segunda-feira, 1 de julho de 2019

PE. CORREIA DA CUNHA – ACÇÃO CATÓLICA XIV












TODOS SOMOS CHAMADOS A SER 

SANTOS.





Entre os muitos papéis amarelecidos pelo tempo que eram pertença do Padre Correia da Cunha, encontrei um belo soneto da sua autoria.


MADALENA

Arrojou-se a chorar junto do Deus Supremo

Dos Olhos a escorrer a água em borbotões,

E foi ajoelhar aos pés do Nazareno,

Murmurando a tremer ingénuas orações.


Pediu absolvição para o seu grande pecado,

Abandonando ao vento a alma pervertida

E ali mesmo jurou esquecer o passado,

Pobre mulher vulgar, infausta, arrependida.


Condoído Jesus por tanto sofrimento,

Ao ver que era sincero o arrependimento,

Fitou-a com ternura, afável e risonho.


Deu-lhe paternalmente a bênção e o perdão,

Levou-lhe suavemente a paz ao coração…

… E o passado morreu e foi para ela um sonho.





Nestes belos versos parece que o Padre Correia da Cunha nos oferece um referencial de orientação para que procuremos o caminho da santidade.


Quem ama quer o melhor para o outro, pois o amor ao contrário do que se diz, não é cego. O importante é descobrir quão belo é o sofrimento e o arrependimento a partir do Amor de Deus. Ele está connosco e não é de forma alguma indiferente ao que sentimos.


Nas muitas e longas triviais conversas que tive com o Padre Correia da Cunha, sempre lhe ouvi dizer que a santidade era para todos e não destinada apenas aos bispos, padres, religiosos e freiras. Era santo o pobre operário que com elevado sofrimento e sacrifício labutava a fim de trazer o pão e o sustento para casa, colocando-o no altar da sagrada mesa de partilha com os filhos e mulher. E quando em qualquer esquina de uma rua olhava para os muitos operários e operárias das oficinas do «casão» que caminhavam pelas praças e ruelas da paróquia de São Vicente de Fora, referia: «Estes são verdadeiramente santos, pois cumprem com honestidade e competência o seu trabalho ao serviço dos irmãos».


Também nunca esquecia aqueles que foram seus divinos mestres. Os professores pela sua delicadeza e sensibilidade realizam a grandiosa obra de educar os seus alunos. Eram santos, pois sacrificavam-se pelo ideal de engrandecer a comunidade, ensinando os discípulos que lhes estavam confiados. Verdadeiros operários divinos!






Pois é esta a santidade a que o Senhor nos chama e que vai crescendo nos muitos pequenos gestos do dia-a-dia. A vida de Maria Madalena talvez não tenha sido da maior perfeição mas, mesmo no meio da imperfeição é um verdadeiro testemunho para nos estimular e motivar na busca do caminho da santidade e da luz que deve irradiar nos nossos corações. A alma do poeta tão bem transpôs para o fado: «Quem por amor se perdeu/Não chore, não tenha pena./Uma das santas do Céu/Foi Maria Madalena» e que a voz da fadista Lucília do Carmo imortalizou e nos faz vibrar escutando as cordas dolentes da guitarra portuguesa. 

Termino lembrando as muitas Madalenas que transformam, cada uma a seu modo, famílias e comunidades com a força dos seus testemunhos. 

Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nos singelos gestos de cada dia.







Texto da autoria do Padre Correia da Cunha




DA HIGIENE, DOS DESPORTOS E DA PRIVAÇÃO DE CERTAS MIUDEZAS NA ESPIRITUALIDADE JOCISTA

Para o jocista quer em toda a sua vida deve irradiar Cristo, o corpo deve ser um nobre e útil sevo da alma. Por isso deve cuidar de o aperfeiçoar já que o moderado cuidado e trato da própria saúde é um dever de estado. Por isso recomenda-se a higiene cujas exigências são deveras mortificativas v. g. duchas, banhos a aplicação do popular ditado: “deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer”.

O desporto se tivermos dele o que há de excessivo e o anelo de competências exige certas virtudes naturais d. g. Espirito de equipa, e mesmo sacrifícios que se podem sobrenaturalizar.

Os operários facilmente ficam dispensados das leis do jejum e da abstinência.

Não nos mostremos mais exigentes que a Santa Igreja, nem lhe peçamos que se privem das horas necessárias ao sono, mas sim de certas coisas dispensáveis. Deve de haver mais severidade no uso de bebidas estimulantes e alcoólicas.

AS MORTIFICAÇÕES INEVITÁVEIS ALEGREMENTE ACEITES


Não ficam esgotadas as fontes da mortificação, antes pelo contrário serão o pão nosso de cada dia.

O operário vai e vem do seu trabalho aborrecido, talvez a pé ou num comboio repleto onde os operários se comprimem sem se puderem sentar. Para a vida em oficinas cujas temperaturas são altíssimas no verão e excessivamente baixas no inverno, e onde não existem condições higiénicas. Outras vezes passa a maior parte do dia puxando nas «vagonas» depois de as terem enchido.

Não raras vezes sucede que a casa do operário e sua família: mulher e filhos é apenas um quarto sem ar nem luz que favorece a promiscuidade de sexos além de muito prejudicar o repouso do operário fatigadíssimo.

O conjunto da actividade do operário é monótona e cronometrada. O trabalho dos operários de hoje é em muitas coisas semelhante ao dos antigos escravos sobretudo o trabalho de empreitada.

Em tudo o que vimos existe a mortificação. Não procuremos outras mortificações. Para que um operário seja santo não precisa senão de uma coisa: unir todos os seus sofrimentos (que são tão grandes) aos sofrimentos de Cristo-Operário por meio da Igreja . Fazendo assim o operário tudo receberá sorridente e sem criticar. Isto exige um grande espírito de mortificação e penitencia. Nada é mais santificador do que o cumprimento dos deveres do próprio estado em união com Jesus Cristo Nosso Senhor.


FREQUENTE OCASIÃO DE ABNEGAÇÃO E RESIGNAÇÃO

Mais do que a fadiga física o operário carece da submissão da vontade, de mortificação do coração.

O operário enquanto está na oficina não é dono de si, mas deve aceitar o regulamento em vigor calar-se quando é proibido falar, fazer o que lhe é mandado, obedecer aos caprichos do capataz ou do mestre ( uma vez que são conformes às regras da moral) e até mesmo tolerar contactos indesejáveis entre muitos de seus camaradas que desconhecem os mais rudimentares princípios da boa educação.

Quantas ocasiões para os operários se dominarem. Nem na vida sacerdotal ou religiosa se encontram ocasiões tão frequentes para dominar as paixões. 

O programa de vida do operário é transcrito pelo apóstolo na epístola aos Efésios: «Servos obedeçam aos vossos senhores terrenos com temor e solicitude, com rectidão de coração como a Cristo, não os sirvais como quem trabalha somente porque é visto e para agradar aos homens, mas como servos de Cristo que fazem a vontade de Deus com todo o coração. Servi-os de boa mente, como se servísseis ao Senhor a recompensa por todo o bem que tiver praticado. E vós senhores fazei o mesmo com eles, abstendo-vos das ameaças, sabendo que o Senhor, o deles e o vosso, está nos céus e não faz acepção de pessoas.» Ef. VI, 5 a 9.


PARTE ESSENCIAL DA DOUTRINA ASSETICA JOCISTA

Pode-se resumir nisto: É necessário ensinar-lhes a aproveitar completamente as ocasiões que encontram no cumprimento dos deveres do estado. 

É preciso que saibamos explorar esse vasto campo, e que conheçamos os planos de Deus a respeito dos jocistas pois que nada disto os prejudica na sua saúde física de que tanto necessitam; nem mesmo há que procurar tirá-los do meio do trabalho, o que é, na maior parte dos casos, impossível, mas prepará-los para serem mais homens, mais cristãos e mais apóstolos no meio em que Deus os quer.




EXCELSIOR


Além dos deveres de estado próprios dos jocistas, olhando para o futuro devem já eles procurar adquirir as virtudes domésticas : ordem, economia, providência.

É também necessário para um bom jocista possuir uma boa educação, ser polido e cortês pois que a cortesia é a flor da caridade e exige uma grande dose de mortificação. Diz o povo e com razão que a educação fica bem em toda a parte.




É óptimo levar os jocistas a dedicarem –se ao serviço de seus irmãos e da JOC, pois que deste modo ganha o apostolo e o que é objectivo do seu apostolado um esquecer que é melhor dar que receber.

Deve o assistente eclesiástico animar os jocistas mesmo nos seus insucessos pois, como disse alguém: a santidade é uma cadeia de insucessos.

Até mesmo pode haver jocistas (e há os com certeza) que desejariam fazer um regulamento de vida.

Ajudamo-los pois e nunca esqueçamos que o caminho da simplicidade é a estrada real da santidade.

E na sua vida de operários e pela humildade desta vida que eles se santificarão.

Mesmo sem falar-lhes da vida purgativa façamos que eles vivam jocistamente como verdadeiros jovens operários cristãos e teremos santos.



















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