sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

PE. CORREIA DA CUNHA NO ARSENAL DO ALFEITE











«MEMÓRIAS DOS TEMPOS ÁUREOS DO 

ARSENAL DO ALFEITE.»




Foi no dia 17 de Janeiro do ano de 1957, que se realizou no Arsenal do Alfeite, a cerimónia do lançamento à água do patrulha costeiro «Santa Luzia». Para o abençoar foi convidado o reverendíssimo pároco da freguesia de Almada. 


Este patrulha costeiro que foi construído no Arsenal do Alfeite para a Marinha de Guerra Portuguesa, fez parte de um série de cinco navios idênticos, tendo a construção de três deles sido confiada, nos termos de um acordo com o governo dos Estados Unidos da América, que a construção fosse executada em estaleiros navais portugueses (dois nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e um nos Estaleiros Navais do Mondego). 

A construção destes navios patrulha foi realizada segundo os planos da versão francesa dos P.C. (Patrol Craft). O Senhor Eng.º Joaquim Augusto José de Araújo Perestrello de Vasconcelos terá assinado na qualidade de Administrador do Arsenal do Alfeite com a Societé Anonyme Chantiers Dubigeon de Nantes uma convenção segundo a qual a referida Sociedade se obrigava a fornecer os desenhos, cópias, necessárias para que estes navios pudessem ser construídos em Portugal.

Sempre foi desejo do Senhor Engº. Perestrello de Vasconcelos que se construíssem dois navios no Arsenal do Alfeite, o «Santo Antão» e o «Santa Luzia». Este engenheiro era um homem de larga visão e arte. Mérito elevado, o seu, na árdua missão de gerir um grande polo de tecnologia na construção naval. Foi galardoado com a condecoração de grande oficial da classe de mérito industrial.

No dia 8 de Junho de 1956, em solene cerimónia, procedeu-se ao lançamento à água do patrulha «Santo Antão». No dia 17 de Janeiro de 1957 foi lançado o «Santa Luzia». È deste acontecimento que hoje publico uma foto que faz parte do espólio fotográfico do Engº Perestrello de Vasconcelos (1899-1962).




Sem embargo da descrição geral destes navios patrulha, procurarei apresentar as principais características que retirei de uma pequena brochura de Agosto de 1954, data do início dos trabalhos oficinais para a construção do «Santo Antão» no Arsenal do Alfeite.

Características Gerais: 

Comprimento entre perpendiculares – 51,829 m 

Comprimento máximo – 52,947 m 

Boca máxima – 7,046 m 

Pontal – 4,332 m 

Deslocamento leve -330 ton. 

Deslocamento máximo – 400 ton. 

Os navios são de casco metálico, de estrutura longitudinal e construção inteiramente soldada. 

O casco é essencialmente construído de aço próprio para construção naval, sendo também feito uso de laminados de liga leve de alumínio, em divisórias de alojamentos, parte da estrutura do rufo… 

O navio tem quatro motores principais do tipo «Diesel» associados dois a dois, com potência de 875 cavalos cada um a 1250 rpm. Esta potência permite que os navios atinjam uma velocidade superior a 18 nós. 

A energia eléctrica é produzida por dois grupos diesel-dínamo de 60KV. 

Os alojamentos e as suas instalações complementares estão previstos para uma tripulação de um comandante, três oficiais, oito sargentos, cinquenta praças.

Relatada a largos traços, esta pequena memória descritiva, há a referir as palavras do Administrador do Arsenal sobre a inestimável colaboração prestada pelos estaleiros Dubigeon, cuja actuação transcendeu as obrigações assumidas no contrato, tendo colocado ao dispor do Arsenal do Alfeite os seus mais valiosos recursos técnicos e humanos, na construção destes patrulhas.



Tendo em criança conhecido o Senhor Eng.º Perestrello de Vasconcelos, na fase final da sua vida, e das muitas conversas que ao longo dos anos ouvi ao Padre Correia da Cunha sobre esta notável figura que deixou um legado de valor e glória naquele Arsenal da Marinha Portuguesa. Grande figura de português que soube sempre espalhar cordiais relações entre os Estaleiros Navais de Viana do Castelo e os Estaleiros Navais do Mondego. Foi graças à sua simplicidade e laconismo inovador que esta missão incumbida ao Arsenal de ser o estaleiro-guia para a execução desta empreitada da construção dos navios patrulhas se tornou num verdadeiro êxito. Quero realçar nesta data, em que se celebra 63 anos do Lançamento do «Santa Luzia», a excelente cooperação que era possível entre os principais construtores navais do nosso país.



Nesta cerimónia estiveram presentes como podemos constar pela foto, o ministro da Defesa, o ministro da Marinha, o presidente da administração do Arsenal do Alfeite Senhor Engº Perestrello de Vasconcelos e outros vários membros da administração, o Capelão chefe da Marinha de Guerra Senhor Padre Correia da Cunha, o Capelão do Arsenal Senhor Padre João Perestrello de Vasconcelos…

Na qualidade de anfitrião o Sr. Engenheiro Joaquim Augusto José de Araújo Perestrello de Vasconcelos ofereceu um almoço em honra da Marinha de Guerra Portuguesa a todos os convidados e altos comandos da Armada ali presentes.















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