comandante Eugénio Ramos (em vida sempre lhe manifestei essa minha imensa gratidão), levando-me junto de imensos oficiais generais, oficiais superiores e subalternos que possuíam muitas memórias e imenso apreço e estima pelo sacerdote que pelo seu espírito de homem de sabedoria, frontal era para todos eles uma personalidade de que não se podiam esquecer.

Acompanhei-o a muitas associações e instituições culturais (Sociedade Histórica da Independência Nacional, Sociedade de Geografia de Lisboa, Academia de Marinha, Instituto D. João de Castro,Irmandade da Misericórdia e de S. Roque de Lisboa, Centro de Estudos Portugueses, Associação 25 de Abril…) onde era sempre carinhosamente acolhido e saudado.

Neste momento em que escrevo estas palavras com a alma torturada, não posso deixar de recordar aquele belo momento em que o Comandante Eugénio Ramos me apresentou, na capela de Nossa Senhora do Mar (*), aquela extraordinária figura humana. Na sua presença amável, nas suas palavras confortantes só brotava bondade. Refiro-me ao inesquecível Capelão Manuel Costa Amorim (1952-2016).

Ontem, dia 9 de Agosto 2019, partiu este grande comandante para descansar junto de Deus e receber um abraços dos imensos amigos que já partiram. 

Eugénio Duarte Ramos hoje dorme um sono sagrado… pois os bons homens nunca morrem…

É um pequeno testemunho que espero seja marcante para nos ajudar a recordar o grandioso espírito de um oficial de marinha que sempre se soube colocar do lado das causas justas nunca se poupando a esforços e sacrifícios.




Recebei Senhor na glória do vosso reino o nosso irmão.




(*) - A capela de Nossa Senhora do Mar foi inaugurada pelo Cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira e foi confiado o discurso de inauguração ao Capelão Correia da Cunha.







quinta-feira, 1 de agosto de 2019

PE. CORREIA DA CUNHA – ACÇÃO CATÓLICA XV – NAMOROS VERÃO












AMAR NÃO É PECADO!


Nos tempos actuais, dada a variedade das funções da vida activa de trabalho, ambos os membros da família têm de trabalhar, para reforçar o orçamento familiar. Eu sou do tempo do modelo tradicional familiar: cabia aos pais a incansável tarefa de trabalharem para realizarem a grandiosa missão de sustentar a família. As mães eram uma legião anónima de lutadoras que tudo faziam para o engrandecimento da família. O seu árduo trabalho consistia nas tarefas domésticas e cuidar dos filhos, educando-os e dando-lhes carinho no ambiente doméstico. O trabalho das mães era um ministério, uma abnegação ao serviço da comunidade familiar.

Para o Padre Correia da Cunha os adolescentes e os jovens, na sua maioria estudantes, simbolizavam o património da Igreja do futuro. Era esta paisagem humana a que dedicava toda a sua atenção esperando torná-los excepcionais de forma a realizarem os seus sonhos de vida.




Os espaços do mosteiro de São Vicente de Foram encontravam-se sempre de portas abertas para os jovens poderem conviver e partilharem as experiências de vida. Mas também era um local para as aspirações românticas. No período de férias escolares era ali que iam sonhar as moças bonitas e os rapazes em estado de sonho. Havia ali um lugar deveras romântico nos claustros do mosteiro, a velha cisterna, onde os pares de namorados se acariciavam… Havia raparigas de olhares atraentes e rapazes simpáticos e uma forte aragem perfumada, mas também havia um prior sempre muito atento, cuja sua missão era ensinar. O traço primordial da sua vida era ajudar todos estes jovens a descobrirem as virtudes do amor e da pureza. Lembrando às raparigas a vocação de serem exemplares mães e extremosas esposas. Os rapazes viam nele o símbolo do respeito e o sacerdote sempre lhes recordava as palavras do apóstolo São Paulo: «Os nossos corpos são membros de Cristo…»

As mães no desejo sedento de procurarem bons mestres de vida para os seus filhos ficavam sossegadas, sabendo que naqueles espaços para além do culto religioso e de se murmurarem preces havia um padre que trazia consigo o traço indelével do seu destino: saber ensinar e deixar gravado no coração dos discípulos o Amor a Deus e ao próximo.

Como é belo recordar hoje, passado mais de meio século, sonhos que não se realizaram, ânsias de amor devotado, ilusões de ternura desfeitas, beijos inocentes de ardentes desejos… Houve contudo muitos casais de namorados apaixonados que ali se encontraram e realizaram os seus inflamados anseios de construírem um lar de felicidade e uma família abençoada de graça divina.

Tudo gira em torno do destino. O destino é a vida. E a vida é tudo o que realizamos e imaginamos. Em todas vidas há espaços intangíveis. Ninguém consegue apagar os bons ensinamentos e experiências que vivemos e partilhamos com o Mestre de Vida. Nunca ouvi uma palavra de reparo ou reprovação dos pequenos «flirts» e romances de amor próprios da época de verão, ou de rostos femininos apoiados nos ombros masculinos. O sacerdote era o símbolo do bom conselho e amizade. 

Será que em jovem o Padre Correia da Cunha amou sob os auspícios presenteadores de um local romântico?





Texto da autoria do Padre Correia da Cunha



O ASPECTO ESPECIAL DA MORTIFICAÇÃO DOS JOCISTAS: À CONQUISTA DA PUREZA

A mortificação de levar-nos à guarda dos mandamentos divinos e em particular da pureza que é necessária para amarmos a luz e a verdade: 

«Todo aquele que faz o mal odeia a luz, e todo aquele que ouve a verdade ouve a minha voz.»

A nossa alma tem uma grande afinidade para a verdade: Cristo afirmou vezes: ego sum veritas.

O grande e principal obstáculo para muitos é estarem mergulhados na luxuria que é inseparável deste cortejo, a cegueira do espírito, a inconstância, a precipitação, o amor desordenado de si mesmo, o ódio de Deus o afecto ao século e o horror do futuro tudo isto se levanta na alma impura. A inclinação a este vício e por vezes violenta dando por isso grande e graves encargos no matrimónio.

Como a educação dos filhos exige grandes e contínuos sacrifícios é necessário que a natureza sinta inclinação e prazer na sua geração. Temos portanto em nós motivos de tentação que são aumentados pelos numerosos inimigos exteriores.

CONTUDO NÃO É ESTA A ÚNICA DIFICULDADE

Não se deve perder de vista que seria falta de táctica lutar directamente contra tal inimigo. Na unidade da natureza humana há a substância de dois elementos: espírito e corpo. Há portanto dualidade.

Apesar desta divergência e incompatibilidade, deste conflito exige a razão que a divisão e opção seja um favor do que exige a parte superior o espirito. Isto tornava-se fácil com o com preternatural da integridade primitiva. Hoje a nossa vitória está na força, na graça de Cristo sendo insuficiente o conhecimento da lei: Mas isto não é tudo. Há pecados maiores que os de Sodoma. A virtude por excelência é a caridade. Diremos pois que a pureza é a virtude que maiores cautelas exigem mas que a principal é a caridade. E a virtude essencial para o padre que deve possuir um alto grau de sindéreses.

SAIBAMOS GRADUAR A CULPABILIDADE

Sabemos que na deleitação venérea directamente voluntária e completa não há matéria leve. 

Contudo o pecado mortal supos sempre deliberação e consentimento pleno. Ora as circunstâncias as paixões e maus hábitos podem perturbar a deliberação ou diminuir o voluntário, embora a vontade possa permanecer viciada in causa. 

Pode haver jovens de 17,20,25 anos inteiramente convertidos a Cristo, conquistados pelo se amor e perdoados, mas que todavia ficam na sua alma ou melhor na sua carne os sinais das quedas anteriores, antigas paixões maus hábitos.

Tal jovem sente no seu organismo como que reflexos quase mecânicos da lubricidade. Talvez estes jovens levem às costas faltas dos progenitores. 

Há almas assim. Menos nos deteremos a canalizar ou estudar os números e as espécies dos seus pecados que a incutir-lhes a necessidade de vigiar para não darem pábulo a paixões desenfreados. A prudência nos indica que é conveniente estimular a sua generosidade no divino serviço: cumprindo bem os seus deveres, confessando e comungando. A divina beleza de Cristo descoberta pela prática da caridade e do apostolado nos compromete a procurar uma difícil vitória.


ENTRAR NO JOCISMO NÃO É RECEITA SUFICIENTE

Acabámos de ver que a pureza difícil para todos, é o ainda mais para os jovens operários que frequentemente trazem taras consequências de alcoolismo e da perversão dos progenitores acrescentadas avolumadamente com as próprias culpas. Não esqueçamos que o meio operário é por regra uma ocasião próxima de pecado e tudo os solicita para o mal. Podemos aplicar ao meio operário estas palavras de São Paulo: «as coisas que eles fazem em segredo vergonhoso são dizê-las». Não deixar-se corromper neste ambiente é sinal de boa vontade.

FAÇAMOS LABOR CONSTRUTIVO, NÃO MERAMENTE NEGATIVO

É necessário que o jovem se dê conta dos motivos, das razões das nossas exigências e que nas suas almas e arraiguem profundas convicções: o respeito às jovens operárias futuras esposas e mais, o muito apreço em que deve ser tido o amor que não que não sendo viciado é um excelente tonificante, o alto fim do matrimónio cristão, as responsabilidades dos pais, a manterem a ajuda dos esposos etc., a importância de uma vida casta para a felicidade pessoal, mútua e dos filhos, na alta nobreza do próprio corpo que é membro de Cristo. São Paulo diz a este respeito: «Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo!» Tomarei pois eu os membros de Cristo para fazê-los membros duma prostituta. Além de tudo isto a solidariedade e o levantamento da classe operária pede-nos a mortificação…



















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