IN MEMORIAM
PADRE CORREIA DA CUNHA
2 ABRIL 1977-2 ABRIL 2019
42º ANIVERSÁRIO
No dia em que passam 42 anos sobre a sua morte, devemos recordá-lo com carinho e respeito. O Padre José Correia da Cunha distinguiu-se no exemplo de dedicação à vocação sacerdotal e amor aos operários.
NÃO COMPREENDEMOS TRABALHO SEM
VIDA, NÃO COMPREENDEMOS VIDA SEM TRABALHO
Para o Padre Correia da Cunha a
evangelização era o alicerce primordial, sobre que assentava a edificação da
Comunidade de Fé, mas havia três outros sectores, que também lhe mereciam uma
especial atenção da sua parte: a família, o trabalho e a juventude.
Após a leitura atenta do seu
texto, intitulado – Os nossos jovens são operários – compreendo hoje o seu
espírito de jocista e a sua imensa luta para o reconhecimento fundamental de
todos os operários em dignidade e direitos.
A maioria dos operários não compreende
o sentido exacto da sua vida. O trabalho tantas vezes é penoso,
transformando-os numa contingência triste e dolorosa das suas vidas. Porém todos os operários trabalham e como sempre
ouvi dizer: Quem não trabalha não tem direito à vida e que me faz recordar
também o proverbio popular que ouvia dizer tantas vezes ao meu pai: «Quem não
trabuca não manduca». Manducare, em latim, é comer com as mãos que me fazia
recuar aos longínquos tempos que não se utilizavam talheres.
Ao sacerdote sempre lhe ouvi
defender que o empregador e o empregado deveriam unir-se uno para o bem
recíproco, porque estas duas classes precisam uma da outra. Uma pode ser a
cabeça, mas o operário é o corpo; uma sem a outra não vive. A coisa mais nobre
que podíamos fazer era consagrar deliberadamente a vida, desejando aos outros
aquilo que não desejamos para nós! É fácil sermos humildes sem nos humilharmos.
Somos humanos, iguais pela origem. Filhos do mesmo Pai. A solidariedade e a
fraternidade são virtudes que nos dão estímulo na luta pelos nossos ideais
cristãos. É, pois, preciso que desapareçam estes antagonismos, estas
incompatibilidades desintegrantes que existem entre o capital e o trabalho.
Nos dias de hoje, dada a
variedade das funções na vida activa do trabalho, são poucas as pessoas que
possuem a verdadeira concepção de que o trabalho é uma acto de cooperação com o
Criador.
É preciso colocar o individuo no
verdadeiro caminho da sua vocação, fazendo na vida do trabalho um acto de
realização pessoal. Todos somos úteis. O trabalho gera em cada destino, um
motivo irresistível de anseio espiritual; quem não trabalha vive em desarmonia
consigo mesmo, o homem foi criado para colaborar na criação e no
engrandecimento do Mundo.
Os sentimentos humanos são, sem
dúvida os mistérios do balanço material que abraça e confunde as sensações colocadas
geralmente na calma e bondosa saliência das nossas ideias. Sempre queremos o
que não podemos obter. E nessa concepção evolutiva de procurar a perfeição,
reside toda a teoria prática de trabalhar em busca do trabalho… Quem não
trabalha não vive: arrasta a vida…. Trabalhar é merecer a existência. Trabalhar
é ser parceiro da grandeza do Mundo.
OS NOSSOS JOVENS SÃO OPERÁRIOS
Se o assistente se deve preocupar principalmente com a formação cristã do jocista, com a sua vida cristã, sobrenatural, na família, na fábrica, na sociedade; e para isso deve mostrar-lhe as belezas que a vida profundamente cristã tem; não deve contudo esquecer que o jocista é um operário e que em vez de o conduzir a uma vida de alta contemplação preguiçosa o deve levar a uma sobrenaturalizarão do seu trabalho quotidiano.
Deve mostrar ao jocista que o trabalho mesmo manual, longe de ser um opróbrio é uma honra que o próprio Cristo se dignou santificar. O trabalho manual deve harmonizar-se, com o fim eterno dentro do plano divino, facilitar o convívio humano social.
Deve o A.C. fazer ver tudo isto ao jocista sem esquecer contudo o destino mesmo temporal da classe operária.
O SENTIDO E FINALIDADE DO TRABALHO MANUAL
A grande lei do operário é a que Deus promulgou no paraíso a Adão: «comerás o pão com o suor do teu rosto.»: in sudore vultus tui. Por isso o operário deve ganhar a sua vida e muito embora a sorte o beneficie e o seu trabalho consciencioso o ajude e à conta de grandes sacrifícios que consegue mais tarde com, repouso ou reforma.
Por enquanto terá de levar uma vida de trabalho na fábrica, na oficina, no escritório despendendo a sua actividade num trabalho, por vezes, duro, fatigante ao serviço de outrem.
Não poderá entregar-se a estudos intelectuais, nem a problemas de alta cultura, nem a preocupações estéticas.
Mas longe de ser um revoltado ou de se considerar como tal condenado a terra como amaldiçoado, deve ver em Cristo operário humilde e resignado um exemplo a seguir: Cristo o topo ideal. O trabalho é qualquer coisa de grandioso e nobre ainda mesmo o mais humilde dos trabalhos manuais porque é uma cooperação do homem no progresso e melhor estar dos seus irmãos e uma cooperação na obra divina da Criação. Poe em foco, modifica, embeleza com a ajuda de Deus a matéria inerte e bruta por Ele escondida no seio da terra, e ao mesmo tempo desenvolve as próprias faculdades pondo em jogo as suas energias.
E se depois do pecado o trabalho reveste um carácter de castigo, é todavia susceptível de iluminação sobrenatural encarando-o como expiação pela aceitação resinada em união com Cristo; completando assim a paixão de Cristo, participa o operário do seu sacrifício e da sua glória.
Como é grande e belo o ideal cristão do trabalho! Só este ideal pode afastar do operário o fatalismo, o embrutecimento e magnificação da sua actividade alegando por outro lado o operário pelos méritos que alcançou pela Glória infinita (em união com Cristo) que deve a Deus pelo bem que a paz a seus irmãos e pela beleza que, cooperador de Deus, aumentou na obra da Criação.
O MEIO DO TRABALHO NO SÉCULO XX
O nosso século é o século da grande industrialização o século do progresso, desconcentrante do maquinismo, o século das oficinas –cidades o século de um liberalismo económico em que já ninguém acredita e que tende a desaparecer, o século da revolta da classe operária que tomou consciência de si, do seu valor, força e direitos, século dominado pelas teorias de Marx e Lenine século da economia internacionalizada, século das grandes crises sociais, século de generosas iniciativas e reacções tenazes, século enfim, que a grande guerra desengonçou dos eixos.
Não julguemos que a vida operária é um idélio agradável e deleitoso com que o trabalhador mesmo cheio de ideal cristão passa amenamente grande parto da sua vida, não, a vida operária é para o jovem mineiro de extremamente fadiga de um trabalho diário passado em profundas coris sem ar, nem luz ou qualquer outro conforto higiénico ou ao menos moral.
É passada quase inteiramente pelo jovem tecelão entre o barulho ensurdecedor das teceleiras numa imensa sala de tecelagem numa temperatura quente e húmida, junto de raparigas meio despidas… E para o metalúrgico uma vida embrutecedora numa oficina negra de ferrugem e do execrando sistema de crometragem do trabalho. A vida operária neste século de progresso é brutalizada de um capataz a ausência de ar, é o estado repugnante dos lavabos, dos vestuários… é o salário de fome… é o desemprego.
O TRABALHO DEVE SER HUMANO E TER JUSTA REMUNERAÇÃO
Se o operário deve lançar mão do trabalho este deve proporcionar-lhe por uma justa recompensa por um salário suficiente uma vida relativamente cómoda. Sobre este ponto basta recordar os ensinamentos de Leão XIII : « lembra-se os patrões de que entre os seus principais deveres está em primeiro lugar a obrigação de dar a cada um dos seus serviçais um salário justo e conveniente». E mais adiante lembra que defraudar e especular com a pobreza é crime que, brada dos seus, citando em seguida a palavra do apostolo São Tiago.
O salário que tendes extorquido por fraude aos vossos operários clama contra vós; e o seu clamor subiu até aos ouvidos de Deus.
Mas o trabalho além de justa e convenientemente remunerado deve ser humano. Não deve o homem e quantas vezes o adolescente? Ser tratado como uma máquina ou uma besta de carga. E quantas vezes se não procedem assim?
Pode em certos trabalhos desenvolver-se o corpo normalmente? Não comprometem a saúde esforços tão contínuos e prolongados? Perante tais injustiças, opressões e abusos deve o operário porque é cristão curvar humildemente a cabeça?
Deve aceitar a situação que, uma lei brutal lhe impõe? Deve ser resignado? Ou a sua própria consciência de cristão não lhe pede que se oponha à injustiça e pelas suas forças na medida em que possa a extirpe? Trabalhemos no sentido de proporcionar aos nossos operários o bem estar necessário para que possam dignamente agradar em tudo a Deus.
O MEIO DO TRABALHO SOB ASPECTO MORAL
Seria preciso trasladar completamente o capítulo da Encíclica Quadragésimo Omo, em que fala da missão das almas e das suas causas, e sobretudo ter sentido, experimentado da miséria moral que se respira com o ar doentio de quase todas as oficinas para aproximadamente poder pintar o quadro da moral do meio trabalhador. E uma atmosfera de ódio, revolta, irreligiosa e impura é sódio o impulso dos chefes oficinas dos jovens ou donzelas o impudor, à imoralidade, à sadomia etc…
Ah! É bem verdadeira a frase do Santo Padre felizmente reinante: « Da oficina só a matéria sai enobrecida; os homens, ao contrário corrupiem-se e aviltam-se.
O QUE INCUMBE AO ASSISTENTE ECLESIÁSTICO PARA REMEDIAR
Reconduzir os homens a Cristo. Sermos padres. É certo que os operários estão numa ocasião próxima de pecado em que infelizmente não é rara a queda muito pelo contrário; mas eles serão obrigados a deixar de ganhar o pão de cada dia, a fugir do trabalho morrendo de fome?
Como resolver tamanho problema! Pelo Jocismo – Eis a resposta.
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